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Nesta seção, buscaremos subsídios dentro dos fragmentos das Histórias Orais dos nossos colaboradores de uma patente racionalidade. A racionalidade envolvida pode conter alguns valores da sociedade hegemônica ou então alguns elementos socioambientais.

A racionalidade predominantemente pautada nos valores do capital deve ter elementos e valores da sociedade capitalista, dentre eles, apontados por Leff (2009a, b, 2010a, b, 2011, 2015), citamos em nosso relatório: o valor do mercado e do lucro acima de tudo, a natureza como moeda de troca na aquisição de bens e serviços, uma erosão de saberes em detrimento a um saber universal científico, que serve ao deus-mercado, a produtividade exclusivamente pautada em lucro, etc.

De acordo com Santos (2012), essa racionalidade excludente, leva às monoculturas. Há assim como em uma monocultura de cana-de-açúcar ou de soja, uma única experiência, um único valor, uma única visão em detrimento a toda pluralidade do mundo. Por óbvio que toda monocultura representa uma tremenda violência, sufocando qualquer outra expressão que não as hegemônicas e estabelecendo uma linha abissal entre aquilo que é considerado e o que não é.

Ao contrário das monoculturas, Santos (2002) propõe ecologias, dentro de uma sociologia das emergências. Essas ecologias são plurais de experiências, rompendo com a linha abissal que separa as experiências hegemônicas das contra-hegemônicas. Ao fazer essa simetrização, contribuições recíprocas entre todos os atores ocorrem, desde os portadores de saberes científicos de determinadas áreas, até aqueles que tem saberes empíricos sobre as mesmas. Qualquer hierarquia a priori é quebrada e as experiências são avaliadas pela prática e pelo contexto.

Nesse raciocínio, propomos assim como Leff (2002, 2010a, b, 2015) uma racionalidade pautada na complexidade, no diálogo de saberes, traduzidos em um grande saber híbrido que é a mistura de várias vozes. É assim, uma racionalidade ambiental interdisciplinar, plural, complexa como o mundo o é. Racionalidade essa que vai para muito além da lógica capitalista, que tem levado o ambiente à destruição. O que propomos é uma nova visão, uma visão sustentável de fato, possuidora de ecologias.

Será que a prática dos plantadores trazem elementos dessa racionalidade? Será que serve de inspiração para a construção desse pensamento? Para elucidarmos estas questões,

pensamos que a melhor forma de sermos objetivos na resposta é olharmos para as ecologias, propostas por Santos (2002).

Materializam-se essas monoculturas e ecologias em cinco pares de lógicas diametralmente opostas, segundo Santos (2002):

1) Monocultura de saber ou do rigor do saber: Quando um único saber é respeitado e valorizado, no caso o científico. Este é o cerne desta pesquisa: Identificar os saberes patentes nas práticas de arborização. Seria identificado uma monocultura de saberes caso víssemos que há uma valorização de certo saber em detrimento a todos os outros. Como vamos avançar na discussão, por ora, apenas lembramos que não é o caso, pois vimos que há muitos saberes e fazeres em diálogo nas práticas documentadas.

Ecologia de saberes: Pensamos esta ser a ecologia um dos centros desta pesquisa, contrapondo à monocultura do saber científico. Quando na ocasião da seção anterior discutimos no subtítulo 4.5 “Quais saberes, fazeres e técnicas acionam?”, notamos um rico diálogo entre vários saberes. Em algum momento acessavam saberes dotados da prática, tais como técnicas obtidas no labor ou no empirismo; ora alguns plantadores usavam um saber científico, como o conceito de pH, por exemplo. Para Leff, isso poderia ser chamado de uma hibridização de saberes. Neste mesmo sentido, Boaventura de Sousa Santos chamaria de uma simetrização de saberes, onde todos os saberes são colocados em recíprocos diálogos e avaliados pela prática e pelo contexto. Também seria mais válido aplicar saberes populares, como na ocasião do nosso colaborador que emprega a enxertia. Ora poderia ser mais aplicável acionar um saber científico, como observar o pH do solo ou saber qual planta é nativa para o bioma específico.

Outra coisa que nos chamou atenção sobre a ecologia de saberes é que metade de nossos colaboradores (para sermos exatos, os colaboradores 2, 3 e 4) são pessoas mais experientes, que vieram de uma infância, adolescência e até começo da fase adulta vivendo no campo. Acionam estes saberes empíricos acumulados durante a vida em suas práticas. Outros três colaboradores (1, 5 e 6) são jovens que movidos pelo ideal de mudança do espaço onde vivem, têm uma ecologia de saberes ligada à transformação do espaço. Acionam saberes dos mais variados: desde saberes científicos até o retorno a saberes populares.

2) Monocultura de tempo linear: Quando a visão temporal é exclusivamente pautada no lucro e no progresso, no desenvolvimento ou atraso, desenvolvido e subdesenvolvido. Seria verificada essa monocultura caso nossos colaboradores tivessem visões de plantar muito em pouco tempo para obtenção de mais e mais lucro. Ou então, que

enxergassem o tempo empenhado para plantar como tempo perdido. O exemplo de ruralistas que buscam mais e mais tecnologias e técnicas para encurtar o tempo entre plantio e colheita, expandindo o lucro. Isso não seria necessariamente ruim, mas o que se critica é que essa seja a única visão temporal valorizada. E quem observa ciclos naturais? E quem faz rituais demarcados de temporalidade? E quem observa ciclos de estações, ciclos lunares? Pensamos essas temporalidades serem importantes, algo que levantamos indícios de serem observados pelos nossos plantadores.

Ecologia de temporalidades: Esta ecologia se opõe à monocultura de tempo linear e progressivo. Nesta visão, há outras visões de temporalidade além da visão exclusivamente linear. Em nossa pesquisa, levantamos também no subtítulo 4.5, elementos de percepções diversos sobre temporalidade. Por exemplo, vários de nossos colaboradores observam ciclos naturais (da lua, da seiva, das estações do ano, etc). Claramente que estas percepções temporais cíclicas são percepções alternativas àquela única visão progressista e linear, para qual o tempo é sempre atrelado ao lucro e à produtividade relacionada a bens. Como a percepção é cíclica, quer dizer que para essa temporalidade há momentos que sempre se repetem: há momentos de chuva, outros de seca; há momentos de frio e de calor; assim como há momentos em que se planta e que se colhe, bem como se poda as plantas. Em resumo, há uma percepção inerente à observância da natureza que é plural e concomitante à visão linear, nem exclusiva e nem única.

3) Monocultura da escala dominante: Por essa visão, o que seria valorizado é exclusivamente o que é global, o que é hegemônico. Produz não-existência porque desvaloriza o regional, o local. No caso, pensamos que as práticas de nossos plantadores são bastante regionalizadas, sendo pautadas fortemente por noções de pertencimento, que como discutido à exaustão, é um sentir pertencido a um local e exercer nele práticas, inclusive para sua preservação. Portanto, caso fossemos olhar pela lente globalizada, tais práticas não teriam valor, pois se materializam numa escala local e regional.

Ecologia de trans-escalas: Esta ecologia se opõe à monocultura de globalização. Para ela, há uma oposição ao sentimento globalizador e naturalizador de uma hegemonia global em detrimento ao local e ao regional. Preconiza a relação entre as diferentes escalas, mas não recusa a importância da lente global, e sim, valoriza a diversidade de escalas. Em nossa pesquisa, no subtítulo 4.6, notamos o sentimento de pertencimento, que está atrelado ao sentir pertencido a um local e exercer nele práticas e culturas. Muitos dos nossos plantadores, por exemplo, exercem sua prática de plantio nos seus quintais, bairros e cidades. Há, portanto,

indícios de uma ação localizada. Para, além disso, em alguns casos há o sentimento de querer melhorar aquela cidade, aquele bairro ou sua região. Há, portanto, para nós, indícios de uma ecologia de trans-escalas, pois não há um movimento globalizado das práticas.

4) Monocultura da naturalização das diferenças: Essa monocultura incide sobre os colaboradores. Ela é uma monocultura de naturalização de hierarquias, que são insuperáveis porque naturais. Em outras palavras, caso identificássemos hierarquias de sexo, religião,

status sociais, de castas, formação, idade ou qualquer expressão de hierarquização é indício da

presença dessa monocultura.

Em nosso caso, verificamos que pode haver indícios que a prática de plantio de árvores seja majoritariamente masculina. Primeiramente, no universo das reportagens exposto no capítulo 3, apenas duas traziam mulheres como protagonistas. Em nossa pesquisa, embora tenhamos entrevistado apenas 6 pessoas, todos homens, nenhum deles indicou espontaneamente uma mulher como plantadora para que pudéssemos entrevistar. As inspirações deles para suas práticas são, na sua maioria, composta por outros homens.

Isso nos dá subsídios para pensarmos que há uma naturalização das diferenças de sexo, algo que está na esfera macrossocial, expressada no patriarcado e que tem consequências neste ambiente micro, que é o nosso objeto de pesquisa. Pensamos que há indícios da ocorrência desta monocultura nas práticas de plantio, sendo algo a ser denunciado para superação.

Não quer dizer que em outros contextos, como por exemplo, outros países, cidades ou em outras organizações, como na agroecologia, não existam mulheres protagonistas. Temos por ora um estranhamento e apenas indícios de uma possível naturalização de diferenças, presente numa esfera social que parece se refletir nesse âmbito muito micro.

Ecologia de reconhecimentos: Esta ecologia é antagônica à monocultura de naturalização das diferenças. Ela se configura quando há reconhecimentos recíprocos, uma vez que há quebra de qualquer hierarquia a priori. Há um pluralismo de reconhecimentos: homem e mulher são vistos como iguais assim como castas sociais não são discriminadas, nenhuma religião é superior, etc. Pensamos aqui haver um problema já explicitado na ocasião da monocultura de naturalização das diferenças que é o fato de termos indícios que a prática de plantio de árvores deva ser uma prática de predominância masculina. Por termos entrevistado poucos plantadores e não ser nosso objetivo fazermos um estudo quantitativo,

não avançaremos em tais questões, mas gostaríamos apenas de salientar que é possível que neste âmbito, ao invés de uma ecologia, tenhamos uma monocultura, ou seja, haveria uma naturalização das diferenças.

5) Monocultura de produtividade pela lente capitalista: Essa monocultura se refere à valorização de produtividade se, e somente se, ela resultar em lucros. Excluiria qualquer outro legado ou trabalho que tenha produtividades alternativas, como sociedades de subsistência, cooperativas, sociedades indígenas, e qualquer outro tipo de trabalho de toda sorte. No caso de nossos colaboradores, seria indício dessa monocultura caso plantassem árvores para venda de madeira, ou trabalhassem visando à celulose, ou os plantassem intensivamente para obtenção de insumos relacionados às plantas. Pensamos não ser este o caso, pois, nossos plantadores, embora muitos tenham suas práticas relacionadas ao labor profissional, são outras prerrogativas envolvidas: o querer melhorar o ambiente, o prazer de ter plantas em casa, a utopia de mudar o mundo... De tal modo que para valorizar estes trabalhos seria necessária outra lente de produtividade.

Ecologia de produtividades: Esta ecologia é uma oposição à monocultura de produtividade pela lente capitalista, para qual somente a produtividade apreciada nos moldes do deus-mercado seria validada. Ao contrário, a ecologia reconhece produtividades de toda sorte: sociedades tradicionais, como as indígenas, cooperativas, subsistência, etc. Os nossos plantadores, como emergimos no subtítulo 4.4, possuem parâmetros de produtividade parecidos, sempre atrelados à satisfação de deixarem um legado ambiental, muitas vezes permeado por um sentimento de utopia de melhorar seus espaços. Além disso, diversos plantadores inspiram outros atores, seja através da internet (como os plantadores 5 e 6) ou de contatos pessoais, como plantador 2, que através de seu trabalho nas serras inspirou pessoas que usufruem das trilhas por ele feitas a preservarem o local. Só pudemos valorizar estas produtividades, pois usamos outra racionalidade como subsídio teórico. Em síntese, a produtividade de nossos plantadores tem a ver com a satisfação e a realização pessoal.

O Quadro de número 4 apresenta uma síntese da análise, a partir da interlocução com ecologias ou monoculturas encontradas nas práticas.

racionalidade presentes indícios dela? Síntese da materialização da lógica de racionalidade

Ecologia de saberes 1,2,3,4,5 e 6. Os colaboradores se valem de um plural de saberes e técnicas em diálogos recíprocos, desde científicos a saberes dotados da empiria. A prática determina o saber mais válido para aquele contexto.

Ecologia de

temporalidades 1, 2, 3, 4 e 6.

Há indícios de percepções de temporalidade atreladas aos ciclos naturais (lua, estações do ano, seiva, das chuvas e da seca, de plantio, poda e colheita, etc).

Ecologia de trans-escalas 1,2,3,4,5 e 6.

Plantadores parecem possuir um sentimento de pertencimento, pois atuam sobre um local, em detrimento a uma lógica estrita global. Parecem também desenvolver um pertencimento à causa de plantar, pois caso mudassem da cidade, ou do bairro, ou do país que moram, é provável que atuassem para melhorar também essa localidade.

Monocultura de naturalização das diferenças

1,2,3,4,5 e 6

Analisando o conjunto dos colaboradores, percebemos que todos são do sexo masculino, corroborando que possa haver indícios de uma prática majoritariamente masculina, o que se caracterizaria como efeito de uma naturalização de diferenças a nível macro, na sociedade em geral.

Ecologia de

produtividades 1,2,3,4,5 e 6.

A produtividade dos nossos seis colaboradores só seria valorizada caso pensássemos outra lente de produtividade que não a mercantil. Os legados deixados vão, desde a recuperação de áreas verdes, até a inspiração para outros plantadores.

Disso que está posto, tem-se que: por um lado, está a sociedade atual capitalista com seus valores claros, dentro de sua racionalidade, tais qual, o patriarcado - que temos indícios em nossa pesquisa- o materialismo que se traduz em visões de que a natureza seja apenas mera moeda para acumulação de bens, consumismo, o sentimento do ter em detrimento ao ser, etc.

O saber científico, permeado nessa racionalidade, encontra-se em uma ilusão de neutralidade em que é posto como único saber válido, um saber civilizador e universal. Ao passo disso, temos que esta violência cultural segue a mesma racionalidade produtora de outras não-existências, materializadas em diferentes monoculturas, uma sociologia de ausências.

Ao contrário disso, propomos um diálogo rico, onde o saber científico forneça contribuições para o entendimento de questões sociais, derivadas muitas delas de determinações populares. O saber popular, por sua vez, fornece a tessitura social se posto em diálogo com a ciência. Ainda por falar do saber popular, ele é promovido através das práticas diárias, ou seja, dos fazeres, mas também gera outros fazeres. Como lembra Boaventura de Sousa Santos, o saber mais aplicável é aquele que no contexto se mostre válido.

Na temática do que leva pessoas a plantarem árvores, o saber popular se mostrou relevante, pois, por um lado, seus fazeres e práticas atrelados a um território geram uma sensação de pertencimento, da qual os plantadores agem culturalmente sobre o habitat, sensação esta que se mostrou também central em nossa pesquisa.

Além da sensação abstrata de pertencimento, os saberes e fazeres populares são centrais também pelo fato de que o ato de plantar esteja, muitas vezes, atrelado à prática profissional, exigindo técnicas e conhecimentos.

Por um momento, os plantadores acessavam saberes empíricos, como no caso da enxertia. Em outros momentos foram acessados saberes científicos, como o conhecimento de pH e de posição geográfica, configurando um saber híbrido.

Outra questão relevante é que a transmissão de geração em geração de conceitos e práticas se mostrou relevante quando os plantadores disseram que aprenderam a plantar com parentes, dentre eles pais e avós, sendo uma característica dotada do saber popular, por ele ser aprendido na transmissão e imitação, bem como no dia a dia.

Percebendo essa ecologia de saberes, muitas outras existências foram também perceptíveis. Primeiramente, paralelo a uma gama de saberes híbridos, naturalmente

percebemos outras temporalidades: Quando se observa o conhecimento do ciclo de fases da lua, de ciclos de plantio, das estações do ano, e outros nesse sentido, percebemos que juntamente com a gama destes saberes, naturalmente há uma racionalidade de tempo implícita, pois todos estes processos acima descritos são cíclicos, indo para além de uma visão temporal de progresso e linearidade, configurando ecologia de temporalidades.

Prosseguindo, os saberes e fazeres ligados à transformação cultural do espaço local se configura uma ecologia de trans-escalas, pois há o deslocamento da métrica: do global para o local. Além disso, para ser possível reconhecer e valorizar as práticas de nossos plantadores é necessário evocar outro critério de produtividade, que não o estrito do lucro, configurando uma ecologia de produtividades.

Há um possível problema identificado, que seria o indício de que a prática seja predominantemente masculina, o que pode significar uma monocultura de naturalização das diferenças. Não iremos avançar na questão, por fugir do escopo deste trabalho.

Ao passo disso, a prática dos plantadores parece refletir uma racionalidade ambiental, possuidora de diferentes ecologias, que tem elementos tais como apontados por Leff (2009a, b, 2010a, b, 2011, 2015), dos quais elencamos alguns:

a) Diferentes identidades em diálogo, resultando na preservação de culturas, saberes e fazeres, das quais diferentes atores sociais trazem suas demandas e elas convergem para a conservação do ambiente.

b) Sentimento de pertencimento e a modificação do habitat, no sentido que as pessoas agem culturalmente sob seus territórios.

c) Os interesses que permeiam as práticas se mostraram além do que os estritos do “deus-mercado”.

d) Valorização de diferentes atores sociais. e) Valorização do ser em detrimento ao ter.

A importância disso é que, mesmo que não sendo pensado nesses termos, os plantadores são inspirados por elementos contra-hegemônicos em suas práticas. Eles parecem plantar em conexão com o ambiente, pela satisfação de plantarem, não estritamente pelo lucro e satisfação material.

Como visto nos parâmetros da Felicidade Interna Bruta (FIB) -vide nota de rodapé 11-, a felicidade está para muito além da satisfação material, mas envolve entre outras coisas, a utilização do tempo livre para atividades prazerosas, lazer, bem-estar social e também a

realização material. Pensamos que tais fatores estejam presentes nas práticas de nossos colaboradores, pois muitos deles o fazem por satisfação, têm suas plantas em casa, aproveitam de seu tempo livre para cuidar e continuar a prática, e quando não, fazem de seus trabalhos o próprio hobby.

Os conhecimentos mobilizados, ao serem explicitados, podem levar à reflexão de outras questões. Não esperamos que se “salve o mundo” com práticas de plantio de árvores, mas a partir deste olhar, podemos emergir utopias e ações que são naturalmente contra- hegemônicas.

Por fim, organizamos abaixo um mapa de conceitos32 que visa sintetizar as impressões que tivemos a partir da coleta de informações, onde nosso objetivo foi de sintetizar a gama de relações entre os conceitos teóricos e empíricos da pesquisa.

32

O Mapa Conceitual abaixo foi elaborado usando o software CMAP Tools®, mas todas as conexões e conectores foram elaborados por nós em síntese com aquilo que apresentamos nesta pesquisa, de modo que o programa nos forneceu apenas o design e a interface. Esta distinção é feita, pois, há programas que encontram relações e conexões de acordo com seu banco de dados e sua programação, mas não é o caso para o CMAP Tools.

Em observância ao mapa, localizamos no canto extremo esquerdo o saber científico. Quando ele é dotado de total status entre os saberes, há configuração de uma monocultura de saber ou de rigor científico. As monoculturas são estruturas de racionalidade que subsidiam a racionalidade do capital, portada pela sociedade hegemônica. São outras monoculturas: tempo linear, escala dominante, produtividade pela lente capitalista e de naturalização de diferenças, que porventura temos indícios de que ela se mostrou presente na nossa pesquisa.

A sociedade capitalista possui valores claros, como o patriarcado, a valorização do ter em detrimento ao ser, consumismo, para os quais a natureza é apenas uma via de aquisição de bens e serviços. Além disso, há a prevalência do saber científico em detrimento a todos os outros saberes, sendo aquele, visto como um saber civilizador.

Tais valores portados na racionalidade do capital acarretam problemas para o ambiente, sendo urgente outra racionalidade. No extremo superior esquerdo, podemos visualizar que, ao invés de um centrar exclusivo no saber científico, abrimos a