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6 O MUNICÍPIO DE ESTRELA E A COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS

VIOLÊNCIA ESTRUTURAL, CIDADANIA E POLÍTICAS PÚBLICAS: ESTUDO COMPARATIVO DOS CATADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS

6 O MUNICÍPIO DE ESTRELA E A COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS

Conforme estudo realizado pela Secretaria de Assistência Social (ESTRELA, 2006), por volta da década de 70, com o crescente processo de industrialização que marcou aquele período, ocorreu uma grande imigração de pessoas predominantes do Alto Uruguai, vindas da área rural, buscando emprego e melhores condições de vida no município de Estrela. Os imigrantes, constatando que Estrela não poderia oferecer tudo o que estavam idealizando, começaram a formar bairros periféricos do município, cujos moradores trabalhavam, basicamente, no mercado informal.

Atualmente, os dados oficiais do IBGE (2007) apontam que a população de Estrela é de 29.071 habitantes, vivendo 4.533 habitantes em zona rural e 24.538 na zona urbana. A densidade Demográfica é de 148,95 habitantes por quilômetro quadrado.

A média estatística municipal se mostra superior à estadual e à regional no tocante ao Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE), que é um índice sintético, que abrange um conjunto amplo de indicadores sociais e econômicos classificados em quatro blocos temáticos: Educação; Renda; Saneamento e Domicílios; e Saúde. Ele tem por objetivo mensurar e acompanhar o nível de desenvolvimento do Estado e de seus municípios, informando a sociedade e orientando os governos (municipais e estadual) nas suas políticas socioeconômicas. De acordo com estudo publicado pela Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), o produto interno bruto (PIB) do município de Estrela em 2005 foi de R$ 420.310.000,00. Já o PIB per capita do município atingiu o valor de R$14.377,00, naquele ano. Essas médias mostram-se superiores ao PIB per capita estadual, que em 2005 foi de R$13.310,00 (RIO GRANDE DO SUL, 2008). Tanto a média municipal quanto a estadual superam os valores medianos nacionais, que em 2005 apontava para um PIB de R$11.658,00 per capita (RIO GRANDE DO SUL, 2008).

Nesse sentido, o município de Estrela, em média estatística comparativa, apresenta bons níveis de desenvolvimento. Porém, a realidade investigada por nossa pesquisa, o universo dos catadores de Estrela, desvenda uma face que fica camuflada por trás das estatísticas, e que precisa ser reconhecida pelas políticas públicas.

Um aspecto de desenvolvimento municipal refere-se às políticas públicas ambientais. No caso de Estrela, desde 2000 há coleta de lixo seletiva, a qual é realizada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Saneamento Básico - SMMASB, tendo os dias para o carregamento do lixo orgânico e os dias do carregamento do lixo inorgânico. O município de Estrela possui uma Usina de Tratamento do Lixo -UTL, para onde é encaminhado o lixo coletado.

Conforme informações do gerente da Usina de Tratamento de Lixo, a quantidade média estimada de lixo coletada no município é de 450 toneladas por mês. Desse material são provenientes da zona rural 105 toneladas e da zona urbana 345 toneladas por mês.

A triagem dos resíduos é realizada na Usina de Tratamento de Lixo (UTL) construída em uma área de três hectares, localizada no distrito de Delfina, a cinco quilômetros do centro de Estrela. Segundo SCHIERHOLT (2002), a Usina de

Tratamento de Lixo, que hoje faz parte do Programa Brasil Joga Limpo, contou com investimentos de quase 1 milhão de reais.

Além da coleta seletiva, no município de Estrela existe a coleta informal, nas ruas, realizada por catadores autônomos. Por meio de uma parceria entre Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Saneamento Básico (SMMASB) e do Departamento de Assistência Social da Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social (SMSAS), é realizado um trabalho de inclusão destes trabalhadores por meio do Programa Brasil Joga Limpo, adotado como Política Pública socioambiental pelo município, que inclui o cadastramento dos catadores.

Os dados obtidos por meio das secretarias, apesar de serem tratados e divulgados como oficiais, segundo a funcionária responsável pelo Programa Brasil Joga Limpo, já não se apresentam atualizados. A última contabilização acerca do número de catadores na cidade, realizada em 2005, atingiu um total de 123 trabalhadores informais (ESTRELA, 2005); porém estima-se que existam mais, pois são encontrados nas ruas muitos catadores não cadastrados pela Secretaria de Meio Ambiente e Saneamento Básico.

Mesmo desatualizados, os dados analisados (ESTRELA, 2006) conferem uma panorâmica desse universo:

a) a maior parte dos catadores está concentrada nos bairros mais pobres do município, constituindo-se de imigrantes de outras regiões do Estado, principalmente da região Noroeste. Salienta-se diante dos dados apresentados que as imigrações continuam ocorrendo, conforme conseguimos observar empiricamente, quando conversamos com pessoas que estavam instaladas em Estrela há poucos meses;

b) a idade média permeia os 45 anos, faixa etária em que é mais difícil a inclusão no mercado de trabalho, principalmente quando aliada à idade está a baixa escolaridade. A maioria cursou apenas até a quarta série do ensino fundamental. Os dados não apontam nenhum catador com ensino fundamental completo;

c) geralmente são famílias que se unem em torno do ofício, muitas vezes ocorrendo o trabalho infantil, já que as crianças acompanham a labuta diária de seus pais. A renda média mensal dos catadores cadastrados era estimada entre R$ 150,00 e R$ 250,00, configurando-se a venda do material reciclável como a única renda da maioria dos catadores. Enquanto isso, os funcionários da Usina de Tratamento de Lixo (UTL) possuem uma renda mensal de R$ 600,00, contando já o vale alimentação de R$ 176,00, e também possuem garantias proporcionadas pela “carteira assinada”;

d) o carrinho é utilizado como principal instrumento de trabalho, sendo muito comum vê-los nas ruas centrais do município e nos pátios das casas do Loteamento Marmit. Como trabalhos anteriores à catação despontam os braçais, tais como construção, faxina e serviços gerais (biscates).

Os dados apontam que a coleta de resíduos sólidos recicláveis mostra-se como alternativa de complementação de renda ou, na ausência de mercado de trabalho, converte-se em mais uma possibilidade de trabalho informal.