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3.5 Arcabouço Institucional Orientado à Promoção dos Biocombustíveis

3.5.1 Estados Unidos

Há uma série de ações governamentais que foram decisivas para o desenvolvimento da capacidade instalada, produção e uso de biocombustíveis nos Estados Unidos. Ressaltam- se a modificação de 1990 do Clean Air Act , o estabelecimento do Energy Policy Act de 1992, a criação do Programa de Bioenergia do Commodity Credit Corporation (CCC - USDA) em 2000, o Jobs Act de 2004, o Energy Policy Act de 2005 e o Energy

Independence and Security Act de 2007.

As alterações de 1990 do Clean Air Act73 (CAA) tiveram contribuição decisiva para o aumento da produção e uso de etanol carburante nos EUA. Através dessa legislação, o Congresso tornou obrigatório o uso de gasolina oxigenada em áreas com níveis insalubres de poluição atmosférica. Dentre as opções de aditivos oxigenantes, o MTBE foi inicialmente o escolhido pela maioria das refinarias, sobretudo por razões econômicas. Contudo, no final da década de 1990, vários estudos constataram a presença desse composto em algumas fontes subterrâneas de água potável74. A partir de então, começaram a ser estabelecidas diversas regulamentações estaduais para a eliminação e restrição ao uso do MTBE, favorecendo sobremaneira o uso do etanol como oxigenante para a gasolina (EPA, 2013).

O EPAct 1992 (Energy Policy Act: Lei de Política Energética) foi promulgado com o objetivo de “reduzir a dependência do petróleo importado e melhorar a qualidade do ar, abordando todos os aspectos da oferta e demanda de energia, incluindo combustíveis alternativos, energia renovável e eficiência energética” (AFDC, 2015b). O EPAct 1992 estabeleceu que uma parcela das compras de veículos para as frotas do Governo Federal, estadual e de fornecedores de combustíveis alternativos fosse de veículos que usassem estes combustíveis. Inicialmente favoreceu-se o uso de etanol. Com a alteração feita em 1998, também foi incentivado o uso de biodiesel, como será visto no próximo capítulo. Importante registrar a criação do Programa de Bioenergia do CCC - Commodity Credit

Corporation em 2000, que visou incentivar a demanda e aliviar os excedentes de safra,

cooperando para o fortalecimento de preços e estímulo à produção de biocombustíveis (USDA, 2000). O programa terminou em junho de 2006 (USDA, 2008).

73 The Clean Air Act Amendments of 1990: Alterações de 1990 da Lei do Ar Limpo.

74 De acordo com a EPA (2013), mesmo em baixas concentrações o MTBE torna imprópria a água para consumo, dados o sabor e odor desagradáveis.

Por intermédio do American Jobs Creation Act de 2004 (Jobs Act), foram criados incentivos fiscais para a indústria de biocombustíveis. Essa regulação permitiu que os misturadores reivindicassem uma certa quantia por galão do biocombustível produzido75, o que aumentou a sua competitividade em relação ao fóssil (GPO, 2004).

Em 2005, foi promulgado o Energy Policy Act de 2005, que enfatizou o uso e o desenvolvimento de infraestrutura para os combustíveis alternativos. A legislação estabeleceu o primeiro mandato de mistura de biocombustíveis em combustíveis fósseis nos EUA, através da criação do Programa de Combustíveis Renováveis (Renewable Fuel

Standard – RFS). O RFS trata-se de uma integração progressiva para renováveis no

abastecimento dos veículos automotivos. Foi estipulada a inclusão mínima de 4 bilhões de galões em 2006 e 7,5 bilhões até 2012. Com o objetivo de diminuir os custos de produção do biocombustível, o EPAct2005 também fornecia créditos de imposto para os misturadores, remunerando o formulador de combustíveis com US$0,10/galão de biodiesel (pequenos produtores) misturado ao diesel e US$0,51/galão de etanol adicionado à gasolina (GPO, 2005).

O volume de combustível renovável que as partes obrigadas (tipicamente, refinadoras ou companhias distribuidoras de combustíveis) são forçadas a vender para o cumprimento da meta obrigatória de mistura é determinado pela EPA com base no percentual das vendas totais de combustíveis de cada agente de mercado e nas metas do RFS para cada ano. Para fins de controle do cumprimento da RFS, foi criado um sistema de comercialização de certificados de aquisição de combustíveis renováveis, denominados RINs – Renewable Identification Numbers. Cada galão de biocombustível produzido ou importado em território americano, dá origem a um RIN, que deve ser registrado na EPA e pode ser comercializado livremente pelas partes obrigadas (AFDC, 2015c). A Agência fiscaliza o cumprimento do mandato utilizando os RINs para acompanhar o fluxo dos biocombustíveis ao longo da cadeia de distribuição.

O Programa de Combustíveis Renováveis foi fortalecido com o estabelecimento do

Energy Independence and Security Act de 2007 (EISA - Lei de Segurança e

Independência Energética), cujos principais objetivos foram o aumento da segurança energética dos EUA (reduzindo a dependência em relação à gasolina automotiva), o

75 US$1/galão para o biodiesel obtido de óleos vegetais novos ou gorduras animais (agribiodiesel na legislação) e US $0,50/galão para o feito a partir de óleos reciclados e gorduras misturadas com diesel.

incentivo do desenvolvimento da produção de combustíveis renováveis, e a melhoria da eficiência energética do veículo (GPO, 2007).

A EISA ampliou significativamente as metas de utilização de fontes renováveis no consumo final de combustíveis previstas no EPAct 2005. O Renewable Fuel Standard (RFS2) incluiu a substituição do óleo diesel, além da gasolina, e determinou a adição de 9 bilhões de galões em 2008 e 36 bilhões até 2022. Ademais, a regulação estabeleceu categorias diferentes para os biocombustíveis, de acordo com o grau de redução de emissões de GEE, e determinou metas específicas para cada uma destas. O etanol de milho corresponde à categoria de biocombustível convencional, assim como qualquer derivado de amido. Já a categoria de biocombustíveis avançados compreende todos aqueles diferentes do etanol de milho e cujo consumo gera emissões de GEE, no mínimo, 50% menores do que os fósseis (EISA, 2007) e subdivide-se basicamente em: biocombustíveis celulósicos; diesel de biomassa (inclui o biodiesel) e; biocombustíveis avançados (incluso o etanol de cana-de-açúcar brasileiro) (GPO, 2007).

O Gráfico 20 apresenta os volumes de biocombustíveis, por tipo, que foram consumidos até 2014 e que estão previstos até 2022 para o atendimento das metas do RFS.

Gráfico 20 – Consumo de biocombustíveis por tipo - RFS

Fonte: CBO (2015)

Cabe à EPA determinar e publicar anualmente a revisão das metas de combustíveis renováveis que foram estabelecidas inicialmente pela EISA76. Oportuno assinalar que a

76 A EPA é obrigada a definir todos os padrões até 30 de novembro do ano anterior, conforme 42 U.S.C. § 7545(o)(3)(B)(i) (CRS, 2016). 0 20 40 60 80 100 120 140 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 20 19 20 20 20 21 20 22 Bilõe s de Litr os

Consumo de Etanol Etanol de Milho Biocombustível Celulósico

Diesel de Biomassa Biocombustíveis Avançados

Requerido pela RFS Realizado

Agência tem sucessivamente adiado as metas originais para os biocombustíveis celulósicos. As metas originais estabelecidas no RFS para a produção de combustíveis celulósicos eram de 3 bilhões de galões para 2015 e 4,25 bilhões para 2016, mas foram revisadas, no final de 2014, para 123 milhões de galões e 203 milhões, respectivamente (cerca de 5% da meta original do RFS) (CRS, 2016).

É importante também registrar a promulgação do Food and Energy Security Act de 2008 (FESA), que contém inúmeras disposições relacionadas com energia e agricultura, com destaque para os biocombustíveis, incluindo etanol de milho, etanol celulósico e biodiesel. A referida lei expandiu significativamente os programas existentes de promoção dos biocombustíveis (GPO, 2008).

Como exposto no item 3.4.3.1, os Estados Unidos vivenciam uma situação de restrição denominada “E10 Blend Wall”, em que a gasolina automotiva está saturada com etanol. Em decorrência das diversas medidas governamentais aqui expostas, que foram direcionadas ao aumento do uso de renováveis, diversificação da matriz de transportes e, sobretudo, eficientização veicular, o consumo de gasolina nos Estados Unidos tem permanecido relativamente estável.