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4. Percurso Metodológico da pesquisa de campo

4.2 Definição de passos metodológicos

Há uma bifurcação quanto à escolha da História Oral, que é usá-la como metodologia, que implica o uso privilegiado de entrevistas para investigar um objeto, ou como programa, na qual necessita de construção de acervo de depoimentos (ALBERTI, 2004). Em nossa pesquisa estávamos interessados na primeira opção.

Quando se aplica a história oral como metodologia, o que se quer é comparação de versões de diferentes atores. Assim sendo, quanto mais entrevistas puderem ser realizadas, melhor será. Para tanto, quantas pessoas entrevistar? Segundo Alberti (2004), deve-se tomar em conta alguns parâmetros, um deles norteia o ato de ser capaz de gerar certo grau de generalização dos resultados do trabalho. Assim sendo, a princípio, é difícil quantificar quantos entrevistados garantirão tais graus de generalização. A clareza da questão é obtida no decorrer do processo, mas pode-se empregar o critério da saturação, proposto por Alberti (2004), acima descrito, e por Meihy (2002, p.123-124): “O argumento decisivo para marcar o limite do número de entrevistas remete a sua utilidade e seu aproveitamento. Quando os argumentos começam a ficar repetitivos, deve-se parar as entrevistas”.

Alberti (2004) chama atenção que este critério só será válido caso o pesquisador procure diversificar ao máximo seus entrevistados para garantir que a amostra seja representativa sobre o todo. É possível, entretanto, estimar a quantidade prévia, o que depende de um bom conhecimento do objeto.

Outra bifurcação é quanto ao tipo de entrevista cujo método será História Oral. Trata-se de uma entrevista de história de vida ou entrevista temática. Uma entrevista temática é aquela que se investiga a participação do sujeito em um processo, sendo que o processo é o objeto de pesquisa. Enquanto isso, a história de vida tem por objetivo investigar a biografia do sujeito, da qual o indivíduo é o centro da pesquisa (ALBERTI, 2004).

Quando se lança mão de um projeto que se incida sobre um tema específico, seja um contexto, uma situação ou um momento que é familiar para o entrevistado, este é denominado de História Oral Temática. Quando, em contrapartida, se trata de ouvir a biografia de uma personagem importante para um determinado contexto, isso é retratado como História de Vida (GARNICA, 2011).

Pode ser que haja um interesse em investigar ambas as coisas: o processo e o indivíduo, neste caso será um misto (ALBERTI, 2004). Na nossa pesquisa, o nosso enfoque está no processo e não nos indivíduos em si.

Meihy (2002) aponta que as entrevistas são o nervo central da pesquisa em História Oral. A entrevista é caracterizada por Ludke e André (1986) como importante maneira de criar relações de interação entre pesquisador e pesquisado. Segundo Minayo (2010), as entrevistas podem ser usadas para obtenção de dados subjetivos, relacionados a atitudes, valores e opiniões dos entrevistados, possibilitando um estudo aprofundado da realidade e que só podem ser obtidos com a contribuição dos atores sociais. Em geral, os roteiros não serão plenamente estruturados a fim de estimular fluência e naturalidade no processo, para que ambos os participantes se sintam à vontade. (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

O plano inicial de um projeto de História Oral preconiza a pergunta inicial na qual se quer responder, de onde se parte para a seleção de pessoas com potencial para entrevista (ALBERTI, 2004).

Urge também que a escolha das pessoas a serem entrevistadas dependa fortemente do construto. Uma pergunta é emergente: Quem entrevistar? Não deve se prender a parâmetros quantitativos, mas o primeiro critério dá conta daquelas pessoas que vivenciaram o período, o contexto, as ocorrências estudadas e possam fornecer bons depoimentos. Convém listar os prováveis entrevistados, bem como a justificativa da escolha, trazendo um resumo de sua participação (ALBERTI, 2004).

O planejamento deve ser sempre revisto, uma vez que pessoas podem se negar a participar, podem estar excessivamente ocupadas ou não corresponderem às expectativas.

Levando a conclusão que, embora feito um bom planejamento, a entrevista é bem fundamentada no decorrer da prática. Obedecer aos critérios de seleção, como predisposição para falar do passado, grau de contribuição daquele depoimento e o estilo do entrevistado (ALBERTI, 2004).

O último critério é o do “bom entrevistado”, algo que não depende da escolha do pesquisador, uma vez que a fundamentação pode ser perfeita da escolha deste, mas ele pode simplesmente não querer falar, ou a entrevista não fluir. Assim sendo, um bom entrevistado é aquele que “permite um diálogo franco e aberto, e que, através de sua posição no grupo ou em relação ao tema pesquisado, é capaz de fornecer, além de informações substantivas e versões particularizadas, uma visão de conjunto a respeito do universo estudado” (ALBERTI, 2004, p. 34).

Após considerar esses quesitos de escolha do pesquisado, o pesquisador deve elaborar um protocolo que o guiará durante as entrevistas (GARNICA, 2011), chamado por Verena Alberti (2004) de roteiro geral.

O roteiro geral tem a função de ser “síntese das questões levantadas durante a pesquisa em fontes primárias e secundárias e constitui instrumento fundamental para orientar as atividades subsequentes, especialmente a elaboração dos roteiros individuais” (ALBERTI, 2004, p. 83). Deve ser uma reunião dos elementos mais relevantes e gerais levantados segundo os objetivos de pesquisa. Constitui uma cronologia dos acontecimentos ocorridos, bem como da literatura consultada, tendo uma visão holística, resumindo as informações colhidas até ali (ALBERTI, 2004).

Serve de subsídio para a elaboração dos roteiros individuais, que além de conter o objetivo geral, tem as especificidades previamente levantadas dos sujeitos entrevistados. Existem questões do roteiro geral que serão perguntadas a todos os sujeitos, pois é aquilo que os une e que foi encontrado como padrão nesta pesquisa, que o levaram a serem identificados como colaboradores. Entretanto, deverá adquirir uma forma própria de ser questionada a cada colaborador. Para isso, existe o roteiro individual. A autora sugere conhecer a biografia de cada sujeito, sempre que possível. Isso auxilia o pesquisador a cobrir todos os pontos essenciais que aquele sujeito possa contribuir, além de ser gratificante para o entrevistado perceber que o pesquisador estudou seu caso, mostrando grande discernimento e cuidado. Quando não for possível conhecer a priori estes dados, é recomendado fazer um censo antes de começar a entrevista, e então, o pesquisador deve ponderar a importância do que foi falado e individualizar o roteiro geral (ALBERTI, 2004).

Fazendo um cruzamento entre as informações do roteiro geral, que sintetiza os objetivos específicos da pesquisa, e as especificidades de cada sujeito, é possível perceber lacunas ou assuntos incompletos na entrevista que mereçam ser retomados durante o depoimento. Tal sensibilidade depende do pesquisador e da triangulação das fontes (ALBERTI, 2004).

Em nosso caso, elaboramos um roteiro geral com elementos geradores das histórias orais que consideramos primeiros estímulos, para que pudessem discorrer suas histórias. A partir disto, os roteiros foram personalizados de acordo com as biografias que levantamos previamente ou nos dados censitários, bem como reflexão, entre uma entrevista e outra, sobre quais temas deviam ser abordados ou suprimidos a partir dali.

O processo de desenvolvimento de um protocolo de pesquisa materializado em um roteiro geral se iniciou em um processo contínuo de revisitação do referencial teórico- metodológico, das definições tanto do problema, das questões e do objetivo. Uma vez estabelecidos estes pontos, buscando meios de responder às questões propostas, chegamos a uma estrutura.

O roteiro geral foi elaborado com apenas questões para rememoração, sendo que o intuito não era de estabelecer perguntas com respostas rápidas, mas deixar os atores dissertarem suas histórias sobre as suas interações e experiências como plantadores. O sentido destas questões básicas era para retomar o assunto caso estivesse enveredando para outros contextos fora da pesquisa ou até mesmo para estimular uma rememoração em casos de um ator mais tímido ou que não tivesse abordado algum assunto de interesse da pesquisa.

Ademais, como veremos no processo, outras questões foram inseridas de acordo com as biografias de cada ator, personificando o roteiro, naquilo que é denominado de roteiro individual.

As questões iniciais do roteiro foram de caracterização, tais como nome, data de nascimento, local de moradia e de nascimento e telefone. As questões orientadoras, de acordo com o objetivo e questões de pesquisa, foram divididas entre questões comuns a todos os plantadores e questões que foram específicas tendo em vista a biografia de cada sujeito.

As questões gerais foram:

a. Você se considera um “plantador de árvores”? Por quê? b. Em que espaços planta árvores?

c. Costuma plantar sozinho ou acompanhado? Caso tenha companhia, quem costuma plantar com você?

d. De onde vêm as mudas que planta? (Exemplo: planta sementes, pega mudas no horto etc.)

e. Você recorda de quando plantou a primeira árvore? f. A sua prática levou outras pessoas a plantar? Quem?

g. Chegou a notar pessoas que se impulsionaram a fazer o mesmo a partir da sua prática?

h. Alguma condição especial para plantar: solo? Local? Condições hídricas? Época do ano?

i. O que o motivou a começar a plantar?

Caso diga que já plantou, mas não planta mais: j. Por que deixou de plantar?

Importante salientar que, após a construção da biografia dos plantadores, personificamos estas questões gerais, inclusive conhecendo os frutos, ou o legado de seus trabalhos. Ao conhecermos os frutos em particular do trabalho de cada plantador, caminhamos para entender o que no fundo valorizam e suas visões de mundo.