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CAPÍTULO III – AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL DO SÉCULO

1. A GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO COMPROMISSO SOCIO-

1.1. Confederação Nacional da Indústria

A participação da Confederação Nacional das Industrias, na educação, ocorre desde Getúlio Vargas77. Trata-se de uma das mais antigas organizações empresariais interessadas em assuntos educacionais; influenciou politicamente vários governos. O interesse da CNI pela educação envolve garantir qualificação profissional e escolar da classe trabalhadora para o trabalho produtivo. A CNI difunde a universalização da educação geral básica e a formação profissional polivalente voltada à empregabilidade (RODRIGUES, 1997, p. 239). A partir da década de 1990 o ensino profissionalizante ganha força, o SENAI recebe grandes investimentos para oferecer os cursos do PRONATEC; nesse período houve a expansão do ensino privado, várias instituições educacionais privadas foram criadas; o empresariado marca presença nos debates educacionais em um cenário político em que o neoliberalismo ganha força; criaram vínculos com vários governos federais, esses vínculos se estabeleceram em diferentes níveis institucionais.

Recentemente a CNI se manifestou a favor de determinadas práticas educacionais e tem se mobilizado politicamente no sentido de fomentar políticas favoráveis a execução de suas concepções e práticas educacionais. A CNI indica que a educação é determinante para a queda no índice da pobreza e da desigualdade social. Oportunidade de acesso a educação é considerado fator decisivo para se garantir a elevação de renda dos trabalhadores; nesta perspectiva, educação de qualidade garante melhores condições de competitividade e crescimento econômico. É comum entre as frações empresarias a defesa da ideia de que formação educacional implica em melhorias nos índices socioeconômicos.

A CNI elaborou um documento intitulado, “educação para o mundo do trabalho: a rota para a produtividade” (2014). Trata-se de um documento publicado em 2014 que visava ser um material de consulta e orientação para os candidatos às eleições presidenciais de 2014. O documento traz ao leitor uma concepção de educação que considera o mundo produtivo e o aproveitamento de desempenho do trabalhador objetivos a serem atingidos; nesta perspectiva, o trabalhador deve ser muito bem formado para garantir o máximo de aproveitamento de sua capacidade produtiva. A CNI reconhece que

77 Getúlio desenvolveu políticas desenvolvimentistas objetivando fortalecer o capital no Brasil; a industrialização foi financiada pelo Estado. As políticas educacionais também estavam alinhadas a essa perspectiva.

a educação garante o aumento da produtividade, para isso, a escola deve estar atenta as constantes mudanças tecnológicas e organizacionais do mundo produtivo; reconhece que a baixa escolaridade dos trabalhadores tem efeitos negativos no desempenho econômico. É nestes termos que a CNI reconhece que a baixa escolaridade se relaciona a insuficiente capacidade produtiva; fala nestes termos:

[...] a baixa escolaridade da população brasileira e a baixa qualidade da educação são fatores que interferem na capacidade dos trabalhadores de interagir com as novas tecnologias e métodos de produção, com efeitos negativos para a produtividade e a competitividade e, consequentemente, para o crescimento econômico sustentado (CNI, 2014, p. 9-10).

Para a CNI os bons índices de formação escolar se associam a um maior desempenho produtivo; nesta perspectiva, educação prepara os estudantes para as inovações tecnológicas da indústria. A CNI enquanto parte da fração empresarial propõe qualificar os trabalhadores para garantir maiores resultados ao capital.

O empresariado industrial reconhece a educação como fator de produção, como bem indica Rodrigues (2007), trata-se de utilizar a educação de acordo com a lógica mercadoria-educação; nesse processo, a educação também é elemento determinante para garantir maior produtividade ao setor de serviços. A CNI reconhece que os índices de produtividade do setor de serviços são baixos e isso tem implicações na produtividade industrial. A CNI reconhece que

a educação eleva a produtividade do setor de serviços e da indústria. Os serviços já respondem por 70% do PIB e por quase 74% do emprego formal no Brasil. A produtividade do trabalho no setor, porém, é muito baixa e tem crescido muito pouco ao longo do tempo, o que ajuda a explicar os preços elevados e a baixa qualidade dos serviços em geral. O problema é que essas deficiências não são neutras. Isto porque os serviços são determinantes para a competitividade da indústria e de outros setores que os utilizam como insumos. Em 2011, os serviços correspondiam a nada menos que 64,5% do valor adicionado da indústria de transformação a 39,6% do valor adicionado da indústria extrativa (CNI, 2014, p. 10).

O setor de serviços garante competitividade à indústria, investir no setor de serviços para melhorar seus resultados também envolve uma educação de qualidade para a classe trabalhadora. A CNI defende educação para a indústria e para o setor de serviços. No jogo do capital os dois setores estão entrelaçados. O cenário que se estabelece - no que se refere as condições materiais de trabalho nas escolas - a CNI indica que melhorar salários e recursos são menos importantes que a oferta de melhores condições para

professores e professoras ofereçam aos alunos educação de qualidade (CNI, 2014, p. 11). Nessa perspectiva, a garantia de melhores condições salariais aos professores não é um dos objetivos do projeto da CNI para a educação pública. Assim como outras frações do empresariado, os industriais acreditam que práticas eficientes de gestão resolvem os problemas educacionais e garantem uma educação básica de qualidade à classe trabalhadora.

A CNI apresenta alguns pontos importantes para desenvolver e melhorar a educação ofertada à classe trabalhadora78; um desses pontos é o foco em melhorias na educação básica, moldar o currículo de acordo com as necessidades do mercado; monitorar os professores, fazer uma distribuição e alocação de recursos que levem em conta resultados e a aplicação de critérios meritocráticos; também propõe garantir a melhorara da administração dos recursos; trata-se de aplicar as melhores práticas de gestão e atribuir responsabilidades aos professores e diretores; a CNI considera que, “a opção do ensino médio articulado com a educação profissional pode ser um caminho promissor para a expansão da oferta de jovens capacitados” (CNI, 2014, p. 14). Como em outros momentos, a CNI propõe um ensino médio articulado ao ensino técnico.

O currículo escolar deve ser provido de conteúdos que capacitem os estudantes a atuarem no mercado; o currículo escolar deve desenvolver as capacidades cognitivas e o desenvolvimento de capacidades para resolver problemas variados e executar tarefas em situações diversas; para garantir maiores condições educacionais ao trabalhador é proposto uma formação focada em Português e Matemática; nesse sentido a

elevação da carga de ensino de português, matemática e de outras ciências será particularmente útil para esse fim. Essas capacidades serão fundamentais para preparar os jovens para ambientes de trabalho cada vez mais tecnológicos e de atividades interativas e menos de atividades manuais e repetitivas (CNI, 2014, p. 11).

A política educacional deve objetivar diminuir as diferenças de capital humano entre trabalhadores e empresas. A intenção é garantir uma média no nível de qualificação dos trabalhadores, visa facilitar o aproveitamento de mão de obra. A produtividade implica em “[...] desenvolver políticas de educação profissional de maneira que as

78 Uma característica significativa da ação empresarial na educação e que diferencia o empresariado de outros momentos é que ele, atualmente, apresenta respostas para os mínimos aspectos da formação educacional da classe trabalhadora.

empresas com maiores deficiências de acesso a capital humano recebam mais atenção; e desenvolver programas de educação profissional adequados à realidade daquelas empresas e setores” (CNI, 2014, p. 12). Nesta perspectiva, educação se torna fator de produção. Vários procedimentos são propostos para a formação de capital humano79, inclusive a implementação de recursos tecnológicos favoráveis para uma formação escolar em alta escala, formação mais rápida e com um baixo custo; o ensino a distância seria um recurso favorável a concretização desse objetivo. A utilização de tecnologias flexíveis, sistemas inteligentes adaptados a cada indivíduo é uma possibilidade ás escolas e centros de treinamento; trata-se de tecnologias que garantiriam a educação profissional e formação continuada.

A educação a distância é alternativa para formar em larga escala com rapidez e baixo custo (CNI, 2014, p. 39 – 40). É com a intenção de implementar políticas que garantam maior eficiência no processo de formação educacional do trabalhador que a CNI afirma que

o Brasil precisa encontrar tecnologias que permitam educar e formar melhor, em larga escala, mais rapidamente e a baixo custo. Para tanto, é preciso considerar alternativas como as de ensino à distância. O uso de tecnologias flexíveis, sistemas inteligentes e adaptativos e personalizados às necessidades de cada indivíduo pode ser um caminho promissor para as escolas, centros de treinamento, empresas e indivíduos. Essas tecnologias poderão contribuir para reduzir as deficiências da educação profissional e para viabilizar a formação continuada (CNI, 2014, p. 12).

A situação de maior competitividade das empresas demanda por trabalhadores educados por instituições e organizações empresariais; porém, as empresas, de forma direta, também precisam se envolver na formação de pessoas. Empresas na Europa e Estados Unidos estão adequando o currículo de cursos universitários de acordo com as demandas de determinados ramos do mercado (CNI, 2014, p. 13). O documento publicado pela CNI (2014) indica como sendo positivo o fato de as universidades corporativas contribuírem para a formação de capital humano. O capital humano e a formação educacional para o mundo do trabalho visam garantir o aumento da produtividade, por isso deveriam ser foco de políticas públicas e privadas (CNI, 2014, p. 18). Os industriais chamam a atenção das autoridades públicas para desenvolverem políticas educacionais baseadas em conceitos e noções empresariais.

De acordo com a CNI (2014) a escola não tem acompanhado as transformações tecnológicas e a organização da produção; nesse sentido, a educação se tornou obsoleta, segue uma perspectiva conteudista80 e oferece aprendizados de assuntos que não tem utilidade para o futuro profissional dos jovens. Estas conclusões também se referem ao ensino médio. A CNI afirma que

[...] a escola nem sempre tem acompanhado as transformações tecnológicas e de organização da produção. O nosso modelo educacional tornou-se obsoleto para a era do conhecimento, pois continua ancorado em métodos de aprendizado conteudistas, de conhecimento segmentado e em que se privilegia a repetição. Ao invés de ensinar a pensar e desenvolver habilidades relevantes para a vida pessoal e profissional, as escolas levam os alunos a digerir grandes quantidades de informações em aulas expositivas sobre assuntos muitas vezes de pouco interesse e utilidade para o futuro das crianças e jovens (CNI, 2014, p. 25).

A baixa qualidade da educação básica tem sido um obstáculo para a qualificação profissionalizante. De acordo com a CNI (2014), o desinteresse dos jovens pelo ensino médio se explica em parte pelo despreparo para com o mercado de trabalho, o ensino médio não oferece uma formação que capacite os trabalhadores a enfrentarem o mundo do trabalho. Esse argumento também é defendido por agentes do governo federal; defende-se a ideia de que o ensino médio não tem atingido seus objetivos. A CNI (2014) recorre aos exemplos de países capitalistas, Estados Unidos e Europa para legitimar a política de formação técnico-profissionalizante. Em vários países os estudantes se formam em cursos com duração de 2 anos, a maioria dos estudantes não escolhem os cursos de bacharelado; a intenção não é formar para o ensino superior. Nesse sentido,

comparativamente a outros países, o Brasil está em desvantagem: na Europa, formam-se mais graduados em cursos curtos do que no bacharelado convencional; nos EUA, de cada três formados no ensino superior, dois são provenientes de cursos de dois anos ou menos. Na União Europeia, 49,9% dos estudantes de ensino secundário optaram pela educação profissional – na Alemanha, são 51,5%; na Suécia, 56,1%; na Espanha, 44,6%; e na Holanda, 67%. No Brasil, são 5,2%” (CNI, 2014, p. 28).

As intenções da CNI não se reduzem a questões educacionais, apontam para outras dimensões da política nacional; apresenta a necessidade do Estado fazer reformas

previdenciárias e trabalhistas; estas reformas implicariam em uma nova situação de experiência da classe trabalhadora com o trabalho. A CNI (2014, p. 33) indica que

o Brasil terá que, cedo ou tarde, considerar reformas significativas da legislação previdenciária, de forma a que as pessoas se retirem mais tarde do mercado de trabalho, bem como reformas trabalhistas, de forma a que se criem jornadas de trabalho mais flexíveis e que atendam tanto às necessidades das populações maduras como às dos empregadores.

A Confederação Nacional das Industrias (2014) também apresenta proposta de financiamento das escolas; de acordo com o critério proposto, investimentos financeiros nas escolas se dará com base em critérios meritocráticos; trata-se de um procedimento típico de gestão empresarial; se implantará nas escolas as melhores técnicas de gestão de recursos; melhorar o ensino implicará atrair profissionais81 mais talentosos para as escolas. Para adequar os estudantes a nova realidade tecnológica do mundo do trabalho é preciso incluir novas atividades e conteúdos no currículo, estas atividades devem focar no desenvolvimento cognitivo e no desenvolvimento de capacidades para resolver problemas complexos. O aumento da carga de ensino de matemática pode ajudar no alcance desse objetivo (CNI, 2014, p. 39).

Vale ressaltar que a CNI é um órgão sindical patronal que possui vínculo administrativo com o SENAI, SESI e IEL. O SENAI é uma instituição que se estende por todo o território brasileiro; reproduz práticas e conteúdos fundamentados em concepções educacionais de qualificação para a produtividade industrial e terciária.

O SENAI é resultado de um ato direcionado à modernização das relações capitalistas (RODRIGUES, 1997, p. 24); é a mais importante iniciativa educacional na área da formação profissionalizante (RODRIGUES, 1997, p. 44). O SENAI oferta um amplo leque de cursos técnicos e tecnológicos. É um contraponto a formação politécnica (FRIGOTTO, 2010, p. 234). O SENAI e o SENAC são exemplos de instituições que possuem uma pedagogia fundamentada nos interesses do capital (FRIGOTTO, 2010, p. 193-194). Utiliza o método caracterizado por ensinar poucas coisas, porém, bem ensinadas; a relação de aprendizado se dar entre máquina e aprendiz; a preocupação não é com as relações de produção da vida, mas com o que serve a indústria (FRIGOTTO,

2010, p. 234). Os cursos técnicos oferecidos pelo SENAI visam formar o trabalhador portador de um etos moral favorável ao modo de produção capitalista.

O SENAI é exemplo de instituição profissionalizante que assimila pedagogicamente a operacionalidade e objetividade típica do modo de produção capitalista; colabora para a inclusão da economia brasileira na divisão internacional do trabalho (RODRIGUES, 1997, p. 33).

Instituições de ensino profissionalizante gestadas pelo setor privado apresentam formação aligeirada; o SENAI82 oferece cursos aligeirados e se apresenta como alternativa de educação à classe trabalhadora. O processo de simplificação da formação educacional e o desenvolvimento de competências obedece a lógica do capital. A formação simplificada ocorre em virtude do fracionamento na cadeia produtiva, ao crescimento da expansão da prestação de serviços de baixa complexidade (LEHER, 2014, p. 4-5). É preciso ressaltar que a simplificação da formação educacional para o trabalho não nega a característica ontológica do trabalho em seu constante aperfeiçoamento. O trabalho atrai à vida, produtos sociais mais elevados (LUKÁCS, 1969, p. 9 - 10).

Analisando o conteúdo programático de alguns cursos técnicos oferecidos pelo SENAI, em 2017, se percebe que o SENAI difunde noções, conceitos e valores que implicam desvincular a relação de pertencimento do estudante de sua classe social; trata- se de construir subjetividades. Vários elementos do conteúdo curricular são originários do mundo empresarial e do pensamento neoliberal, tais como: gestão de pessoas, liderança, ética profissional e empreendedorismo. Nos cursos do SENAI é ensinado aos trabalhadores ter uma visão positiva do patrão (FRIGOTTO, 2010, p. 234). Há um caráter ideológico em alguns conteúdos previstos na estrutura curricular de alguns cursos oferecidos pelo SENAI; isso parece corroborar com o que é dito por Chauí (1980, p.39), o papel da ideologia é impedir que a classe dominada perceba as relações de dominação.

Na tabela abaixo é apresentado alguns cursos e disciplinas – com seus respetivos conteúdos programáticos - que valorizam a absorção de certos conteúdos no processo de formação da classe trabalhadora. Estes conteúdos dizem respeito ao desenvolvimento de atributos de liderança, cidadania e ética; são abordagens que denunciam a concepção de formação educacional difundida pelo SENAI; trata-se de conteúdos que também visam adequar moralmente os trabalhadores as necessidades do capital.

MECÂNICA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

GESTÃO DE PESSOAS E QUALIDADE Gestão administrativa de pessoas; Avaliação de desempenho; Liderança: Tipos; Estilos; Características. Tomada de Decisão: Decisões Programadas; Decisões não-programadas;

Virtudes profissionais: Responsabilidade;

iniciativa; Honestidade; Sigilo; Prudência; Perseverança; Imparcialidade

EDIFICAÇÕES

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO FUNDAMENTOS DE QUALIDADE,

SAÚDE, MEIO AMBIENTE E SEGURANÇA

Cidadania e Ética: Cidadania; Conceito; Direitos sociais e humanos; Inclusão social: PNE; Ética; Importância para as relações familiares e profissionais; Crise ética na contemporaneidade e seus efeitos nas relações interpessoais; Qualidade do trabalho: Princípios de gestão da qualidade satisfação do cliente, participação e produtividade.

GESTÃO DE PESSOAS Ciclo motivacional; Hierarquia das necessidades; Fatores motivacionais; Autoestima e autoconfiança; Avaliação de desempenho; Motivação; A importância do autoconhecimento; Ética nos relacionamentos profissionais; Ética no desempenho das atividades profissionais; Liderança:

Definição; Modalidades de liderança; Liderança nas organizações.

MANUTENÇÃO AUTOMOTIVA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

COMUNICAÇÃO APLICADA Sistemas da qualidade aplicada a empresas específicas do setor automobilístico:

Trabalho em grupo; Relações interpessoais; Responsabilidades individuais; Fatores de satisfação no trabalho; Postura ética; Ética nos relacionamentos sociais e profissionais; Ética no uso de máquinas e equipamentos.

TÉCNICO EM QUÍMICA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

GESTÃO DE PESSOAS Organização e Sistemas: Dinâmica e

funcionamento de grupos: Liderança,

motivação, comunicação, planejamento, organização, controle, tomada de decisão, avaliação, inovação.

Quadro 1: Conteúdos programáticos de cursos técnicos oferecidos pelo SENAI Fonte: SENAI, 201783.

Os conteúdos curriculares do SENAI presam por aspectos comportamentais dos estudantes, do ser, agir e pensar; focam nos atributos “morais” e funcionais para o bom resultado produtivo na fábrica e no setor de serviços; a intenção é formar “bons trabalhadores e trabalhadoras”; submetidos às relações capitalistas (FRIGOTTO, 2010, p. 235). O currículo apresenta elementos para a formação do trabalhador enquanto líder e detentor de habilidades e capacidade para tomar decisões. Trata-se de uma concepção educacional que atribui capacidade de ação e autonomia aos trabalhadores.

O SENAI difunde a ideia de que classes sociais são coisas do passado; o que existe hoje são diferenças e não antagonismos (MARTINS, 2015, p. 77-78). A formação oferecida pelo SENAI se adéqua a um contexto produtivo de reorganização flexível da produção e do trabalho polivalente84. A formação polivalente possui uma abrangência restrita, almeja o mercado (RODRIGUES, 1997, p. 237-238).85 A formação para o trabalho polivalente não implica aproveitar a ciência como potência material no processo produtivo (SAVIANI, 2014, p. 12).

O SENAI é administrada pela Confederação Nacional da Industria (CNI) e se coloca como modelo e referência às escolas públicas. Durante a tramitação no congresso, da Lei nº 13.415/2017, o SENAI sinalizava ser alternativa pedagógica e institucional para o governo viabilizar o “novo ensino médio”. Em 11 de Setembro de 2016, o SENAI reuniu empresários, governo e especialistas para discutir um modelo de educação profissional para o país; o evento foi chamado, “Diálogos: Os Caminhos para a Educação do Futuro” e ocorreu no Ginásio Nelson em Brasília, contou com a participação de intelectuais orgânicos da burguesia industrial, especialistas estrangeiros, industriais e formadores de políticas públicas do Ministério da Educação e do Congresso Nacional; a intenção do evento era discutir um modelo de educação profissional que garanta o desenvolvimento econômico e social do Brasil (SENAI, 2017). Os temas elencados para discussão foram: “a Educação Profissional como Estratégia para o Aumento da Produtividade e o Crescimento do País; O Futuro do Trabalho: o Desenvolvimento de

84Vale ressaltar que o processo produtivo capitalista, no contexto de implementação tecnológica, a especialidade do trabalhador deixa de ser um limite ao capitalista (FRIGOTTO, 2010, p. 95).

85A reestruturação produtiva do capital trouxe várias implicações para o trabalho; se estabeleceu o trabalho em rede, houve a flexibilização, desconcentração do espaço físico produtivo; isso resultou na diminuição de mão de obra industrial, do trabalho manual, estável e especializado; implicou a superação da organização vertical da indústria teylorista-fordista (SILVEIRA, 2007, p. 71).

Competências para a Indústria 4.0; A Aprendizagem Profissional no Mundo e os Desafios Enfrentados no Brasil” (NICÁIO, 2016).

A partir de uma “nova perspectiva do mundo do trabalho”, baseada na concepção de indústria 4.0, o SENAI reconhece que é demandado do trabalhador atitude crítica, flexibilidade e disponibilidade para novos aprendizados; o trabalhador deve assumir novas posturas no trabalho. Foram apresentados em painéis os assuntos e os convidados do evento; no transcorrer do evento foi abordado assuntos variados, incluindo assuntos educacionais.

PAINEL II - No segundo painel, às 10h20, especialistas internacionais vão abordar as competências exigidas pela Indústria 4.0. Será uma aula sobre o futuro do trabalho. A indústria 4.0 permite a automação e a integração de todas as etapas de produção e exige trabalhadores críticos, flexíveis, qualificados e, principalmente, abertos a novos aprendizados. Para o SENAI, com a indústria 4.0, será preciso repensar os sistemas