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5. Elementos motivacionais, saberes e fazeres relacionados a práticas de arborização:

5.1 Quem são os plantadores?

Ao caracterizarmos e produzirmos nossos protocolos específicos de entrevista, estamos respondendo à questão orientadora “Quem são os plantadores(as)?

A caracterização dos entrevistados foi feita com as informações biográficas obtidas por informações prévias à entrevista, bem como com dados censitários coletados no momento da conversa.

O Quadro 4 detalha as informações censitárias a fim de caracterizar os plantadores. A ordem de expressão dos plantadores na tabela foi respeitada pela ordem de ocorrência das respectivas entrevistas.

Plantador Idade Sexo Local de

nascimento

Local de moradia

1 22 anos Masculino São Carlos-SP São Carlos-SP

2 71 anos Masculino Monte Alto-SP Monte Alto-SP

3 87 anos Masculino Fernando Prestes/

Vista Alegre-SP

Monte Alto-SP

4 65 anos Masculino Tabapuã-SP Monte Alto-SP

5 33 anos Masculino Sorocaba-SP Jundiaí-SP

6 19 anos Masculino São Paulo-SP Carapicuíba-SP

Quadro 3- Caracterização dos entrevistados. Fonte: Elaborado pelos autores

Chama atenção neste quadro a quantidade de plantadores do sexo masculino. Totalizamos seis colaboradores entrevistados, sendo que nenhum é do sexo feminino, assim como no capítulo 3, onde apresentamos resultados de pesquisas de reportagens, em que havia apenas duas reportagens em um universo de 16 com pessoas do sexo feminino.

Retomando os critérios de seleção dos colaboradores, conforme exposto no capítulo 4, tomamos indivíduos dentro da plataforma “Plantadores de Árvores”, indicadas espontaneamente por outros colaboradores, pessoas distintas na comunidade das cidades escolhidas por suas práticas, ou ainda, pessoas selecionadas nas reportagens analisadas.

Primeiramente, as indicações espontâneas sempre resultaram em pessoas do sexo masculino. Em segundo lugar, as pessoas conhecidas nas cidades por plantarem, em geral são homens, dificultando nossa abordagem para mulheres. O caso da plataforma é problemático, pois reúne desde pessoas que plantam até simpatizantes, o que dificulta a abordagem, uma vez que congrega centenas de pessoas.

No caso das reportagens, duas sinalizavam protagonistas mulheres. Porém, o primeiro exemplo é de uma noiva indiana, sendo impossível sua abordagem. No último caso, a empresária que plantou mais de 500 árvores, mora em Santa Catarina, estando, portanto, fora dos nossos critérios sinalizados.

Sem dúvidas estes dados são extremamente relevantes, dos quais pensamos ser uma questão que se remete aos valores da sociedade vigente. Isto pensamos em se refletir na escassez de ações por parte das mulheres. Como largamente discutido no capítulo 2, a sociedade capitalista, de acordo com Santos (1989, 2002, 1995, 2007, 2009) possui alguns valores hegemônicos fortemente demarcados, dentre eles: patriarcado, valores cristãos em detrimento a outras manifestações, materialismo ao passo que se tem uma valorização do ter em detrimento ao ser, forte hegemonia do pensamento científico em detrimento a outras fontes de saberes, além de um distanciamento da questão ambiental, sendo a natureza fonte de recursos para manutenção dos padrões de consumo.

Das histórias orais produzidas, temos que no cerne da motivação e da inspiração ou ainda de primeiras lembranças de práticas de plantio, em muitas delas os plantadores citam espontaneamente figuras masculinas como inspiradoras ou que se lembram de terem plantado a primeira árvore junto com pai, avô, tio, etc.

Na primeira História Oral, o nosso colaborador diz que os inspiradores de sua prática são seu pai e sua avó. Além disso, o plantador cita que seu pai também é plantador, cita sua atividade e diz que há um sobrinho que segue seus passos.

Já na segunda História Oral, o entrevistado aponta como motivação sua curiosidade e o fato de ter vivido em sítio, tendo contato com a natureza. A figura paterna é espontaneamente resgatada pelo plantador por se lembrar de que a família morava no sítio em virtude do trabalho do pai. Aprimorou seus conhecimentos como plantador no cotidiano do trabalho, sendo que cita inúmeros amigos, todos homens, integrantes do viveiro de mudas onde trabalha. Estes indícios apontam para uma prática predominante masculina.

O terceiro colaborador, em seu depoimento aponta que a primeira árvore que se lembra de ter plantado foi juntamente com seu pai, sendo eucaliptos. Além disso, a prática profissional foi elemento de aprimoramento, sendo que preparava mudas juntamente com seus irmãos, todos homens. Cita ainda que a transmissão do seu conhecimento é feita sempre que alguém solicita sua experiência, mas suas referências são sempre à homens.

A quarta História Oral apresenta em sua constituição que foi um amigo o incentivador para que o nosso colaborador se tornasse jardineiro. Além disso, conta que sua prática é feita com um ajudante, também homem e nenhum momento é citada qualquer mulher ligada à sua prática.

Outro exemplo é na quinta História Oral, em que nosso colaborador menciona ter plantado as suas primeiras árvores juntamente com seu pai, embora diga que não sejam elementos familiares sua principal motivação.

Outra menção a uma mulher como inspiradora das práticas vem da História Oral 6, quando o jovem diz que uma paisagista lhe apoiou e ensinou muitas técnicas e deu subsídios para que pudesse continuar com seus objetivos.

Em outro contexto, como observamos no capítulo 3, em um total de 15 reportagens, apenas em duas havia plantadoras. O cruzamento de contextos levanta indícios que a prática de plantio de árvores possivelmente seja predominantemente masculina. A importância desta reflexão é tal que possa inspirar outras reflexões e possa motivar mais mulheres a plantarem. Avançaremos na próxima seção, na ocasião da análise das Histórias Orais, de acordo com as Monoculturas e Ecologias propostas em Santos (2002).

Outro dado que nos parece relevante é o fato de três dos seis colaboradores serem idosos e concentrados na cidade de Monte Alto. Estes eram justamente pessoas que são notadas na comunidade por suas práticas.

Por ora, cada um dos atores foi apresentado em forma de textos corridos, com as suas biografias e questões pessoais, tentando ao máximo manter a riqueza da descrição dos detalhes pessoais, que é relevante, uma vez que o roteiro sempre foi influenciado e personificado entrevista a entrevista.

Evidentemente que durante o processo outras questões que não estavam previstas surgiram pela própria fluência do processo, sendo que os roteiros são meros documentos de apoio ao pesquisador.

O primeiro entrevistado foi um jovem de 23 anos, residente em São Carlos-SP, que segundo nossos critérios de seleção anteriormente expostos, é uma cidade de médio porte. As informações que tínhamos antes da entrevista e nas questões censitárias do roteiro, justificam a escolha de como os colaboradores são e, de que, eles, desde criança, se interessam em práticas de plantio de árvores, indo até os sítios de amigos para realizá-las.

Tendo em vista esta grande identificação com a prática, e com sua identificação com a causa ambiental, personificamos o roteiro geral com questões particulares deste entrevistado que incidiam mais a questão do pertencimento emocional, além de investigar se suas práticas também se concentravam também em propriedades da família, bem como em qual circunstância começou seu interesse por plantar e quem foi que incentivou, dentre outras questões neste sentido.

Levando em conta estes pressupostos, após a transcrição da entrevista, retiramos as marcas de oralidade e produzimos a seguinte História Oral, inserindo subtítulos segundo os temas abordados, conferindo coerência e coesão, além de dar fluência ao texto.

O segundo colaborador da nossa pesquisa foi um senhor de 71 anos nascido e residente em Monte Alto- SP, que segundo nossos critérios de escolha, se trata de uma cidade de pequeno porte.

Atualmente ele é servidor público municipal responsável pela manutenção da praça central, onde faz plantios e reparos, responsável pelo funcionamento das fontes e pela limpeza. É uma figura destacada na cidade, tendo prestado muitos serviços que lhe proporcionaram carinho pelos moradores de Monte Alto.

Em conversações, antes da ocorrência da entrevista, ele nos contou ter morado em sítios durante a infância, onde começou sua relação com o ambiente. Após alguns anos, passou a trabalhar no viveiro de mudas municipal, e se orgulha de várias árvores e matas, da cidade e até mesmo fora da cidade, terem sido preparadas por ele e seus colaboradores.

Como funcionário da prefeitura, teve seu trabalho requisitado na praça central, recebendo ordens para recuperar a praça, que estava quase sem flores, e de certo modo, abandonada. Ele argumenta que seu trabalho despertou o clamor popular das pessoas que moram nas proximidades da praça central, e quando houve boato que ele seria remanejado, ligaram à prefeitura para que ele continuasse ali, pois a praça estava revitalizada.

Além disso, argumenta ser o responsável pela abertura de trilhas nas serras da cidade e da região, além de outros grandes serviços prestados, como a participação nas escavações de sítios arqueológicos em Monte Alto, que resultaram na descoberta de inúmeros fósseis indígenas e de dinossauros, algo que não exploraremos em detalhes, mas que é importante para entendimento do comprometimento deste ator com o município.

Com base nestas informações, o roteiro conteve as questões gerais comuns a todos os colaboradores e no caso deste plantador, houve questões personificadas sobre sua relação

com o ambiente da infância no sítio, nas trilhas, como jardineiro na praça central, na sua casa, etc. Abaixo, apresentamos a respectiva História Oral.

O nosso terceiro colaborador foi um senhor de 87 anos, natural de Fernando Prestes-SP, mas residente na cidade de Monte Alto. Ele é muito conhecido por prática de enxertia em plantas, além de ter sido vendedor de mudas e doces na feira do produtor, a maior feira livre da cidade.

Diante deste quadro, além das questões comuns, incidimos o olhar sobre as técnicas de enxertia e a produção de mudas de primeira linhagem, bem como de mudas enxertadas, que são a especialidade deste plantador. Todo este quadro apresentava um promissor exemplo de diálogo de saberes, pois a enxertia envolve práticas populares, mas está fortemente permeada por conhecimentos da genética. Assim sendo, este plantador foi escolhido pela sua distinção na prática de plantar árvores. Apresentamos abaixo a sua História Oral.

O quarto plantador entrevistado foi um senhor de 65 anos, natural de Tabapuã-SP, também residente em Monte Alto-SP. A escolha deste plantador se deveu ao fato de há muitos anos trabalhar com jardinagem, sendo um dos principais jardineiros da cidade de Monte Alto- SP, com mais de 20 anos de serviços prestados. Gostaríamos a priori de conhecer a motivação de fazer da jardinagem sua vida, além de investigar um pouco dos saberes e fazeres inerentes à prática.

Sendo assim, a entrevista se concentrou para além das questões comuns, para tópicos a respeito do tipo de solo, estações e fases da lua, época das podas, época de plantio de jardins, além, claro, de qual foi o elemento catalisador de sua prática. Além disso, pesquisamos se este plantador “transfere” seus conhecimentos acumulados a outras pessoas e também sua experiência pessoal com práticas de plantio, para além da questão profissional.

O nosso quinto colaborador é um jovem de 33 anos, líder da equipe do Ecopoint, grupo que joga um RPG online, que possui uma comunidade fictícia de cientistas que entre outras coisas, fazem pesquisas ambientais, pela qual foi inspiração para a fundação do Ecopoint. A equipe se mobiliza no Brasil todo para também levar a experiência do virtual para o real, plantando árvores em parques, praças e outras localidades. Deste modo, nossas questões incidiram, portanto, sobre a origem de sua motivação para tais práticas ambientais, bem como mais detalhes sobre o projeto, além das questões comuns a todos os plantadores.

Sendo assim, as questões abordadas com ele incidiram para além das questões do roteiro geral, para questões sobre a importância na internet e dos jogos na sua prática de plantador, sua conexão com a natureza, a origem de sua motivação e projetos futuros deste jovem idealizador.

O nosso sexto colaborador foi um jovem plantador da cidade de Carapicuíba, chegamos até ele após conhecer sua causa através da reportagem 1, apresentada no Quadro 1 do capítulo 3. Ele planta árvores nativas do Brasil em seu apartamento e também é fundador da comunidade “Amigos do Verde” no Facebook. Identificamos que é também um membro da comunidade “Plantadores de Árvores”.

Assim, nossa abordagem se deu investigando a origem da sua motivação sobre os saberes inerentes à sua prática, sua conexão com a natureza e outras questões que emergiram no decorrer da conversa.