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CAPÍTULO III – AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL DO SÉCULO

1. A GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO COMPROMISSO SOCIO-

1.2. Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE)

O PNBE surgiu como um movimento que tomou a iniciativa de apresentar propostas de frações do empresariado na Assembleia Constituinte de 1987 (BIANCHI, 1999 apud MARTINS, 2015 p. 71).

Tornado púbico na década de 1990, o PNBE é uma iniciativa que atua em várias frentes e congrega o empresariado em torno de objetivos políticos e econômicos, particularmente no que se refere à defesa do livre mercado e à qualidade de vida. É nesse sentido que o PNBE defende

uma sociedade organizada economicamente com base na livre iniciativa, na economia de mercado e num mercado interno forte e integrado competitivamente à economia internacional, na qual o lucro seja um instrumento do desenvolvimento, a eficiência econômica um meio para obtenção da qualidade de vida e onde haja respeito aos patrimônios nacionais, sejam humanos, materiais ou ambientais (PNBE, 2017).

Com o objetivo de lutar por um Brasil justo socialmente e que venha distribuir renda e promover o crescimento econômico sustentável, o PNBE acena com bandeiras a favor da transparência no destino das verbas públicas, faz a defesa da reforma política, combate à corrupção e a modernização do país. De fato, o PNBE ao lançar no ano de 2003, o Projeto Brasil 2022, toma para si a missão de tornar o país economicamente mais desenvolvido, socialmente mais justo e politicamente mais democrático, incluindo a valorização da cultura, da educação e de práticas empresariais (MARTINS, 2015).

Para transformar a sociedade, as empresas propõem-se à: (i) induzir o ethos empresarial dentro e fora da empresa; (ii) promover junto ao público, aos políticos e as OSCIP, os ideais de mudanças necessárias à melhoria do país; (iii) fomentar ações em torno da propriedade privada na direção do crescimento econômico com justiça social; (iv) apoiar ações a favor da ética que melhorem o ambiente institucional do meio privado (PNBE). De acordo com Martins (2015, p. 75), o PNBE conseguiu acumular experiências que se tornaram muito importantes para as ações educativas de caráter hegemônico.

Além do PNBE, o empresariado, de um modo geral, elaborou, no ano de 1993, o documento Educação Básica e Formação Profissional: uma visão dos empresários. Este documento aponta para a formação de uma cultura empresarial a ser construída por meio da educação (RODRIGUES, 1997, p. 184-185).

Na mesma perspectiva, Jorge Gerdau Jhannpeter lança, em 2001, o Movimento Brasil Competitivo (LEHER, 2014, p. 3).

O empresariado vem tendo iniciativas políticas no campo da educação ao longo de décadas; vem apresentando atualmente o interesse consensuado por um ensino de qualidade para a classe trabalhadora que vise a formação de capital humano.

Vale ressaltar o número de 1.152 escolas públicas conveniadas com empresas, no ano de 2011, como bem mostra Guimarães (2013, p. 2) recorrendo a dados originários de pesquisas feitas pelo IBGE.

De acordo com o empresariado, o Brasil só conseguirá entrar em um novo estágio de desenvolvimento se garantir a formação de trabalhadores e sua adequação a uma “nova mentalidade”; para isso, deve-se garantir educação para o trabalho (RORIGUES, 1997, p. 141). Da década de 1990 a 2017, a burguesia promoveu sistematicamente ações “socialmente responsáveis” no campo da educação; tem atuado junto ao Estado. Várias organizações empresariais passam a demandar medidas educacionais.

Há a construção de consenso envolvendo a participação de uma fração da burguesia que possui uma percepção prática do mundo (MARTINS, 2015, p. 71). Na primeira e segunda década do século XXI surgiram dois movimentos, TPE e MBNCC; eles se juntam diretamente ou indiretamente a CNI e PNBE. Vale ressaltar que a Confederação Nacional das Indústrias desde o início do século XX vem requerendo a elevação dos patamares de escolaridade.

Os empresários agiram no interior de vários governos; as demandas educacionais do empresariado mudam de acordos com as necessidades do capital. O empresariado agiu junto a governos recentes.

Houve a presença, no governo de Dilma Rousseff (2011-2016), do setor financeiro, liderado pela holding Itaú-Unibanco, o Movimento Todos Pela Educação (TPE)89; trata-se de um movimento fomentado pelo empresariado, resultante de parceria política do setor financeiro com o Ministério da Educação (LEHER, 2014, p. 4). Nesse período de governo também foi implantado o Plano de Desenvolvimento da Educação/PDE (Decreto 6.094/12, Lei nº 13. 005/14), batizado pelo Ministro da educação, Fernando Haddad de PDE (LEHER, 2014, p. 4). Também houve a implementação de programas de financiamento do ensino privado. O FIES é um dos mais significativos.

Em 2013, o movimento Todos Pela Educação (TPE) exerceu influencia na comissão para a reformulação do ensino médio; em 2013 Roberto Leher já havia indicado que a proposta de reformulação do ensino médio implicaria na formação de capital

89 O setor editorial também participa do TPE e se articula as políticas públicas para a educação; fazem a distribuição de livros e materiais didáticos para o ensino básico. As editoras são: Ática (pertencente ao grupo Abril); a editora Saraiva, a Scipione, a editora moderna (pertencente ao grupo editorial espanhol) e a editora Globo (GUIMARÃES, 2013, p. 3).

humano, valorização do Pronatec e a consideração do sistema S como referência para a educação (GUIMARÃES, 2013, p. 4).

Fica evidenciado que há uma unidade dialética da infra e superestrutura, a relação entre sociedade política e sociedade civil é uma trama que vai se estabelecendo entre o econômico e o político (FRIGOTTO, 2010, p. 136). De acordo com Gramsci, o Estado não envolve apenas o aparelho governamental (sociedade política), também envolve os aparelhos privados de hegemonia (sociedade civil) (GLAUSKSMANN, C. B, 1980, apud FRIGOTTO, 2010).

É por esta razão que, Rodrigues (2007) indica que o poder executivo, os industriais e os empresários do ensino defendem a necessidade de integrar o país - por intermédio da educação - a economia capitalista mundial; a motivação para que isso aconteça, a ideia força é: educação e conhecimento para a competitividade; essa concepção é propagada por organismos supranacionais.

Do governo de Fernando Henrique Cardoso até o governo de Michel Temer, há a proliferação de ações empresariais voltadas para a educação básica e profissionalizante. Grupos nacionais e estrangeiros - com grande capacidade financeira - detém o domínio de redes de escolas que se estendem por todo o mundo, alguns desses grupos são: Somos mais educação, Fundação Paulo Lemann, Avenue e Bahema; estes grupos desenvolvem práticas pedagógicas e conteúdos que legitimam o status quo da sociedade capitalista. Essas empresas são motivadas por uma concepção de educação e de sociedade. Como bem indica Martins (2015), a intenção é fazer as pessoas acreditarem que a vida só é possível nos marcos das relações capitalistas.