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2.3 Turismo – Conceito e Definições

2.3.1 Conceitos de Turismo

O conceito de turismo vem sofrendo um processo constante de evolução (CUNHA, 2001; OMT, 2001), sendo que os primeiros estudos publicados remetem-se à década de 1920, publicados por Glucksmann, Schwinck e também por Bormann, entre outros estudiosos da Escola de Berlim. A primeira definição mais complexa e acadêmica foi apresentada em 1942, pelos professores Walter Hunziker e Kurt Krapf, e preceituava o seguinte: “O turismo é o conjunto de relações e fenômenos originados pelo deslocamento e permanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocamentos e permanências não sejam utilizados para o exercício de uma atividade lucrativa principal” (CUNHA, 2001).

Esta era uma definição que não contemplava todos os aspectos inerentes à atividade turística, uma vez que carece de um conjunto de explicações a cerca dos termos utilizados em sua construção, como é o caso da palavra “fenômenos”, que traz em seu bojo a seguinte dúvida: “Que fenômenos são estes?”. Desta forma, em 1981, Burkart e Medik definem o turismo como: “Os deslocamentos curtos e temporais das pessoas para destinos fora do lugar de residência e de trabalho e as atividades empreendidas durante a estada nesses destinos” (OMT, 2001).

Neste caso a definição apesar de mais elaborada ainda não atendia plenamente às necessidades impostas pela amplitude inerente ao conceito de turismo, uma vez que utilizou termos indefinidos como “deslocamentos curtos” e “temporais”, que não podiam ser entendidos por todos da mesma maneira, pois dependiam muito de juízos de valor. Por isso em 1982, Mathieson e Wall, publicaram seu conceito que expressava o seguinte: “Turismo é o movimento provisório das pessoas, por períodos inferiores a um ano, para destinos fora do lugar de residência e de trabalho, as atividades empreendidas durante a estada e as facilidades são criadas para satisfazer as necessidades dos turistas” (OMT, 2001).

A definição citada ainda apresenta algumas deficiências, segundo Cunha (2001), pois não exclui de maneira expressa a questão ligada à remuneração ou não da viagem realizada, não faz menção às atividades desenvolvidas durante o

deslocamento até o destino e nem trata as facilidades que não são criadas, mas que se encontram à disposição do turista no destino visitado. Desta forma, para fins de conceituação, será adotada a definição feita em 1994 para a OMT (Organização Mundial de Turismo), que afirma: “O turismo compreende as atividades que

realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras” (grifo nosso) (OMT, 2001).

Apesar de não contemplar todos os aspectos inerentes às atividades turísticas, pois segundo Cunha (2001), não aborda o lado da oferta e sim o lado da demanda, mas serve para determinar a ocorrência de três características que estão presentes no turismo: 1) as atividades desenvolvidas pelos visitantes são divergentes daquelas inerentes a sua rotina diária e às suas atividades laborais; 2) as atividades estão ligadas à realização de uma viagem, o que envolve sempre um meio qualquer de transporte para efetuar o deslocamento até o destino; e 3) é no destino que se encontram as facilidades oferecidas ao turista e que atendem às suas necessidades. Esta situação nos remete aos objetivos deste trabalho que é o de verificar a relação e a melhoria da qualidade de vida dos residentes, ou seja, complementar o que a definição da OMT relegou ao segundo plano que é o lado da contribuição dos turistas para a melhoria da qualidade de vida dos moradores do destino.

Uma vez definido o conceito de turismo, vários outros podem ser inferidos a partir dele e que vem complementar o conjunto de unidades básicas do turismo, conforme abordado por Cunha (2001) e que envolvem: 1) o viajante – indivíduo que se desloca entre países (viajante internacional) ou entre destinos dentro do País no qual mantém sua residência habitual (viajante doméstico); 2) o visitante – indivíduo que se desloca para qualquer local fora de seu ambiente habitual, por um período menor que 12 (doze) meses consecutivos, e o motivo dessa viagem não está associado ao exercício de uma atividade remunerada; 3) o turista – qualquer visitante que venha a permanecer, ao menos uma noite no local visitado (qualquer que seja o tipo de alojamento, inclusive os não pagos); 4) o excursionista – qualquer visitante que não venha a permanecer, pelo menos uma noite no local visitado; 5) o ambiente habitual – ambiente com o qual o indivíduo interage habitualmente em função de seus deslocamentos à trabalho, ou a estudos, ou ainda locais visitados

com freqüência contínua, diária, semanal, quinzenal, mensal; e 6) a residência habitual – local no qual o indivíduo mantém sua residência principal.

Todos esses elementos se integram no chamado “Sistema Turístico”, que é composto de várias outras organizações e instituições que criam a atmosfera propícia para a realização de uma experiência turística, conforme será analisado no próximo tópico desse estudo.

2.3.2 Sistema Turístico

Um sistema turístico é composto por um complexo conjunto de inter-relações entre diferentes instituições e organizações que atuam de maneira integrada de forma a oferecer aos turistas uma experiência única em sua estada em determinado destino, sendo considerados como turistas, somente aqueles que permanecem pelo menos uma noite no destino.

Figura 3 - Sistema turístico básico Fonte: Leiper (1990, p.371)

O modelo de Leiper (1990) – figura 3 – mostra que o sistema básico de turismo possui, conforme afirma Cunha (2001), três elementos básicos que dão sustentação o todo o desenvolvimento da atividade turística, sendo eles: 1) os turistas – são os indivíduos que operam o sistema, uma vez que sem eles o sistema passa a não fazer sentido, já que trata-se de uma experiência vivida por cada um em sua viagem e que pode deixar marcas que serão lembradas pelo resto de suas vidas como

momentos de muita satisfação (que funcionarão como motivo de divulgação do destino visitado) ou de grande insatisfação (que servirão como motivos para que se faça um marketing negativo, desencorajando outras pessoas a freqüentarem aquele destino); 2) os elementos geográficos – neste modelo podem ser verificados três elementos geográficos distintos: a) a região geradora de visitantes (sendo o local de origem dos visitantes, normalmente sua residência habitual, e onde o mesmo obtém as informações necessárias a respeito do destino e ainda faz a compra das passagens e na maioria das vezes a reserva do hotel no qual irá se hospedar); b) a região de destinação de turistas (é a razão de ser do turismo, pois é aqui que se desenvolvem todas as estratégias de planejamento e gerenciamento da oferta de atrações turísticas que atuarão como fonte inspiradora para que outras pessoas venham até um determinado destino – para Leiper (1990) “na destinação é onde

ocorrem as conseqüências mais visíveis e drásticas do sistema”); e c) a região

de rotas de trânsito (aqui são consideradas não somente as vias de acesso ao destino, mas também todos os destinos intermediários entre o ponto de partida e o destino final, que podem vir a fazer parte da experiência vivida por um indivíduo em sua viagem turística, nestes pontos os viajantes podem experimentar sensações que não estavam previstas no roteiro inicial, mas que contribuem para o evento como um todo); e 3) a indústria turística – que é formada pelo conjunto de todas as empresas, organizações e instituições, públicas e privadas envolvidas na oferta de um produto turístico, tais empresas encontram-se distribuídas em todas as três dimensões geográficas citadas anteriormente, sendo que normalmente, os agentes de viagens encontram-se na região geradora de viajantes, as empresas de transporte se encarregam de levar os viajantes a seus destinos e no destino se encontram uma ampla gama de empresas prestadoras de serviço, que vão desde as responsáveis pelas acomodações, as incumbidas do preparo de refeições, as de aluguel de automóveis, etc.

Para a OMT (2001), o sistema turístico pode ser descrito por meio de quatro elementos básicos: a demanda, a oferta, o espaço geográfico e os operadores de mercado. A demanda é formada pelo interesse inerente a viajantes, visitantes e turistas em efetuar um deslocamento de seu local de origem para o de destino, sob os mais diversos motivos, com a finalidade de satisfazer uma necessidade específica, seja ela de lazer, de negócios, de entretenimento, de diversão, de

aventura, de tratamento de saúde, de estudos entre outras, podendo a viagem estar ligada a um destino dentro do próprio país (viagens domésticas), ou a um destino num país estrangeiro (viagens internacionais). A oferta turística é formada por todo o conjunto de atividades oferecidas aos atores do turismo, com o fim de satisfazer suas necessidades e de maneira a permitir que sua estada no destino transcorra de maneira a deixá-lo propenso a retornar mais vezes para repetir as experiências vividas naquele período no qual transcorreu sua permanência no destino. Entre os serviços oferecidos destacam-se: os meios de hospedagem, as agências de locação de automóveis, as empresas de transporte (aéreo, ferroviário, rodoviário e marítimo), as empresas ligadas à gastronomia, as empresas que vendem produtos artesanais e culturais, entre outras.

O espaço geográfico é o local onde ocorre a experiência turística. É ali que se instalam as empresas que irão oferecer os produtos turísticos, com o intuito de proporcionar momentos únicos aos viajantes, visitantes e turistas, momentos os quais serão recordados por muitos anos. O espaço geográfico compõe o chamado destino turístico, que é o local onde se concentra toda a oferta de produtos e serviços turísticos e ao qual ocorrem os turistas com o intuito de aproveitar das facilidades oferecidas pelas empresas ali instaladas, podendo ser constituído por um país, uma determinada região ou até mesmo uma cidade, na qual se encontram características específicas que justificam o deslocamento desde o local de origem. Por último destacam-se as operadoras de turismo, que são os intermediários entre a demanda e a oferta turística, pois atuam de forma a colocar em contato as duas partes, fazendo com que os serviços oferecidos pelas empresas de um determinado destino turístico sejam conhecidos e passem a ser desejados por parte dos consumidores em seus locais de residência habitual, despertando nestes a vontade de se envolver numa experiência associada a uma viagem de turismo (OMT, 2001). Uma vez conhecidos os elementos que compõem o sistema turístico, tem-se o ponto de partida necessário para poder melhor estruturar a sua destinação turística, definindo que tipo de necessidades deverão ser atendidas e conseqüentemente as empresas, órgãos e instituições que deverão ser implementadas com o objetivo de suprir aos interesses apontados pela demanda, para investigar mais profundamente como isso ocorre, o próximo tópico discorrerá sobre o que é considerado como uma destinação turística.