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Na reunião de hoje, no momento do “Contar, mostrar, escrever”, o S mostrou a sua trotinete do Homem-Aranha, que trouxe para brincar com os amigos no recreio. O Af contou que tinha visto uma escavadora à entrada da escola e o grupo conversou sobre o que estariam a fazer ali, referindo que estavam a levantar o chão, a destruir algumas coisas para depois construírem outras. O Af escreveu, mais tarde, a sua notícia e ilustrou-a. No final da reunião, o GuiT mostrou um objeto que tinha encontrado essa manhã perto de sua casa. O objeto passou por todos e alguns partilharam algumas ideias sobre o que seria. Como não chegaram a nenhuma conclusão concreta, identificaram-no como um “Objeto Mistério” – a educadora colou-o numa folha, escrevendo as hipóteses apresentadas pelo grupo sobre o que seria: azeitona, caroço, chocapic, cocó, pedra, pedaço de uma árvore. Depois colou-se a folha na porta da sala, para que quem quisesse pudesse acrescentar outras hipóteses e mais tarde, o grupo pudesse investigar. Terminaram a reunião com a realização do Plano do Dia.

Após a reunião, as crianças estiveram a brincar. Eu sentei-me com a C que me pediu para terminarmos juntas o desenho que tínhamos começado na quarta-feira. Passado algum tempo, o grupo das crianças de 2 e 3 anos foram para o ginásio assistir a uma apresentação realizada pela mãe de uma menina da sala 3 JI. Estiveram a ouvir alguns instrumentos, a cantar algumas canções e a dançar. Depois foi a vez dos mais velhos, de 4 e 5 anos, irem assistir a apresentação enquanto os mais novos brincavam no recreio. Quando os mais velhos terminaram a atividade, juntaram-se todos no recreio, de onde foram diretamente para o almoço.

Conversei com a educadora sobre o FranM e ela disse-me que ele demonstra uma grande dependência afetiva do adulto, não sendo capaz de interagir apropriadamente com os pares, nem de participar nas atividades. Já tinha sentido esta vontade de proximidade em relação a mim e começo a tentar evitar uma proximidade excessiva. Tento não me colocar muito perto dele nas reuniões e procuro criar mais espaço entre nós nos momentos de brincadeira livre, não o procurando, como faço com outros meninos e meninas.

Na sesta, no momento de dormir, algumas crianças pedem para ter os brinquedos que levaram para a escola nesse dia. A educadora, quanto todos se mostraram calmos, entregou a cada criança o brinquedo pedido, relembrando-os que não devem brincar com eles naquela altura. Esta atitude permite que as crianças se sintam mais calmas por terem o seu brinquedo e ao mesmo tempo responsabiliza-as pelo seu comportamento, já que devem manter-se tranquilas e dormir, não aproveitar a oportunidade para brincar.

No tempo dos finalistas, fomos todos para o ginásio para realizar um jogo de cooperação. Cada criança tinha uma folha, a sua ilha, no início do jogo, mas ao longo do jogo foram-se perdendo ilhas. No entanto, nenhuma pessoa podia ser deixada no “mar”, tendo assim o grupo de cooperar para assegurar que todos podiam ser salvos.

O verdadeiro objetivo do jogo era compreender a importância de ajudar os outros e porque o devemos fazer, temas abordados numa reflexão conjunta no final do jogo.

Quando os finalistas regressaram à sala, o grupo estava pronto para começar a reunião do Conselho, concretizada todas as sextas-feiras e relativa a toda a semana. Nesta reunião, começa-se com a avaliação do Plano do Dia. Depois passa-se ao preenchimento do Diário, se existirem novas entradas em qualquer uma das colunas. Depois de se certificarem que o Diário está completo, lêem-se tudo o que lá está escrito, conversando-se sobre todos os tópicos. Por exemplo, ao ler a coluna do “Não Gostámos” são esclarecidas algumas situações de conflito que possam ter sido enunciadas, podem relembrar-se algumas regras da sala ou construir-se outras. No final da reunião, escreve-se a ata da reunião, em que se descreve um resumo da semana e se faz um plano geral da semana seguinte. Hoje, a partir deste plano, construído com base no “Queremos Fazer”, escreveu-se um convite a um grupo da creche, para que na terça-feira alguns meninos e meninas fossem à sua sala apresentar o teatro da “Capuchinho Vermelho”.

Hoje tentei uma nova abordagem com o D. Tentei manter-me mais afastada dele, mesmo quando se tratava de uma situação de desrespeito pelas regras, deixando a tarefa de o chamar a atenção para a educadora e a auxiliar. Consegui interagir com ele algumas vezes, em momentos calmos. Por exemplo, logo de manhã, para marcar as presenças, fui ter com ele e pedi-lhe que fosse marcar a sua presença. Ele disse que não. Eu estiquei a caneta verde e disse-lhe que ele podia ir sozinho, que eu não precisava de ir com ele se ele não quisesse. Ele não respondeu. Eu perguntei: “Queres ir sozinho? Eu não vou contigo.” e ele acenou. Entreguei-lhe a caneta e ele levantou-se

e foi marcar a presença, enquanto eu me mantive um pouco afastada, mas atenta. Ele conseguiu identificar o seu nome na lista, mas teve dificuldade em seguir a linha. A educadora, que estava por perto e reparou, ajudou-o e quando terminaram, ele olhou para mim e eu sorri.

Não sei se dar-lhe a opção de marcar a presença sem mim foi a melhor opção, mas no momento pareceu-me uma forma de levá-lo a cumprir a tarefa sem o constranger ou sem que ele se sentisse obrigado a interagir comigo. Todos temos de aprender a interagir mesmo com quem não queremos, mas dada o estado na nossa relação, ou da nossa não relação, pensei que seria melhor dar-lhe o espaço que ele necessita em relação a mim, sem que a minha presença o impeça de cumprir as suas obrigações como parte de um grupo.

Apesar de no dia de hoje o D. ter estado, no geral, visivelmente mais calmo, esta atitude parece ter tido algum efeito positivo em si, dado o que ocorreu no final da sesta. Quando se estava a vestir o V perguntou “Calças-me?”. Eu pedi-lhe que acabasse de se vestir e que depois o ajudaria. Entretanto o D. começa a repetir a pergunta do V e eu, que estava a ajudar o AL pensei que seria uma brincadeira. Quando olhei para ele, reparei que estava sentado na cama, com metade do sapato enfiado no pé, a olhar para um livro. Perguntei: “D., precisas de ajuda para te calçares?”. Ele parou de repetir a questão e acenou e, portanto, aproximei-me e calcei-o.

Foi importante para mim, depois do dia de ontem, em que me senti bastante frustrada com a situação com o D., ter sido capaz de manter a calma e encarar com um novo olhar este desafio. Pensei sobre o melhor modo de ultrapassar as dificuldades e tentei uma nova estratégia que parece ter obtido melhores resultados. A minha grande dúvida é como é que será quando começar, gradualmente, a interagir com o D. em todos os momentos, mais calmos ou mais agitados, em que preciso de ser mais firme.