A volatilidade das demandas sociais exige cada vez mais respostas e ações mais ágeis
da gestão pública. O processo de política pública mostra-se como uma forma moderna de lidar
com as incertezas decorrentes das rápidas mudanças do contexto. Tome-se como exemplo o
SUS, que abriga diversas políticas de saúde.
O que seja uma política pública?
Trata-se de um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Decisões condicionadas pelo próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas provocam no tecido social, bem como pelos valores, ideias e visões dos que adotam ou influem na decisão. É possível considerá-las como estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório. [...] Com uma perspectiva mais operacional, poderíamos dizer que ela é um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos. (SARAVIA, 2006, p. 29).
Para Boneti (2006), as políticas públicas são vetores resultantes da dinâmica social do
jogo de forças que se estabelece na esfera das relações de poder constituídas pelos grupos
econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil. Ele
compreende que as políticas públicas são “ações que nascem do contexto social, mas que
passam pela esfera estadual como uma decisão de intervenção pública numa realidade social,
quer seja para fazer investimentos ou para uma mera regulamentação administrativa”
(BONETI, 2006, p. 74).
Talvez a definição mais conhecida seja a de Laswell (1936; 1958 apud SOUZA, C.,
2006) que estabelece que decisões e análises sobre políticas públicas implicam responder
quem ganha o quê com a política, por que e que diferença faz. Entretanto, não existe uma
única ou uma melhor definição sobre o que seja política pública (SOUZA, C., 2006).
Um ponto importante a ser destacado é que o processo de formação da política pública
não possui uma racionalidade manifesta, na qual cada ator social conheça e desempenhe o
papel esperado. Por trás da configuração da política pública existe uma racionalidade
embutida originária do paradigma da teoria da escolha racional que alicerça as políticas
econômicas (SARAVIA, 2006).
Boneti (2006) também aborda a questão da racionalidade da política pública sob outra
ótica: apesar do nosso desenvolvimento do pensamento científico atual, o desenvolvimento
das políticas públicas ainda se utiliza da tradição iluminista de associar uma decisão política a
uma verdade comprovadamente científica, ou seja, uma decisão tomada com base em dados
técnicos da realidade em que se busca intervir, sobrepondo-se muitas vezes à própria vontade
da população. Para ele, a gênese das políticas públicas se utiliza de três fatores da
racionalidade clássica para construção da política: a concepção etnocêntrica, o caráter de
infalibilidade e o antidiferencialismo.
Segundo a concepção etnocêntrica, existe apenas uma verdade única e universal a
partir da qual se instituem as atribuições do certo e do errado. Esta concepção tem origem na
razão científica que se baliza pelos requisitos da universalidade e homogeneidade que a
ciência carrega como princípios de status. Esta gênese se observa no processo de formulação
e implementação das políticas públicas de massa desenvolvidas pelos tecnocratas da
burocracia pública (BONETI, 2006).
Outra gênese das políticas é seu caráter de infalibilidade, verdade absoluta, originário
da racionalidade científica das ciências. A ideia de universalidade das políticas públicas se
baseia na concepção etnocêntrica e infalível das ciências. Outra característica extraída da
razão iluminista é o antidiferencialismo que estabelece o trato das populações sobre a
perspectiva da homogeneidade. Na percepção de Brian Barry (1989 apud SARAVIA, 2006), a
racionalidade clássica transforma-se como critério supremo e inquestionável, substituindo a
verdade e a moral como critério último de julgamento das crenças e condutas humanas.
Independente da influência que a racionalidade científica promove sobre a formulação
das políticas públicas, estas se originam de uma ideia, e esta de um princípio, de uma
pressuposição ou de uma vontade coletiva. Neste aspecto:
A palavra princípio não carrega consigo apenas o significado literal do termo, mas algo mais, o contexto dos fatos determinantes que dão origem a uma ideia de política pública, como o caso da conjugação de interesses, as inserções ideológicas, as concepções científicas, as correlações de forças sociais (BONETI, 2006, p. 9).