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Considerações Finais

No documento Download/Open (páginas 182-185)

Com este trabalho procuramos investigar a compreensão do papel da Igreja e dos “crentes” no mundo segundo as publicações da Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil (ICPB) e interpretar os resultados em diálogo com o contexto social, cultural, econômi- co, político e religioso do Brasil da época de sua fundação entre 1934-1937, até o fim do mandato de seu primeiro superintendente, eleito em 1964 e falecido em 1986, encer- rando assim seu período de liderança. A voz que se sobressaia nesse período foi a das lideranças estrangeiras e brasileiras, pois elas eram quem dirigiam os veículos de comu- nicação e doutrina da igreja.

A época em questão abarcou a período do envio e chegada dos/as missionários/as fundadores/as, Horace (pioneiro) e Carolyn Ward, Chester e Rachel Miller e Annie e Russel Frew, vindos dos Estados Unidos. Nessa época, de formação da igreja, pudemos perceber que eles trouxeram não só a doutrina, mas também o modo de vida e de enxer- gar o mundo de sua terra natal. Herdeiros do ex-metodista John Stroup, fundador da

Pentecostal Church of Christ, e das doutrinas da santidade wesleyana procuraram viver

e ensinar o que criam, e uma importante amostra disso se fez visível nas cartas que eles envivam mensalmente para sede norte-americana. Os missionários foram as principais lideranças da igreja nessa época. Esse período inicial de fundação e expansão teve como cenário predominante o nordeste brasileiro, e um pouco de São Paulo. O período durou até o final da década de 1950, e foi marcado pela interação desses missionários com o difícil contexto brasileiro, mas que era fértil tanto para a missão quanto para a afeição. Perseguição, críticas, concorrência e cooperação marcaram a relação da igreja com ou- tros grupos religiosos. Nesse período a igreja brasileira sofria com a intolerância de ca- tólicos, e em contrapartida atacava sua doutrina e forma de culto. Também se fundiu com a Igreja Pentecostal de Cortês (de onde vieram Eloy Pinto e José Pinto de Oliveira) e oficializou o nome como Igreja de Cristo Pentecostal do Brasil, mostrando auspícios de uma identidade cada vez mais nacional, que culminaria com a autonomia nos anos 60

e se fortaleceria nas décadas seguintes, com uma gradual independência das diretrizes e proventos da igreja mãe.

No ano de 1957, Ernst Grimm, um pregador estoniano, independente, passou a fa- zer parte da ICPB e contribuiu com seu crescimento, inclusive através das tendas e do rádio, que já começavam a ser utilizados nas igrejas pentecostais e na ICPB. Grimm in- vestiu também na conscientização por uma educação teológica mais sólida para a lide- rança da igreja e foi um dos primeiros redatores da revista de Escola Dominical, desde sua origem em 1959 até o ano de 1970. Seu perfil desbravador e versátil contribuiu sig- nificativamente com a elevação do número de membros na região “Sul”, isto é, sudeste, sul e centro-oeste. Por outro lado, sua geniosidade lhe custou caro entre as tensões in- ternas de poder, e resultou na sua exoneração em 1978.

Outra figura de grande destaque na história da igreja foi José Pinto de Oliveira, primeiro brasileiro eleito superintendente geral. Sua maneira de liderar e sua participa- ção política nos chamaram a atenção. Descrito como um homem austero e amoroso, conduziu o processo de autonomia da igreja, sendo eleito na mesma convenção que aprovou a independência da igreja brasileira, em maio de 1964. Curiosamente, poucos meses depois do Golpe Militar de 1964. Desde a década de 1950 redigia o jornal oficial da igreja e acumulou ainda a função de redator da revista de Escola Dominical em 1971. Quando da sua morte, a denominação já se chamava Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil, pois apesar de autônoma, queria demarcar sua presença e origem no exterior. Apesar de centralizador, aprofundou o ensino sobre ética, justiça e serviço na perspecti- va da compaixão.

Nesse sentido, confirmamos a hipótese de que, ao mesmo tempo em que a lide- rança brasileira começou a se despontar, ocorreu uma crescente sensibilização para questões sociais, que já vinha desde os primeiros textos oficiais, sofreu certa retração na época do golpe militar de 1964, mas, foi retomada já na década de setenta. Conclua-se que as teologias e análises do contexto encontradas nas publicações, justificam uma compreensão mais diversificada: por um lado, houve em termos religiosos e políticos, uma maior proximidade entre as posições defendidas pelos autores e as correntes mais conservadoras (ou até reacionárias) do país. Por outro lado, transpareceram ao lado des- se discurso dominante abordagens dissonantes e com o potencial de servirem de ponto de partida para uma atuação mais relevante da ICPB e seus membros na sociedade.

A pesquisa que gerou este trabalho teve a intenção de ser mais analítica do que pretenciosa no sentido de encontrar discursos que legitimassem este ou aquele lado, e partiu dos já conhecidos pressupostos de que as igrejas pentecostais foram simpáticas ao conservadorismo teológico e político. Qual não foi a nossa surpresa diante das opiniões expressas, que embora correspondessem de certa forma à nossa primeira expectativa, demonstraram uma forte percepção do tema do serviço, do amor, da compaixão, da pro- fecia e da justiça socioeconômica. Mesmo sendo uma igreja de grande ênfase no mile- narismo e no dispensacionalismo, não deixou de tecer ideias e práticas que contemplas- sem as necessidades do aqui e agora.

Nesse sentido, trazer à tona esses traços da denominação, não só tenciona contri- buir com a pesquisa acadêmica que ainda carece de um parecer mais aprofundado e am- plo sobre este movimento em específico, como também às pessoas ligadas a igrejas ou movimentos sociais, para que reflitam mais sobre sua própria fé e como podem contri- buir para um mundo mais pautado pela ética do serviço, da profecia e da justiça social. As publicações aqui investigadas provaram que mesmo ao lado de um discurso marcado pelas convicções de fé, embora não elaboradas de forma sofisticada e aprofundada pelos requintes das teologias mais embasadas metodologicamente, não houve contradição in- superável com a ideia de praticar o amor aos desvalidos e pobres de forma concreta, pe- lo contrário. A impressão que ficou é que é sim possível.

Só o futuro dirá que rumos a as igrejas em geral, a ICPB e a academia tomarão nesse sentido, mas é possível, com uma reflexão atenta do passado, colher esperança pa- ra outro mundo possível, continuar caminhando para o horizonte, acreditando que o di- vino e os humanos cooperam juntos para a construção de um novo mundo, de uma nova humanidade, o que na linguagem pentecostal se concretizará com a segunda vinda de Cristo e a materialização dos novos céus e nova terra, onde não haverá dor nem pranto, onde Deus reinará com seu cetro de justiça e paz para toda a etrenidade.

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