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5. Elementos motivacionais, saberes e fazeres relacionados a práticas de arborização:

5.3 Que saberes, técnicas e fazeres acionam?

Esta questão reúne motivações e citações em que há indícios de que os afazeres profissionais relacionados à prática de plantio sejam o elemento principal, ou ainda outras características importantes que demarcam os saberes tanto populares quanto científicos, tanto quanto indícios de saberes hibridizados.

Por um lado a transmissão de geração em geração, conhecimentos tradicionais familiares, empirismo, plasticidade e concretude nas explicações são marcas dos saberes populares. De outro lado, o conhecimento advindo da academia, transmitido em instituições científicas, cuja linguagem abstrata e complexa são marcas do saber científico.

Há claramente uma região entre ambos os polos em que os saberes dialogam, fornecendo riquíssimas possibilidades recíprocas. Por um lado, o saber científico hegemônico é excludente e não encontra disseminação no tecido social, sendo extremamente abstrato e por isso, não compreensível para a maior parcela da população, encontrando dificuldade em se disseminar. Por outro lado, o saber popular por si só é riquíssimo em tessitura social, mas não apresenta muitas vezes uma linguagem distanciada e complexa suficiente para entender e descrever os fenômenos com precisão (FLECK, 2010).

Eis, que, então, ambos os polos são postos em diálogos, em que o saber científico fornece abstração e sistematização aos fenômenos da sociedade. A sociedade, muitas vezes pautada pelos saberes populares, fornece a tessitura social e concretude ao saber científico, além de fornecer objetos de estudo para a ciência. A partir de recíprocas contribuições, ambos os saberes se completam (FLECK, 2010).

Caminhando neste sentindo, Santos (1989, 1995, 2002, 2007, 2009) propõe que os saberes sejam avaliados na prática, onde há oportunidades em que se apliquem melhor as determinações populares; outras pedem explicações científicas.

Para as questões relacionadas à temática ambiental, como vimos em Leff (2009a, b, 2010a, b, 2011, 2015), os saberes e fazeres populares têm um papel central na construção de uma nova racionalidade ambiental, sendo que não é possível solucionar os problemas ambientais com visões que a levaram ao colapso, como visões hegemônicas científicas atreladas ao interesse do capital, desprezando as necessidades e as determinações sociais e populares. Para além, para o autor, se ganha em complexidade quando se propõe um diálogo de saberes, chamado por ele de hibridização, onde se contribuem mutuamente, atribuindo tanto sistematização quanto tessitura social.

Em resumo, os saberes e culturas geram cabedal teórico ou prático para fazeres, de acordo com as visões de mundo. O que almejamos é um cabedal que não violente epistemologicamente e que respeite as manifestações plurais. Pensamos como Santos (1989, 1995, 2002, 2007, 2009) que a origem das desigualdades sociais, políticas e ambientais são oriundas da violência cultural, pois coloca o ser humano não só à margem da natureza, mas

também no âmbito social, político e econômico, sendo desacreditado em suas manifestações, gerando sensação de exclusão, infelicidade e não pertencimento.

Na questão ambiental, vários exemplos apontam que os primeiros a lançarem mão de práticas que versavam a conservação do ambiente vieram de populares, enquanto cientistas se preocupavam na produção de bombas e armamentos (FEYERABEND, 2010).

Inspirados nestes pressupostos, investigamos quais seriam os saberes e fazeres relacionados com a prática versando fornecer subsídios para o pensar de uma nova racionalidade ambiental. Assim sendo, debruçamos para ver se há indícios do diálogo entre saberes e fazeres e o quanto isso parece ser relevante para nossos colaboradores.

Para o nosso primeiro colaborador, sua inspiração advém de membros da sua família, como sua avó e seu pai, sendo um indício importante de característica de um saber popular familiar. Além disso, ele busca transmitir seus conhecimentos a seu sobrinho, sendo uma marca de que seu conhecimento é transpassado de geração em geração. O trecho abaixo extraído de sua História Oral exemplifica:

[A minha identificação com a natureza] é sim, muito forte. Acho que o princípio [da minha identificação] foi ela, [minha avó]. Os primeiros passos foi ela para reconhecer as espécies, o jeito certo de plantar, para fazer o plantio da muda. Aí outras coisas nós vamos agregando conhecimento, vai pesquisando, vai passando um pro outro.

Em outro trecho, ele aponta alguns conhecimentos relacionados à técnicas, estações do ano propícias a plantio devido à maior incidência de chuvas, questões sobre solo, vegetação nativa, e outras questões, como vemos no trecho abaixo:

[Por fim, quanto a solos e questão hídrica] procuro escolher, eu tenho esta visão de procurar plantar no tempo das águas, e na questão do solo, eu procuro sempre procurar espécie nativa, identificada no solo. Aqui é cerrado, a vegetação aqui é cerrado, então a gente foca mais nesta parte, das espécies do cerrado.

Além de ser eminentemente um diálogo rico entre diversos saberes, desde científicos, a saberes empíricos, vemos que o plantador tem uma noção de temporalidade. Isso porque ele observa os ciclos naturais, como o período chamado no julgo popular de “período das águas”. Avançaremos mais nesta questão na próxima seção, mas já adiantando, isso nos parece fazer parte de uma ecologia de temporalidades.

O segundo colaborador argumenta que sua infância em sítios foi importante, pois lá aprendeu sobre fazeres camponeses e saberes relacionados à tipos de planta e práticas de plantio, que culminaram na sua fase adulta tendo seu próprio sítio. A seguir, teve seus saberes aprimorados tendo na prática, na empiria retirando sementes e fazendo mudas nos viveiros. Depois, pôde, a partir destas lentes, enxergar a importância da conservação das nascentes e serras. Logo após, pôs em prática seus saberes, traduzidos em fazeres na conservação e manutenção das praças municipais. Afirma que seus saberes foram obtidos em virtude do trabalho, o que em outras palavras apresenta indícios de que foi na prática e na empiria que ele obteve seus conhecimentos, como se nota no trecho abaixo:

Isto aí é o conhecimento do trabalho, que foram me dando oportunidade de crescer sobre o viveiro de mudas, sobre as técnicas que a gente usava, aí cada árvore que eu chegava para mim era um orgulho, uma semente tirada por mim.

Outra característica marcante que apresenta indícios de que os saberes populares são imprescindíveis no entendimento da questão é que os filhos e netos deste plantador não têm uma relação acentuada com a natureza, e o motivo apontado é por morarem na capital, em prédios. Este fato merece particular atenção, pois há uma tendência de que as pessoas possam perder suas tradições com a globalização, tal como acontece no exemplo retratado no documentário “Escolarizando o mundo”. O trecho abaixo exemplifica esta fala:

Olha, [sobre a jardinagem, se seguem meus passos] eu não sei, não é muito fácil seguir meus passos porque as flores, é gostoso trabalhar com as flores, mas elas precisam de amor e carinho, e tem muita gente que planta por plantar. Meus filhos, netos, eles moram na capital, todos moram na capital. Quando eles vêm para Monte Alto eles correm nas serras, eles correm as trilhas, eles vão nos lugares onde o avô deles passou tirando foto, recordação, tudo o que eles viam, veem, eles gostam até hoje. A minha netinha, tenho uma netinha com sete aninhos, ela tem adoração. Quando ela chega na minha casa, a primeira coisa que ela vem pedir é: “Vovô, vamos arrancar minhoca?” Vai no jardim cavucar para arrancar minhoca e dizer que a minhoca é “meu vô que cuida”, e ela pega as plantinhas e leva para plantar lá no prédio, mas lá é muito sombrio, muito alto onde ela mora, lá no vigésimo quinto andar, é muito alto, então não bate muito arejamento para as plantas desenvolverem. É assim, a gente vai aprendendo, vai passando para os filhos, e muita gente...

No trecho abaixo, ele demonstra técnicas e saberes que emprega no jardim da praça central para plantio de algumas mudas, como a resedá.

E aqui no jardim nós temos resedá, que é formado mudas por estaca: Tira a estaca dela, corta, vê se tem “olhinho”, se tem bastante “olhinhos”, se tiver “olhinhos”, ela está pronta para plantar. Se não tiver, ela não brota, ela não pega. Tem vários tipos de árvores que formam muda assim, semente... Tirei muita semente de magnólia do cemitério, de dentro do cemitério, tirei muita muda...

A exemplo do plantador 1, este colaborador também diz observar ciclos naturais para realização de plantio, como a época das chuvas. Além disso, apresenta alguns saberes relacionados à temporalidade e ao crescimento e maturação das plantas. Além disso, discute algumas questões como condições para plantio, como vemos abaixo.

A sangra-d’água também. Tirei muita sangra-d’água na beira dos rios, que a sangra- d’água é para desenvolvimento de rio, que ela forma muito rápido. Você semeia ela e dentro de quinze, vinte dias no máximo nasce. Dentro de seis meses no máximo ela já é uma árvore de mais de um metro, um metro e pouco para plantar. A maior parte [dos plantios que faço] é na época das chuvas, porque a chuvarada ajuda elas brotarem, criarem raízes. Muita gente ousa plantar na época das secas, mas nas secas não é desenvolvido muito porque os brotos, o brotamento delas é de agosto em diante, que é o tempo de brotagem das plantas, ela pega, mas não dá desenvolvimento para crescerem, elas só começam a crescer quando acontece o desenvolvimento das chuvaradas, quando crescem as raízes e vai crescendo.

Outra vez salientamos que os plantadores parecem demonstrar concepções muito próprias de temporalidade, muito além de uma racionalidade pautada no mercado ou em lucros, em que o tempo fosse empregado exclusivamente para ampliar a produção. Ele prossegue ao falar sobre as fases da Lua:

Ah, [agora em relação à lua] para mim lua não vale nada. A Lua é mais para negócio de capação de porco, cavalo, essas coisas aí... Mas para plantio... Para plantio de arroz, essas coisas aí, aí tem a época de fazer isso aí... Do contrário, para árvore não. Para árvore acompanha a natureza [fala com grande ênfase]. Ela já vem pela natureza e acompanha a natureza.

Embora ele não reconheça as fases da Lua como fator importante, ele conclui que há ciclos, épocas apropriadas para o plantio, novamente demonstrando uma noção de temporalidade.

Por fim, outra marca importante deste diálogo entre saberes foi sua contribuição com pesquisadores de universidades em que se valeram de seu profundo conhecimento ambiental local na escavação dos fósseis.

Talvez o caso que seja mais emblemático deste ponto sobre os saberes seja o nosso terceiro colaborador, pois ele tem uma forte relação com a prática da enxertia, que é

eminentemente uma prática popular que posteriormente foi sistematizada e interpretada cientificamente. É interessante notar que a exemplo do plantador da reportagem de número 3, disponível na seção 2, nosso colaborador também faz uso da técnica.

Dando sequência, o nosso entrevistado aponta que foi o seu trabalho que o levou a aprender as técnicas, aliado a sua curiosidade e motivação de estar constantemente mexendo na natureza, plantando e cultivando. Especializou-se na prática de enxertia, sendo portador de saberes e fazeres em que se sente feliz em poder transmitir a outras pessoas que o procuram. Esta característica de transmissão de geração em geração é uma importante característica que demarca o saber popular. O trecho abaixo extraído da História Oral exemplifica esta característica:

A gente tem ensinado a várias pessoas. Muitos prometem de vir aqui para a gente ensinar, mas não vêm.

A seguir, ele explica as duas técnicas de plantio com enxerto, sendo a primeira chamada de “borbulha”. Primeiramente, ele explica que a técnica é empregada em cítricos como laranja, limão, tangerina, etc.

Na sequência iremos descrever a técnica de acordo com o que pudemos compreender na descrição oral feita por nosso entrevistado. A primeira etapa consiste, segundo ele, em descascar o caule do “cavalo30” com o canivete, expondo uma parte do caule para acoplar a outra planta. Pelo que compreendemos, o fato de descascar é para promover o contato e consequente troca genética entre as duas plantas. A seguir, um pedaço da outra planta que vai ser enxertada no “cavalo” é posta em contato com a parte descascada anteriormente. Para finalizar, ele coloca uma vedação plástica a fim de que o sol não queime o enxerto e que para manter as duas partes em contato para que haja a troca genética necessária para que o processo seja satisfatório. Partimos agora para o processo de “garfagem”, onde é possível compreender que o “cavalo” é aberto tal como um garfo, talvez daí deriva-se o nome da técnica. Isso é, abre-se um vão, delicadamente, com o canivete no caule do “cavalo”. A seguir, as mudas que serão enxertadas no “cavalo” são polidas com um canivete por parte do nosso colaborador. No passo seguinte, o plantador insere a planta enxertada no garfo do “cavalo” e veda com um filme plástico a fim de proteger e garantir o contato entre as plantas, favorecendo as trocas genéticas, finalizando assim o processo.

30 Cavalo é a planta que vai receber o enxerto. Talvez a analogia se valha no exemplo de um cavalo que suporta

Prosseguindo, ele possui saberes que lhe permitem identificar quais plantas são oriundas de mudas de primeira geração e quais são enxertadas, o que é importante para a qualidade genética e para o próprio plantio de árvores, uma vez que plantas enxertadas não são passíveis de se reproduzirem, mas por outro lado, apresentam qualidades que a planta original não possui. O trecho a seguir demonstra a explicação do plantador sobre a questão:

Primeira linha vou te explicar o que é. Primeira linha tem que tirar, agora no nosso estado não existe mais, cítrico não existe mais, agora manga, abacate existe. É tirado pé de semente, tira a “borbulha” do pé de semente e faz o enxerto e faz primeira linha. Depois daquele é segunda linha, e vai sendo segunda, terceira... Aí onde saem os pés refinados que não desenvolvem. A de primeira linha dá uma árvore bonita como se fosse pé de semente, entende?

Então o domínio de tais técnicas é importante para o entendimento da prática do plantio de árvores. Exemplo disso é um caso curioso contado pelo plantador que contava que uma planta enxertada não se reproduz e cita um caso curioso de que a “atemoia” é uma planta enxertada a partir de uma planta original denominada de “araticum”, mas ele não sabe explicar o porquê de uma planta enxertada não se reproduzir. Este fato é exemplificado abaixo:

Se plantar de semente não funciona. Daí eu não entendo o porquê. Tem que ser a araticum. Veio uma mulher um dia procurando urucum, dizendo que era remédio. Daí eu disse que não tinha. Mas daí eu bolei comigo e disse: “será que não é araticum?”. Aí ela disse: “pois é isso mesmo, eu que falei errado”. Eu tenho aí no quintal.

Pensamos que o fato possa ser entendido porque o saber popular não possui uma linguagem tão sistematizada quanto ao saber científico, mas ele se atrela às condições do dia a dia, na imitação, na empiria e nos fazeres ligados ao trabalho. Ele pode ter feito algumas vezes, ter tido êxito e segue fazendo até hoje, sem se preocupar com fatores genéticos, de reprodução assexuada ou sexuada ou outras preocupações que tangem ao linguajar científico. Entretanto, ele possui um rico conhecimento, passível de transmissão, que na prática logra êxito. Se entendermos de acordo com o critério traduzido por Boaventura de Sousa Santos e outros seus colaboradores (1989, 2002, 1995, 2007, 2009), de que a prática determina a validade de um saber no contexto dado, não devemos nos preocupar com linguajar científico neste caso, pois o saber popular se mostrou válido e trouxe um sentimento de completude e satisfação ao nosso colaborador.

Outra questão a levantar é que a exemplo dos outros colaboradores, ele também parece perceber certa temporalidade, como podemos examinar no excerto:

No enxerto o cavalo tem que estar numa época certa. Tem que estar vegetando bem. Se ele não estiver vegetando bem, não pega o enxerto. Todo enxerto que você for fazer tem que estar vegetando bem. Tem que ter o líquido certinho. Se ele estiver meio parado não pega. Tanto limão quanto manga, tudo, tem que estar vegetando para poder ligar o enxerto.

Ele também reconhece que há momento certo para plantar utilizando a técnica, ou seja, há um ciclo natural da planta a ser respeitado e observado.

O nosso quarto colaborador diz que a prática de seu trabalho em jardinagem requer técnica, sendo que não é qualquer um que o pode realizar. Além disso, argumenta ter aprendido na prática, o seu trabalho. As técnicas vão além de saber manusear o maquinário peculiar à jardinagem, mas saber identificar um bom solo, época correta de se plantar, podar, cuidados e estética. Os trechos abaixo exemplificam saberes e fazeres apontados por ele que são importantes na sua prática.

Ah, [para plantio] tem que esperar a chuva, tem que esperar a chuva. Porque tem vários tipos assim, que nem você vai plantar uma fruta, agora tem que esperar até lá para o fim de setembro. Vamos supor [que vai] plantar uva, ou plantar vários tipos de fruta. Por causa da chuva. Tem que chover, se não… [Nesse tempo de seca é] só manutenção. Só manter o que tem. Só isso. [Agora o] tempo da poda já foi. Ah, [sobre os solos] não é qualquer solo não. Tem solo que é bravo, plantou já morreu. Só se não cuidar legal mesmo, se não... Agora aqui é difícil morrer sabe? Porque a gente tá aqui, rega... Agora se é uma chácara que eu vou e volto daqui um mês para fazer o jardim, que o dono não pode ir lá, quando chega já era. Morre tudo. [...] Não é qualquer um que mexe com isso. Tem que ter as manhas.

Interessante notar que embora ele creia que haja influência das fases da lua na plantação, que é um saber tradicional, as fases da lua não se aplicam em seu trabalho, pois a sua prática está fortemente permeada com as necessidades e interesses daqueles que o contratam:

[Fases da lua] Não, aqui já não respeita, sabe por quê? Aqui depende o estado que tá. Que nem essas arvorezinhas, está vendo? Essas eu já podei tudo. O único que tem um pouco dessa lua, que a mulher falou para mim, é a primavera que saem as flores, que envolve um pouco, de resto não envolve nada. O pessoal antigo diz que acerta, agora nós levamos embolado. Mas tem as luas certas, [sim].

Cabem inúmeras discussões a respeito disto, pois não há consenso no âmbito científico sobre a questão, mas fornece indícios de que as tradições e saberes populares são desacreditados quando entram em voga os interesses do mercado ou a globalização. Mas, também como nos casos anteriores, há aqui uma percepção forte de temporalidade, reconhecendo fases da lua, ciclos naturais como a época das chuvas, estações do ano e outras questões correlacionadas.

No trecho seguinte, ele discute alguns aspectos e saberes sobre solo e as técnicas que usa na jardinagem:

Ah, [sobre os solos] não é qualquer solo não. Tem solo que é bravo, plantou já morreu. Só se não cuidar legal mesmo, se não... Agora aqui é difícil morrer sabe? Porque a gente tá aqui, rega... Agora se é uma chácara que eu vou e volto daqui um mês para fazer o jardim, que o dono não pode ir lá, quando chega já era. Morre tudo. Não é qualquer um que mexe com isso. Tem que ter as manhas. Para podar, por exemplo, tem que saber, se não você estraga a planta. Tira mais do que pode tirar. Igual aquela redonda. Começou crescer agora, tem que arredondar certinho. Se o cara não manjar sai tudo torto. Fica tudo com defeito.

O que notamos nesta descrição é que ele salienta com ênfase a importância das técnicas pautadas no empirismo em que ele aprimorou após anos de trabalho e que hoje o permite fazer com muita perspicácia.

O quinto entrevistado não apresenta necessariamente uma forte relação com saberes e fazeres, mas merece destaque a fala de que embora as pessoas se interessem por integrar o grupo, se engajem com a causa, quando chega o momento de praticar, de exercer as técnicas inerentes ao processo de plantar (escavar, plantar, regar, etc), muitas acabam por desistir, pois envolvem técnicas e manuseios próprios. Segundo o mesmo, para superar este eventual obstáculo é necessária boa-vontade, tal como vemos no trecho abaixo:

Quando a gente fez, saímos em jornais no mundo todo, literalmente. Muitas pessoas se empolgaram, mas quando vão cavar buracos acabam desistindo da empolgação inicial. Por isso é necessário força de vontade. [A mobilização em torno da causa é o maior problema], mas não foi tão difícil assim quanto a gente imaginava. A