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CAPÍTULO III – AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL DO SÉCULO

4. LUTA DE CLASSES EM TORNO DO ENSINO MÉDIO: o movimento de

4.3. O movimento contra a presença empresarial nas escolas

Estudantes da rede pública de ensino fazem mobilizações de alcance nacional; essas mobilizações servem como termômetro para refletir sobre as forças sociais em conflito. As manifestações de Junho de 2013 e as muitas ocupações de escolas em 2016 indicam situações reais envolvendo forças hegemônicas e reações a estas forças. Mobilizações estudantis em todo o país ocorrem a várias décadas, porém, é no ano de 2003, com a “revolta do busão” que o movimento estudantil volta a ganhar força e abrangência. Estudantes do ensino fundamental e médio, especialmente da rede pública de ensino se tornam uma força política com grande poder de mobilização; isso ocorre justamente em um momento em que a educação como um direito universal é posta em cheque com o avanço de políticas neoliberais. Pensar a educação sem pensar os conflitos de interesse de classe resulta em erros de análise.

155O governo de Michel Temer é marcado pelo recrudescimento dos interesses empresariais e maior confronto em relação a classe trabalhadora.

A possibilidade de educação para toda a sociedade esbarra em um problema que Marx já havia apontado no século XIX; trata-se de uma contradição que tem origem em uma sociedade dividida em classes e que organiza a produção com base na diferenciação entre trabalho intelectual e prático. Pensando essas contradições, Marx questiona os sociais-democratas sobre a possibilidade de uma educação igual para todos:

[...] pode-se exigir que as classes altas devam ser reduzidas forçadamente à módica educação da escola pública, a única compatível com as condições econômicas não só do trabalhador assalariado, mas também do camponês? “é absolutamente condenável uma educação popular sob a incumbência do Estado” (MARX, 2012).

A proposta de fundamentar um projeto de formação escolar de acordo com a divisão - sociotécnica156 do trabalho é do interesse do empresariado; como bem aponta Cátia Guimarães citando uma professora da UFRJ:

diminuir o potencial de indignação e mobilização que possa gerar instabilidade política é o objetivo que Vania Motta, professora da Faculdade de Educação da UFRJ, aponta como a raiz dessa crescente participação do setor privado empresarial na educação brasileira (GUIMARÃES, 2013. p. 6).

Evitar mobilizações estudantis e iniciativas políticas significativas implicam considerar uma formação escolar que garanta formação para o mercado. No processo de elaboração e aprovação da Lei nº 13.415/2017, a participação popular na elaboração e construção quase se restringiu aos espaços virtuais. Foi posto para votação na internet a MP nº 746/2016, o resultado da apuração dos votos foi publicado no site do senado e indicou que a grande maioria dos votantes se posicionam contra a contrarreforma; mesmo assim o governo transformou a MP nº 746/2016 na Lei nº 13.415/2017. Como é indicado na tabela disponibilizada no site da câmara, a esmagadora maioria dos votantes foram contra o projeto de contrarreforma do ensino médio. Mesmo com um amplo setor da sociedade se colocando em contrário, o projeto foi aprovado e transformado em lei. Manifestações estudantis que se posicionaram contra a contrarreforma do ensino médio foram fortemente reprimidas. Mesmo o governo conseguindo executar a contrarreforma

156A formação sociotécnica também legitima diferenças de oportunidade para a participação política; garante maior oportunidade de participação e organização política da classe dominante nos espaços de poder.

do ensino médio em condições políticas institucionais favoráveis, os estudantes reagiram contra sua aprovação e implementação.

Gráfico 2: Consulta pública Fonte: Senado Federal 157

Em 2016, na cidade de são Paulo, no momento em que tramitava no congresso a conversão da MP nº 746/2016 para a Lei nº 13.415/2017, estudantes secundaristas se organizaram contra a influência e presença do empresariado na rede pública de ensino do estado de São Paulo. O movimento foi denominado “escola sem empresa”, surgiu como resposta dos estudantes ao projeto de restruturação da rede de ensino, intentada pelo governador Geraldo Alkmim no final de 2015. O movimento é formado majoritariamente por estudantes secundaristas da rede pública de ensino; apesar de não possuir filiação a uma entidade organizativa estudantil, o movimento, “escola sem empresa,158” defendeu um ensino público de qualidade e sem a presença do empresariado (ESCOLA SEM EMPRESA, 2016).

Em 09 de Novembro de 2016, o movimento “Escola sem empresa” realizou um ato público no Instituto Tomie Othake, localizado no bairro de Pinheiros em São Paulo; nesse local ocorria um seminário sobre “currículo flexível”, tratou-se de um evento

157 Disponível em: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/126992.

158 Esse movimento evidência que os estudantes estão conscientes das ações empresariais no âmbito da educação básica.

organizado pelo Itaú Unibanco (banco que iniciou o movimento “Todos Pela Educação”). Vale lembrar que a Lei nº 13.415/2017 também propõe a modulação do currículo e um currículo flexível. O Itaú é a instituição que tomou a iniciativa de criar o ‘Todos pela

Educação” e mantém sua liderança no TPE (Movimento Todos pela Educação). Dentre as dez instituições que mantém esse grupo, três pertencem ao Itaú, seriam esses grupos, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e o Itaú BBA (LEHER apud GUIMARÃES, 2013).

De acordo com informações publicadas na rede social (Facebook) sobre o movimento “escola sem empresa”, é relatado que a manifestação dos estudantes foi reprimida pela Polícia Militar-SP. No ato, os estudantes secundaristas apresentaram faixa repudiando a presença das OS’s nas redes de ensino. Estudantes conscientes das implicações sociais do empresariado na educação pública se articularam e se organizaram em espaços públicos contra a presença de Organizações Sociais como facilitadores para o empresariado agir na educação.

Figura 7: Estudantes em ato contra evento organizado pelo Itaú Unibanco sobre

flexibilização do currículo, em Pinheiros, São Paulo. Fonte: Escola sem empresa.

O movimento também organizou ocupações em escolas públicas159 de São Paulo e realizaram outros tipos de ação; tratou-se de um enfretamento coletivo a uma política que não considerava os amplos interesses dos estudantes e da classe trabalhadora. A reação dos estudantes de São Paulo foi um sinal da grande mobilização nacional que seria, a partir de várias unidades escolares da rede pública de ensino, empreendida pelos estudantes em 2016. Diante de uma perspectiva de implementação de política educacional que implicava no fechamento de várias escolas públicas, o movimento estudantil apresentou um material tecendo um quadro de analise indicando os aspectos conflituosos envolvendo diferentes interesses; o movimento “escola sem partido” (2016) indica que

[...] a luta dos estudantes deu uma resposta contundente a esse projeto: ocuparam mais de 200 escolas em todo o estado de São Paulo; realizaram protestos nas ruas, bloqueando importantes vias da cidade; boicotaram avaliações de desempenho das escolas; conquistaram apoio da sociedade e ganharam visibilidade. Ao enfrentar direções autoritárias, a polícia e o Estado, os estudantes chamaram ainda mais atenção para o que já era bem conhecido: as péssimas condições da educação. Impuseram, assim, uma grande derrota ao governo do estado, obrigando o governador a recuar e anunciar publicamente a suspensão

do projeto (MOVIMENTO ESCOLA SEM PARTIDO, 2016)

Os estudantes participantes do movimento, “escola sem empresa”, utilizam recursos alternativos de comunicação por não terem espaço na grande mídia burguesa. Em 28 de Outubro de 2016 é lançando um Zine e vídeos no You Tube com o objetivo de denunciar a influência do empresariado na rede de ensino do estado de São Paulo. O zine aponta com clareza o posicionamento político dos estudantes em relação as contrarreformas pretendidas pelo governo do PSDB. O Zine fala nestes termos:

o que parece uma boa ação do “empresariado socialmente responsável” nada mais é do que uma tentativa de os empresários aumentarem seus lucros privados explorando a educação pública. Nesse sentido, o estado se compromete a alterar legislações para facilitar essa “entrada” do setor privado no ensino público. Uma forma de fazer isso é permitindo

a isenção de impostos para doações na educação

(PRIVATIZAÇÃO...2016).

O banco Itaú vem marcando presença na área da educação oferecendo orientações e alternativas. O setor financeiro160, hoje, possui o controle na definição do destino social

159 As iniciativas estudantis ganharam publicidade e o país acompanhou o desfecho do movimento. 160Antes mesmo de Lenine e Rosa, a obra de Hilferding indicava, já em 1910, em Viena, o fenômeno da junção do capital bancário com o capital industrial, resultando na formação de capital financeiro (FRIGOTTO, 2010, p. 105 apud Hilferding, R., 1963, p. 201-56).

da riqueza (SILVEIRA, 2007). Vale ressaltar que não é exclusividade do governo de Michel Temer (2016) assumir compromissos com o capital e políticas neoliberais. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2011) também assumiu compromissos, financiou o ensino privado e aceitou sugestões educacionais do empresariado, seguiu as diretrizes educacionais de organismos supranacionais, permitiu o avanço da privatização do ensino superior com o Programa Universidade para Todos/PROUNI, também estabeleceu o Decreto nº 5.622 de Dezembro de 2005 que ampara legalmente a Educação a Distância (LEHER, 2014).

Os secundaristas do movimento, “Escola sem empresa”, que denunciam a presença empresarial e do setor financeiro na educação, como mostra o cartaz abaixo, realizaram atividades no interior da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e contaram com o apoio de trabalhadores da educação. O zine foi produzido com a colaboração de professores; mostra a adesão dos trabalhadores da educação a pauta de luta dos estudantes secundaristas.

Figura 8: Lançamento do Zine e Vídeo da campanha #EscolaSemEmpresa

Fonte: Movimento escola sem empresa161

A mobilização estudantil não conseguiu evitar a implementação da Lei nº 13.415/2017. A maioria dos partidos políticos que votaram a favor da contrarreforma do ensino médio em 2017 possuem um caráter ideológico alinhado aos interesses da classe detentora do capital. A Lei nº 13.415/2017 pode ser considerada uma continuação da contrarreforma planejada pelo governo do PSDB em São Paulo no ano de 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa dissertação pretendeu evidenciar a partir de documentos oficiais e estudo de organizações empresariais, a presença e o envolvimento direto do empresariado na educação. Diante da hipótese se os empresários tinham uma ação direta no ensino médio, se tinham efetivamente propostas de uma educação para a classe trabalhadora, foi confirmada pela quantidade de informações coligidas que, efetivamente, o empresariado brasileiro marca presença na educação e propõe alternativas e soluções educacionais162. A intenção desta pesquisa foi identificar e problematizar a influência do empresariado na contrarreforma do ensino médio, porém, isso não poderia ser feito sem identificar os conceitos, perspectivas, práticas pedagógicas e concepções educacionais para justificar e construir consenso e hegemonia. A pesquisa indicou que o empresariado possui, efetivamente, concepções educacionais, ideias e práticas próprias; o empresariado toma para si o compromisso de melhorar a educação pública.

A influência empresarial nas políticas educacionais vem ocorrendo ao longo da história, porém, ela tem se mostrado intensa a partir da década de 1990. O ensino privado se expandiu e vários institutos e fundações educacionais – de iniciativa empresarial - surgiram a partir do ano de 2000; vale ressaltar que no ano de 2017, o empresariado colaborou para a implementação de mudanças na LDB. O empresariado também participa do Movimento pela Base Nacional Comum Curricular (MBCC); isso evidência a relação do empresariado com a contrarreforma do ensino médio e indica as perspectivas futuras do ensino médio. A Lei nº 13.415/2017 apresenta em seu texto, conceitos difundidos por intelectuais orgânicos do empresariado que já são aplicados nos projetos educacionais do próprio empresariado.

A metodologia empregada nessa dissertação permitiu confirmar que classe social continua sendo uma importante categoria para entender a realidade; as políticas educacionais também se prendem as contradições de uma sociedade dividida em classes; nessa perspectiva, pensar a educação a partir da perspectiva do materialismo histórico dialético possibilita entender que as contradições de uma sociedade dividida em classes tem fortes reflexos no campo da educação.

O materialismo histórico dialético nos ofereceu condições epistemológicas para pensar além da aparência a profusão de propagandas governamentais sobre as necessidades da contrarreforma do ensino médio; trata-se de uma metodologia que

162 Vários empresários e seus intelectuais se manifestam a favor de uma educação para a classe trabalhadora; Jorge Paulo Lemann é um desses empresários.

possibilita considerar os elementos da realidade para além dos procedimentos quantitativos; implica entender o objeto como síntese de múltiplas determinações; é nesse sentido que a educação se subordina a questões que não se restringem apenas a educação, mas a valores e práticas que dizem respeito a reprodução do capital. Entender a Lei nº 13.425 (BRASIL, 2017) implica concluir que ela não reflete pura e simplesmente a reorganização do currículo do ensino médio; as políticas públicas sintetizam múltiplos e variados interesses sociais163.

Os empresários comprometidos com projetos educacionais, seja como intelectuais ou financiadores, agem diretamente nas escolas, estão dentro da escola; essa realidade traz novos elementos para pensar a educação no Brasil. Os empresários nunca foram tão presentes na educação como estão sendo agora. Esse quadro configura uma situação de hegemonização e acontece em meio a uma situação de fortalecimento dos ideais políticos neoliberais. A alternativa de educação proposta pela burguesia pretende suplantar imediatamente a alternativa de educação reivindicada pela classe trabalhadora, superar as perspectivas e práticas educacionais resultantes de suas próprias experiências e lutas históricas.

Há a difusão e implantação de concepções e práticas educacionais empresariais nas escolas públicas. A classe dominante em uma situação politicamente favorável e agindo por intermédio de institutos e fundações educacionais promove a consolidação de um projeto de educação para a classe trabalhadora; esse projeto também envolve o futuro do ensino médio164.

A ação empresarial na educação ocorre a partir de um consenso, educação de qualidade para a classe trabalhadora; aparentemente, esse compromisso parece sinalizar para uma motivação desinteressada da burguesia pela elevação educacional da classe trabalhadora. Organizações empresariais marcam forte presença no campo da educação e tem obtido grande reconhecimento político do governo e da sociedade civil. A Fundação Lemann e Fundação Itaú Social165 acumulam força política e respeito por parte de várias instâncias governamentais. Durante o processo de formulação da Lei nº 13.415/20017, em ato de reconhecimento as suas significativas contribuições para a educação básica,

163 István Meszaros (2008) nos ajudou a entender que a escola colabora para o metabolismo do capital; ela possui essa relação com o modo de produção capitalista.

164 Essa abordagem foi muito bem realizada por André Silva Martins.

165 A Fundação Itaú Social realizou um evento em São Paulo, no ano de 2017, para discutir educação no estado.

vários parlamentares convidaram formalmente representantes de várias organizações empresariais. A contrarreforma do ensino médio, em seu processo de elaboração, contou com o auxílio e participação de várias organizações empresariais; a lei nº 13.415/2017 apresenta em seu corpo textual referências ao mundo empresarial; a organização do ensino médio em itinerários formativos e a diminuição de disciplinas juntamente com outras alterações indicam os rumos do ensino médio, fala sobre uma formação escolar ajustada as necessidades do capital.

É originário do mundo empresarial certas noções difundidas no meio educacional, tais como, competência, liderança, competitividade e qualificação; outros termos também fazem parte de um amplo leque de noções e conceitos que dizem respeito as práticas pedagógicas empresariais. O empresariado se respalda em uma visão didática, pedagógica e de gestão escolar que se edifica sobre bases teóricas e práticas que não tem origem no legado teórico clássico e em experiências pedagógicas comprometidas com a emancipação do estudante enquanto trabalhador, pelo contrário, trata-se de uma educação que propõe uma formação caracterizada pelo pragmatismo, eficiência e adequação as tecnologias e processos produtivos. Trata-se de uma educação que não promove formação avançada166 em ciência e pesquisa. É um indicativo dos rumos do ensino médio o fato de a primeira instituição a implantar o “novo” ensino médio ser uma unidade do SENAI.

Os empresários tomam para si a missão de solucionar os problemas educacionais, seu baixo índice de qualidade. Para isso apresentam soluções; em várias situações o empresariado passa a agir diretamente nas escolas; por outro lado, o acumulo de experiências educacionais por parte da classe trabalhadora, suas importantes experiências históricas, organizações sindicais, são abandonadas em detrimento de alternativas inovadoras; é propagada a ideia de que os problemas educacionais serão resolvidos com a utilização de recursos inovadores; os conteúdos e orientações curriculares devem estar de acordo com as novas demandas, com as relações humanas do século XXI. O ensino médio deve ter sua eficiência garantida. Diante dessa realidade é possível concluir que a busca de soluções para a educação da classe trabalhadora não implica recorrer as referências teóricas interessadas na emancipação. As empresas se encarregam de apresentar soluções e alternativas educacionais, as empresas passam a substituir os grandes teóricos da educação.

166 Silveira abordou profundamente esse assunto em sua pesquisa, “Contradições entre capital e trabalho: concepções de educação tecnológica na reforma do ensino médio e técnico”.

As grandes questões pedagógicas167, as concepções de teóricos tais como, Viktor Shulgin, Pistrak, Vigotski, Gramsci, Paulo Freire e Gaudêncio Frigotto são obscurecidas por iniciativas e propostas educacionais que intencionam solucionar os problemas educacionais recorrendo às inovações de recursos e a procedimentos pedagógicos e escolares que se articulam as demandas do capital.

A presente dissertação teve a intenção de evidenciar que há uma clara tendência da cultura administrativa empresarial, com suas técnicas de gestão, práticas e conceitos se tornarem referências para o direcionamento da educação da classe trabalhadora; essa tendência é confirmada com a recorrente consulta de instâncias governamentais aos institutos e fundações empresariais.

Os empresários motivados pelo princípio da responsabilidade social propagam a ideia de que os problemas da escola pública precisam ser resolvidos pela própria sociedade civil. Frações do empresariado defendem que o ensino básico precisa ter sua eficiência garantida por intermédio de uma gestão escolar afinada a lógica e experiência da gestão empresarial; nesse sentido, a obtenção de melhores resultados educacionais ocorrerá com uma gestão eficiente; é propagada a ideia de que os profissionais da educação precisam de uma formação que os tornem capazes de reconhecerem os problemas escolares como sendo desafios a serem superados com uma postura de liderança; o professor deve se portar como líder; nesta lógica, a cultura administrativa empresarial pode ser ampliada e aplicada à resolução dos vários problemas e desafios da escola pública.

O empresariado marca forte presença nos debates sobre a reorganização do ensino médio; suas experiências servem como referência e justificativa para sua presença junto ao governo federal e governos estatuais. Ficou evidenciado que o empresariado tem se organizado para agir no ensino médio por intermédio da MBNCC e outras iniciativas. A BNCC propõe criar uma Base Nacional Comum Curricular e objetiva garantir um sistema curricular comum para todas as escolas de todas as regiões do país. O empresário Paulo Lemann defende abertamente a necessidade da BNCC. O acumulo de experiências de institutos e fundações empresariais tem servido como referência e legitimidade política para os empresários influenciarem nos rumos do ensino fundamental e médio.

167 A educação a ser oferecida à classe t6rabalhadora não considera o amplo legado teórico marxista; os estudos a nível acadêmico, tem levado cada vez menos em conta esse legado.

A partir do que foi observado no transcorrer desta pesquisa se conclui que a ação empresarial favorece um projeto educacional para a classe trabalhadora; esse projeto abarca várias dimensões da escola. Dentre outras concepções o empresariado propõe uma experiência educacional que desenvolva competências e habilidades168; propõe um currículo para a formação científica e tecnológica articulada as experiências de trabalho no mercado e uma educação adequada as demandas por inovações no setor produtivo e de serviços. O atual quadro da educação confirma as análises feitas por Gaudêncio Frigotto (2010) no livro, “a improdutividade da escola improdutiva”.

As propostas educacionais do empresariado no campo da educação não objetivam superar a reprodução da divisão sociotécnica do trabalho, não propõe superar a subordinação do homem aos ditames do mercado, pelo contrário, o trabalho continua subjugado a lógica do capital e o Brasil continuará ocupando uma posição de subordinação econômica na divisão internacional do trabalho.

É difundida por fundações e institutos empresariais a perspectiva de que, havendo as condições adequadas, as tecnologias apropriadas, mudando-se as práticas escolares se obterá melhores resultados, as escolas atingirão resultados de maior eficiência em seus propósitos formativos. É a partir de certos critérios que os empresários reconhecem a gestão de recursos e pessoas como uma alternativa privilegiada para a solução dos problemas educacionais; nessa lógica, a classe trabalhadora é levada a crer que, a