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No começo da nova semana, que coincide com o início do mês de outubro, a reunião da manhã foi um pouco diferente. Ainda não existiam alguns mapas da sala como o mapa das inscrições para o “Contar, mostrar, escrever” e, portanto, todas as crianças que desejaram, puderam partilhar algo com o grupo. Por exemplo, a A levou uma bolota que tinha apanhado a caminho de casa. A educadora conversou com as crianças sobre o objeto e chegaram à conclusão de que o objeto era uma bolota, um dos alimentos dos esquilos e dos porcos. Depois conversaram sobre o que poderiam fazer com ela e decidiram colocá-la na área das ciências, para que pudessem realizar alguns registos (“O que vemos”, “O que sentimos”, “O que cheiramos”…).

No final da reunião distribuíram-se as tarefas para a semana. O presidente da semana voluntaria-se e depois o grupo deve aprovar que seja esse candidato a assumir a tarefa. A educadora pede que o grupo justifique o porquê de concordar com o candidato e, ainda que as justificações sejam muitas vezes provocadas pela equipa, parece-me importante mostrar às crianças que as suas escolhas devem ter um propósito e não apenas depender da amizade com o candidato. Na distribuição, a educadora tenta que as tarefas não sejam realizadas sempre por um grupo específico, incentivando outras crianças, menos participativas por iniciativa própria, a assumir algumas das responsabilidades. Assim, dá para compreender o motivo de as tarefas não serem sorteadas, como já vi acontecer em alguns contextos – este método, de negociação, permite assegurar que todos participam, sem deixar essa possibilidade ao acaso.

Durante a manhã, continuaram-se os registos do pequeno-almoço – as crianças procuram em revistas e panfletos imagens daquilo que habitualmente comem ao pequeno-almoço, recortam as imagens e colam-nas numa folha onde é escrita a legenda, eg. “Eu como cereais”. Considero esta atividade bastante interessante porque aproveita os hábitos das crianças para as fazer contactar, não só com imagens e palavras nos panfletos, mas também com materiais, como as tesouras e a cola, que habitualmente não se incluem nas escolhas mais frequentes das crianças em tempo de atividades nas diferentes áreas. Estes aspetos conjugados com o facto de a ideia da própria atividade ter surgido a partir de uma conversa entre as crianças sobre os seus pequenos-almoços torna-a uma aprendizagem mais significativa.

Enquanto isso, a educadora esteve com algumas crianças a organizar os novos mapas da sala – no mapa do tempo e no calendário, descobrem juntos em que dias calham os fins-de-semana e nesses dias, desenham uma casa, para mostrar ao grupo que não se vem à escola. Depois, no calendário, conversam sobre algumas atividades que já estejam planeadas ou dias importantes e a educadora regista-as, por exemplo, o Dia das Bruxas ou aniversários de crianças do grupo.

Também se preparou o mapa das presenças. A auxiliar pintou os dias de fim-de- semana e depois escreveu os nomes das crianças na primeira coluna, por ordem alfabética. No entanto, deixou em branco alguns espaços, correspondentes aos das crianças que sabem escrever o seu nome e chamou-as para escreverem. Depois afixaram-se todos os mapas no seu lugar.

Pelo que percebi hoje, durante a realização do Plano do Dia, todas as segundas- feiras, no tempo depois do recreio e até que seja hora de almoço, é o momento em que a educadora dinamiza uma história. Hoje isso não aconteceu porque os grupos ficaram no recreio até à hora de almoço e foram de lá diretamente para a casa de banho e depois para o refeitório.

Após o almoço, seguiram para a sesta. No final da sesta, quando cheguei à sala, só a N estava acordada. Depois de ir à casa de banho e de se vestir, perguntou se podia brincar. A auxiliar disse-lhe que ainda não podia brincar, mas que podia ir acordando os outros meninos e meninas. Ela assim o fez, tentou acordar alguns, mas como parecia não resultar, começou a tentar vesti-los. A Da, por exemplo, quando se levantou, já estava completamente vestida. Foi engraçado ver a sua vontade em ajudar e o modo como tentava vestir cada um dos que não se levantava quando ela os chamava.

A auxiliar pediu-me para verificar se a A tinha feito xixi e eu vi que sim. Levantei- a e levei-a para a casa de banho para a trocar, com ela ainda ensonada e com dificuldades em manter os olhos abertos. A auxiliar explicou-me que quando ela demora mais tempo a acordar, tem de ser acordada para que esta situação não aconteça. Depois de trocarmos uma criança, colocamos a sua roupa suja num saco, no seu cabide, para que os pais possam levá-la para casa.

Quando estavam todos prontos, a sala arrumada e o grupo reunido, o GuiT e o AfS realizaram uma comunicação sobre uma construção que tinham realizado com a garagem e vários animais. Mostraram a construção aos colegas, explicando como organizaram a divisão dos animais. Depois algumas crianças comentaram a

comunicação, referindo o que tinham gostado mais e porquê, ou porque não tinham gostado.

Seguiu-se a avaliação do Plano do Dia e a conversa sobre o Diário – a MI, a La e a C referiram ter gostado das brincadeiras que fizeram nesse dia com as amigas, o GuiT afirmou não ter gostado de uma atitude do GuiB – conversou-se sobre a situação e o GuiT, depois de ter desculpado o GuiB, decidiu não escrever sobre isso no Diário. Assim, deu para me aperceber que o Diário tem realmente uma influência nas crianças, que mostram compreender que ali se registam as situações desagradáveis que sentem que ainda não resolveram. Além disso, as crianças cujas atitudes são referidas no Diário, na coluna do “Não Gostámos”, sentem-se responsabilizadas pelos seus comportamentos.

Hoje apercebi-me que ainda não tinha falado em nenhum registo diário sobre o GuiB e parece-me importante pensar sobre o seu comportamento. Ele não consegue estar sossegado por um tempo prolongado, está sempre muito irrequieto. Quando não está a falar ou a brincar com amigos, por exemplo, nas reuniões da manhã, entretém- se a brincar com as mãos ou com as costas das cadeiras. Pelo modo como está em grande grupo, percebe-se que, na grande maioria das vezes, não está a prestar atenção ao que se passa. Quando é chamado à atenção, começa imediatamente a “choramingar”, mostrando-se desagradado com as “repreensões”. Fica frustrado quando é afastado da mesa, nos momentos em que o seu comportamento perturba realmente o grupo, mas rapidamente se distraí, entretendo-se, até ser novamente chamado à atenção pela equipa, quando tenta sossegar novamente.

Conversei com a educadora sobre algum caso particular a ter em conta e ela disse-me que se mantinha atenta a ele, que já desde o ano passado se mostra constantemente irrequieto e desconcentrado. Além disso, referiu que algumas crianças têm tido uma vida difícil e vivem num contexto em que não são muito estimuladas e, portanto, precisam de adultos que as apoiem, de muito carinho e estímulo.