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Os projetos de trabalho: o repensar da escola

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

John Dewey, filósofo americano da corrente do pragmatismo, defendeu a idéia de que a Filosofia, a Política e a Educação sempre estarão juntas na construção da democracia. Assim, ele destacava que a educação é intencional, afirmando que:

A educação é uma constante

reorganização ou reconstrução da experiência.

Exercício 1:

Dewey coloca a seguinte a frase que merece uma análise bem profunda a respeito do modelo educacional:

“Cabe ao professor não simplesmente o

adestramento dos indivíduos, mas sim a formação da vida social justa”.

Caro aluno, nesta frase Dewey coloca uma questão ideológica atualizada que chega aos nossos dias. A discussão se devemos implantar:

a)uma educação geral, humanista e com bases sólidas no ensino fundamental e médio (demorada); ou

b) uma educação utilitária, agilizada voltada ao mercado de trabalho , está em pauta.

A educação ‘funcional” caracterizada pela visão para o mercado de trabalho é justificada como de necessidade absoluta para evitar desperdícios de recursos educacionais e de anos de escolas por parte dos alunos para aprenderem conhecimentos que não serão úteis na sua vida profissional.

Por outro lado, a educação “intencional” é vista como necessária em função do aluno ter o direito a refletir e criticar até a sociedade em que está inserido. Alegam os defensores deste modelo que educação funcional leva a perpetuação e reprodução dos interesses das classes dominantes, consolidando as relações de classes existentes.

A experiência é fundamental para a consolidação da democracia, pois a partir dela, continuamente é que será reorganizado e reconstruído o próprio conhecimento. Assim, para uma educação significativa são importantes: a continuidade e a interação entre as condições objetivas, subjetivas e sociais.

Pedagogias do Século XX (Dewey, p. 51) diz

que a educação intencional deve ter três etapas:

- As matérias de ensino manifestam-se na familiaridade e no trato com aquilo que as crianças trazem consigo.

- Essa base material será ampliada e

aprofundada mediante o saber

transmitido.

- Integrar o que se ampliou em um conjunto ordenado de forma lógica e racional.

O próprio livro diz que tais etapas só atendem as necessidades individuais, enquanto o plano de estudo deve contemplar as necessidades sociais. Ou seja, as experiências escolhidas devem vir de grupos sociais mais amplos.

O ponto de partida será sempre a experiência visto que nenhuma criança chega à escola em branco. Um dos erros mais sério quando se pensa na aprendizagem, é que muitos só acreditam na educação formal como processo dessa natureza, ignorando que a vida humana é rica e o aprender ocorre a toda hora.

Diante do exposto, convidamos o aluno a analisar e a pensar:

1.as diferenças entre educação e adestramento; 2.as aplicações nos meios empresariais dessas filosofias. Como elas poderiam acontecer;

3.em que momento deve ser trabalhado a educação profissional, pois a nosso ver ela só deveria ocorrer após a formação básica do indivíduo.

A etapa seguinte é a utilização de um método de ensino, que leve o aluno a buscar o conhecimento sem dar diretamente as soluções prontas. Ele irá pesquisar, refletir e criticar, ou seja, construirá por si mesmo o seu conhecimento.

Aqui, é importante deixar claro que o processo educacional não está centralizado no professor cuja relação com a administração pode levá-lo a ser um repetidor de ordens, mas no próprio aluno e na iniciativa intelectual, na discussão e na síntese da pesquisa incentivada pelo professor.

Da obra “Pedagogias do Século XX” tiramos um trecho que representa o valor do trabalho de Dewey:

O baiano Anísio Teixeira, educador e um dos signatários do “Manifesto dos Pioneiros” da Educação Nova (1932), estudou nos Estados Unidos com John Dewey, e foi responsável por experiências do pragmatismo no Brasil. Exerceu o cargo de diretor- geral da Instrução Pública do Distrito Federal onde tentou implantar uma “nova filosofia da educação”. Segundo Ghiraldelli Junior (2003):

“Suas críticas ao sistema educacional e à formação docente nunca foram suficientemente levadas em conta. Apesar de tanta incompreensão (ou negligência?), expressões como salas de aulas abertas ou escolas sem muros, aprendizagem cooperativa, grupos não-graduados, currículo social e centrado em problemas, linguagem total, educação experimental e tantas outras que continuam sendo patrimônio das vanguardas educativas devem-se ao rigoroso trabalho desse intelectual comprometido, a quem, atualmente, filósofos e sociólogos como Habermas, Rorty e Bourdieu parecem mais empenhados em resgatar do que os próprios educadores” (p.59)

“Nos anos de 1930, essa “nova filosofia de educação” de Anísio assentava-se sobre dois pilares básicos: a escola deveria preparar técnicos, a saber: homens capazes de se integrar rapidamente na civili-

Para navegar

Sites importantes sobre Jonh Dewey: 1.Center for Dewey Studies as Southern Illinois University: www.siu.edu/~dewe yctr/ 2.Northeastern Illinois University: www.neiu.edu/~ccu nning/dewey.htm 3.J.Dewey Project on Progressive Education of the University of Vermont www.uvm.edu/~dew ey 4.National Society for Experiencial Education www.nsee.org/found .htm 5. Pragmatismo: www.pragmatism.or g Dica de leitura O aprofundamento sobre a importância de Anísio Teixeira para a educação brasileira pode ser obtida na leitura: “Anísio Teixeira - o nosso pragmatista do século XX fazendo filosofia no início do século XXI” de Paulo Ghiraldelli”, publicado na Revista Teias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no ano 2000.

Este artigo destaca a importância do pensamento de Anísio Teixeira no início deste século e sua

contemporaneidade. Vale a pena ler.

Atualmente, a obra de Fernando Hernández, professor titular da Universidade de Barcelona, é fundamental e básica para se trabalhara construção da identidade docente e a formação pedagógica e cultural. Assim, os Projetos de Trabalho estão revigorados e são propostas para uma educação alternativa, inclusive e principalmente, para a área empresarial.

CONTEXTO

O Novo Dicionário Folha Aurélio define a palavra contexto como:

Esta definição nos permite inserir que o mundo globalizado em que vivemos tem novos contextos, pois a sociedade está sob o fenômeno da mundialização e da pós-modernidade, e vem sofrendo grandes mudanças com isso. E quais seriam estes novos contextos?

O primeiro deles se refere às mudanças da própria sociedade.

O segundo contexto é a velocidade em que ocorrem tais mudanças, pois muitas vezes não há tempo para assimilação de sua ocorrência, e com isto existe a dificuldade de soluções e adequações imediata aos problemas provenientes. Um exemplo simples “1. Encadeamento das idéias dum escrito. 2. V.contextura. 3. Aquilo que constitui o texto no seu todo; composição. 4. Conjunto, todo, totalidade. 5. Argumento, assunto.

Contextura: ligação entre as partes de um todo,

encadeamento, contexto” (FERREIRA, 1995: 173) zação baseada na ciência e tecnologia (uma escola desse tipo só poderia ser construída pelo Estado); a escola deveria educar para a democracia, para a formação do cidadão, colocar as pessoas das mais diversas origens em igualdade de condições para ascenderem socialmente” (JUNIOR, 2003: 45).

Dica de leitura

Fernando Hernández As sugestões abaixo são obrigatórias para quem deseja conhecer, entender e aplicar os Projetos de Trabalho em sala de aula ou de treinamento: 1. “Transgressão e Mudança na Educação: os Projetos de Trabalho”; e 2. “A Organização do Currículo por Projeto de Trabalho: O Conhecimento é um Caleidoscópio”. Estas obras foram publicadas no Brasil pela Artmed. Para navegar Para se aprofundar na temática da mundialização recomendamos que você acesse o artigo do site abaixo: http://www.dominus 3000.hpg.ig.com.br/ Apoio/apo-001.htm

acontece quando uma fábrica se transfere de um país para outro, deixando um rastro de desemprego, ou quando um processo de fabricação é “robotizado” gerando dispensa de funcionários, sem que este pessoal despedido tenha condições de prontamente ser requalificado profissionalmente por falta de escolaridade mínima. Sérios problemas sociais advêm dessas situações.

O terceiro contexto implica no avanço

científico-tecnológico, tendo em vista que as

inovações tecnológicas e os avanços da ciência poucos terão condições de usufruir ou de continuar trabalhando com eles. Um exemplo simples é o automóvel. Se nós pertencemos a uma classe social média, iremos afirmar que o carro é uma exigência do mundo moderno e que sem ele, o homem não vive. Por outro lado, a grande maioria da população do mundo não tem automóvel, e, obviamente, não sente a falta do mesmo.

O quarto contexto vivido pelo homem pós- moderno corresponde ao problema ambiental. A humanidade sabe da necessidade de preservar a natureza, a água e outros meios naturais sob pena do seu próprio desaparecimento. A Educação Ambiental toma uma importância que jamais teve na história do homem.

As mudanças de paradigmas e as crises de valores, crenças e princípios se constituem em elementos essenciais para entender o mundo globalizado devido às mudanças citadas anteriormente.

Logicamente, a educação não pode continuar estruturalmente tradicional e conservadora, bem como a formação do homem para o trabalho não deve permanecer um adestramento com uma escolaridade mínima, conforme ocorreu em todo o século XX. Os

estudos de Taylor e os de Ford marcaram essencialmente todo o processo produtivo e de educação do século anterior, mas agora têm que ser repensados.

O trabalho estava sistematizado para um pequeno grupo pensar, planejar, programar e coordenar a execução, enquanto a grande maioria apenas realizava rotineiramente e mecanicamente as tarefas. Assim, a necessidade das empresas e organizações era de homens para o trabalho adestrados, sem iniciativa, sem criativa, passivos, e cumpridores “cegamente” das ordens. Os homens

alienados, com consciência ingênua, eram os tipos

característicos para o próprio processo produtivo.

Esclarecimento sobre Alienação

Paulo Freire em sua obra “Educação e Mudança” editada pela Paz e Terra, na página 40, apresentam as seguintes características para uma Consciência Ingênua:

1. Revela certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é , encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na casualidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais.

2. Há também uma tendência a considerar que o passado foi melhor. Por exemplo: os pais que se queixam da conduta dos filhos, comparando-a ao que faziam quando jovens.

3.Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. Esta tendência pode levar a uma consciência fanática.

4. Subestima o homem simples.

5.É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é um jogo de palavras. Suas explicações são mágicas. 6. É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentos frágeis. É polêmico, não pretende esclarecer. Sua discussão é feita mais de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de impô-la e procurar meios históricos para convencer com suas idéias. É curioso ver como os ouvintes se deixam levar pela manha, pelos gestos e pelo palavreado. Trata de brigar mais, para ganhar mais.

A partir do momento que os processos produtivos passam a exigir uma escolaridade mais elevada e uma postura para o trabalhador diferente, é fundamental que o processo educacional sofra mudanças. E, a metodologia a ser aplicada não pode mais permanecer conservadora, tradicional, apenas preocupada em reproduzir um tipo de trabalhador alienado. Assim, na época da produção flexível, sob a égide do toyotismo (ver caixa de texto no 2º capítulo), a formação humana e profissional não pode continuar a mesma, pois excluirá um enorme contingente de pessoas do mundo do trabalho.

O trabalhador para o século XXI, segundo vários autores e de acordo com o exposto, deve ter o seguinte perfil:

 Dominar a linguagem técnica;  Ser criativo;

 Ter iniciativa;

 Organizar seu trabalho;

 Utilizar equipamentos e materiais sofisticados;

 Trabalhar em equipes;

 Comunicar-se bem de forma oral e escrita;  Ser versátil funcionalmente;

 Adquirir e processar novas informações;  Observar, interpretar e tomar decisões;  Pensar sempre antes de agir

Este trabalhador do futuro definido por Peter Drucker em “Administrando para o Futuro” e por Davidow e Malone em “A Corporação Virtual” não será formado pela tradicional educação profissional,

7. Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo.

8. Apresenta fortes compreensões mágicas. 9. Diz que a realidade é estática e não mutável.

Dica do professor

Agora que você já possui uma definição para alienação, procure fazer a sua análise. Tente observar em seu ambiente de trabalho, na sua escola etc... as pessoas que procedem desta maneira. Sintetize os fatos observados e a situação, de modo que

identifique como são obtidas soluções para diversos problemas complexos.

e é nesse momento que a utilização da Pedagogia de Projeto se torna o modelo mais adequado.