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4. Percurso Metodológico da pesquisa de campo

4.1 Conceituação geral das Histórias Orais

A pesquisa teve por objetivo investigar quais as motivações, saberes e fazeres envolvidos em práticas de arborização, promovidas por atores sociais em diferentes espaços e, para tanto, se pautou metodologicamente em histórias orais29 Entende-se História Oral como uma pesquisa historiográfica documentada a partir de depoimentos orais para registro de narrativas humanas (FREITAS, 2006).

Segundo Thompson (1988), citado por Garnica (2011), têm-se três fatores que validam a História Oral e a distinguem de outras abordagens históricas. O primeiro deles é que a oralidade permite níveis de linguagem impossíveis de serem atingidas por outros métodos, como a forma escrita. Em segundo lugar, ela permite o complemento de documentos e registros já levantados sobre determinado aspecto. Em terceiro lugar, aquele que talvez seja o mais importante nesta pesquisa, é o fato de transformar aqueles que antes seriam objetos de pesquisa, em sujeitos, uma vez que os atores estão em pé de igualdade com o pesquisador na construção da pesquisa.

Justifica-se a escolha desta metodologia, pois ela permite a emancipação dos atores envolvidos e é, portanto, coerente com as perspectivas teóricas assumidas na pesquisa. Isto ocorre porque

[...] Quase sempre é possível encontrar pessoas que não se acham importantes ou delegam a outros a capacidade de narrar. Isso se deve a uma característica de nossa sociedade, sempre aberta a celebrizar certas pessoas e diminuir o papel de pessoas comuns. Ao mesmo tempo que a percepção de que uma narrativa centraliza o narrador - que passa a ser a origem dos acontecimentos - gera sempre a sensação de importância social que muitos não estão habituados (MEIHY,2002, p. 81)

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Pesquisa submetida e aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp. Número do CAAE: 78675617.7.0000.5404. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido disponível no Apêndice A. Colocar na mesma fonte dos demais textos.

Ainda neste sentido, Pereira (2011, p. 1) pontua que “na medida em que o entrevistado narra, ele constrói a pesquisa juntamente com quem registra essa narrativa, em outras palavras, ele se torna coautor do trabalho do pesquisador”.

Garnica (2011) argumenta que os estudos que se valem da História Oral como metodologia não têm objetivo de criar novos heróis individuais, mas preservá-los dentro de uma gama de versões, num pluralismo de versões sobre um fato.

A metodologia, portanto, não deve ser confundida como uma ingênua coletânea de depoimentos e relatos, e nem ter relatos orais e escritos como rivais, mas sim complementares. Ao contrário, a perspectiva se vale da reconstrução da história a partir de diferentes versões sob a ótica de diferentes atores sociais, que via de regra estão à margem, não caindo também no equívoco de ignorar fontes documentais pré-existentes, caso elas existam (GARNICA, 2011).

Em suma, a História Oral busca recontar uma determinada história a partir de relatos de diferentes participantes do processo, que em conjunto com fontes documentais, permite uma visão complexa e completa da história.

Como se trata de uma pesquisa de natureza histórica é necessário ter um amplo conhecimento sobre o construto e do contexto por parte do pesquisador. Algumas vezes pode ser relevante estabelecer contrapontos com documentos, quando se quer investigar com profundidade certo período histórico, para quais os depoimentos dos viventes daquele período são relevantes juntamente com registro de documentos (ALBERTI, 2004).

Sugere-se em vias gerais, pautar uma pesquisa em um conjunto com documentos e entrevistas. Documentos são subentendidos como um acervo já existente de relatos sobre a temática, da qual as entrevistas se pautarão a produzir um novo acervo. Nem todo objeto, entretanto, está sujeito a uma pesquisa de material já existente, pois pode não haver documentos pré-existentes. Um estudo a respeito de uma determinada comunidade sem registros de pesquisas pode ser solucionado pesquisando um tema mais genérico de pesquisas que já se basearam em outras comunidades semelhantes, bem como caracterizar o local com pesquisas em arquivos, documentos, etc. (ALBERTI, 2004).

Este procedimento de contrapontos entre fontes primárias (entrevistas) com as fontes secundárias (documentos) tem por objetivo que o pesquisador consiga entender profundamente sobre o objeto. Além disso, tendo conhecimento de informações sobre a comunidade, o contexto, sobre as pessoas, sobre outros relatos, o pesquisador vai muito mais

instrumentalizado e saberá conduzir melhor as entrevistas. Isto é, ao deparar com brechas e respostas incompletas, saberá retomar o assunto e solicitar novos esclarecimentos, sendo que se fosse a esmo, poderia ficar incompleto (ALBERTI, 2004).

Neste sentido, se o cruzamento de fontes não for realizado, “Corre-se o risco de subaproveitar o potencial do trabalho com História Oral, uma produção intencional de documentos com a participação ativa dos pesquisadores” (ALBERTI, 2004, p. 83). Quando o foco está nas vivências, e não em um período histórico, isso pode ser amenizado (ALBERTI, 2004).

Em nossa pesquisa, o cruzamento foi realizado comparando os resultados com o levantamento obtido a partir de reportagens disponibilizadas na web, conforme conta a seção anterior. Este procedimento permitiu que entendêssemos a temática em diferentes contextos e lugares. Além disso, a partir de dados censitários sobre os atores, tivemos a possibilidade de traçar perfis que nos alimentou de repertório para entrevistas seguintes bem como para a entrevista do mesmo colaborador.

Seguindo ainda mais, o pesquisador, ao se valer da História Oral, se torna um “criador de documentos”, e deve, portanto, considerar toda inerência deste processo criativo: assumir que não há uma única versão, uma única história, não há uma verdade objetiva e acabada, mas sim há um conflito, há um plural de versões, e que os resultados expressam uma versão estritamente parcial. Deste modo, a subjetividade do processo deve ser assumida (GARNICA, 2011).

Ainda para este mesmo autor, o relatório resultante de uma pesquisa em História Oral é impregnado de teoria, já que interpretação do pesquisador não é neutra, desde o processo inicial da escolha do objetivo, da fundamentação, da metodologia, etc.

Nesta direção, história oral é entendida como:

Um método de investigação qualitativa que nos permite não apenas compreender (constituir) paradigmas teóricos, se não também passear por outros territórios e ter outros limites e interlocutores e outras perguntas investigativas “não históricas’, ainda que a constituição de registros é inerente à eleição do método, e a uma hermenêutica latente está sempre presente no método (GARNICA, 2011, p. 72, tradução nossa).

A história oral não trata de um “fim em si mesma, mas um meio de conhecimento” (ALBERTI, 2004, p. 29). Necessita, portanto, articulação e um contexto

propício que justifique seu uso. Em outras palavras, é necessário um projeto de pesquisa que sustente o emprego da história oral, de acordo com o construto (ALBERTI, 2004).

Para tanto, o seu emprego deve ser decidido mediante a resposta para tais questões: “o que a narrativa dos que viveram ou presenciaram o tema pode informar sobre o lugar que aquele tema ocupava {e ocupa} no contexto histórico e cultural dado? Como os entrevistados viam ou veem o tema em questão?” (ALBERTI, 2004, p. 30, adaptado).

Em nossa pesquisa buscaremos a identificação e valoração de novos atores sociais, bem como os saberes e elementos motivacionais envolvidos em suas práticas de arborização, e pensamos que a metodologia deva se adequar, uma vez que os relatos daqueles que plantaram permitem levantar quais as motivações e saberes existem dentro de um aspecto cultural.