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O Significado da Preceptoria para estes profissionais

UM OLHAR DE PRECEPTORES SOBRE A PRECEPTORIA NO INTERNATO DO CURSO MÉDICO DE UMA UNIVERSIDADE

2 PERCURSO METODOLÓGICO

3.2 O Significado da Preceptoria para estes profissionais

Os preceptores participantes deste estudo atribuíram vários significados à atividade de preceptoria, possibilitando identificar algumas categorias.

A principal categoria encontrada (18,4%) foi compartilhar o conhecimento com os alunos:

[...] transmitir alguma coisa que eu aprendi na minha vida acadêmica (UR76).

Chemello, Manfroi e Machado (2009) ressaltam a importância da interação professor- aluno e da troca de conhecimentos entre ambos, nesta relação bilateral voltada para o ensino e para o cuidado com o paciente.

A possibilidade de participar da formação global dos alunos (11,8%) foi destacada e pôde ser organizada em três sub-categorias:

“Postura ética”:

[...] então a gente precisa ter esse cuidado de passar, não só diagnosticar, tratar, mas também esse lado ético (UR24).

“Humanização”:

[...] não só ensinar como se portar como profissional, mas também passar uma parte da questão humana (UR1).

“Postura profissional”:

[...] e coisas, assim, que às vezes, deveriam trazer de casa e não trazem, assim, postura (UR3).

Luiz D’avila (2010), em seu trabalho sobre a formação moral médica, afirma que a ética médica consiste em aplicar a ética geral ao domínio da medicina. Também lembrou que Hipócrates estabelecia que o médico deve considerar sempre o particular e que a determinação das características dos indivíduos se dá por meio da sensibilidade.

Outros preceptores têm convicção que ser preceptor é um Dever Social (13,2%):

[...] um dever social e ele deve ser um retorno à sociedade, uma espécie de agradecimento pela formação que a sociedade deu (UR47).

Percebe-se nestes preceptores a valorização do papel cidadão do médico, como descrito por Sousa e Heinisch (2012). Valores como ética, humanismo e responsabilidade social devem estar incorporados no processo de formação dos alunos de medicina, de forma mais adequada as necessidades da sociedade (BLOOM,1988).

Importante ressaltar que a responsabilidade social da escola médica vai além deste “retorno” uma vez que a busca por saúde deve estar associada á busca de justiça social e para isso as atividades devem ser direcionadas no sentido de atender as necessidades de saúde da população (OLIVEIRA; SANTOS; SHIMIZU, 2019).

As evidências demonstram que ser um preceptor vai além da sua formação de médico.

Vários preceptores consideram que a preceptoria é uma possibilidade de atualização contínua (13,2%):

[...] Uma atualização diária (UR30).

Este é um dado que corrobora o discutido por Missaka e Ribeiro (2011), que ressaltam o papel da formação do preceptor para que ele desenvolva um perfil adequado ao seu papel.

Na categoriaParticipar da formação do aluno (11,8%), os preceptores valorizam o papel de não somente ser um mero transmissor de informações:

[...] Saber que você fez parte da formação de uma pessoa é muito gratificante (UR44).

Neste sentido, o preceptor deve atuar na formação do aluno para encontrar soluções possíveis para os problemas relacionados a atenção à saúde da população (BOTTI; REGO, 2008).

Sentem-se na responsabilidade de contribuir para qualidade de ensino. Este aspecto, correspondeu a 6,6% das UR encontradas:

Formar um médico é também poder demonstrar ao aluno o que ele vai se deparar na vida real, o que foi valorizado na categoria: ensino da realidade de trabalho (3,9%):

[...] Adequar eles a realidade de trabalho, adequar a realidade de serviços que eles vão se encontrar (UR4).

Bagnato e colaboradores (2008) consideram que o educador deve reconsiderar suas práticas pedagógicas, buscando alternativas de articular teoria, prática e realidade, pois os cenários de práticas são diversificados e exigem habilidades específicas para atuação em cada um deles, tanto no que diz respeito às ferramentas a serem utilizadas, quanto as tarefas a serem executadas na tentativa de adequar a prática do futuro profissional a realidade local.

Para alguns, ser preceptor envolve a possibilidade de dedicação (3,9%):

[...] é uma dedicação, na verdade é uma dedicação ao aluno (UR50).

Outros acreditam que podem ser exemplo de conduta, que os alunos podem se espelhar em suas atitudes frente ao paciente, o que pode ser notado pela categoria possibilidade de servir de exemplo (2,6%):

[...] eles olham o que você faz como você atua e isso pode servir de inspiração ou pode servir de mau exemplo (UR28).

Além da função de ensinar, os preceptores também aconselham, inspiram e influenciam no desenvolvimento dos menos experientes, gerando uma imagem de “espelho”, portanto tem uma grande responsabilidade (SACHDEVA, 2009).

Outros significados foram encontrados, representando nove UR, dentre elas destacamos:

[...] ausência da preceptoria é uma coisa que não combina com a profissão médica (UR63).

Compreendendo a importância que estes profissionais dão a sua atuação, a seguir serão discutidos os dados relativos a inserção destes profissionais na preceptoria inserção como preceptor Inserção e preparo para a preceptoria

A partir da análise das 85 URs relativas às motivações para inserção destes profissionais médicos na atividade de preceptoria, identificamos que a maioria se torna preceptor por prazer pelo ensino, uma vez que houve significativo destaque na categoria gosto pela docência (30,9%);

[...] eu gosto muito de ensinar, sempre gostei (UR8).

A percepção de que podem colaborar para melhorar a qualidade dos futuros médicos, foi encontrada na categoria aprimorar a formação médica (16,3%):

[...] Ter a chance de melhorar os médicos formados [...] (UR1).

[...] eu resolvi fazer e fazer diferente (UR16).

O preceptor tem um papel fundamental na formação médica uma vez que é o articulador necessário para a aprendizagem durante o internato. Neste cenário pode atuar como um potente indutor de mudanças na atenção à saúde (ROCHA; RIBEIRO, 2012).

Neste sentido, formar o médico melhor, requer do preceptor um aperfeiçoamento contínuo. Isto é reconhecido pelos entrevistados como uma motivação para sua inserção na preceptoria descrito na categoria estímulo ao aperfeiçoamento (16,3%):

[...] e está sempre informado (UR13).

[...] é uma forma de ser forçado a se atualizar regularmente (UR19).

[...] a preceptoria me estimula a estudar (UR21).

[...] é um meio de incentivar a minha atualização (UR23).

Como para a docência acredita-se que existe uma certa vocação, dom para exercer a preceptoria (5,4%):

[...] eu acho que tá no sangue, meu pai também é professor (UR25) [...] é uma coisa que eu já trago (UR29).

Simões (2012) discute que grande motivação do médico e do aluno de medicina é gostar e cuidar de gente. Nesse sentindo acaba fazendo uma analogia que ensinar alunos de medicina é como ensinar e educar seus próprios filhos, por isto uma vocação.

Estar inserido nesse contexto com alunos, discutindo, questionando, instigando, é algo

também valorizado por alguns dos preceptores entrevistados na categoria Contato com os alunos (5,4%):

[...] de tá em contato com alunos [...] (UR28).

[...] eu gosto muito de estar em contato com o aluno (UR48).

É possível que esse convívio com os alunos, a dedicação dispensada a docência, a vocação, o dom, o gostar de ensinar, isso tudo para a realização pessoal, que também surge como categoria de análise:

Faz a gente se sentir vivo, presente (UR5 e UR7).

[...] Eu me realizo bastante! (UR31).

Outras motivações também foram citadas:

Na faculdade eu gostava da monitoria (UR11).

[...] queria difundir a minha especialidade (UR17).

[...] sempre gostei de pesquisas, de trabalhos (UR27).

Quanto ao preparo para a preceptoria, a maioria dos preceptores refere que a titulação acadêmica (44,7%,) foi a principal oportunidade para a sua formação. Destacam-se a residência médica (31,6%) e o mestrado (39,5%) como espaços formativos:

[...] durante a residência eu acredito que tenha sido meu maior é [...] Minha maior bagagem para poder contribuir com a formação dos alunos (UR14).

Especialização (UR8)

Com relação a parte metodológica de ensino, o mestrado tá me ajudando muito (UR17).

Embora a titulação acadêmica tenha um significado de extrema importância na preparação dos preceptores desta instituição, a categoria: Aprendizado na prática clínica também teve uma expressiva citação,correspondendo a 14,1%, lembrando que os médicos não possuem formação específica para a docência, portanto a experiência, o dia a dia, faz parte de seu preparo para exercer a preceptoria:

Eu nunca fiz nenhum preparo específico para ser preceptor, foi acontecendo, né? (UR24).

Batista e Silva (1998, p. 34) discutem que não existe nas escolas médicas preparo específico no campo pedagógico e que há deficiência no desempenho do docente do ensino superior. Acredita-se que o professor de Medicina seja "um profundo conhecedor do assunto que deve ensinar, como se apenas esse aspecto assegurasse sua competência didática", fato que contribui para a falta de qualificação pedagógica dos docentes.

De acordo com Rocha e Ribeiro (2012) a deficiência pedagógica impede execuções de diversos processos de ensino-aprendizagem e as diferentes modalidades de avaliação. Somente o domínio nos seus saberes profissionais não são suficientes para a melhor maneira de exercer a preceptoria.

Observou-se que a experiência de outros professores, também foi valorizada como possibilidade de formação (7,1%):

[...] a preparação que eu tive na verdade foi usar mais ou menos o que os meus professores faziam comigo e melhorar naquilo que eu achava que era defeituoso (UR54).

Isto é semelhante ao encontrado para o aprendizado da docência. Aprende-se a ser professor universitário a partir de um processo muitas vezes autodidata ou por observação e exemplos de outros docentes. O professor passa da experiência passiva como aluno ao comportamento ativo como professor "sem que lhe seja colocado, em muitos casos, o significado educativo, social e epistemológico do conhecimento que transmite ou faz seus alunos aprenderem" (SACRISTÁN, 2000, p. 183)

Alguns acreditam que seja inato o preparo para ensinar, por isso a categoria Inclinação natural(5,9%):

[...] talvez uma inclinação maior para a sala de aula [...] (UR52).

Outras formas de preparo também foram citadas, como as categorias:

leitura de textos (4,7%):

Artigos (UR78).

participação em eventos (2,4%):

[...] publicação de um trabalho, orientação, participação de congresso, aulas em congressos nacionais e internacionais (UR40).

experiência na graduação (3,5%):

Congressos (48UR).

O PET foi um programa muito bom pro sistema tutorial, que estimula esse aluno (UR36).

É importante salientar que alguns preceptores ressaltam a carência de seu preparo para esta atividade (7,1%):

Eu sinto falta inclusive, assim, a gente forma medicina um curso técnico, a gente não prepara para ser um professor (UR30).

Missaka (2010) ao discutir o papel do preceptor, concluiu que é necessário que tenha suas atividades reconhecidas, com investimento em formação específica para o desenvolvimento de um perfil de educador.

A avaliação por competências é algo difícil de realizar, por isso o profissional de saúde precisa de treinamento para tal, porém na prática isso não vem sendo realizado (RIBEIRO et al., 2008). Os saberes profissionais são essenciais para qualquer tipo de formação, mas não dominar os saberes pedagógicos, necessários à organização de ações formativas, tais como os diversos processos de ensino-aprendizagem e as diferentes modalidades de avaliação, faz do preceptor um ser incompleto no papel da docência.

Quando questionado como se mantém atualizados, estes preceptores destacaram várias estratégias, que estão apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6 – Estratégias de Atualização Utilizadas por Preceptores de uma universidade pública do

Amazonas

Estratégia Número %

Leitura de Artigos e Revistas 28 100

Livros 3 10,7

Participação em Congressos 24 85,71

Cursos e programas de Atualização 14 50

Discussão com colegas 6 21,42

Pós-graduação 2 7,14

Reuniões com os serviços 1 3,57

Participação em Sociedade da Área 1 3,57

Fonte: elaboração própria.

Nota-se o predomínio da atualização por leitura de artigos e da participação em congressos, o que é comum para a prática médica.

É importante destacar que 65% dos preceptores citaram o uso da internet para operacionalizar sua atualização, seja na busca de artigos, seja em cursos de atualização. Apesar da grande disseminação do uso desta tecnologia, a realidade na região norte do país nem sempre possibilita uma conexão efetiva.