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CAPÍTULO III – AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL DO SÉCULO

1. A GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO COMPROMISSO SOCIO-

1.6. Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação

Os procedimentos de gestão da Odebreche se tornaram referências para a elaboração de um manual dedicado as escolas públicas; o manual foi desenvolvido pelo Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE); o instituto é patrocinado pela Avina. A elaboração do manual aproveita conceitos relacionados a Tecnologia Empresarial Odebrechet (TEO) e visa superar o baixo desempenho das escolas públicas no que se refere a formação e qualificação da classe trabalhadora. É apresentado pelo manual o pressuposto de que os problemas escolares vigentes envolvem deficiências na gestão e de como o ensino é conduzido.

O recurso empresarial gerencial proposto pelo ICE, a ser implantado nas escolas, se chama TESE (Tecnologia Empresarial Socioeducacional); a intenção é que a TESE seja aplicada no ambiente escolar a partir da ação do gestor (ICE, 2008, p. 4). A Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO) foi apresentada em 2004 como alternativa de gestão escolar a ser implantada nos Centros de Ensino Experimental em Pernambuco e no Centro de Ensino Experimental Escola Técnica do Agreste; vale ressaltar que nessa segunda experiência foram aproveitadas as recomendações pedagógicas de Jacques Delors (ICE, 2008, p.5).

O ICE (2008, p.4) parte do pressuposto de que as deficiências da escola pública podem ser resolvidas com a metodologia TESE (ICE, 2008): “Eu considero esta metodologia a espinha dorsal do processo de transformação da escola pública brasileira, tão mal planejada, tão mal gerida e que produz, como consequência, resultados tão pífios”. Nessa perspectiva, a gestão da escola é comparada a gestão de uma empresa. O ICE considera que o acumulo de experiências gerenciais obtidas no ambiente empresarial117 oferecem um amplo leque de ferramentas às escolas públicas. É nestes termos que o ICE aproxima as experiências gerenciais empresariais as experiências escolares; isso fica posto nestes termos:

a gestão de uma escola em pouco difere da gestão de uma empresa. Na realidade, em muitos aspectos, a gestão de uma escola apresenta

nuances de complexidade que não se encontram em muitas empresas. Assim sendo, nada mais lógico do que partir da experiência gerencial empresarial acumulada para desenvolver ferramentas de gestão escolar (ICE, 2008, p.3).

A tecnologia de gestão chamada TESE tem o objetivo de formar uma consciência empresarial humanística, junto a outras ações propõe oferecer um ensino médio de excelência; a TESE possui uma concepção de escola em que a “[...] tecnologia objetiva formar uma consciência empresarial humanística nos componentes da organização, alinhados à filosofia do PROCENTRO, que busca garantir a excelência do Ensino Médio público” (ICE, 2008, p. 6). Vale lembrar que o TESE objetiva afetar não somente a gestão escolar, mas também os alunos. A concepção empresarial de mundo seria transmitida aos alunos; “nos Centros, a TESE também é implantada na agenda dos estudantes para a elaboração de seus Projetos de Vida” (ICE, 2008, p. 6).

Em 2006 haviam 18 Centros de Ensino em Tempo Integral e a TESE foi apresentada como recurso tecnológico a ser estudado a partir de módulos no processo de formação de gestores; esses centros escolares tem sua gestão organizada de acordo com a lógica empresarial.

De acordo com o ICE o gestor é caracterizado como líder118 e para garantir um melhor desempenho é necessário oferecer ferramentas gerenciais que impliquem em dirigir a escola de forma estruturada; essa estrutura deve estabelecer que os objetivos, metas, estratégias, planos de ação e métrica estejam em concordância em todos os níveis da organização. É dando ênfase ao papel do líder no ambiente escolar que o ICE indica que

a liderança do Gestor é, sem dúvida, uma característica essencial, porém isoladamente não basta. Faz-se necessário pôr a sua disposição e de sua equipe um conjunto de ferramentas gerenciais que permitam dirigir a escola de forma estruturada. Essa estrutura deverá garantir que a missão, objetivos, metas, estratégias, planos de ação e métricas estejam todos alinhados e claramente definidos, em todos os níveis da organização, de modo que todos possam, com clareza, compreender o seu papel e contribuir objetivamente para a consecução dos resultados esperados, para que sejam medidos, avaliados e recompensados (ICE, 2008, p. 03)

A Tecnologia Empresarial Socioeducacional modelada com base na TEO (Tecnologia Educacional Odebrechet) se articula as orientações do relatório de Jacques

118 A ideia de liderança, assim como em outros institutos, fundações e organizações empresariais, também é muito presente no ICE.

Delors. Trata-se de práticas pedagógicas empresariais lidando com os pilares de Jacques Delors; sendo estes pilares, aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Assim como outras organizações empresariais, o ICE visa garantir a partir de processos escolares, a cultura empresarial; a intenção é consolidar práticas para a formação de “novos e bons empresários”; nessa perspectiva, a escola é voltada para a formação de empresários, visa apresentar aos alunos as concepções de mundo do empresariado. A concepção empresarial de trabalho e desenvolvimento intelectual propõe, a partir da escola, formar empreendedores. É posto pelo Instituto de Co - Responsabilidade pela Educação (2008, p. 13) que:

o crescimento vai além da geração e do reinvestimento dos resultados. Aqui, mais do que agir, cumpre coordenar as ações, integrar os resultados e educar e treinar os jovens de talento para se tornarem novos e bons empresários – sempre com foco em fazer acontecer a política da organização por meio da estratégia empresarial.

Essa concepção de educação visa desenvolver no indivíduo certos atributos que façam dele um empreendedor apto a agir na vida pública e privada. A cultura empresarial se torna a base para o desenvolvimento educacional dos estudantes; a educação se torna formação que instrumentaliza o estudante para agir em um mercado competitivo; nessa perspectiva

[...] o ambiente escolar deverá ser cuidadosamente pensado para dar oportunidades concretas ao educando de conquistar a autoconfiança, autodeterminação, autoestima e autonomia, elementos imprescindíveis ao gerenciamento de suas habilidades e competências (ICE, 2008, p. 22).

A escola é entendida como um empreendimento empresarial, uma de suas missões é fazer com que os estudantes sejam preparados para empresariar suas próprias competências e habilidades. O indivíduo se torna empresário de suas potencialidades119; é nesse sentido que a

a escola deve pensar como empresa: produtora de riquezas morais e, indiretamente, riquezas materiais. Formadora de cidadãos éticos, aptos a empresariar suas competências e habilidades. Eficiente nos processos, métodos, técnicas; Eficaz nos resultados, superando a expectativa da comunidade e do investidor social, tendo o estudante como parceiro na

construção de seu projeto de vida e os pais como educadores familiares e, também, parceiros deste empreendimento. Efetiva na qualidade de ensino, consciente de sua autoridade moral como escola de referência do Ensino Médio público no estado e no país (ICE, 2008, p. 22).

A escola deve ter um setor chamado, Centros de Resultados; esses centros serão formados pelas seguintes áreas do conhecimentos, Ciências da Natureza, Códigos e Linguagens e Ciências Humanas. Estas áreas devem atingir resultados, como acontece habitualmente no mundo empresarial.

Os Centros de Resultados são definidos de acordo com as áreas de conhecimento: Ciências da Natureza, Códigos e Linguagens e Ciências Humanas. Estes espaços organizacionais constituem a linha do negócio, o âmbito de atuação das atividades inerentes à escola, da qual se cobram resultados que satisfaçam a comunidade, os parceiros e os investidores sociais (ICE, 2008, p. 26).

Essa forma de organizar o currículo e o processo de formação escolar é muito parecida com os itinerários formativos previstos na Lei nº 13.415/2017. Os itinerários formativos também são opções para a escolha e especialização do estudante ainda no ensino médio.

Para ajudar a atingir os resultados desejados pelo plano de ação, faz-se necessário estudar e refletir sobre os Códigos da Modernidade de Bernardo Toro e as Mega- Habilidades elaboradas pelo Centro Latino-Amériano de Investigações Educacionais (CLIE); a seguir será listada os potenciais a serem desenvolvidos nos estudantes no transcorrer do processo de formação educacional:

domínio da leitura e da escrita; capacidade de fazer cálculos e de resolver problemas; capacidade de compreender, analisar, interpretar e sintetizar dados, fatos e situações; compreender e atuar em seu entorno social; receber criticamente os meios de comunicação; capacidade para localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo. Mega-Habilidades; confiança; motivação; esforço; responsabilidade; iniciativa; perseverança; altruísmo; sentir comum solução de problemas (ICE, 2008, p. 43).

As iniciativas do ICE tem acontecido em vários lugares; foi noticiado no site da

cidade de Arcoverde - PE, em 02 de dezembro de 2015, uma iniciativa do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação – ICE; esta iniciativa foi realizada em parceria com

Esporte120; nos Centros de Ensino Integral Ivany de Souza Bradle e Jonas de Freitas Lima, esta iniciativa consistiu na reestruturação física121 e de gestão para receber o projeto

piloto de escola em tempo integral. Tratou-se de uma iniciativa do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação – ICE em parceria com o poder público.

2. A CORRELAÇÃO DE FORÇAS EM TORNO DO NÍVEL MÉDIO DE ENSINO