• Nenhum resultado encontrado

3 OFICINAS PROBLEMATIZADORAS COMO ESTRATÉGIA PARA A PRODUÇÃO DE DADOS

PESQUISA-INTERVENÇÃO COMO DISPOSITIVO ANALISADOR DO PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE

3 OFICINAS PROBLEMATIZADORAS COMO ESTRATÉGIA PARA A PRODUÇÃO DE DADOS

Para a produção de dados utilizou-se a metodologia de oficinas problematizadoras, proposta por Chiesa e Westphal (1995), que se caracterizam pelo diálogo entre os sujeitos da pesquisa com a intenção de refletir sobre o cotidiano de trabalho. Dessa maneira, a pesquisa- intervenção e as oficinas problematizadoras se coadunam por serem modelos abertos de pesquisa, nos quais se mantêm a reflexão como princípio orientador em todo o processo de estudo.

As autoras esclarecem ainda com relação à oficina problematizadora, que essa forma de conduzir um processo investigativo possibilita uma articulação entre os aspectos específicos das vivências individuais e a totalidade da sociedade, como, também, coloca-se como uma estratégia de intervenção educativa que amplia os conhecimentos dos sujeitos sociais que dela participaram.

Para Galletti (2004) “oficina” é um termo amplo, oriundo do latim officina, com significações diversas, mas abrangendo o mundo do trabalho e tem em um dos seus inúmeros significados o lugar onde se verificam grandes transformações. A autora nos diz que:

o dispositivo a que chamamos oficina é geralmente convocado quando se fala em ‘novas’ propostas terapêuticas. Seu uso tem sido frequente e quase corriqueiro na clínica ‘psi’ para designar um amplo espectro de experiências terapêuticas e extra- terapêuticas, de diferentes formatos e composições. Quase sempre amparado na crítica à psiquiatria tradicional e, portanto respaldado na reforma psiquiátrica, o universo da clínica não se define por um modelo hegemônico de intervenção e nem tampouco pela existência de um único regime de produção, ao contrário, é composto de natureza diversa, em uma multiplicidade de formas, processos, linguagens (GALLETTI, 2004, p. 19).

A oficina é um espaço de convivência que favorece a experimentação e que, por isso, desarticula as fronteiras, permitindo o uso de uma heterogeneidade de recursos e tecnologias que possibilitam, de maneira singular, a utilização de instrumentos e técnicas como facilitadoras das discussões, estabelecendo um dinamismo para o encontro.

Podemos dizer que a oficina é algo vivo, algo em movimento, que permite o redirecionamento da intervenção conforme vão surgindo às necessidades dos participantes de se dedicar mais a alguma questão ou outra, considerada pelos próprios sujeitos como sendo necessária de maior aprofundamento. Isso também demonstra sua abertura, enquanto instrumento de intervenção, potencializador de novas intervenções na medida em que provoca, em certa medida, uma pressão que estimula os participantes a se recriarem.

O uso de instrumentos e técnicas utilizados no transcorrer das oficinas visava favorecer a expressão dos sujeitos que dela participavam ao mesmo tempo em que se apresentaram como uma possibilidade de arejamento institucional, na medida em que só é possível sua realização pautada no exercício da troca e como facilitadores da expressão dos sujeitos.

Foram realizados seis encontros-oficinas que tinham como balizadores da reflexão os temas: apoio matricial, processo de trabalho, cuidado em saúde e trabalho em equipe. Esses balizadores foram construídos coletivamente na ocasião do primeiro encontro entre os participantes da pesquisa, o qual tinha como objetivo esclarecer o processo da pesquisa- intervenção e o dinamismo das oficinas para a produção de dados. Abaixo, apresentamos um quadro ilustrativo da organização das oficinas.

Quadro 1 – Síntese da organização das oficinas1

Objetivo Tema Orientador Estratégia

Apresentar os objetivos do estudo, a metodologia

Os caminhos da pesquisa

Apresentação do Texto Estatuto do Homem, de Thiago de Mello (1978). Dinâmica de grupo e projeção do livro Zoom, de Istvan Banyai (1995)

Refletir sobre o conceito

de apoiomatricial Apoio Matricial

Breve relato do encontro anterior, com o intuito de construir coletivamente um conceito sobre apoio, partindo da elaboração individual, depois em dupla socializando com os demais para elaboração conjunta. Inicia com a distribuição e leitura de texto que trabalha referências sobre apoio e retoma o conceito produzido para relacioná-lo ao referencial teórico.

Iniciar a discussão sobre processo de trabalho em saúde

Processo de Trabalho

Leitura do Escriba, definição do próximo Escriba. Projeção de um fragmento do filme Pina, de Wim Wenders (2011), sobre o trabalho da coreógrafa Pina Bausch para disparar a discussão sobre processo de trabalho, construção de um fluxograma descritor, apresentação dos fluxos. Encerramento e avaliação do dia.

Iniciar a discussão sobre processo de trabalho em saúde

Processo de Trabalho

Leitura do Escriba, e definição do próximo Escriba. Continuação da apresentação dos desenhos dos fluxogramas, discussão sobre o processo de trabalho e leitura de texto sobre processo de trabalho em saúde, aproximação do texto com o processo de trabalho dos sujeitos. Projeção do filme de animação The last; o último fio. Conversa sobre o filme

relacionando-o com o fazer em saúde. Encerramento e avaliação do encontro.

Dar continuidade à discussão sobre processo de trabalho em saúde a partir da noção de cuidado.

Cuidado em saúde

Leitura do Escriba e definição do Escriba do dia. Dinâmica de grupo, após as discussões leitura de textos sobre cuidado entregues aleatoriamente aos participantes, retomada das discussões e finalização do trabalho do dia. Avaliação do encontro.

Discutir sobre trabalho em equipe e suas

possibilidades de formação, apresentar os dados coletados e propor modificações.

Trabalho em equipe multidisciplinar e interdisciplinar

Leitura do Escriba, apresentação em PowerPoint, destacando as falas mais significativas, as conexões e desconexões do processo de trabalho, para

visualização do caminho trilhado, dinâmica de grupo para discussão do trabalho multi e interdisciplinar. Revisão das propostas de modificação do que está posto. Avaliação do conjunto das oficinas, utilizando instrumento de avaliação e confraternização.

1 As referências bibliográficas mencionadas no Quadro 1 estão relacionadas ao final do texto com as demais utilizadas ao