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Condições de elegibilidade

No documento 1. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO (páginas 94-98)

QUESTÕES SOBRE O TEMA

11.1. Condições de elegibilidade

Além do voto, a soberania popular também pode ser realizada de forma direta, seja por meio de consultas populares (plebiscito e referendo), seja na previsão de iniciativa popular de lei.

Diz o art. 61, § 2º, da CF/88 que a iniciativa popular será exercida, no plano federal, pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do

eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por

cento dos eleitores de cada um deles.

Por força do disposto no art. 27, § 4º, da CF/88, também as Constituições estaduais devem veicular a iniciativa popular de lei naquele âmbito. Quanto à esfera municipal, reza o art. 29, XIII, da CF/88 que a Lei Orgânica garantirá a iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, por intermédio de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado.

A seguir, valemo-nos novamente de ilustração para estabelecer as distinções entre os mecanismos do plebiscito e do referendo.

Diferença entre plebiscito e referendo

Plebiscito Referendo

Consulta prévia ao povo, a respeito de determinado ato legislativo ou administrativo.

Consulta posterior ao povo, para saber se ratifica ou rejeita ato legislativo ou administrativo.

Congresso Nacional convoca. Congresso Nacional autoriza.

Ex.: plebiscito que decidiu forma e sistema de governo e

também o plebiscito que decidirá se a população quer – ou não – a divisão do Estado do Pará.

Ex.: referendo sobre comércio de armas de fogo e munição.

Como regra geral, o voto e o alistamento (procedimento administrativo necessário para a obtenção do título eleitoral) são obrigatórios para os maiores de dezoito anos. A norma constitucional dispões que eles serão facultativos para as pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos; para os maiores de 70 anos e para os analfabetos.

Consideram-se inalistáveis – ou seja, não podem obter o título eleitoral – os estrangeiros e os conscritos, durante o serviço militar obrigatório.

Estão abrangidos pelo conceito de conscrito os médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários que prestam serviço militar obrigatório (certamente após os 18 anos de idade).

Às vésperas das eleições gerais do ano de 2010, o STF houve por bem afastar a exigência legal de dupla identificação dos eleitores, os quais deveriam apresentar o título eleitoral e mais um documento original com foto169.

11.1. Condições de elegibilidade

Como condições de elegibilidade, temos: a) a nacionalidade brasileira; b) o pleno exercício dos direitos políticos; c) o alistamento eleitoral; d) o domicílio eleitoral na circunscrição; e) a filiação partidária; e f) a idade mínima exigida para o cargo.

Note-se que afora os cargos privativos de brasileiro nato – art. 12, § 3º, da CF – também os brasileiros naturalizados podem pleitear cargos políticos. A eles também se imporá a obrigatoriedade do voto e do alistamento eleitoral.

Vimos que uma das condições de elegibilidade é a filiação partidária. Ao contrário de outros países, o Brasil não admite a chamada candidatura avulsa. A título de exemplo, em Portugal se permite a apresentação de candidaturas presidenciais diretamente pelo cidadãos, não registrados em nenhuma agremiação partidária.

No tocante à idade mínima, ela será comprovada apenas na data da posse. Vejamos a seguir a tabela ilustrando a exigência referente a cada um dos cargos eletivos:

168

ADI 4.307-MC/DF, Relatora Ministra Cármen Lúcia, DJe de 5.3.2010.

169

95 Idade mínima para concorrer a cargos eletivos

Idade exigida Cargo pleiteado

35 anos Presidente da República (+ vice) e Senador

30 anos Governador de Estado e do DF (+ vice)

21 anos Deputados (todos); Prefeito (+ vice); e Juiz de Paz

18 anos Vereador

Aos 35 anos, a pessoa poderá concorrer a qualquer cargo eletivo. Em decorrência disso, diz-se que ela possuirá capacidade eleitoral passiva plena.

A leitura do artigo 14 da CF/88 permite que encontremos uma série de restrições, sendo que elas geralmente se referem aos Chefes do Poder Executivo.

Sobre essa questão, recordamos que a nossa Constituição foi escrita pela Assembleia Nacional Constituinte, composta dos deputados federais e dos senadores. Acreditamos ser essa uma das explicações para a distinção de tratamento entre os candidatos que pleiteiam cargos no Executivo e no Legislativo (afinal, os parlamentares, por terem elaborado o texto constitucional, não criariam severas vedações a eles próprios).

Vejamos do seguinte quadro esquemático:

Diferença de tratamento entre chefes do Poder Executivo e Parlamentares Presidente da República, Governador e

Prefeito

(além dos respectivos vices)

Deputado, Senador e Vereador

Possibilidade de reeleição Somente uma vez para o período

subsequente Não há limitações.

Para concorrer a cargo diverso

Deverá renunciar ao mandato até 6 meses antes do pleito. É a chamada

desincompatibilização. Ex.: José Serra, nas

eleições de 2010.

Não há necessidade de se afastar do

cargo.

Para concorrer ao mesmo cargo Não há a necessidade de se afastar. Ex.:

Lula, nas eleições de 2006.

Não há necessidade de se afastar do

cargo.

Restrições à candidatura de parentes na mesma base territorial

Cônjuge, companheiro e os parentes consanguíneos ou afins, até o 2º grau, inclusive por adoção, são inelegíveis, salvo se já titulares de mandato eletivo e candidatos à reeleição. É a chamada

inelegibilidade reflexa.

Não proibição de parentes concorrerem.

Até a promulgação da EC 16/97, na CF/88 não se permitia a reeleição para cargos do Poder Executivo. A restrição a apenas dois mandatos consecutivos (1 + 1) tem a finalidade de evitar a perpetuação de um grupo no poder.

Curiosa situação ocorreu com o casal Anthony Garotinho e Rosinha Matheus. Ele exerceu um cargo de governador e ela tentou um outro. Entendeu-se na ocasião que a situação seria permitida, pois se o próprio Garotinho poderia tentar a reeleição, não haveria impedimento a que ele ‗cedesse a vez‘ à sua esposa.

Dentro dessa ordem de ideias, o que não pode ser admitido é o exercício de um terceiro mandato consecutivo, seja do próprio titular dos primeiros mandatos, seja de seus familiares.

Mas a imaginação de alguns políticos não tem limites, principalmente quando se trata da obtenção de meios para permanecer no poder.

Com vistas a evitar burlas à inelegibilidade reflexa, o Supremo Tribunal editou a Súmula

Vinculante nº 18, de seguinte redação: ―a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso

do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da CF‖.

Antes dessa súmula, víamos que, em alguns casos, o agente político exercia dois mandatos seguidos e, para poder exercer um terceiro (de maneira oculta), simulava um divórcio, a fim de que seu cônjuge pudesse concorrer nas eleições subsequentes.

96 Anote-se, no entanto, que não haverá a inelegibilidade reflexa nas hipóteses em que a dissolução do vínculo conjugal tenha ocorrido antes do mandato eletivo. A propósito, tem-se o seguinte julgado:

Registro de candidatura ao cargo de prefeito. Eleições de 2004. Art. 14, § 7º, da CF. Candidato separado de fato da filha do então prefeito. Sentença de divórcio proferida no curso do mandato do ex-sogro. Reconhecimento judicial da separação de fato antes do período vedado. Interpretação teleológica da regra de inelegibilidade. A regra estabelecida no art. 14, § 7º da CF, iluminada pelos mais basilares princípios republicanos, visa obstar o monopólio do poder

político por grupos hegemônicos ligados por laços familiares. Precedente. Havendo a

sentença reconhecido a ocorrência da separação de fato em momento anterior ao início do mandato do ex-sogro do recorrente, não há falar em perenização no poder da mesma família (...).170

Ainda sobre o tema da reeleição, em rumoroso caso, o STF entendeu que o fato de o candidato Geraldo Alckmin ter ocupado, por dois mandatos seguidos, o cargo de vice-governador não impediria a sua candidatura ao cargo de governador. No caso citado, o eleito para o cargo de governador (Mário Covas) faleceu no curso do segundo mandato. A ementa do julgado é bastante ilustrativa. Vejamos:

Vice-governador eleito duas vezes para o cargo de Vice-governador. No segundo mandato de

vice, sucedeu o titular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o Governador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de Governador, porque o exercício da

titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo. Inteligência do

disposto no § 5º do art. 14 da CF.171

Em outro julgado, o STF assentou a orientação de que é ―inelegível para o cargo de Prefeito de Município resultante de desmembramento territorial o irmão do atual chefe do Poder Executivo do Município-mãe172.

Alertamos os caros estudantes que o tema em análise tem grande incidência nas provas de concursos públicos – principalmente ligados à área eleitoral – e em Exames da OAB. Na linha da crescente exigência da interdisciplinaridade, faremos algumas observações atinentes às relações de parentesco.

Com efeito, o Código Civil de 2002 trata das relações de parentesco – seja consanguíneo, seja por afinidade – ao longo dos artigos 1.591 a 1.595. A seguir, identificamos as pessoas relativas a cada um dos quatro graus de parentesco:

a primeiro grau: pai e mãe, filhos, sogro e sogra, além de enteados, padrastos e madrastas; b segundo grau: avós, netos, irmãos e cunhados;

c terceiro grau: bisavós, bisnetos, tios e sobrinhos; d quarto grau: tios-avós, sobrinhos-netos e primos.

Feitas essas ponderações, vê-se que apenas os candidatos que sejam parentes de terceiro e quarto graus ficam fora das restrições impostas aos chefes do Poder Executivo.

Ressaltamos que a contagem de graus também será imprescindível para aferir o alcance da chamada súmula do nepotismo173. É de ver que a Súmula Vinculante nª 13 estende a proibição da

contratação de parentes (nepotismo) até o terceiro grau de parentesco. 11.2. A situação dos militares

Ressalvada a situação do conscrito – que é inalistável e, consequentemente, inelegível, inelegível –, os demais militares das Forças Armadas e também os ocupantes das forças auxiliares (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares) podem ser eleitos, conforme dispõe o art. 14, § 8º, da CF/88.

170

RE 466.999/PE, Relatora Ministra Ellen Gracie, DJ de 9.9.2005.

171

RE 366.488/SP, Relator Ministro Calos Velloso, DJ de 28.10.2005.

172

RE 158.314/PR, Relator Ministro Celso de Mello, DJ de 12.2.2003.

173

97 Ocorre, porém, que o art. 142, § 3º, V, da CF/88 proíbe aos membros das Forças Armadas,

enquanto no serviço ativo, estarem filiados a partidos políticos. Essa proibição também se estende

aos militares das forças auxiliares.

Assim, surge um aparente conflito: Afinal, como o militar vai concorrer a um cargo eletivo se ele não pode estar filiado a qualquer partido?

A Justiça Eleitoral, compatibilizando essas normas constitucionais, firmou a compreensão seguinte: do registro da candidatura até a diplomação do candidato ou seu regresso às Forças Armadas, o candidato é mantido na condição de agregado, ficando afastado temporariamente, caso conte com mais de dez anos de serviço, ou ainda, será afastado definitivamente, se contar com menos de dez anos.

Em outras palavras, temos esta a situação:

a Se contar menos de dez anos de serviço, o militar deverá afastar-se definitivamente da

atividade.

Interpretando esse dispositivo, o Supremo Tribunal assim decidiu:

Servidor público. Militar alistável. Elegibilidade. Policial da Brigada Militar do Rio Grande do

Sul, com menos de 10 (dez) anos de serviço. Candidatura a mandato eletivo. Demissão oficial

por conveniência do serviço. Necessidade de afastamento definitivo, ou exclusão do serviço ativo.

Pretensão de reintegração no posto de que foi exonerado. Inadmissibilidade. Situação

diversa daquela ostentada por militar com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício. Mandado de segurança indeferido. Recurso extraordinário provido para esse fim. Interpretação das disposições do art. 14, § 8º, incs. I e II, da CF. Voto vencido. Diversamente do que sucede ao militar com

mais de dez anos de serviço, deve afastar-se definitivamente da atividade, o servidor militar que, contando menos de dez anos de serviço, pretenda candidatar-se a cargo eletivo.174

b Se contar mais de dez anos, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará

automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. 11.3. As inelegibilidades

Fala-se em inelegibilidade absoluta e relativa. A primeira abrange a proibição de concorrer a qualquer cargo eletivo. Ela somente pode estar prevista no texto constitucional.

Pela regra atual, vimos que os inalistáveis e os analfabetos não podem concorrer a nenhum cargo político.

Diversamente, há situações em que a restrição é parcial, abrangendo apenas certos cargos. A título de ilustração, uma pessoa que conte com 32 anos de idade, mesmo que esteja no pleno gozo de direitos políticos, não poderá se candidatar à Presidência da República ou ao mandato de Senador. Esse mesmo cidadão não terá impedimentos caso planeje ser Deputado, Governador, Prefeito ou Vereador.

Enquanto as hipóteses de inelegibilidade absoluta se encontram exclusivamente na CF/88, lei complementar também pode veicular as inelegibilidades relativas.

A propósito, diz o § 9º do art. 14 da CF/88 que lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Atendendo essa disposição constitucional, foi editada a LC 64/90, recentemente modificada pela LC 135/10, intitulada Lei Ficha Limpa.

Veja-se o quadro geral de inelegibilidades:

Quadro geral de inelegibilidades

174

98 Inelegibilidade Absoluta Inalistáveis Estrangeiros Conscritos Analfabetos Inelegibilidade Relativa

Por motivos funcionais Para o mesmo cargo (reeleição)

Para outros cargos (desincompatibilização)

Cônjuge ou parentesco Inelegibilidade reflexa

Militares

Menos de 10 anos de serviço Mais de 10 anos de serviço

Legais LC 64/90

No documento 1. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO (páginas 94-98)