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CAPÍTULO III – AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL DO SÉCULO

4. LUTA DE CLASSES EM TORNO DO ENSINO MÉDIO: o movimento de

4.1. O posicionamento da CNTE

Ocorreu na cidade de Florianópolis, no dia 11 de Agosto, durante uma audiência pública na região sul (evento promovido pelo Conselho Nacional de Educação), uma manifestação sindical contra a CNBB. A audiência ocorreu em frente ao edifício da Federação das Industriais de Santa Catarina (FIESC) (CUT, 2017). Tratou-se de um ato organizado por várias organizações sindicais; contou com a participação do Sindicato de Trabalhadores da Educação de Santa Catarina (SINTE/SC), Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS/Sindicato) e Sindicato dos trabalhadores em

150 O movimento estudantil apresenta uma série de especificidades em relação a outros momentos históricos; uma dessas especificidades é não ter o direcionamento da UNE ou outra organização conhecida.

Educação Pública do Paraná151 (APP Sindicato). De acordo com Marlei Fernandes de Carvalho, secretária de formação do CNTE, também houve a participação de estudantes e da comunidade escolar contra o BNCC; tratou-se de um ato politicamente significativo contra a BNCC (CUT, 2017). Representou um contraponto ao movimento de mercantilização da educação. A tensão é expressa na fala da sindicalista nestes termos:

nós conseguimos pressionar por uma educação pública, na contra mão do que o MEC vem tentando fazer no momento, que é a mercantilização da educação", avalia. "Quando os participantes da audiência pública saíram no horário do almoço, eles relataram que a nossa presença do lado de fora teve efeito no plenário, pois houve muita manifestação contrária à BNCC lá dentro (CUT, 2017).

Durante a audiência em Florianópolis houveram manifestações de forças sociais conflitantes; a realidade apresenta elementos para pensar a conjuntura e os interesses envolvidos em torno do encaminhamento da BNCC e de políticas para o ensino médio. Um setor dos trabalhadores da educação e demais trabalhadores estão conscientes e organizados. De acordo com informações do próprio sindicato, as vagas disponíveis para a participação da sociedade civil na audiência foram ocupadas muito rapidamente (CUT, 2017).

É indicado pelo SINTE/SC que a CNBB vai contra a base construída pelo CONAI; não houve a participação de entidades e lideranças da educação durante o Fórum Nacional de Educação promovido pelo ministro do governo Temer (2016). Sindicalistas da Central única dos Trabalhadores argumentam que

as vagas disponibilizadas pelo sistema do CNE para a participação da sociedade civil na audiência pública se esgotaram rapidamente, o que limitou a participação dos professores do Paraná, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Mas isso não impediu as críticas à BNCC: diversos cidadãos que estiveram presentes na audiência se posicionaram contrários à proposta da Base Nacional Comum Curricular apresentada pelo MEC (CUT, 2017).

De acordo com a Confederação Sindical (SINDE/SN), a BNCC não é uma Base, trata-se na verdade de propor um conjunto de objetivos de aprendizagem. O SINDE/SN ressalta que a redação do documento, no que se refere a construção dos objetivos, não teve participação popular. O sindicato também denuncia a necessidade de participação da

151 O sindicato dos educadores é um dos mais ativos do Brasil. Há um histórico de enfrentamento do sindicato dos professores do ensino básico e superior ás políticas neoliberais de precarização das condições de trabalho.

escola, como previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A LDB aponta para a necessidade de não se limitar as políticas educacionais a decisões engendras no interior do MEC. O panfleto difundido pelo sindicato indica o posicionamento dos trabalhadores de não apoiar a BNCC como projeto educacional de um governo com baixa representatividade152.

Em um cenário marcado pela desmobilização e fragilização da força sindical, pela baixa capacidade dos trabalhadores da educação e populares se manifestarem contra a ABNCC, se torna ainda mais difícil impedir sua implantação. Os trabalhadores da educação evidenciam as contradições, denunciam os interesses empresariais envolvidos neste projeto. A utilização de concepções, conceitos e a falta de participação de amplos setores da sociedade; nesse cenário, a formulação da BNCC se coaduna a contrarreforma do ensino médio que também se apresenta adequada – em vários aspectos - aos propósitos da BNCC. O novo ensino médio garantirá 60 % de formação padrão para todos os estudantes da rede pública de ensino. O panfleto,distribuído por trabalhadores, indica a vinculação política da BNCC ao governo de Michel Temer/2017 e indica a reação dos trabalhadores a uma política educacional que não contempla os interesses da classe trabalhadora.

152 O governo de Michel Temer é marcado por instabilidades e repúdio por uma parcela significativa da classe trabalhadora. Seu governo sofreu com constantes manifestações populares; a expressão, “Fora Temer” é manifestada por vários setores da sociedade; ela define bem o clima político, de rejeição ao governo.

Figura 6: CNTE é contrária à BNCC proposta pelo MEC.

Fonte: Confederação Nacionais dos Trabalhadores em Educação 153.

A crítica feita pelo CNTE se estende a vários pontos da BNCC; o sindicato elaborou 10 pontos de críticas relacionadas a esse projeto; dentre esses dez pontos um deles aborda a presença do empresariado na educação e questões respeitantes ao currículo. Listaremos alguns desses pontos abaixo com o propósito de tornar claro qual é a crítica

153 Disponível em: <http://www.cnte.org.br/index.php/comunicacao/noticias/18872-cnte-participa-de- manifestacao-contra-a-bncc-em-santa-catarina.html>.

feita pela classe trabalhadora sindicalizada. Os pontos considerados apontam para uma série de mudanças que implicarão a utilização de conceitos e práticas que não valorizam o professor. Evidentemente que a posição da CNTE não expressa o posicionamento de toda a classe trabalhadora, mas, apresenta críticas importantes ao BNCC. Esses pontos indicam o esforço de frações da classe dominante construir hegemonia. Os pontos considerados pelo sindicato são:

a BNCC/MEC impõe conceitos acabados de competências curriculares para os currículos escolares, ao invés de debater questões relacionadas a direitos e objetivos de aprendizagem, conforme determina o PNE. E isso explica a proposta acabada de currículo por idade/série no texto da BNCC e a preponderância dos testes nacionais estandardizados que se consagrarão como a linha mestra do currículo escolar. A discussão da BNCC desconsidera as regulamentações do Sistema Nacional de Educação e do Custo Aluno Qualidade (CAQI e CAQ), além de outras políticas previstas no Plano Nacional de Educação, a exemplo da efetivação da Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação (Decreto 8.752) e de valorização salarial e da carreira dos profissionais da educação (meta 17 e 18 do PNE, ambas ignoradas pelo MEC). A privatização da educação está embutida no conceito de BNCC/MEC, que reduz o currículo das escolas públicas, investe na desprofissionalização dos/as educadores/as e estimula o mercado de livros, apostilas e de métodos pedagógicos e de gestão escolar atrelados a conceitos de qualidade empresarial. A BNCC/MEC não respeita o princípio da Gestão Democrática, pois não permite a presença da sociedade na etapa de consolidação das propostas recolhidas através do site do MEC. E não há nenhuma garantia de que o MEC Golpista acatará qualquer proposta de alteração do texto eventualmente sugerida pelo Conselho Nacional de Educação. A última versão da BNCC desconsidera temas extremamente sensíveis na sociedade e nas escolas, como identidade de gênero e a diversidade sexual. E ao se esquivar dessas questões, o MEC empodera forças conservadoras da sociedade, recrudescendo o machismo e as inúmeras formas de intolerância contra grupos sociais e pessoas. A BNCC/MEC restringe o conceito de educação a conteúdos ministrados em sala de aula, desconsidera o papel pedagógico dos funcionários da educação nos diversos espaços educativos da escola (CUT, 2017).