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Reflexão Semanal nº6 (31 de outubro a 4 de novembro de 2016)

Pela experiência que vivi na segunda-feira, no dia do Halloween, em que os pais e a comunidade foram envolvidos de forma natural nos festejos, parece-me importante refletir sobre o papel que, não só as famílias, mas também toda a comunidade, assumem na educação das crianças e o modo como são consideradas pela equipa.

Tal como já referi, não estou habituada a sentir uma tão forte presença e envolvimento dos pais nas atividades organizadas pelas instituições educativas. Muitas vezes acontece que os princípios da escola evidenciam a vontade de estabelecer uma estreita relação com as famílias, por acreditarem na “necessidade do diálogo e da parceria entre as duas partes, em nome de um ajustamento e de uma coerência entre as ações educativas produzidas por essas duas agências de socialização.” (Nogueira, 2006, p.157). No entanto, essas intenções nem sempre são transpostas para as realidades que encontramos e, por esse motivo, foi especialmente inspirador verificar que é realmente possível contar com o apoio das famílias para diversas atividades, envolvendo-as na organização e promovendo a sua participação e não apenas convidando-as a assistir a determinados eventos. Além de as famílias poderem conhecer as dinâmicas da escola, podem fazer parte delas e influenciá-las.

Notam-se claramente os esforços da equipa da instituição para concretizar a sua missão, aplicando-a a cada vivência dos grupos. O exemplo mais recente é o da organização de um desfile com as famílias das crianças pelo bairro, em que todos os adultos, da equipa ou das famílias, assumiam a responsabilidade por todas as crianças: A educadora tratou de organizar o grupo, assegurando que cada criança estava diretamente sob a responsabilidade de determinado adulto, da equipa ou das famílias. Por exemplo, a mãe do AfS estava responsável por ele, mas também pelo X, que os acompanhava. (Excerto do Registo Diário nº25, 31 de outubro de 2016)

Mais importante do que concretizar a participação dos pais, para uma verdadeira parceria escola-família, é crucial fazê-lo de modo a que aconteça “numa atmosfera de respeito, cooperação e abertura à diversidade, em que os pais sentem que têm poder e são eficazes, tanto em casa como no jardim-de-infância.” (Vonta, 2009, p.23). Este ambiente foi especialmente visível no dia da reunião de Boas Vindas às famílias, em que cada familiar teve a oportunidade de partilhar os seus pensamentos, dúvidas e sugestões com base nas suas crianças e vivências particulares, de modo a que fosse possível construir-se um conhecimento cooperado:

Os diversos encontros nas salas foram dinâmicos, requisitando a participação das famílias e a partilha das suas conceções sobre os temas abordados. As famílias dividiam-se em pequenos grupos para discutir o tema e, depois, com a orientação da equipa, partilhavam as suas perspetivas e chegavam a algumas conclusões. Todas foram realizadas numa perspetiva de valorização do papel dos pais, da sua atuação e da parceria escola-família numa construção partilhada da vida de cada criança. (Excerto do Registo Diário nº14, 14 de outubro de 2016).

Além de toda a preocupação que existe em estabelecer relações reais com as famílias, baseadas no respeito e na confiança, a instituição dedica-se também à construção de relações com toda a comunidade, que encara como um parceiro na educação das crianças. Este ano, no desfile do Halloween, a educadora sugeriu que em vez de pedirem doces, as crianças os distribuíssem pela comunidade, uma vez que a comunidade “já nos dá tanto e aceitam sempre tão bem os nossos pedidos”1. Quando, no dia do desfile, chegámos perto de alguns trabalhadores do bairro, pude verificar isso mesmo, que a comunidade vive com estas crianças, tentando contribuir para melhorar as suas experiências e estabelecer relações positivas com a instituição:

1 Conversa informal com a educadora.

Num dos cafés, além de as crianças entregarem doces, também receberam, de um senhor mascarado (..) uma das empregadas da farmácia, assim que viu chegar o grupo, se encaminhou para a porta com vários sacos de doces. (…) demonstra que já estariam à espera da passagem das crianças e que se preocuparam em preparar-se para poderem entrar na brincadeira com os grupos. (Excerto do Registo Diário nº 25, 31 de outubro de 2016)

Valorizo efetivamente o esforço da equipa em organizar-se de modo a dar espaço às famílias e à comunidade para influenciar o seu trabalho e todas as vivências, mostrando-lhes que, juntos, têm mais poder para proporcionar uma educação adequada a cada criança. Isto permite igualmente que as crianças desenvolvam um sentido de respeito pelo outro e se apercebam da importância de viver numa comunidade responsiva e das possibilidades que as parcerias com outros trazem. Tal como referem Santos e Silva (2013), sempre que parcerias reais acontecem, “o trabalho da escola é mais produtivo, a família é mais feliz e a sociedade é presenteada com cidadãos preparados para a vida social.” (p.40)

Assim, depois de viver nesta instituição, que não é um centro educativo isolado e fechado aos outros, mas que se preocupa com a comunicação e o estabelecimento de laços com outros parceiros para proporcionar um maior e mais variado leque de oportunidades às crianças (Heal & Cook, 2004), que é um centro de relações dinâmicas e verdadeiras entre crianças, famílias, equipa e comunidade, considero que, e sem qualquer dúvida, “as famílias das crianças e as outras pessoas da comunidade constituem o recurso mais valioso” (Heal & Cook, 2004, p.125).

Referências:

Heal, C. & Cook, J. (2004). Humanidade: Desenvolvendo uma Noção de Lugar e de Tempo nas Crianças mais Pequenas. In I. Siraj-Blatchford (Coord.), Manual de Desenvolvimento Curricular para a Educação de Infância (pp. 114-128). Lisboa: Texto Editora.

Nogueira, M. A. (2006). Família e Escola na Contemporaneidade: os meandros de uma relação. Educação & Realidade, 31 (2), 155-170.

Santos, F. C. & Silva, F.D. (2013). A importância da parceria escola/família: desafios da atualidade. Comunicação apresentada no encontro “Paradigmas da profissão docente”, da Universidade estadual de Goiás, Iporá.

Vonta, T. (2009). As ideias de Vigotsky nas novas democracias. Destacável Noesis, 77, 22-23.

Anexo B.7. Semana 7 (7 a 11 de novembro de 2016)