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5. METODOLOGIA

5.5 O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO DO MKS À PVSM

Como descrito na seção 5.3, para que fosse possível incorporar a regra de reajuste do salário mínimo ao modelo MKS, foi necessária a introdução de duas equações. A primeira equação, reproduzia a regra de reajuste do salário mínimo nas condições da PVSM. A segunda, condicionava ao salário sofrer o reajuste do maior valor entre o wmks e o wmin.

A introdução de uma equação num modelo por simulação computacional da complexidade do MKS não é uma tarefa trivial. São 780 equações com interdependências entre as variáveis, onde o resultado de uma é componente de cálculo de outra, semelhante a uma “teia”, o que torna o modelo potencialmente sensível a alterações.

Assim, à introdução de uma nova equação que carrega informações diferentes das já reconhecidas, o modelo se comporta de forma semelhante a um organismo que recebe um corpo estranho, gerando adversidades nas áreas periféricas àquela que o recebe, isto é, nas variáveis relacionadas àquela que foi alterada. Dessa forma, ao longo de todo o processo foi preciso mapear comportamentos anômalos, identificar a origem, estudar solução adequadas, e testá-las através de novas simulações, num processo recorrente que exigia minúcia e tempo.

Outro tipo de problema se dava no âmbito das condições iniciais do modelo, que sofreram todo o processo de estudo, testes e ajuste quando na elaboração da tese de cujo o MKS é objeto. Isto é, aquelas condições iniciais eram as ideais para o modelo original, mas uma vez alterado o modelo o seu pleno funcionamento sob aquelas condições não estava mais garantido. E foi exatamente o que aconteceu quando os resultados mostraram que a regra do salário mínimo, o wmin, não entrava em ação no modelo.

Aos resultados era como se o wmin não existisse, entrando em operação apenas o wmks. Ao que foi possível observar, o salário nominal (w) era determinado invariavelmente pelo valor de wmks, em todos os períodos até o fim da trajetória. Sendo w o maior valor entre wmin e wmks, de acordo com a equação isto significava que o valor de wmks excedia o de

wmin em todos os períodos. Conferindo os valores, o que estes demonstravam era que o que acontecia era que a regra wmin não entrava em funcionamento, permanecendo o valor inicial ao longo de todo o período. Esse valor inicial equivale a quatro unidades monetárias, em referência ao valor da cesta de bens de consumo básico, para que se inicie o período “0” obedecendo a condição de que a propensão marginal dos trabalhadores é igual à unidade, e assim, eles gastem toda a renda disponível.

Como se compreende de quais variáveis wmin depende, aparentemente a razão para essa ocorrência residia na queda de um ou de ambos os termos da equação, o que fazia com que o cálculo de wmin, passado o primeiro período, resultasse um valor, em tese, menor que o valor inicial, de forma que a regra da equação de wmin selecionava o valor inicial (4).

Ocorre que, nos primeiros períodos das simulações no MKS há uma redução endógena do PIB e dos preços, decorrente da concorrência entre as empresas, até que os market-shares se estabilizem. Por estes movimentos endógenos, e pela inércia até que uma política qualquer comece a fazer efeito é que a análise dos resultados é feita após retirados da trajetória os vinte períodos iniciais.

O PIB e os preços são exatamente os dois elementos determinantes da regra de reajuste pelo wmin que, portanto, sofria uma redução, ficando sempre abaixo do valor inicial, prevalecendo o wmks sobre o wmin, de acordo com a equação da 4ª condição (seção 5.3) que programa a prevalência do maior valor entre wmin e wmks. A queda do PIB, ao afetar o emprego irá também impactar a regra do MKS, a partir de quando a taxa de desemprego supera 6%, contudo, até esse momento o wmks pode ser reajustado em decorrência dos aumentos na produtividade, enquanto o wmin não possui esse canal alternativo.

Outro mecanismo induzia que a prevalencência do wmks sobre o wmin passasse de inicial a inercial, isto é, a seleção do reajuste pela regra do wmin continuava mesmo após normalizados os movimentos do PIB e dos preços: o wmin considera a inflação de dois anos atrás (8 trimestres), ou seja, carrega uma inércia do período inicial das simulações onde ocorre a deflação, enquanto o wmks tem uma memória de curta duração, pois considera a variação de preços do último trimestre.

Seria preciso proporcionar condições para atenuar o processo deflacionário inicial, e assim o movimento dos preços contemplasse inflação e deflação como em uma economia real. Para empreender tais condições foi realizada uma revisão dos valores iniciais entre

preços e salários. A ideia seria testar a redução do valor inicial da cesta de bens de consumo básico, para que ficasse abaixo do valor inicial do salário nominal, somente o suficiente para proporcionar aos salários um poder de compra maior do que o proporcionado nas condições iniciais.

O „aquecimento‟ resultante do maior poder de compra eliminou a exclusividade da característica schumpeteriana de queda sistemática de preços, permitindo a possibilidade de inflação. Testou-se alguns valores até que o preço inicial da cesta de bens de consumo básico a 3,99 mostrou-se a calibração ideal, com inflação presente em vários momentos da trajetória em todas as simulações posteriores, e feito isso, a regra wmin foi “destravada”, uma vez que não estava mais inócuo o termo referente à variação dos preços. Usou-se portanto o valor inicial de 3,99 para o preço da cesta de bens de consumo básico, para as simulações de ambos os modelos (para o modelo original, e para o modelo após implementada a PVSM).