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SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: GARANTIA E ACESSO AOS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM

DEFICIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE SÃO SEBASTIÃO

Ana Paula Almeida de Aragão Assistente Social Prefeitura Municipal de São Sebastião São Sebastião – SP Ana Rojas Acosta Universidade Federal de São Paulo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde São Paulo – SP

RESUMO Este trabalho apresenta reflexões acerca da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS e a relação da atuação dos serviços de saúde com a garantia de direitos das crianças e adolescentes com deficiência da Região do Distrito de Maresias do município de São Sebastião-SP. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa orientada pelo método dialético-crítico, demonstrando os possíveis avanços e conquistas para um grupo social que historicamente sofre preconceitos e violações no meio social, A pesquisa traça o conceito de deficiência desde tempos longínquos até nossos dias, os avanços e conquistas importantes para esses indivíduos junto à política de saúde nacional, a rede de atendimento municipal e qual o olhar dos usuários em relação à política de saúde para crianças e adolescentes com deficiência em São Sebastião-SP.

Palavras-chave: pessoa com deficiência; saúde da pessoa com deficiência; serviços de saúde; direito à saúde.

1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta reflexões acerca da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e a relação da atuação dos serviços de saúde com a garantia de direitos das crianças e adolescentes com deficiência da Região do Distrito de Maresias do município de São Sebastião-SP. O texto apresenta um recorte da dissertação Sistema Único de Saúde: garantia e acesso aos direitos de crianças e adolescentes com deficiência no município de São Sebastião (ARAGÃO, 2018)1 defendida no Programa de Pós-

Graduação Ensino em Ciências da Saúde-Mestrado Profissional, campus Baixada Santista. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2012), mais de um bilhão de pessoas em todo mundo vivem a experiência da deficiência e sua incidência é crescente, estas pessoas apresentam as piores condições de acesso à saúde, educação, à participação econômica, ao transporte e à informação, o que se agrava em comunidades mais pobres. No Brasil, segundo dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 45.606.048 de pessoas com deficiência, ou seja, cerca de 23,9% da população total do país. Desse número, analisando os dados censitários, verificamos que 5.260.563 são crianças e adolescentes vivendo com alguma deficiência.

O interesse pela temática advém da atuação profissional no Centro de Reabilitação José Teixeira no bairro de Boiçucanga – São Sebastião, litoral do estado de São Paulo. Trata-se de uma das unidades que compõe a rede de saúde municipal especializada, que atende em sua maioria, pessoas com deficiência. A prática profissional, nesse serviço, proporciona cotidianamente, a exposição às vulnerabilidadese situações de violação sofridas pelas pessoas com deficiência e permite perceber que, juntamente com outros segmentos de nossa sociedade, apresentam dificuldade para garantir acesso aos seus direitos. Diante dessas dificuldades, as pessoas com deficiência recorrem, muitas vezes, a outras políticas públicas para serem informadas e terem acesso a seus direitos.

O termo vulnerabilidade é compreendido como a herança histórica da estrutura social capitalista: “Nesse sentido, a vulnerabilidade social se constitui como construção social, enquanto produto das transformações societárias, assumindo diferentes formas de acordo com os condicionantes históricos” (MONTEIRO, 2011, p. 34).

1 Aragão (2018). Disponível em:

No período de realização do estudo, a rede de saúde municipal de São Sebastião, estava composta por 22 Unidades de Saúde da Família, quatro Unidades Básicas de Saúde, 1 Centro de Incentivo ao Aleitamento Materno, dois Centros de Saúde, um Pronto Socorro, um Pronto Atendimento, um Centro de Atenção Psicossocial I (CAPS I), um Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPS a.d.), dois Centros de Reabilitação, um Centro de Infectologia, um Centro de Especialização Odontológico, um Centro de Saúde II, um Laboratório Regional de Prótese Dentária, um Hospital e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU.

O objetivo principal deste trabalho foi analisar a rede de cuidados à pessoa com deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde no município de São Sebastião em relação à garantia de direitos de crianças e adolescentes com deficiência.

O percurso metodológico se compôs do levantamento bibliográfico, por meio de livros, artigos e documentos legais para apropriação da temática dos direitos das pessoas com deficiência, as mudanças conceituais e na forma como a questão foi tratada em cada momento histórico, as influências deixadas por cada período e que permanecem interferindo na forma como a deficiência é tratada no contexto atual.

A realização da pesquisa de campo constitui-se de duas fases, uma primeira fase, de caráter exploratório para levantamento de informações referentes às pessoas com deficiência, em seguida, especificamente, das crianças e adolescentes com deficiência, a fim identificar o quantitativo e elementos do perfil desses sujeitos no município de São Sebastião.

A segunda fase foi pautada pela análise documental e a realização de entrevistas semiestruturadas, a fim de investigar como se dá a garantia e alcance aos direitos por meio do acesso aos serviços de saúde da rede municipal. Dessa forma, as duas fases da pesquisa, buscaram compor os dados necessários ao alcance do objetivo.

A pesquisa foi orientada pelo método dialético-crítico, por se tratar de um referencial que busca a essência dos fenômenos inscritos em determinado contexto sócio histórico, preocupando-se em desvendar como eles se manifestam para além da aparência. A partir da compreensão de que os fenômenos anotados são parte integrante, a trajetória analítica buscou- se partir das determinações singulares às genéricas, a fim de relacionar as partes, onde cada qual já se compõe de totalidades, para chegar à totalidade dos fenômenos sociais que se influenciam mutuamente.

O tipo de pesquisa utilizada foi de caráter qualitativo, uma vez que, a realização da pesquisa considera a possibilidade de interação entre os sujeitos da pesquisa em todo o processo, por meio de uma construção coletiva.

A análise dos resultados obtidos na etapa das entrevistas, lançou mão dos dados de fontes primárias que sustentam o corpo categorial transcrito no decorrer da pesquisa, que lidam

com a história do ser social, com a produção e reprodução da vida. Utilizamos os depoimentos, pois as entrevistas realçam e dão corpo às discussões levantadas durante o percurso da investigação conceitual.

No contexto acadêmico, o conceito de deficiência tem a predominância de dois modelos, de um lado o modelo biomédico da deficiência, centrado no corpo, na ideia classificatória das lesões e impedimentos corporais considerados indesejados se comparados a um ideal de normalidade e de outro lado, as mudanças construídas pelos teóricos do chamado modelo social da deficiência, que propõe uma ampliação do olhar, não centrada no sujeito, com uma lesão que causa uma limitação, mas que discute a partir das diversas barreiras sociais impostas a este grupo de pessoas (DINIZ, 2007, PICCOLO, 2015).

O modelo social da deficiência proposto pelos “teóricos do modelo social”, grupo formado por professores de sociologia, todos com deficiência física, em Londres no início dos anos 1980 no Departamento de Sociologia e Política da Leeds University teve como objetivo promover mudanças sobre como a deficiência, compreendida até aquele momento da história como anormalidade, incapacidade, limitação, tragédia pessoal, castigo divino, como aquele capaz de “ressaltar a deficiência como um produto histórico gestado pela opressão secular alavancada nos ditames capitalistas” (PICCOLO, 2015, p. 25).

Nesse sentido, o modelo social passa a influenciar o conceito de deficiência, atualmente adotado para a construção de documentos legais e de políticas públicas nos níveis nacionais e internacionais. Possibilita mudanças importantes, como por exemplo, a revisão realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS da Classificação Internacional de Lesão, Deficiência e Desvantagem de 1980, que foi substituída pela legislação vigente Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF) de 2001. A CIF representa, portando, um avanço em comparação ao instrumento de classificação anteriormente adotado nas avaliações de funcionalidades das pessoas com deficiência (DINIZ, 2007).

A Lei Brasileira de inclusão define pessoa com deficiência, semelhante ao conceito presente na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas – ONU, em seu artigo 2°, como:

Aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015).

A definição expressa a participação “em igualdade de condições”, o que pressupõe a garantia do respeito a todas as diferenças e o atendimento às necessidades específicas apresentadas por cada sujeito em nossa sociedade. Tal garantia não pode ser ofertada em uma