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3 CONTEXTO BRASILEIRO DA COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS

PÚBLICA DE COLETA SELETIVA

3 CONTEXTO BRASILEIRO DA COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMÉSTICOS

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000) aponta que 99,4% dos municípios do país têm coleta de lixo (seletiva ou não seletiva). De 1989 para 2000 (ano da última pesquisa completa do IBGE sobre o tema) havia aumentado 2,2% o número de municípios que adotaram a coleta de resíduos. Em 2000 a população de 189 milhões de habitantes produzia 125 mil toneladas de resíduos. Enquanto nos municípios com menos de 200 mil habitantes a média per capita dia não passava de 700 gramas, nos municípios com mais de 200 mil habitantes cada pessoa chegava a produzir até 1,2kg – quase o dobro. As 13 maiores cidades do país eram responsáveis por 31,9% do lixo urbano.

Os dados do IBGE (2000) apontam que 63,6% dos municípios brasileiros utilizavam lixões a céu aberto; 13,8% aterros sanitários e 18,4% aterros controlados. Cinco por cento não informaram o detino dos seus resíduos.

A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, ao analisar esses dados, concluiu que houve aumento na quantidade de lixo coletada entre 1989 e 2000 devido a dois fenômenos: elevaram-se os índices de coleta e o

consumo e descarte de resíduos. Em 2000 observou-se uma ampliação no consumo de embalagens e de produtos descartáveis em relação a 1989. Deste ano até 2000 aumentou em 54% o lixo coletado, enquanto a população cresceu 15,4%. No entanto, também foi maior a destinação dos resíduos para os aterros (IBGE, 2000). Portanto, está em jogo o aumento da coleta, da reciclagem e do destino aos aterros, contra o aumento do consumo e do volume de resíduos descartados.

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (IBGE, 2000) indica ainda que, dos 5.475 municípios brasileiros, apenas 451 realizavam coleta seletiva em 2000. No Rio Grande do Sul, dos 459 municípios apenas 138 tinham programas de coleta seletiva, a qual abrangia 837 mil residências, onde se coletavam 597 mil toneladas dia de resíduos selecionados. Segundo Panorama dos Resíduos no Brasil (ABRELPE, 2007), em 2006 eram recolhidos 7 mil 347 toneladas de resíduos por dia no RS (selecionados e não selecionados), o que correspondia à produção média por pessoa de 729 gramas2.

A pesquisa Ciclosoft (CEmPRE, 2008), que avalia a coleta seletiva e a reciclagem no país, informa que a metade (49%) dos municípios que fazem coleta seletiva usa o sistema porta a porta. De modo geral, a coleta seletiva é realizada pelo poder público, no sistema porta a porta ou por meio de postos de entrega voluntária (menos comum), locais onde a população deve levar o lixo devidamente selecionado (KIEHL, 2004).

Apesar dos estudos realizados por diferentes organizações sociais sobre a problemática dos resíduos sólidos domésticos no Brasil, o governo ainda não instituiu sua Política Nacional de Resíduos Sólidos Domésticos. Segundo MACHADO (2007, p. 561), “os resíduos sólidos têm sido negligenciados tanto pelo poder público como pelos legisladores e administradores, devido provavelmente à ausência de divulgação de seus efeitos poluidores”. E tal negligência pode estar relacionada à falta de definição das competências para gestão dos resíduos, apesar de a Constituição Federal prever em seu artigo 23 as chamadas competências materiais, ou seja, aquelas de caráter comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios (KUNTZ, MAZZARINO, TURATTI, 2008).

No que tange às competências federais, o Brasil ainda não possui diretrizes para gestão e tratamento adequados dos resíduos sólidos, já que o Projeto de Lei 1991/2007 (que foi apensado ao Projeto de Lei 203/1991) encontra-se em tramitação no Congresso Nacional. Portanto, o país possui Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), podendo, dentre elas, a Resolução 05/93 ser considerada uma das mais importantes, por tratar, definir e classificar ações preventivas que minimizem os danos à saúde pública e ao meio ambiente, causados por não terem sido definidos tanto os procedimentos mínimos para o gerenciamento dos resíduos

2 a porcentagem dos resíduos, segundo a abrelpe (2007), era 57,4% matéria orgânica, 16,4% plástico,

13,1% papel e papelão, 2,3% vidro, 1,5% material ferroso, 0,5% alumínio, 0,4% material inerte, e 8% outros. Dados da pesquisa Cicosoft do Cempre (2008) indicam que a porcentagem dos materiais recicláveis no brasil (não incluindo os orgânicos) dividem-se em papel/papelão 39%, plástico 22%, rejeito 13%, vidro 10%, metais 9%, longa vida 3%, diversos 3% e alumínio 1%.

como a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n. 6938/81 (KUNTZ, MAZZARINO, TURATTI, 2008).

Em âmbito estadual, o Rio Grande do Sul pode ser considerado pioneiro no que se refere à implementação de legislação ambiental. O Estado implantou no ano de 1993, com a publicação da Lei 9.921, a Política Estadual de Resíduos Sólidos. Essa lei define, em seus 26 artigos, como deve ser a destinação adequada dos resíduos, o que vem a ser considerado resíduo sólido, o sistema de gerenciamento desses resíduos, o órgão fiscalizador e sanções pelo seu descumprimento (KUNTZ, MAZZARINO, TURATTI, 2008). Em seu Art. 1º a lei prevê a coleta seletiva como responsabilidade de toda sociedade:

Art. 1º - A segregação dos resíduos sólidos na origem, visando seu reaproveitamento otimizado, é responsabilidade de toda a sociedade e deverá ser implantada gradativamente nos municípios, mediante programas educacionais e projetos de sistemas de coleta segregativa. Parágrafo 1º - Os órgãos e entidades da administração pública direta e indireta do Estado ficam obrigados à implantação da coleta segregativa interna dos seus resíduos sólidos. Parágrafo 2º - Os municípios darão prioridade a processos de reaproveitamento dos resíduos sólidos, através da coleta segregativa ou da implantação de projetos de triagem dos recicláveis e o reaproveitamento da fração orgânica, após tratamento, na agricultura, utilizando formas de destinação final, preferencialmente, apenas para os rejeitos desses procedimentos.

Tratando a questão ambiental de forma global no âmbito estadual, em 2000, entrou em vigor a Lei Estadual 11.520, que institui o Código Estadual de Meio Ambiente, que dispõe em seu capítulo XXI, artigos 217 a 225, regras específicas sobre o tratamento e disposição dos resíduos sólidos (KUNTZ, MAZZARINO, TURATTI, 2008).

Já o município, como ente integrante da Federação, é dotado de autonomia, prevista no artigo 18 da Constituição Federal. De acordo com MEIRELLES (2003, p.329), esse artigo dispõe que a competência dos municípios de organizar e manter serviços públicos locais é reconhecida constitucionalmente como um dos princípios asseguradores de sua autonomia administrativa. Para isso, os municípios podem usar de diferentes instrumentos, dentre eles a Lei Orgânica Municipal, o Código de Posturas/ Código de Limpeza Urbana e o Código de Meio Ambiente (KUNTZ, MAZZARINO, TURATTI, 2008).

Para além das competências acima abordadas, um dos temas polêmicos na discussão da Política Nacional de Resíduos Sólidos é a responsabilização pós- consumo, que sofre a resistência das indústrias, as quais, depois de colocarem seus produtos no mercado, desresponsabilizam-se das embalagens, com exceção da indústria de agrotóxicos. Outro tema que tende a ter importância crescente na agenda pública é a necessidade de responsabilização dos consumidores pelo descarte dos resíduos de forma adequada, a fim de contribuir com as políticas de coleta seletiva e também com o trabalho e sobrevivência de catadores informais e cooperativados.