• Nenhum resultado encontrado

5. Investigação em contexto de JI

5.5. Conclusões da investigação

Os resultados obtidos na investigação revelam que parece não ter ocorrido uma melhoria nas competências de iniciação das interações com os pares, já que as crianças mantêm comportamentos de caráter intrusivo. Ainda assim, sugerem um desenvolvimento das suas competências de resolução de conflitos e manutenção da brincadeira, traduzido essencialmente na utilização mais frequente de estratégias que se

relacionam com a expressão e comunicação e recetividade aos pares que permitem maior sucesso das tentativas de negociação e conciliação.

Estes resultados vão ao encontro dos resultados obtidos através da contagem de conflitos por tipo de resolução – ainda que não se tenha registado uma diminuição consistente do número de conflitos ocorridos, verifica-se um aumento da proporção de conflitos resolvidos autonomamente pelas crianças, quer no grupo da amostra, quer no conjunto da população. Assim, ainda que as crianças continuem a envolver-se em vários conflitos, possivelmente relacionados com as suas dificuldades na entrada num grupo de pares, mostram recorrer a variadas estratégias na interação com eles, para resolverem os conflitos e manterem essa interação.

Donde, pode-se considerar que a verdadeira ação do educador não deve ser no sentido de eliminar os conflitos, mas de promover uma maior autonomia das crianças na sua resolução, como discutido no ponto 5.2.3. Resolução de conflitos.

Parece também pertinente que se discuta que o facto de o número de conflitos não ter diminuído, provavelmente, pelas dificuldades das crianças na entrada num grupo de pares, sugere que a intervenção do educador deve incidir, também nas competências sociais que permitam uma melhor aproximação e iniciação da brincadeira entre pares (Guralnick & Neville, 1997).

Neste sentido, a intervenção do educador parece ter um impacto direto sobre o desenvolvimento social das crianças, revelando-se, na presente investigação, que a atuação da equipa de sala de modo coerente e consistente, utilizando modelos de mediação em que as crianças são participantes ativos (Silva, 2011), parece originar resultados nesse sentido, contribuindo para a crescente autonomia do grupo, tal como descrito por diversos autores (Andrews, 2000; Haan & Singer, 2003; Malloy & McMurray, 1996).

É possível, no entanto, considerar outros fatores que podem ter exercido influência sobre a melhoria das competências sociais das crianças, não se pretendendo, com a presente investigação, classificar o papel do adulto como único contributo para este desenvolvimento. O tempo que as crianças passam juntas e a familiaridade entre si é um dos aspetos que poderá ter contribuído para esta melhoria (Ladd & Coleman, 2002), especialmente se se considerar que o grupo é constituído por crianças que, no passado ano letivo, se encontravam integradas em dois grupos distintos, em duas valências diferentes. Além disso, a própria maturação das crianças poderá ser entendida como um fator de impacto no seu desenvolvimento social (Hauser-Cram et al., 2014).

Estas conclusões são, contudo, condicionadas pelas limitações do estudo, que incluem a dificuldade em registar todos os conflitos que ocorrem entre as crianças, especialmente quando estas os resolvem autonomamente, sem recorrerem ao adulto. Nestes casos, e sabendo que a atenção do adulto se reparte, a cada momento, pelas 22 crianças do grupo, o adulto pode nem chegar a aperceber-se da existência de um conflito. Como modo de contribuir para a diminuição do risco de falta de autenticidade dos dados, talvez pudesse proceder-se a uma gravação em vídeo de alguns momentos da rotina, assegurando que os observadores, continuando a assumir-se como participantes, teriam oportunidade de, mais tarde, revisitar os momentos do dia, para procederem a um registo dos conflitos mais fiel à realidade.

Outra limitação apontada poderá ser o facto de os conflitos serem apresentados apenas como valores estatísticos. A utilização de registos através de notas de campo e respetiva análise de conteúdo tornaria os resultados da investigação mais ricos, pelas possibilidades de análise das estratégias das crianças que a descrição detalhada dos conflitos proporcionaria, assim como as razões do conflito e as estratégias iniciais de aproximação das crianças.

Além disso, a complexidade do instrumento, pela quantidade e especificidade dos itens que inclui e a dificuldade do tratamento dos dados recolhidos, devido à necessidade de utilizar diferentes processos para os organizar, levou a que o APR (Guralnick, 2003) tenha sido aplicado a somente seis crianças do grupo. Centrando-se apenas numa amostra, reduziu-se bastante o volume de informação acerca das estratégias das crianças, provocando uma extrapolação dos resultados a todo o grupo, sem que se possa confirmar a sua validade.

Mesmo considerando estas limitações, a presente investigação oferece vantagens para a observação e intervenção no contexto, já que revela o valor da atuação do adulto na construção de estratégias, por parte das crianças, que as levem a ser bem- sucedidas na resolução de conflitos. Afirma-se então a responsabilidade do adulto, que deve envolver e apoiar as crianças na resolução dos seus conflitos, considerando estas situações, como apontado por Corsi (2011), contribuições significativas para a construção da identidade dos sujeitos envolvidos.

Concluindo, as crianças mostram possuir competência para mobilizar diferentes estratégias de resolução de conflitos e manutenção da brincadeira, baseada na expressão e comunicação dos seus pontos de vista e aceitação e recetividade aos pares. Ainda assim, envolvem-se em muitos conflitos, maioritariamente por motivos relacionados com possessão, possivelmente por apresentarem menor facilidade em

concretizar estratégias de iniciação da interação com os pares. Em grande parte das situações registadas, o adulto ainda ocupa um lugar relevante para auxiliar o grupo na resolução de conflitos. Contudo, aumentam os casos em que as crianças são bem- sucedidas na resolução dos conflitos sem que seja necessária a intervenção do educador, revelando que as estratégias de mediação que este utiliza, caracterizadas pela promoção da autonomia das crianças, atingem resultados positivos na criação de um ambiente favorável à resolução autónoma dos conflitos.