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Da forma como foram elaboradas, com bases nas propostas das agências multilaterais, essas políticas educacionais para formação de professores segmentam, no ensino superior, características de ensino utilitarista e preparação apenas para o mercado de trabalho. A universidade acaba por fragilizar a formação e a criação do pensamento, desconstituindo a curiosidade e a admiração que levam à descoberta do novo. Quando não abre espaço ao debate político, a universidade não contribui, na dimensão que lhe é possível, com a formação política dos educadores. É no debate, nas conversas, nas socializações discursivas que Arendt (1990) chamou de senso comum, que nos tornamos mais humanos e mais políticos. A própria fala, expressão singular, é participação política e indício de interdisciplinaridade.

Entendemos que é possível pensar e possibilitar uma formação política balizada pela perspectiva interdisciplinar, tanto nos cursos de licenciaturas, quanto na educação básica, socializando conhecimento e saberes.

A interdisciplinaridade se deixa pensar, não apenas na sua faceta cognitiva – sensibilidade à complexidade, capacidade para procurar mecanismos comuns, atenção a estruturas profundas que possam articular o que aparentemente não é articulável – mas também em termos de atitude – curiosidade, abertura de espírito, gosto pela colaboração, pela cooperação, pelo trabalho em comum. (Pombo, 2005, p. 13)

Para a universidade o desafio é articular no tripé formativo – ensino, pesquisa e extensão – alternativas que possibilitem o compromisso com a realidade social e política. Para os cursos de licenciatura, o desafio é desenvolver em seus projetos político-pedagógicos, práticas curriculares e projetos de pesquisa e extensão, numa perspectiva de formação humana, ética e política.

Um dos caminhos, que é um tanto desafiador e necessário aos professores, é vencer as barreiras para entender e atuar sobre o conhecimento de forma não tão compartimentalizada. Esse movimento, que acompanha o movimento próprio dos saberes e conhecimentos, já imprime na formação docente características de uma formação política. Entendemos que a própria atitude interdisciplinar na prática docente já é um exercício da ação política, pois pressupõe um projeto coletivo, com preocupações éticas e sociais.

Referências

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Introdução

Questões sobre ensino e como ensinar vem conduzindo os educadores a reflexões cada vez mais profundas sobre as finalidades da educação, seus valores e intenções. Com as inovações tecnológicas, aberturas econômicas e quebra de barreiras, observa-se um grande incremento de ideias e pensamentos, culminando em grande aporte de material humano e tecnológico em todos os continentes. Em vista deste processo irreversível, todos os setores da sociedade devem se atualizar e acompanhar as tendências deste novo milênio.

Diante dessa tendência, a comunidade vem cobrando das instituições de ensino a definição do perfil dos profissionais que teremos no mercado de trabalho. Este é um dos grandes desafios a serem superados. Somente a participação de todos garantirá a construção de um Curso Superior que tenha como característica ser um espaço educativo com compromissos políticos, econômicos e sociais que atendam as demandas da sociedade atual.

Um curso que atenda a essas demandas terá maiores chances de sobreviver em um meio no qual todos estão sendo continuamente avaliados. As instituições de ensino são periodicamente examinadas pelo Ministério de Educação (MEC) e Secretarias de Educação. Tudo que está ligado ao bom andamento do curso e a excelência dos profissionais que são formados é analisado. As instituições precisam passar por profundas transformações em suas práticas e cultura para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

Essas transformações atingem também o profissional da educação, que precisa de competência do conhecimento, de sensibilidade ética e de consciência política para superar esses desafios. Sendo assim, o trabalho que o docente desenvolve deve ser repensado periodicamente.

A proposta é que se ensine a física mostrando sua importância na tomada de decisões de um agrônomo, sem perder seu caráter formal e em acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Engenharia, nas quais uma das competências e habilidades exigidas deve ser a capacitação para aplicar

Uma adaptação curricular de física