• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa como princípio pedagógico no Seminário Integrado: espaço de investigação e produção do conhecimento no cotidiano da escola.

RAZÕES E FUNDAMENTOS DA RECONSTRUÇÃO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO NO RIO GRANDE DO SUL

2.4. A pesquisa como princípio pedagógico no Seminário Integrado: espaço de investigação e produção do conhecimento no cotidiano da escola.

Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido (ALVES, 2000, p. 78).

O ser humano, ao longo do percurso sócio-histórico para produzir sua existência, foi realizando descobertas e construindo conhecimentos que são transmitidos de geração

à geração, num processo de constante reinterpretação e esclarecimento. Nessa perspectiva, o próprio homem procura “sair da caverna e enxergar a luz”, como nos ensina Platão na metáfora sobre o Mito da Caverna. Sair da caverna, significa desvelar o mundo, experimentar, formular hipóteses, construir novas interpretações, novas leituras dos fenômenos e fatos, intervir de forma consciente e refletida na realidade, a partir das aprendizagens construídas. Essa prática revela que os seres humanos ao longo do percurso histórico investigaram, pesquisaram, aprenderam e ensinaram às novas gerações num movimento de constante busca para criar e transformar a natureza e produzir os bens necessários à vida. No momento que o homem faz descobertas, cria instrumentos de trabalho, domestica animais, sedentariza-se e produz alimentos em quantidade maior que necessita, começa explorar seu semelhante, exercendo o poder de dominação para manter a exploração e a distribuição injusta dos bens, presentificados na sociedade atual, regida pelo capital.

Nesse movimento de investigar e criar o novo pesquisadores e educadores vêm formulando propostas metodológicas e pedagógicas para que a educação responda aos desafios das gerações mais jovens, trabalhando com a cultura, a tecnologia, a ciência e com o mundo do trabalho na perspectiva de uma formação, como sublinha Morin (2015), que religue os conhecimentos, refletindo sobre sua atuação e situação no mundo contemporâneo. O conhecimento ressignificado e reelaborado a partir da ligação entre as partes e a totalidade proporciona a compreensão dos diferentes contextos e de suas complexidades. A pesquisa como princípio pedagógico propicia a compreensão da totalidade na medida em que desafia os sujeitos pesquisadores a compreender a lógica da construção do próprio conhecimento na medida em que professores e alunos aprendem a buscar e interpretar as informações, os contextos, construindo seu ponto de vista, sua autonomia. Conforme abordagem explicitada por uma das gestoras entrevistadas (G4) responsável pelo EMP da SEDUC/RS no período 2011-2014:

[...] a pesquisa está preconizada nas DCNEM e na LDB. Então todo esse cabedal teórico, ele está consolidado nas DCNEM. Quando nós trouxemos a experiência da escola cidadã toda uma perspectiva emancipatória, nós nos ancoramos nas DCNEM onde a pesquisa se apresenta como princípio pedagógico e educativo. Como princípio pedagógico, na minha visão, a pesquisa, ela realmente na experiência de reestruturação curricular do Ensino Médio ela realmente alterou na prática, no sentido didático, na transposição didática a relação professor-aluno e todos os dobramentos que isso tinha. Porque o professor para ele poder atuar como pesquisador, ele precisa ser um indagador. Isso rompe com a ideia do dono do saber. Então horizontaliza mais a relação professor-aluno e envolve o grupo,

professores e alunos num sistema mais colaborativo de construção de conhecimento, todos são pesquisadores. Evidente que cabe ao corpo docente da escola estruturarem, inclusive apresentar possibilidades [...] (G 4).

A pesquisa como princípio pedagógico possibilita ao estudante ser protagonista na investigação e na busca de respostas em um processo autônomo de (re) construção de conhecimentos (DCNEM-MEC,2012). As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio do CNE-MEC (2012) destacam a pesquisa como princípio pedagógico e metodologia de ensino que contribui para a autonomia do estudante na reconstrução do conhecimento e das práticas sociais. A pesquisa auxilia na construção da autonomia intelectual do aluno, na compreensão e melhoria da vida cotidiana na medida em que a produção e reelaboração dos conhecimentos possibilitam a compreensão e a transformação do mundo em que se vive.

[...] a pesquisa propicia o desenvolvimento de atitude científica, o que significa contribuir, entre outros aspectos, para o desenvolvimento de responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas (UNESCO, 2011) condições de, ao longo da vida, interpretar, analisar, criticar, refletir, rejeitar ideias fechadas, aprender, buscar soluções e propor alternativas, potencializadas pela investigação e pela responsabilidade ética assumida diante das questões políticas, sociais, culturais e econômicas (SEDUC//RS, p.21).

A pesquisa como princípio pedagógico gera atitude de curiosidade, de crítica, de percepção mais detalhada da realidade. Possibilita ao professor elaborar seu planejamento considerando seus alunos, sua cultura, suas visões de mundo, desafiando-os a se apropriarem de novos conhecimentos, de novas interpretações e concepções. O ensino pela pesquisa permite ao professor estabelecer um diálogo mais dinâmico com seus alunos, acompanhando sua aprendizagem, identificando com maior segurança suas dificuldades e progressos para intervir e reorientar sua ação profissional. A esse respeito tematiza Maldaner ao afirmar que: [...] a pesquisa é aquela que acompanha o ensino, o modifica, procura estar atenta aos acontecimentos com as ações nele propostas, aponta caminhos de redirecionamentos, produz novas ações, reformula concepções, produz rupturas com as percepções primeiras (MALDANER, SCHNETZLER, 1997, p. 212).

Experiências nesse sentido, ainda que tímidas, estão sendo produzidas no interior das escolas, mesmo que as condições não sejam as ideais, pois no momento atual (2018) os professores do EMP ministram 16 horas aulas semanais de um cargo de 20 horas semanais, muitas vezes, com 4 ou 5 componentes curriculares diferentes, fatores que

dificultam o estudo, o planejamento, a reflexão de sua prática e a participação nos processos de formação continuada. Durante o período (2011-2014), os professores ministravam apenas 14 horas semanais, restandio as outras 6 horas para planejamento.

Com o objetivo de fortalecer o currículo do EMP e a formação docente, o MEC lançou o Programa denominado Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio- PNPFEM visando “articular as ações e estratégias entre a União e os governos estaduais na formulação e implementação de políticas para elevar o padrão de qualidade do Ensino Médio brasileiro, em suas diferentes modalidades, orientado pela perspectiva de inclusão de todos que a ele tem direito”(MEC, 2013). Os cadernos do PNPFEM, reúnem as discussões e formulações de pesquisadores brasileiros, Ministério da Educação, Secretarias de Estado da Educação, Conselho Nacional dos Secretários Estaduais da Educação (CONSED), Universidades, Conselho Nacional de Educação e Movimentos Sociais, objetivando efetivar a Educação Básica plena como direito de todos.

-A formação continuada proposta nas diretrizes do PNPFEM, apresenta os seguintes objetivos:

-Promover a valorização do professor da rede pública estadual do Ensino Médio através da oferta de formação continuada;

- Refletir sobre o currículo do Ensino Médio, promovendo o desenvolvimento de práticas educativas efetivas com foco na formação humana integral, conforme apontado nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, MEC, 2013).

Com a intenção de qualificar os processos de formação docente, o Pacto propõe encontros semanais de estudos teóricos e planejamento, desafiando os coletivos das escolas envolvidas a elaborar e desenvolver projetos de pesquisas interdisciplinares com as turmas de EM de cada instituição, “valorizando uma formação integral e o desenvolvimento de todas as dimensões (omnilateralidade) do ser humano, na perspectiva de autonomia moral e intelectual como condição de compreender a sociedade em que vive para atuar coletivamente na defesa dos direitos “( MEC, 2013 p. 4).

A pesquisa, então, instiga o estudante no sentido da curiosidade em direção ao mundo que o cerca, gera inquietude, para que não sejam incorporados “pacotes fechados” de visão de mundo, de informações e de saberes, quer sejam do senso comum, escolares ou científicos. Mas o princípio pedagógico da pesquisa está em compreender a ciência não somente na dimensão metodológica, mas também, e fundamentalmente, na perspectiva filosófica. Isto porque é preciso apreender e discutir as diversas concepções de ciência para que o educando possa se situar

nesse mundo e compreender o sentido que historicamente vem tomando a produção científica em nosso País (BRASIL, MEC, p. 37).

Nesse processo de mudança curricular no EMP, o Seminário Integrado como tempo/espaço instituído para a pesquisa no EMP foi reforçado pelo Pacto e muitas escolas aproveitaram esse momento de planejamento para fortalecer o diálogo entre as áreas do conhecimento, a partir dos projetos de pesquisa desenvolvidos no SI. No intuito de refletir, construir e reelaborar o conhecimento que é uma construção social e histórica e redimensionar suas práticas fundamentadas em bases teóricas discutidas no coletivo, os projetos de pesquisa tornaram-se metodologia potente para que professores e alunos realizem um ensino mais contextualizado que acompanhe as mudanças sociais, os avanços tecnológicos, a aceleração do conhecimento e os novos desafios contemporâneos da sociedade.

Frente a tantas mudanças, a quantidade e velocidade das informações que circulam no planeta, a escola perde seu status de única geradora de conhecimento, sofrendo a pressão da sociedade de desempenhar novos papéis para responder aos projetos de vida das juventudes diversas que hoje frequentam a escola e conquistaram o direito à aprendizagem. Essa escolarização na última etapa da Educação Básica requer professores atentos aos novos tempos que desenvolvam metodologias e temas que preparem os sujeitos do EM para a cidadania, para a continuidade dos estudos e para o trabalho. O EMP, como preconiza as DCNEM (2012) tem como princípios, aprimorar o aluno como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento intelectual, a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos produtivos, para decidir seus projetos de vida de forma refletida e consciente dos limites e possibilidades. Isto significa também o desafio de refletir sobre a sociedade que temos, quais os valores que nela circulam e indagar e problematizar sobre a sociedade que queremos construir. Nesse movimento, faz-se mister desenvolver projetos de pesquisa articulando os conhecimentos das diferentes áreas e da realidade vivida pelos sujeitos do EMP, desenvolvendo práticas pedagógicas que respondam às demandas do tempo atual.

A pesquisa como princípio pedagógico instituída no momento curricular do Seminário Integrado no currículo do EMP, conforme Azevedo e Reis (2013), surge como perspectiva de investigação científica e articulação das práticas pedagógicas aos contextos contemporâneos da sociedade. A pesquisa emerge como possibilidade de ação- reflexão-ação, como instrumento que os professores possuem para reinventar e atualizar

suas práticas, potencializando a aprendizagem dos sujeitos que frequentam o Ensino Médio. A pesquisa é essencial para a construção do conhecimento pelo aluno- pesquisador. É pela problematização e interpretação refletida dos conhecimentos que alunos e professores se engajam na investigação de uma problemática para desvelar a complexidade da sociedade contemporânea e como um fio de Ariadne, enreda e coloca os seres humanos num labirinto de tantas informações que dificultam a compreensão da realidade e o pensamento crítico como possibilidade de propor novas alternativas para viver numa sociedade que acolha e compreenda o humano que habita em cada um de nós. A proposta de ensino pela pesquisa sinaliza para novas possibilidades de recriar o conhecimento e compreender suas interlocuções com as ciências e o mundo social e histórico, incentivando o aluno a posicionar-se de forma autônoma, apontando saídas em direção à construção de uma sociedade mais solidária, inclusiva, tolerante, participativa e acolhedora.

A educação como atividade essencialmente humana demanda relações de reciprocidade entre o ensinar e o aprender. O ensino pela pesquisa como instrumento metodológico e epistemológico, permite ao professor refletir sobre sua ação com o ensino e a aprendizagem; como ensina Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia:

saberes necessários à prática educativa, ensinar exige rigorosidade metódica, respeito à

autonomia do educando, apreensão da realidade e convicção de que a mudança é possível. A pesquisa permite partir da leitura crítica e dialética da realidade onde a escola está inserida, onde os alunos vivem para nesta realidade intervir e não apenas conformar-se com ela. Partindo dessa compreensão, é mister pesquisar para indagar, para conhecer o que não se conhece e intervir de forma consciente na realidade. A pesquisa é o que move o ensino porque sem pesquisa não há produção de conhecimento e sim mera repetição do que já é conhecido, conforme ilustra um dos gestores entrevistados (G1):

A pesquisa tem um conjunto de consequências extraordinárias para à aprendizagem. O potencial da pesquisa aponta para várias direções, desencadeando espaços e cenários que alimenta o ensino e a aprendizagem. A introdução da pesquisa parte do princípio que não há produção de conhecimento sem pesquisa, portanto o sentido do ensino está na sua efetivação por meio da investigação. O projeto de reforma do ensino da Seduc partiu desta concepção que pode ser sintetizada no enunciado de que a pesquisa é intrínseca ao ensino. O ensino sem pesquisa é a repetição de conteúdos ou, na melhor das hipóteses, de saberes já consolidados. O nosso objetivo foi desenvolver um currículo com atividades que produzissem a práxis da teoria, prática no ato de ensinar e aprender, possibilitando o desenvolvimento de uma cultura de investigação entre

educandos e educadores.[...] É importante registrar ainda que além de ser o motor da produção de conhecimentos, de realização do ensino e da aprendizagem, a pesquisa torna educadores e educandos sujeitos do conhecimento, construtores do conhecimento, o professor deixa de ser um mero repetidor de livros didáticos ou de conteúdos padronizados e passa a organizar o processo de ensino com base na investigação, sendo desafiado à apropriar-se de ferramentas teóricas e metodológicas para planejar, propor, e executar as estratégias de ensino e pesquisa, tendo o educando como um cúmplice do trabalho. No mesmo processo o educando deixa de ser um receptor passivo, depositário de conteúdos sem vida e sem sentido e passa a ser um protagonista com o professor na construção do conhecimento [...] (G1, p. 4).

Conforme entende o gestor entrevistado sobre o lugar do SI como espaço articulador da pesquisa interdisciplinar na Proposta de Reconstrução Curricular do EMP, formulada pela SEDUC/RS desenvolvida nas escolas de nível médio da rede estadual, a pesquisa objetiva desencadear um movimento de problematização, de questionamento, de interpretação e reconstrução do conhecimento na escola. A pesquisa como instrumento de investigação e, de produção de novos sentidos ao conhecimento escolar, se reveste de significados na medida em que alunos e professores se envolvem no processo de aprendizagem com espírito investigativo, tornando-se sujeitos ativos, autônomos e criativos. Nesse âmbito, a pesquisa como princípio pedagógico é colocada como possibilidade concreta de reconstrução/construção de conhecimentos, de produção de novas sínteses, de intervenção e compreensão da realidade.

A pesquisa como prática pedagógica oportuniza a vivência de novas experiências de investigar os fenômenos e fatos, de interações com diferentes espaços da comunidade, com diversas fontes de informação, de apropriação da realidade que circunscreve a escola, o município, o Estado, o País e o mundo, compreendendo as interfaces dos espaços/tempos no constructo social. A pesquisa como metodologia proporciona a formação de sujeitos críticos, reflexivos, com capacidade de intervir na sociedade de forma ética, qualificada e autônoma.

[...] com o Seminário Integrado se instalou os projetos de pesquisa, a pesquisa como um processo pelo qual o aluno vai trabalhar com conceitos, com informações, com livros, com dados, com debates e ele vai ter um projeto de pesquisa, vai ter um problema, ele vai ter questões, ele vai responder, ele vai buscar respostas, ele vai intervir na realidade e a partir daí ele vai estar aprendendo e construindo um saber novo (G2, p. 4,5).

A pesquisa como princípio pedagógico de caráter interdisciplinar na escola emerge como espaço de diálogo e de construção de outras formas de interpretar os conhecimentos e buscar respostas aos problemas que afetam a complexidade do mundo da vida dos jovens estudantes do EMP e de suas comunidades em âmbito local e global. A pesquisa como estratégia de ensino remete à problematização, a investigação e melhoria da aprendizagem dos alunos: O documento da Seduc (2011) destaca este aspecto ao afirmar que: “O Seminário Integrado é o espaço de produção sociocultural entre professores e alunos que demandam rompimento com padrões estabelecidos, superando dicotomias como teoria-prática, professor pesquisador, saber científico-saber popular, repetição- criação, pensar-fazer, entre tantas produzidas pela ciência moderna hegemônica” (SEDUC/RS, 2011, p. 3).

Assim, o SI é o espaço de possibilidade de diálogo entre os componentes curriculares, áreas do conhecimento e as problemáticas vividas pelos alunos e suas famílias na perspectiva de discutir, produzir encaminhamentos para resolução dos problemas. Desta forma, professores e alunos tornam-se sujeitos de sua ação, se apropriando da realidade social, política, cultural, econômica, ambiental, elaborando novos questionamentos, novas propostas de estudos, novas sínteses, construindo caminhos metodológicos, formas de comunicar os resultados das pesquisas, de organizar espaços e materiais para, p. 3 socializar o aprendido.

Segundo Freire (1999, p.34-41), a pesquisa como modo de ensinar e aprender, como ato de conhecimento, tem como objeto desvelar a realidade concreta. A pesquisa qualitativa investiga também o saber popular entendido por conhecimento empírico, fundado no senso comum, que tem sido uma característica ancestral, cultural e ideológica dos que encontram-se na base da sociedade. A ciência popular é o conhecimento prático, que, ao longo dos séculos, tem possibilitado meios para que as pessoas sobrevivam, interpretem, trabalhem e façam intervenções no mundo. A pesquisa permite a educadores e educandos “descortinar” o desconhecido e revelar a novidade, refletindo sobre ela e estimulando o pensamento reflexivo, a cooperação e a participação na sociedade.

Segundo Silva (2015, p. 130), a articulação dos conhecimentos trabalhados na perspectiva da reflexividade, da reelaboração e reconstrução dos conhecimentos pelo professor, reforça a possibilidade de formar sujeitos pesquisadores, mais sensíveis a compreender as problemáticas atuais. Acredita-se que a formação do professor pesquisador emerge como necessidade de formar um profissional que ensina e pensa

sobre sua ação para trabalhar o conhecimento num contexto sócio-histórico que se modifica pela ação da sociedade: na perspectiva de compreender a realidade existente e projetar mudanças na complexidade do mundo atual em processo de rápidas mudanças, as quais exigem do professor “pesquisar e tematizar esses desafios, isto é, erigi-los em temas e assuntos sobre os quais necessita o professor reconstruir seus saberes anteriores”(MARQUES, 1999). Aposta-se, para tanto, que o professor pesquisador possa se formar na prática em sala de aula, mediado pela capacidade reflexiva e dialogante com seus pares e com os referenciais teóricos que tematizam a educação. Um dos gestores entrevistados (G1) explicita o valor da pesquisa no âmbito da educação escolar:

O lugar do Seminário Integrado pode ser caracterizado como espaço estratégico para duas questões chave: a dinamização e socialização da pesquisa e o tensionamentos na direção de práticas interdisciplinares. O SI não foi concebido como uma disciplina, ou como um espaço de um professor, mas como o lugar de aprender à metodologia, a construção de um projeto, a definição de um objeto de investigação e as formas de comunicação dos resultados. Então alguém poderia concluir: “uma disciplina de metodologia da pesquisa.” Não um espaço de aprendizado das dimensões práticas de uma pesquisa, de socialização das pesquisas, mas sobre tudo de articulação entre as pesquisas nas áreas do conhecimento. A origem do projeto não deveria ser o SI, mas as áreas do conhecimento, sendo o SI o ponto de partida para aprendizado do método e o ponto de chegada para a socialização, comunicação e a construção das ligações entre os campos do conhecimento. Portanto o projeto de investigação do aluno deveria surgir orientado pelo professor do campo, na respectiva área, portanto integrando atividade cotidiana do ensino com a investigação. Essa formulação teve adaptações e distorções que são normais em processo desta magnitude em tempo tão curto. A rede estava em um processo de aprendizagem que foi abortado pelo governo que assumiu em 2015. Outro desafio foi a falta de tradição de pesquisa no ensino básico e o desconhecimento das práticas de pesquisa dos educadores, já que os cursos de formação passam ao largo desta questão, talvez por que muitos formadores também desconheçam e não valorizam a pesquisa. Esse é um desafio às universidades. Os gestores da SEDUC tinham esse diagnóstico e por isso foi desencadeado uma política de formação em serviço para a prática deste aprendizado e para isso foram convocadas as universidades para ensinar e aprender com a rede. Esse foi um processo muito rico. Teve universidades fazendo curso de formação com seus professores para prepará-los a prestar assessoria à Rede na pertinência da proposta. O Pacto pela Melhoria do Ensino Médio foi o ponto alto das práticas de formação, possibilitando a sinergia

Outline

Documentos relacionados