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Hoje cheguei uns minutos mais cedo à instituição e percebi que as crianças de todas as salas permanecem na sala 3 até por volta das 9 horas, quando as suas educadoras as vão buscar e se distribuem pelas suas salas. No corredor, enquanto ia com as crianças para a sala, a educadora avisou que nesta reunião da manhã, ninguém teria consigo os objetos que queria mostrar ao grupo até ao momento do “Contar, mostrar, escrever” porque no dia anterior essa estratégia não tinha obtido resultados proveitosos. As crianças guardaram os brinquedos nos cabides (cada criança tem um cabide identificado no corredor) e foram para a sala.

Quando chegaram à sala, a sua tarefa foi colocar as cadeiras à volta da mesa para a reunião e ir marcando as presenças, com a ajuda da educadora. Num dos momentos em que se levantou para ir conversar com uma mãe, a educadora pediu ao AfS, um dos meninos mais velhos, para ajudar o Af a marcar a sua presença e foi muito interessante reparar que o AfS, como mais velho, sentiu a responsabilidade de o ajudar e que o Af aceitou a sua ajuda, provavelmente tão bem como aceitaria a da educadora. À sala chegaram também algumas crianças da sala 2, até que chegasse a auxiliar que ficaria com eles, porque a educadora está a faltar. Depois de eles saírem da sala e de o grupo estar mais composto, sentaram-se todos à mesa para iniciar a reunião. A educadora falou com o grupo sobre a questão dos brinquedos e o porquê de ter tomado aquela decisão, explicando-lhes que precisam de escolher um brinquedo importante para eles e ser capazes de explicar porque decidiram apresentar esse objeto

ao grupo. Para que as partilhas passem a ser mais significativas, a educadora reduziu, combinando com as crianças, o número de inscrições no “Contar, mostrar, escrever” de 10 para 3. Depois cantaram a canção do Bom Dia e escreveram o Plano do Dia. No final da reunião, comecei a pensar sobre a dificuldade que é dirigir este momento, sendo capaz de envolver as crianças e dar-lhes espaço e tempo para falar, mas sem perder o controlo do tempo e do próprio grupo. É realmente uma dinâmica que exige uma excelente capacidade de gestão do ambiente.

Depois da reunião da manhã, e por ser terça-feira, ocorreu a sessão de expressão motora, com uma professora da Câmara Municipal. As crianças vão todas para o ginásio até por volta das 10h30. O jogo principal da sessão de hoje foi o Jogo do Mata e não foi muito fácil para algumas crianças. Alguns meninos, depois de serem atingidos com a bola e terem de se sentar no banco porque tinham “morrido” começaram a chorar, contrariados com esta opção. Além disso, na primeira forma do jogo, em que as equipas estavam em dois campos em lados opostos, a maioria das crianças não percebeu que não podia passar para o campo adversário, correndo atrás da bola em qualquer momento e em qualquer direção.

No regresso à sala, as crianças sentaram-se todas à mesa e enquanto a auxiliar descascava a fruta, a C distribuía-a pelo grupo. Depois de comerem, cada um realizou as atividades que tinham planeado – ilustrar a ata da reunião de conselho da semana anterior, escrever e ilustrar as notícias das férias, fazer desenhos sobre a sessão de expressão motora, terminar as cortinas para o fantocheiro. Por volta das 11h30 arrumaram a sala, empilhando as cadeiras, e dirigiram-se para o recreio.

Estes primeiros dois dias não foram muito fáceis. Primeiro que tudo, o último estágio que realizei foi em contexto de berçário, onde existe uma dinâmica bastante diferente, mais tranquila. Contudo, a maior dificuldade não é a agitação ao longo do dia, mas sim a minha integração no grupo, sem que seja demasiado intrusiva. Não senti que estranhassem, a minha presença, ainda que algumas crianças tenham parado ontem, assim que me viram na sala, para olhar para mim. A maior dificuldade é realmente estar com as crianças e tentar conhecê-las e entendê-las, principalmente porque, como na maior parte das vezes ainda não interagem, por sua iniciativa, comigo, sinto que não tenho o direito de me tentar integrar nas suas brincadeiras.

Por outro lado, ocorrem situações de pequenos conflitos entre as crianças ou quando as crianças têm de seguir regras e não o fazem em que não sei como agir. Sinto que é minha obrigação contribuir para manter o bem-estar de cada criança e um

ambiente relativamente calmo na sala, mas ao mesmo tempo sinto que o pouquíssimo tempo que passei com o grupo me impede de impor regras ou dar conselhos.

Tem sido igualmente complicado integrar-me nas tarefas, pelo que passo a maior parte do tempo a brincar, ou a tentar brincar, com alguns grupos. Isto porque as tarefas decorrem de projetos ou atividades iniciados anteriormente e sobre os quais eu não conheço o suficiente para apoiar as crianças. Ainda assim, e apesar de ir brincando, vou tentando perceber as dinâmicas em algumas das tarefas realizadas com a educadora e a auxiliar: as crianças parecem ter espaço para tomar decisões e é-lhes dada oportunidade para completarem as tarefas autonomamente, sempre que consigam, mantendo-se o incentivo e o acompanhamento a cada uma delas.

Todas estas dificuldades, embora me pareçam completamente compreensíveis dada a situação, muito recente, fazem-me sentir que ainda não encontrei o meu lugar na sala. Parece-me que o melhor a fazer é continuar a tentar relacionar-me com todos, para compreender o que posso fazer e como fazê-lo, sem deixar que alguém se sinta desconfortável com a minha presença e interação.