• Nenhum resultado encontrado

Quando cheguei à sala do acolhimento, aproximei-me do SantO e do GuiT que estavam a brincar com uma viola e um dinossauro e eles começaram logo a conversar comigo, mostrando os brinquedos que tinham. O GuiT falou bastante sobre os dinossauros, revelando um grande interesse no tema e, logo depois, quando o SantO trouxe uns animais de pano, estivemos a conversar sobre algumas características dos cavalos e das vacas.

Seguimos para a sala 1 com a educadora, organizámos a sala para a reunião, acolhemos alguns meninos e meninas da sala 2 e quando eles se foram embora, iniciou- se a reunião da manhã. Foi um momento bastante mais tranquilo do que as reuniões anteriores, durante o qual o grupo se mostrou participativo, mas capaz de escutar os outros. O GuiT falou sobre o seu T-Rex, o S mostrou os pacotes de pipocas e os doces que trouxe para partilhar com todos e o SantO tocou viola para todos.

No final da reunião, todos se dividiram pelas tarefas planeadas e eu fiquei a marcar as presenças com aqueles que ainda não o tinham feito. O AL ficou perto de

mim o tempo todo, a ajudar quem vinha marcar a presença e demonstrou reconhecer todos os nomes que existem no mapa das presenças.

Quando todas as crianças já tinham marcado a presença, fui até à mesa onde a C, a Le e o AfS estavam a desenhar nos seus cadernos – cada criança tem um caderno onde pode desenhar sempre que lhe apetece. A C pediu-me que a ajudasse a desenhar um telhado na sua casa porque ela não sabia como fazê-lo. Eu disse-lhe que podíamos tentar juntas e acabámos por desenhar vários prédios, até à hora do recreio. Nesse tempo, também conversei com a Le e com o AfS sobre os seus desenhos e, entretanto, o AL juntou-se a nós, com o seu caderno e começou a desenhar também.

Num dos desenhos que fez, referiu que aquilo que tinha acabado de desenhar era um gelado, mas pequeno. Virou a folha e desenhou um gelado maior. Virou a folha novamente e repetiu o desenho sucessivamente, até que acabou por ficar com 5 gelados grandes desenhados, todos em folhas diferentes. Tentei conversar com ele, para que ele me dissesse quem estava a comer o gelado, ou para contarmos os gelados, de modo a que ele parasse de repetir o mesmo desenho. Sinceramente, não sei se agi bem, ou se deveria tê-lo deixado continuar, mas senti que o desenho acabaria por perder significado, por ele o ter desenhado tantas vezes. Talvez esteja errada e a repetição do desenho fosse o que realmente lhe desse maior significado. Depois de alguma conversa, ele decidiu pintar o desenho de algumas cores, referindo, sempre que introduzia uma nova cor, o sabor que lhe estava associado – rosa para o morango, castanho para o chocolate, preto para o caramelo.

Ao aproximar-se a hora do recreio, as crianças começaram a arrumar a sala. A educadora, ao ver a desarrumação da área da casinha, decidiu tirar uma foto, que relembrará o grupo do estado a que a casinha, durante a brincadeira, não deve chegar. Quando conversei com a educadora, ela referiu que, apesar de em anos anteriores sentir que os grupos (que integravam crianças do atual grupo) até conseguiam brincar de modo organizado, este ano isso tem sido uma tarefa difícil. A brincadeira nesta área tem causado bastante desorganização dos materiais e, na hora de arrumar a sala, este espaço tem sido dos mais complicados de gerir. Referiu que tem tentado encontrar soluções diferentes, mas que a atual ainda não é a mais apropriada.

No recreio, as crianças brincaram nos escorregas, na casinha, andaram de triciclo e utilizaram os brinquedos que trouxeram de casa. O D brincou todo o tempo com uma espada trazida pelo V e teve de ser avisado várias vezes, de que não poderia bater com ela nos amigos. Ele, sendo muito forte, nestas brincadeiras em que se

envolve bastante, parece ter dificuldade em medir a força, o que coloca alguns dos colegas em desconforto.

Ao regressar à sala, reunimo-nos em roda, sentados no chão, para recontar a história do Capuchinho Vermelho, recorrendo às diferentes fases da história escritas e ilustradas por dois grupos diferentes (resultado da atividade realizada na terça-feira à tarde). Depois disso, o objetivo seria distribuir pelos dois grupos os papéis das personagens da história para que esses dois grupos realizassem um teatro à tarde. Esta tarefa não foi propriamente fácil porque a maior parte do grupo não esteve atento durante a distribuição e porque surgiram alguns conflitos na atribuição de personagens. A educadora terminou por ali a atividade e encaminhou as crianças para a casa de banho e, de seguida, para o refeitório.

No refeitório, houve um momento complicado para mim com o GuiG. Ele não estava a comer a sopa e, por isso, aproximei-me e pedi-lhe para começar a comer (estava confiante em pedir-lhe isto porque na segunda-feira reparei que ele era capaz de o fazer sozinho). Ele abanou a cabeça e disse “pa” rindo-se. Eu voltei várias a dizer- lhe para comer e ele repetiu o gesto e o som. Percebi que me estava a tentar desafiar, mas eu precisava de ajudar noutra mesa, portanto disse-lhe que ia a outra mesa, mas que quando voltasse queria que ele já tivesse comido alguma sopa. Quando regressei, ele continuava sem comer. Disse-lhe para pegar na colher e comer e ele repetiu o “pa”. Olhei para ele e disse-lhe que estava a ficar muito triste com a sua atitude, porque ele tinha de comer e não estava a ser capaz de ouvir o que eu lhe dizia. Depois ele olhou para mim, olhou para a sopa e ficou muito quieto. Eu perguntei-lhe se ele ia comer a sopa e ele abanou a cabeça, afirmando. Como não se mexeu, perguntei se o conseguia fazer sozinho ou se precisava de ajuda. Ele disse que precisava de ajuda e, assim que comecei a ajudá-lo terminou a sopa toda bastante rápido. Foi difícil de gerir este momento porque não tinha a certeza sobre como agir, especialmente porque senti que ele me estava a testar. Parece-me que a minha estratégia resultou, dizendo-lhe o que esperava dele e explicando como me sentia por ele não ouvir o que lhe dizia, mas acabou por demorar algum tempo. Além disso, talvez não tenha sido o mais correto afastar-me durante o momento “crítico”, mas quando existem outras crianças que precisam de ajuda nem sempre é fácil mantermo-nos com a mesma durante muito tempo.

Depois do almoço fui ajudar na sala, no início da sesta. Quando regressei após o meu almoço ainda estavam todos a dormir, mas a auxiliar disse que alguns tinham

praticamente acabado de adormecer. Começou por levantar as persianas e depois colocou música animada e foi acordando alguns. Com a ajuda de outra auxiliar fomos encaminhando o grupo para a casa de banho, ajudando-os a vestir e calçar e arrumando os catres, cada um separado de outro pelo saco de plástico correspondente a cada criança, com os respetivos lençóis.

Quando todos estavam levantados e os catres todos arrumados, fizemos uma roda e esperámos que a educadora regressasse da hora com os finalistas – durante a sesta, os finalistas reúnem-se numa sala com as educadoras para trabalharem, maioritariamente, na articulação com o primeiro ciclo, dada a aproximação da sua integração no ensino básico. Assim que regressou, organizou com as crianças para quem tinham sido definidos os papéis das personagens o espaço e os materiais a utilizar. Apresentaram ao grupo o seu teatro da “Capuchinho Vermelho”, em que a educadora era o narrador e ia ajudando algumas personagens com as falas. Depois do primeiro teatro completo, muitas crianças do grupo que tinha assistido quiseram participar também e acabaram por fazer-se mais duas encenações.

Durante a escolha dos personagens para a segunda vez da representação, a educadora tinha conversado com o FranM e disse-lhe que fariam uma terceira representação e que nessa ele poderia ocupar o lugar que desejava. No entanto, no momento em que se decidiu quem participava na terceira representação, o FranM ficou de fora e começou a chorar, gritando. A educadora aproximou-se e explicou-lhe que ele tinha ficado de fora porque durante a apresentação anterior não tinha conseguido ficar calmo e não tinha prestado atenção aos colegas e outros meninos, que também queriam participar, tinham sido capazes de o fazer. O FranM protestou, agitando os pés e continuou a chorar. A educadora conversou com todo o grupo sobre a regra “Quem não cumpre, não escolhe”, afirmando que gosta que cada menino ou menina decida em que participar e como, mas quando não se portam bem, quando não cumprem as regras estabelecidas em grupo, perdem esse direito.

Depois deste momento, fizeram a avaliação do Plano do Dia de terça-feira e de hoje. De seguida, disse que quem se mantivesse sentado e tranquilo, receberia uma estrelinha, até porque os teatros tinham corrido bem e ela estava orgulhosa de todos. A estrelinha é uma estrela desenhada na mão de uma criança que está de parabéns e é uma prática regular no JI. Assim, qualquer pessoa de qualquer sala reconhece a “estrelinha” como uma prova de boas atitudes de uma criança, que se sente extremamente orgulhosa de conseguir este feito.

Hoje o dia foi bem diferente, ou pelo menos, senti-me já muito diferente. Senti que as crianças já me vão procurando, quer seja para brincar ou para as ajudar com algo. Além disso, o crescente conhecimento da rotina deixa-me mais confortável e segura no que vou fazendo e dizendo. Apesar das muitas dúvidas em relação ao modo mais correto de agir, começo a encontrar assertividade quando me dirijo às crianças e isso leva-me a sentir mais capaz de participar nos diferentes momentos.