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Trabalho em equipe na Residência Multiprofissional: a perspectiva de preceptores do cuidado perinatal

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: PESQUISAS E INTERVENÇÕES

II CONHECENDO AS PESQUISAS

2.4 Trabalho em equipe na Residência Multiprofissional: a perspectiva de preceptores do cuidado perinatal

A pesquisa teve o objetivo de apreender a visão dos preceptores, no que se refere ao trabalho em equipe, às dificuldades encontradas, às potencialidades desse tipo de trabalho e às sugestões para a sua formação na Residência Multiprofissional e no cuidado perinatal.

A metodologia ancorou-se na abordagem qualitativa, exploratória e utilizou-se de questionários e de grupos focais com 31 preceptores7, dentre os quais dez acumulavam o cargo

de gestores de área profissional. Os questionários colheram dados para caracterizar os participantes. Os grupos focais abordaram os temas preceptoria, Residência Multiprofissional e trabalho em equipe. Os dados obtidos nos grupos focais foram interpretados, conforme a análise de conteúdo na modalidade temática de acordo com Bardin (2016), Minayo (2013) e Franco (2005).

Os núcleos direcionadores da análise foram três: a inserção do preceptor na Residência Multiprofissional: a sua motivação, a gratificação e o reconhecimento para exercer a preceptoria; o contato com o Projeto Político Pedagógico (PPP), a identificação dos objetivos de aprendizagem no cenário de prática, o desenvolvimento desses objetivos, as preocupações e os cuidados com a formação do residente e perfil do egresso; e, o trabalho de equipe na Unidade Neonatal e na Residência Multiprofissional.

Ao mapear a trajetória dos preceptores, foram identificadas as circunstâncias que levaram, a maioria deles, a se envolver, compulsoriamente, com o ensino em serviço, bem como um desejo e interesse pessoal pelo ensino e pela assistência de qualidade. As principais motivações, relatadas para continuar exercendo a preceptoria, foram: constatar que o residente se encontrava com condições de entrar no mercado de trabalho e o resultado do ensino em serviço centrado no aprendizado do residente.

O contato com o residente propiciou a reflexão das equipes quanto às suas dinâmicas de trabalho, haja vista a adaptação à entrada desse novo ator na equipe, com as suas indagações e críticas ao trabalho estabelecido. Essa mobilização, em alguns casos, provocou uma aproximação positiva com a instituição de ensino superior (IES) parceira, por meio de um maior envolvimento com os docentes da universidade e com o processo de busca por aprofundamento científico, a fim de aprimorar os processos de trabalho, bem como de orientar as pesquisas (Trabalho de Conclusão da Residência).

7 A pesquisa foi realizada com as anuências da Presidência da Comissão da Residência Multiprofissional em Neonatologia, da Diretoria de Departamento Técnico do hospital e maternidade-escola e com a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa da Unifesp e da instituição coparticipante, CAAE no. 85492318.3.0000.5505 e 85492318.3.3001.5454, pareceres nos. 2.580.943 e 2.653.645, respectivamente.

Uma parte dos preceptores foi acolhida sem ter uma experiência prévia em Neonatologia. Para alguns, essa era considerada uma situação desconfortável, uma vez que se sentiam sem condições de promover um ensino mais aprofundado, referido como “orientação básica”. Para outros, tornou-se gratificante poder retribuir o acolhimento recebido ao iniciar no hospital. Todos os participantes apontaram como importantes e necessárias a formação tanto em Neonatologia como no ensino.

Por ser um programa de Residência Multiprofissional, a preocupação em ser/atuar interdisciplinarmente surgiu a partir do reconhecimento da necessidade de se organizar em equipes de trabalho com uma dinâmica fragmentada. Diante da chegada dos residentes, houve diversas tentativas de produzir um cuidado com a interdisciplinaridade. Foram elencados vários projetos de trabalho em equipe, mediante a participação de profissionais de áreas diversas e alguns idealizados com a participação dos residentes. A discussão de casos em equipe é uma ação que tem sido articulada, a fim de se pensar o caso com a integralidade e se traçarem propostas terapêuticas singulares com a participação de toda a equipe. O principal desafio mencionado é a integração do médico nessas discussões.

Dentre as dificuldades, os participantes da pesquisa sinalizaram: a ausência de reconhecimento formal da instituição, visto que não existe o feedback dos gestores do hospital em a troca com os docentes da IES parceira; a não participação na elaboração do PPP e do planejamento da implantação da RMS; o fato de alguns preceptores se enxergarem como uma referência para o residente no cenário de prática, sem a articulação com o planejamento pedagógico e com os objetivos de aprendizagem; a falta de condições, de espaços e materiais, para realizar as atividades em grupos com os residentes; e, uma valorização maior da atividade docente da preceptoria, com investimento em formação para o ensino.

Um dos desafios elencados foi a implementação da educação interprofissional no programa de Residência Multiprofissional, uma vez que o “aprender junto” depende de estar junto na assistência, uma prática ainda pouco estabelecida na rotina dos preceptores do cuidado perinatal. Outrossim, os participantes indicaram que, para uma melhor comunicação em equipe, a informação precisa circular mais e o debate precisa ser ampliado para os preceptores poderem acompanhar e contribuir nas discussões das questões da RMS. Ademais, torna-se necessária uma cultura institucional do trabalho em equipe integrado que propicie os espaços à discussão e à reflexão dos processos de trabalho.

Como sugestão levantada, surgiu a construção de um projeto conjunto que pudesse abranger os cuidados paliativos; a criação de espaços para interlocução do preceptor com o residente, com a finalidade de acompanhar o seu processo de aprendizagem; as visitas à beira do leito; uma aproximação maior com a IES parceira, a fim de alinhar os eixos específicos e as

necessidades de aprendizagem relativas ao cenário de prática; um investimento maior na formação do preceptor tanto no ensino como na área de concentração Neonatologia; e, o acolhimento dos residentes para aproximação com os preceptores de todas as equipes.

Por intermédio da análise das dificuldades, dos desafios e das sugestões, conclui-se que existem questões que se situam em diferentes dimensões, tais como: a macro, na qual se incluem as políticas institucionais e o lugar da Residência Multiprofissional, abrangendo tanto o hospital como a universidade parceira; a meso, da qual fazem parte a infraestrutura e a reorganização dos processos de trabalho na área da saúde, incorporando o residente multiprofissional como sujeito ativo e em formação, assim como instituindo espaços de Educação Permanente para os preceptores; e, a micro, a qual compreende as relações entre as equipes, entre os preceptores, os residentes e entre estes atores e os usuários.

III PRODUTOS E INTERVENÇÕES: CONTRIBUIÇÕES PARA A TRANSFORMAÇÃO DAS