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PESQUISA-INTERVENÇÃO COMO DISPOSITIVO ANALISADOR DO PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo permitiu constatar que os problemas enfrentados pelos profissionais da SEATESC, que interferem na dinâmica do processo de trabalho, só são passíveis de serem superados na própria experiência cotidiana, com a criação e experimentação do novo, em uma atuação de abertura para as inúmeras possibilidades que surgem a partir do encontro com o outro, com o diferente. Apesar do estudo se propor a demonstrar e problematizar o processo de trabalho da SEATESC, sem nenhuma pretensão de esgotar as discussões dos limites e possibilidades da proposta de apoio à Atenção Básica da Secretaria Municipal de Santos, ele delimita alguns entraves e vislumbra medidas norteadoras para aproximar a proposta da gestão

às reais necessidades do SUS. Demonstra-se, assim, que a fragilidade da proposta de apoio em operação no município está na tensão entre o proposto e o instituído.

A investigação apontou também para a urgência do estabelecimento de espaços de discussões coletivos, na dinâmica de trabalho dos profissionais da SEATESC, que podem acontecer a partir da discussão de casos, como sugestão apresentada pelos próprios profissionais, ou a partir de outras estratégias de gestão que valorizem a grupalidade. A dinâmica do trabalho, carece desses espaços a fim de estabelecer uma prática mais porosa a ponto de olhar mais amplamente a realidade e, consequentemente, o processo de trabalho, caminhando com uma atitude de aprender a aprender como a possibilidade de encontro entre gestores, trabalhadores e usuários.

Nesse processo aprendemos que nenhum profissional está pronto, mesmo quando apresente capacidade para lidar com a diversidade na produção do encontro. É importante investir em seu processo de formação profissional, utilizando-se de estratégias que favoreçam as trocas e não apenas a reprodução de conhecimento.

Pensamos que a pesquisa-intervenção e o exercício da práxis colaborativa, apoiados num processo de educação permanente seriam alternativas possíveis de uso, para essa formação que pretende qualificar o cuidado, as quais se apresentam como estratégias para capilarizar e favorecer o debate, tanto na gestão como na produção de cuidado. Porém, não é mais possível imaginar que somente elas possam gerar transformações no processo de formação de trabalhadores. São, sim, maneiras de assegurar os processos democráticos para a construção de um SUS para todos. Portanto, sem espaço para inventar-reinventar outras formas de subverter o instituído, não será possível escapar dos modelos e dos protocolos tão bem consolidados que muitas vezes engessam até o desejo de transformação da prática de saúde.

O desafio é permanente, não há outro modo, pois é necessário encarar que há disputa de projetos e essa clareza é fundamental para o desencadeamento de um processo de análise que pode engendrar outros agenciamentos, até mesmo atingir o plano das intencionalidades, dando novos sentidos capazes de transformar até o desejo, para ser capaz de produzir uma outra prática apoiadora.

Para finalizar, há a necessidade de desterritorialização para depois efetivar a territorialização desse modo de desenvolver o processo de trabalho da Equipe SEATESC, para que possa, junto com a gestão municipal de saúde, encontrar novos espaços. Entendemos que a perspectiva do trabalho de apoio está na construção de uma prática colaborativa. Fica aqui o desafio, que os profissionais ocupem o não lugar, que é uma marca da prática do apoio, atravessem a rede de serviços de saúde, que possam criar um trabalho que se torne visível, partindo de experimentações, até conseguirem, junto com a gestão, estabelecer uma intervenção

virtuosa e que faça sentido para romper com as relações de subordinação e com o medo que as instituições hierarquizadas favorecem.

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