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COTIDIANO, CONSUMO E PRÁTICAS AMBIENTAIS NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises sobre as práticas de consumo da comunidade estudada apontam para a lógica do mercado. Os consumidores pouco percebem os impactos ambientais que resultam dos seus modos de consumo e, quando percebem, mesmo sabendo dos danos ambientais que suas práticas condicionam, preferem não se preocupar com elas. Na realidade estudada, os atos de consumo tendem a não-reflexão e à satisfação de necessidades de praticidade e de consumo simbólico, o que se refere aos valores histórico-culturais da sociedade contemporânea. Já no momento pós-consumo ou de descarte observaram-se algumas práticas ecológicas, como o uso de composteiras e a separação prévia para os catadores ou para a coleta seletiva pública, conforme relataram alguns informantes.

Nesse sentido, TOURAINE (1992) considera essencial reconhecer a formação de uma cultura e das relações sociais que se estabelecem em um determinado contexto histórico-social para, assim, compreenderem-se as lógicas simbólicas e as racionalidades que se criam e podem ser percebidas a partir das escolhas dos cidadãos e nas suas práticas cotidianas. O retorno do sujeito deve ser pensado a partir dos contextos históricos e das diferentes racionalidades que se constroem na sociedade programada, segundo o autor. Assim, entende-se que a descendência alemã da maioria dos moradores de Estrela deve ser levada em conta na construção de estratégias de sensibilização ambiental.

As dimensões do saber ambiental que prevalecem nos atos de consumo da comunidade estudada tendem a ser desencadeadas a partir da necessidade de optar por aspectos relativos às dimensões econômica, tecnológica e social, em detrimento dos aspectos éticos e naturais, que apontariam para o consumo cidadão.

Nos espaços de sociabilidade, para além da família e das organizações educativas, não há circulação de informação ambiental, o que aponta para outra estratégia de sustentabilidade possível de ser construída. Ou seja, é preciso investir em informação que saliente as dimensões ética e natural, como já se afirmou, mas também as dimensões social e comunicacional-midiática.

Entende-se que as práticas de consumo poderão servir para pensar e configurar a construção da cidadania ambiental se houver circulação de informação ambiental qualificada, gerando discussão pública dos temas ambientais, o que já está acontecendo de forma isolada com o papel que foi definido para as escolas como espaço de “educação ambiental”. Mas a sobrecarga de confiança nas escolas para um papel que cabe a todos os grupos sociais pode resultar na perda de força dessa instância educativa formal.

É preciso que outras instâncias da sociedade civil organizada também se assumam como atores de educação socioambiental. Enquanto permanecer a lógica de um ator só não se sairá da condição de indivíduos na relação que se estabelece entre sociedade e natureza, o que fará com que os consumidores não assumam a condição de sujeitos históricos ou agentes de desenvolvimento regional sustentável.

Deve-se considerar, ainda, a necessidade de os órgãos públicos responsáveis pela educação ambiental investirem em projetos que tenham como público-alvo os grupos sociais nos quais os consumidores citaram que participam, a fim de incentivar a reflexão crítica sobre a interação de cada um com o ambiente.

Pode haver, portanto, relação entre as práticas de consumo e a construção da cidadania, desde que se amplie o debate sobre a relação entre questões ambientais e consumo a partir da reflexão do papel que cada um desempenha nesta trama, o que requer o estabelecimento de políticas de comunicação ambiental voltadas para as esferas privadas de sociabilidade.

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