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CARACTERIZAÇÕES DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS NO MUNICÍPIO DE ESTRELA EM DIFERENTES ESTAÇÕES DO ANO

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Uma aproximação da questão dos resíduos sólidos domésticos aponta que uma parcela significativa da população desconhece a problemática em relação à coleta, transporte, tratamento e destino final dos mesmos. Ainda que haja constante manifestação e enfoque da mídia sobre a separação de resíduos e reciclagem, a comunidade geradora de resíduos sólidos domésticos não tem claro o seu papel dentro desse processo, principalmente quando considerado o item redução da geração de resíduos.

Pensando nisso, as inovações tecnológicas para o tratamento e disposição final dos resíduos sólidos são cada vez mais evidenciadas. Mas é com a redução da geração de resíduos e do consumo de materiais, além da efetivação da reciclagem, que o processo se torna mais eficiente desde o início, já que o tratamento e disposição dos resíduos são técnicas “fim de tubo”, ou seja, englobam somente o descarte dos resíduos, e não a minimização da sua geração, sendo essa uma conclusão oriunda de discussões internas do grupo de pesquisadores do projeto Práticas Ambientais e Redes Sociais: investigações das realidades dos resíduos sólidos domésticos do Vale do Taquari.

Conforme AGUIAR (1999), existem métodos diferentes para coleta dos resíduos em cada município, dependendo da cultura e do investimento financeiro de cada um; logo o destino e o tratamento dos mesmos também serão distintos.

Para a coleta de resíduos, além de fazer campanhas que incentivem a sua correta separação, é necessário que a administração pública ou a empresa responsável pelo recolhimento não os misture no momento da coleta, para que assim a população se engaje cada vez mais na campanha, sentindo que seu trabalho de separação é valorizado. AGUIAR (1999) concorda que as falhas no transporte dos resíduos também causam descrédito da população para com o processo de recolhimento e tratamento.

Conforme pesquisa feita por SCHEREN (2004), no município de Sede Nova/ RS, a população admite que a reciclagem e a coleta seletiva são apenas questões de mudança de hábito. Portanto, investimentos na área de divulgação, a fim de aumentar o esclarecimento e a educação quanto às questões ambientais, são imprescindíveis.

Programas ambientais deveriam ser inseridos nas políticas públicas, já que problemas na área ambiental acabam atingindo também a saúde, principalmente pela disseminação de doenças, conforme SCHNEIDER (2005). Para esse autor, caso não haja uma preocupação com a diminuição da geração e com o destino dos resíduos, eles causarão cada vez mais impactos, seja com a poluição visual, com a proliferação de vetores ou com os impactos diretos ao meio ambiente.

WÜLFING (2003) diz que, à medida que os resíduos são entregues misturados à coleta, o trabalho de triagem e aproveitamento dos recicláveis é dificultado, já que, misturados aos resíduos orgânicos, acabam sujos, e com isso perdem valor na comercialização.

A responsabilidade mínima que pode ser atribuída à população é uma simples separação entre lixo orgânico (úmido) e lixo inorgânico (seco), já que ainda não

há um amplo discernimento no que tange ao tema dos resíduos, apesar de que o ideal seria uma separação detalhada, de acordo com cada tipo de material, como: metal, papel, vidro, madeira, plástico, orgânico etc. Dessa forma, mesmo com uma simples segregação dos resíduos na sua fonte geradora, os materiais orgânicos podem ser encaminhados para a compostagem e os ditos “inorgânicos” destinados à reciclagem. Ao fim desse processo, o material que não for aproveitado para reciclagem ou compostagem pode ser disposto conforme as técnicas aceitas pelos órgãos ambientais competentes.

Assim, para uma correta disposição ou tratamento dos resíduos sólidos domésticos, aceita-se a disposição em aterro sanitário, compostagem, reciclagem ou incineração. Nesse sentido, dados do IBGE (2000) apontam que 63,6% dos municípios brasileiros utilizam lixões a céu aberto; 13,8% aterros sanitários, 18,4% aterros controlados e 5% não informaram para onde encaminham seus resíduos.

PEREIRA NETO (1996), define “compostagem” […] como um processo biológico aeróbio e controlado de tratamento e estabilização de resíduo orgânico para a produção de húmus”, que é o produto final e pode ser utilizado para melhorar a fertilidade do solo e, consequentemente, aumentar a quantidade de nutrientes presentes nele.

A compostagem, por se tratar de um processo natural, é facilmente aplicável nas residências. Porém, aconselha-se também implantá-la em centrais de triagem e tratamento de resíduos, daí a necessidade de fazer a correta separação do lixo, pois facilita o trabalho de triagem dos materiais recicláveis e melhora a eficiência do processo de decomposição da matéria orgânica. Para PEREIRA NETO (1996) matéria orgânica é todo composto de carbono suscetível à degradação. Nesse quesito enquadram-se frutas, legumes, alimentos, folhas e gramas, que são os principais materiais orgânicos que podem ser compostados.

Numa central de triagem ou em um aterro sanitário bem estruturados deve haver um pátio de compostagem que permita a formação de leiras (pilhas) para a degradação natural dos materiais. Além disso, é imprescindível a presença de canaletas para a coleta do chorume (produto natural resultante da decomposição de materiais orgânicos) até uma estação de tratamento de efluentes, devido à alta carga poluidora, o que o torna problemático, caso seja lançado diretamente ao solo ou aos recursos hídricos.

Pelas características próprias do lixo e pelo clima do Brasil, a compostagem torna-se a melhor e a mais viável forma de tratamento dos resíduos sólidos orgânicos. Quando bem aplicada, gera benefícios, como: eliminação de vetores e doenças, controle da poluição, desenvolvimento de práticas agrícolas de baixo custo e absorção de mão-de-obra para o trabalho nos pátios de compostagem.

De acordo com pesquisas realizadas pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE (2006), no Brasil os resíduos sólidos domésticos possuem a seguinte composição gravimétrica: 57,41% são materiais orgânicos; 16,49% plástico; 13,16% papel/papelão; 2,34% vidro; 1,56% material ferroso; 0,51% alumínio; 0,46% inertes e 8,08% outros materiais. Essa porcentagem é em relação ao peso total de resíduos. A realidade de um pequeno

município é semelhante. Conforme WÜLFING (2003), em torno de 60,55% dos resíduos sólidos coletados no município de Estrela no ano 2000 foram caracterizados como materiais orgânicos. Sabendo disso, fica eminente a necessidade de separar a parte orgânica das demais, o que favorece a sua utilização em um processo eficaz de compostagem.

3 MÉTODO

Para a classificação dos resíduos utilizou-se metodologia descrita por CONSONI, PERES e CASTRO (1995). O método consiste em retirar quatro amostras (uma do topo e as outras da base) de cada carga dos resíduos coletados; pesá-las; classificar cada tipo de material e pesá-lo separadamente. O processo desenvolveu- se durante cinco dias nos meses de março, maio, julho e outubro, o que representa as estações do ano: verão, outono, inverno e primavera, respectivamente.

Computaram-se os dados obtidos com a pesagem dos materiais, os quais foram converstidos em gráficos comparativos, apresentando a porcentagem de cada material em relação ao peso da amostra.

A classificação dos resíduos se deu segundo as categorias: material orgânico, rejeito, papel sanitário, fralda descartável, isopor, plástico filme, plástico rígido, papel/jornal, papelão, vidro, trapo, metal/alumínio, embalagem cartonada, embalagem PET e madeira. No material orgânico incluem-se basicamente cascas de frutas, restos de erva-mate, restos de comida, folhas secas e todos resíduos suscetíveis de compostagem.

Enquadrou-se como papel sanitário todo tipo de papel sanitário e papel toalha. No item fralda descartável, além das fraldas, computaram-se também os absorventes higiênicos. Já o item isopor compreendeu somente embalagens ou quaisquer restos de isopor.

O item plástico filme compreende sacolas plásticas e embalagens de alimentos, enquanto o plástico rígido abrange, além de embalagens de alimento, embalagens de garrafas, produtos de limpeza e produtos de higiene pessoal. No plástico tipo PET, apenas incluíram embalagens de bebidas como refrigerante, água mineral etc., podendo ter sido enquadrado como plástico rígido, porém, em função do seu valor comercial significativo, optou-se por uma classificação exclusiva. Na modalidade papel/jornal consideraram-se jornais, cadernos, quaisquer restos de papéis e embalagens de papel em geral. Em papelão colocaram-se restos de caixas de papelão, capas de cadernos e qualquer outro tipo de papelão.

Para as embalagens cartonadas (Tetra pak), foram designadas as caixas de leite, creme de leite e de leite condensado. Já o item vidro abrangeu garrafas de bebidas, embalagens de remédios e cacos de vidro em geral.

Metal/alumínio compreendeu as latas de bebidas e alimentos, independente de serem de metal ferroso ou não. Em trapos incluíram-se restos de tecidos e roupas, enquanto no item madeira, palitos de picolé e/ou qualquer resto desse material. No material denominado rejeito consideraram-se todos os resíduos que não se enquadravam em nenhuma outra classificação.