• Nenhum resultado encontrado

2.5 Os Modelos de Análise de Competitividade

2.5.2 O Modelo de Competitividade Sistêmica

O modelo de competitividade sistêmica foi desenvolvido por Esser et al. (1996), dentro de um grupo de pesquisas patrocinado pelo Instituto Alemão de Desenvolvimento (IAD), com o intuito de demonstrar que uma nação para ser considerada competitiva, depende de diversos atores e grupos, o que é comum aos modelos sistêmicos. Os autores afirmam que a competitividade é fruto de um conjunto de ações que não ocorrem de maneira isolada, mas em conjunto outros eventos que estão associados a quatro níveis distintos de análise: o nível meta, o nível macro, o nível meso e o nível micro. Cada um dos níveis demanda que sejam observados detalhes específicos, inerentes àquele nível, a fim de que seja possível a obtenção de vantagens competitivas.

Por meio da figura 5, pode-se observar que a competitividade sistêmica ocorre em decorrência do diálogo e da articulação existente entre os grupos de atores associados ao ambiente competitivo a ser analisado. Em cada um dos níveis de análise existem ações a serem desenvolvidas e sem as quais não será possível atingir a competitividade necessária para o desenvolvimento do setor como um todo. Para compreender como se processam as relações entre os atores envolvidos em um determinado setor do mercado, Altenburg et al. (1998) avaliam de que maneira os quatro níveis de análise (meta, macro, meso e micro) se inter-relacionam e de que forma o diálogo e a articulação entre as partes leva o país a destacar-se em termos de geração de vantagens competitivas.

Nível Meta – Neste nível inicialmente analisam-se os valores socioculturais

desenvolvidos na sociedade e se eles estão de acordo com os seguintes princípios: reconhecimento social do sucesso econômico; aceitação geral de que o

Nível Meta

• Orientação do Grupo de Atores à Aprendizagem e Eficiência

• Defesa de Interesses e Auto-organização em Condições Mutáveis

• Capacidade Social de Organização e Integração

• Capacidade dos Grupos de Atores em Interação Estratégica

Nível Macro

• Congresso Nacional

• Governo Federal

• Instituições Estatais

Nacionais

• Banco Central

• Órgãos Judiciais

Nível Meso

Em âmbito central, regional

e comunitário:

• Governos

• Associações Empresariais,

Sindicatos, Organizações

de Consumidores, Outras

Organizações Privadas

• Instituições de Pesquisa e

Desenvolvimento Privadas

e Públicas

Diálogo e

Articulação

Nível Micro

• Produtores

• Serviços ao Produtor

• Comércio

• Consumidores

comportamento predatório põe em risco o desenvolvimento social; estar consciente de que a prioridade são os investimentos de longo prazo em educação; e possuir uma forte tendência para a poupança. Sem esses valores, o desenvolvimento de macro ou meso políticas torna-se um trabalho muito mais árduo e com poucas chances de obter os resultados desejados. (ALTENBURG et al., 1998)

Figura 5 - Determinantes da competitividade sistêmica Fonte: Esser et al. (1996, p.41)

Num segundo momento Altenburg et al. (1998) destacam que é preciso que seja avaliada a existência de consenso quanto à consciência de que o desenvolvimento

industrial e a integração competitiva estão ligados ao mercado mundial, ou seja, as empresas devem buscar trabalhar dentro de padrões de qualidade e eficiência mundiais, uma vez que mesmo dentro de seus próprios mercados competem com bens e serviços importados e que elas devem estar aptas a responder rapidamente às mudanças das condições impostas pelo mercado.

Para que seja encerrada a revisão deste nível, faz-se premente verificar a habilidade dos atores e grupos de formular visões e estratégias conjuntas, visando alcançar padrões internacionais de divisão do trabalho, que indiquem: quais as vantagens comparativas a serem desenvolvidas; como os custos e lucros da integração do mercado deverão ser distribuídos entre os grupos sociais; entre outros aspectos relevantes. Neste ponto as empresas, os trabalhadores e as entidades de classe deverão ter ciência que somente por meio de sua participação nas comissões de estudos e instituições representativas é que será possível a construção de políticas de desenvolvimento conjunto (ALTENBURG et al, 1998).

Nível Macro – Para compreender melhor como ocorrem as interações neste nível

Altenburg et al (1998) apontam para a necessidade de que o quadro macroeconômico do país em questão esteja devidamente estável possibilitando que ele venha a tornar-se competitivo perante as demais nações, evitando que sofra os efeitos negativos em seu crescimento econômico e em sua carteira de exportações. Os níveis de inflação têm forte influência sobre a produção em qualquer país. Desta forma, combatê-la, apresenta-se como uma medida fundamental, pois somente através de uma política orçamentária que vise conter o déficit primário e ofereça a oportunidade de realizar uma reforma fiscal e orçamentária, é que se apresentarão as condições essenciais para construção de vantagens competitivas. Contudo, essa política orçamentária deve evitar cortes em gastos com educação e com a infra- estrutura física do país, uma vez que cortes nesses tipos de investimento poderão comprometer o desenvolvimento futuro da nação. O governo pode priorizar seus esforços na contenção de gastos com a máquina administrativa, além de viabilizar a privatização de empresas estatais deficitárias. (ESSER et al, 1996)

Uma vez alcançado o controle da inflação, Altenburg et al (1998) sugerem que seja adotada uma política monetária adequada, permitindo o fortalecimento das ações do Banco Central, com o intuito de reduzir a quantidade de moeda nacional em

circulação e a entrada de capital estrangeiro no país. A existência de um setor financeiro privado diversificado e eficiente é também fundamental para um controle monetário adequado. Complementando os aspectos citados anteriormente é preciso que sejam criadas condições competitivas para as bolsas e mercados de capitais, além de reduzir a intervenção do Estado sobre a definição das taxas de juros.

Esser et al (1996) alertam que déficits constantes nos balanços de pagamentos mostram a inadequação da política cambial adotada, levando a constatação de que ela não está de acordo com os objetivos de desenvolvimento do país, pois revela a dificuldade em exportar e também a fragilidade na indústria nacional, demonstrada pelo excesso de importações. Este fato acontece freqüentemente em situações nas quais se observa uma supervalorização da moeda nacional, o que cria barreiras às exportações (tornando-as menos competitivas) e incentiva a importação de produtos (em função do câmbio favorável).

Faz-se importante que haja a definição de uma política comercial que sinalize claramente às empresas a necessidade de que estejam preparadas para competir num mercado globalizado e, portanto, estejam aptas a oferecer produtos de classe mundial. Buscando além do abastecimento do mercado interno, o envio do excedente de produção para fora do país, trazendo mais divisas. Em complemento a estas ações faz-se importante que seja feita uma reforma na política comercial, passando das estratégias de substituição de importações para o conceito de integração ativa no mercado mundial. (ALTENBURG et al, 1998)

Nível Meso – Neste nível de análise, Esser et al (1996) destacam que o crescimento

dos desafios às empresas ocorre de forma simultânea ao crescimento da demanda por estruturas de suporte (entidades que não atuam de maneira direta na produção, mas que auxiliam as empresas a fazê-lo). Este fato implica em dizer que a competitividade não ocorre apenas entre empresas individuais, mas sim dentro de um cluster (aqui considerado como sendo um grupo de empresas organizado em forma de redes inter-organizacionais), cujo desenvolvimento dinâmico depende dos fatores de localização.

Meyer-Stamer (2001) define os fatores de localização como aqueles que podem trazer vantagens comparativas para as empresas que os possuem, e os divide em três grandes grupos: fatores objetivos (posição geográfica em relação aos mercados

consumidor e fornecedor; acesso à rede de transportes; existência de mão-de-obra qualificada; existência de locais para instalação; fornecimento de água e energia; política fiscal local favorável; incentivos públicos); fatores subjetivos (situação econômica favorável; boa imagem da região; rede de contatos; existência de universidades e centros de pesquisa; vocação de inovar da região; atuação das instituições de suporte); e fatores subjetivos pessoais (qualidade das residências e seu entorno; qualidade ambiental; qualidade do ensino público; qualidade da infra- estrutura; existência de opções de lazer adequadas).

Em decorrência do aumento da pressão por competitividade global, Altenburg et al (1998) alertam que a demanda, em termos locais, regionais e nacionais pela criação de um ambiente de suporte aos negócios, também aumenta. Neste contexto, apresentam-se dois caminhos para se chegar ao nível meso, primeiro as mesoinstituições, que oferecem serviços específicos para as empresas, e o segundo são as mesopolíticas que criam o ambiente propício para o desenvolvimento das instituições do nível meso.

As mesoinstituições, conforme definem Esser et al (1996) são formadas por empresas que oferecem serviços auxiliares e por entidades de classe e sindicatos, e têm como objetivo principal facilitar a instalação de novas empresas, possibilitando a formação de clusters, que obterão vantagens competitivas por meio de ações cooperadas como o intuito de se obter o desenvolvimento mútuo de todas as empresas do setor. O desenvolvimento industrial se inicia em determinada região em função dos fatores objetivos de localização, porém com o amadurecimento do tecido industrial surgem outras necessidades que poderão ser supridas por empresas especializadas, por estudos elaborados nas universidades, pelo governo e pelas associações comerciais e industriais locais. Os autores ressaltam que neste nível verifica-se uma diminuição da participação governamental em relação aos níveis meta e macro.

Para que seja viável a geração de competitividade sistêmica, Altenburg et al (1998) alertam para a necessidade de definição das mesopolíticas, que estão divididas em três grupos principais: política regulatória (visando proteger alguns setores industriais e o meio ambiente), instrumentos financeiros (com o objetivo de criar linhas de financiamento para pesquisa e desenvolvimento e voltadas à promoção de

exportações) e atividades governamentais que fomentem a criação e a ampliação das instituições de nível meso (devendo acontecer prioritariamente no início do processo de desenvolvimento industrial, quando as empresas ainda não estão estruturadas suficientemente e demonstram ineficiência e falta de conhecimento prático na maioria das funções de negócio).

As mesopolíticas têm o compromisso de estarem orientadas para a competitividade, para que não sejam confundidas com a política industrial tradicional, pois apesar de usar os mecanismos disponíveis (como as restrições às importações, o registro de marcas e patentes e os subsídios diretos) para alavancar a competitividade entre as empresas, não o faz de forma a caracterizar protecionismo para um setor deficitário e despreparado, em detrimento de outros, porque isto somente acarretaria em atraso para o desenvolvimento de todas as demais empresas daquele setor. (ALTENBURG et al, 1998)

Nível Micro – Esser et al (1996) afirmam que neste nível de análise pode-se

perceber que as empresas contemporâneas estão enfrentando desafios cada vez maiores oriundos de seis fontes diferentes: a globalização da competição em diversos produtos do mercado; o aumento do número de competidores em função do sucesso alcançado ao longo processo de industrialização e também por causa dos ajustes estruturais realizados, além da produção voltada para a exportação; o aumento da exigência dos consumidores em termos de padrões de demanda; o encurtamento do ciclo de vida dos produtos; a existência de grandes saltos de inovação tecnológica e organizacional; e por fim, a revolução na área de tecnologia dos sistemas que permitiu a derrubada de fronteiras que limitavam determinados setores.

As empresas buscarão formas de otimização para quatro fatores fundamentais voltados a garantir que permaneçam competitivas no mercado, conforme destacam Altenburg et al (1998): a melhoria na relação entre custo e eficiência, a ampliação dos índices de qualidade, o aumento na variedade de produtos oferecidos e a agilidade e versatilidade no atendimento às demandas dos clientes. O enfoque na melhoria desses quatro fatores gerará as condições necessárias para que a empresa alcance vantagens competitivas que lhe abrirão novos horizontes para seu

desenvolvimento e tornarão viável a conquista de posições de destaque no mercado.

Para obter a otimização necessária nos fatores mencionados anteriormente, Esser et al (1996) mostram que as empresas promoverão mudanças focadas em três áreas de atuação: começando pela organização da produção (que passaria a adotar modernas técnicas de gestão da produção, que seriam embasadas pelas best practices adotadas pelas empresas de sucesso, com o objetivo de redução de custos e aumento da eficiência durante o processo produtivo), passando pela organização do desenvolvimento do produto (por meio da mudança na estrutura tradicional, a qual era constituída de setores estanques e cuja atuação se desenvolvia de forma seqüencial, para outro modelo diferente baseado no desenvolvimento paralelo de cada uma das etapas do projeto, o que traria redução de custos e permitira a agilização do desenvolvimento de novos produtos) e por fim a reorganização da cadeia de valores (uma vez que em função da redução do nível de integração vertical as empresas possam direcionar seu foco principal para o desenvolvimento de suas competências essenciais - core competences).

Toda essa reestruturação das áreas produtivas somente seria possível se houvesse a efetiva interação entre as inovações organizacionais, sociais e técnicas, criando as condições necessárias para a adequação das empresas à nova realidade do mercado. Para Altenburg et al (1998) somente por meio do diálogo e da articulação, entre os atores deste nível com os demais níveis, é que serão construídas as condições fundamentais para se alcançar de forma conjunta o desenvolvimento desejado e garantir de maneira substancial que as ameaças do ambiente externo não tragam maiores prejuízos para todos os envolvidos.