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A energia é fundamental para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade, fator imprescindível para satisfação de suas inúmeras necessidades. A demanda energética cresce à medida da evolução tecnológica e das decorrentes mudanças de comportamento, hábitos de vida, padrões de consumo, mobilidade, industrialização, urbanização, expectativa de vida e crescimento populacional.

Na maior parte da história da humanidade, o consumo da energia pelo homem destinava- se principalmente à cocção e iluminação, com pequena parcela para trabalhos em cerâmica e manipulação de minérios para fabricação de ferramentas. Aliado ao crescimento populacional muito lento, este padrão resultou em um consumo energético baixo por milhares de anos, atendido basicamente por lenha.

Somente a partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, caracterizada por um crescimento populacional exponencial e pela modernização da humanidade, se iniciou uma explosão no consumo de energia. Graças à crescente escassez de biomassa e ao

Agropecuário 12,5% Industrial 2,2% Transformação 4,8% Setor Energético 2,7% Transporte 77,8%

conteúdo energético bastante superior do fóssil, rapidamente fez-se visível a vantagem da utilização do carvão mineral para alimentação da máquina a vapor. Assim se deu a transição da Era da Lenha para a Era do Carvão.

Utilizado inicialmente para iluminação e geração de calor, o petróleo transformou-se na principal fonte de energia para a atividade de transporte somente após o desenvolvimento dos motores a combustão interna (Otto e Diesel) na segunda metade do século XIX, os quais levaram a um novo salto no uso da energia de origem fóssil. A invenção do automóvel não apenas modificou profundamente o mercado do petróleo, como teve um papel fundamental na conformação do estilo de vida da humanidade, a partir do início do século XX. Marcadamente após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu nova transição da base energética. Graças à sua facilidade de produção, transporte e uso, o petróleo substituiu o carvão, se tornando o insumo-chave do desenvolvimento do século XX, marcado como a Era do Petróleo.

O petróleo é a principal fonte de energia atualmente consumida no planeta, e continuará o sendo nas próximas décadas, como indicam diversos estudos (IEA, 2016b; EIA, 2016a; BP, 2016b). A indústria petrolífera tem se mostrado fundamental para o desenvolvimento econômico das nações, em consequência tanto do caráter estratégico do recurso, como de fatores geopolíticos. Esta expressiva participação na matriz energética global está associada ao processo de formação e evolução da Indústria Mundial de Petróleo, estabelecida sobre uma base tecnológica centralizadora em sua produção, que se tornou viável através de um arranjo institucional monopolístico, verticalizado em toda a cadeia. A indústria brasileira de petróleo, por sua vez, surgiu somente em meados do século XX, como parte de um projeto nacional de desenvolvimento industrial, que culminou com o estabelecimento do monopólio da União e com a criação da Petrobras em 1953. A companhia estatal integrada verticalmente, única executora do monopólio, foi encarregada de explorar todas as etapas da indústria petrolífera, papel mantido na Constituição Federal de 1988. Com a promulgação da Lei do Petróleo em 1997, permitiu- se à União transferir as atividades de E&P a empresas privadas, via contratos de concessão. Apesar da abertura do mercado, a maior parte dos investimentos no Brasil continuou sendo realizada pela Petrobras, líder mundial em águas profundas, que cooperou para a autossuficiência na produção de petróleo em 2006. Com a descoberta da gigantesca província petrolífera do Pré-Sal, foi primordial introduzir em 2010 o regime de partilha de produção tanto para essa como para as demais regiões estratégicas do

Brasil. O pleno aproveitamento das reservas do Pré-Sal permitirá que o Brasil se transforme em um relevante exportador de petróleo no mercado internacional, fortalecendo sobremaneira o escopo de atuação internacional da sua estatal.

No mundo, o panorama atual do uso dos recursos energéticos é marcado pela elevada preponderância dos combustíveis fósseis na matriz (superior a 80% em 2014), cuja participação teve uma queda inferior a 6% nas últimas quatro décadas. Ressalta-se a relevância do transporte no consumo final da energia pelos diferentes setores da atividade econômica, cuja contribuição evoluiu para 28% em 2014, dos quais expressivos 92% referem-se aos derivados do petróleo (IEA, 2016a). Oportuno salientar que essa hegemonia dos derivados é consequência de serem favorecidos tanto pela existência de uma infraestrutura inteiramente consolidada para transporte e comercialização de combustíveis, quanto pela própria dimensão do mercado global, resultado de um gigantesco parque de veículos automotivos. O petróleo reduziu sua participação nas últimas quatro décadas, tanto na oferta primária como no consumo final de energia, mas manteve sua supremacia, caindo de 46% e 48% em 1973, para 31% e 40% em 2014, respectivamente. Destaca-se, ainda, a participação do diesel no consumo mundial de derivados, cerca de 35% em 2014 (IEA, 2016a e BP, 2016a).

Em contraste, o Brasil apresenta um elevado aproveitamento das fontes renováveis de energia, cuja participação na matriz nacional representou 41% em 2015, quase o triplo da média mundial. Em termos de combustíveis fósseis, o petróleo, o gás natural e o carvão mineral juntos contribuíram com 57% de toda oferta interna de energia naquele ano. No que tange ao consumo final de energia, o transporte é o segundo setor da atividade econômica mais importante na matriz brasileira (32,2% em 2015), ligeiramente atrás do industrial. Majoritariamente rodoviário, este modal correspondeu a 92% da demanda de energia para transportes, em 2015. O óleo diesel A e a eletricidade foram as fontes de energia mais consumidas no país em 2015 (ambas com 17,2 %), seguidas pelo bagaço de cana (11,2%). O diesel A é também o derivado de petróleo de maior consumo, 41% em 2015, enquanto a gasolina A, na segunda colocação, participou com 22% (EPE, 2016a). Neste contexto, a adoção de um programa de incentivo ao uso de biodiesel se constitui um destacado instrumento de mitigação das mudanças climáticas, bem como uma alternativa a ser usada pelo planejamento energético no que se refere à garantia do abastecimento e à promoção de efeitos socioeconômicos. A partir do exposto, em que notadamente o diesel apresenta um papel de enorme destaque no Brasil, o biodiesel se

configura como uma importante oportunidade para assegurar a oferta interna de energia, ao servir de insumo de complementação e de substituição do diesel mineral.

Apesar da tendência que os combustíveis fósseis ainda permaneçam predominantes nas próximas décadas, com declínio do carvão e ascensão do gás natural, os combustíveis renováveis deverão assumir importância crescente na matriz energética global. Assim como a Era do Petróleo sucedeu a Era do Carvão, que, por sua vez, sucedeu a Era da Lenha, o biodiesel se apresenta como um importante energético para compor uma provável cesta na futura Era dos Renováveis.

3 Das Instabilidades do Mercado de Petróleo ao Ambiente Favorável

à Promoção dos Biocombustíveis

3.1 Introdução

O petróleo se transformou na principal fonte de energia do planeta com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando ultrapassou o carvão, em grande parte por suas vantagens em termos caloríficos e de facilidade de utilização, e deverá manter sua supremacia nas próximas décadas. Além dos veículos a combustão interna e da substituição do carvão para aquecimento e produção de eletricidade, outras tecnologias de uso final foram desenvolvidas e difundidas, ampliando a demanda pelo recurso. Para atender ao consumo crescente de energia, foi constituída uma complexa e confiável infraestrutura de distribuição de seus derivados.

No entanto, apesar de sua supremacia, além dos riscos normais de custos, mercados, demanda e preços, a indústria do petróleo está associada a uma série de outros riscos e incertezas, com destaque aos de natureza política, tecnológica e exploratória, conforme exposto a seguir.

Os reajustes nos preços do petróleo na década de 1970 marcaram o fim de um período de constante acréscimo da oferta vivenciada pela história da economia da energia. Os choques em 1973 e 1979 aumentaram o preço do barril a níveis extremamente altos, impensáveis na época. Dado o elevado grau de dependência das importações do recurso, foram gerados grandes déficits na balança comercial de diversos países, e, consequentemente, um forte obstáculo ao seu desenvolvimento econômico-social. Neste cenário, dentre as alternativas energéticas aventadas pelas nações como uma possível solução para o atendimento às suas necessidades internas, desempenhou papel de destaque a produção e o uso de biocombustíveis líquidos. Obtidos a partir de diversas formas de biomassa, essas fontes renováveis conseguem deslocar os combustíveis convencionais de petróleo, principalmente nos transportes.

Nesse capítulo, são apresentados os elementos determinantes da crise do modelo de expansão do mercado de petróleo promovido até os anos 1970, mostrando que é desta crise que se tracejam os créditos necessários à estruturação de ações de pesquisa e desenvolvimento do uso da tecnologia de aproveitamento de recursos renováveis para a produção de combustíveis líquidos, nomeadamente etanol e biodiesel, este último, o objeto principal do estudo em curso.

Também são descritos os correntes arranjos institucionais usados para promover o desenvolvimento dos biocombustíveis, colocando uma maior atenção nos exemplos mais exitosos de esquemas legais de fomento, como é o caso dos adotados nos Estados Unidos, União Europeia e Brasil.