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Estudo das questões relativas à experiência e à prática em sala de aula; dos processos e comportamentos planejados e método de ensino; dos instrumentos mediação do ensino.

Objetivo

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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:

 Identificar as questões relativas à experiência e à prática em sala de aula;

 Estruturar os processos e comportamentos planejados e método de ensino;

Introdução

Tradicionalmente concebemos as “Metodologias de ensino” como práticas que se dão em sala de aula. Em outras palavras, sugestões para atividades de aprendizagem na sala de aula.

Entendemos, no entanto, que o processo ensino aprendizagem se dá em diversos âmbitos, e a sala de aula é apenas um destes ambientes, mas não o único. A construção de conhecimento, numa perspectiva contemporânea, se realiza em rede: rede que articula pessoas (dentro e fora do ambiente institucional educativo) e saberes (científicos e não científicos). Nesta perspectiva, ensinar é uma atividade ampla que implica, sobretudo, em mobilizar os modos de e conhecer dos educandos, implicando-os na dinâmica de produção de conhecimentos dentro e fora da sala de aula.

Afirma Ramal (2002):

Vivemos numa era em que o

conhecimento assume novas

configurações. Ele se modifica

permanentemente, sendo atualizado

dia-a-dia pelas descobertas das

ciências e por essa inteligência coletiva que produz saberes em conjunto, na grande rede do ciberespaço. A memória da humanidade já não está confinada nas bibliotecas, mas sim em

contínua reconstrução. Nesse

contexto, a capacidade de gerenciar a informação se torna, muitas vezes, a competência mais valiosa.

(RAMAL, Andrea Cecilia. “Pedagogo: a profissão do momento”. Rio de Janeiro: Gazeta Mercantil, 6 de março de 2002.)

A Educação tradicional se apóia na oralidade e na textualidade. Modos ainda fundamentais e sempre referenciais para a produção de conhecimento. No

Quer saber mais? Andrea Ramal é Doutora em educação pela PUC/Rio. Possui livros e artigos na área de Tecnologias na Educação e neste contexto cibercultural discute o papel do educador na sociedade contemporânea. Veja os artigos de sua autoria disponíveis no site de sua empresa www.instructionalde sign.com.br

entanto, a prática educativa dialoga com linguagens comunicativas que atualmente se utilizam da síntese de uma série de elementos: combinação de sons, imagens e textos. Neste contexto, a educação é convidada a rever seus aspectos metodológicos, tanto pelo desenvolvimento tecnológico que atinge diversos setores da sociedade, quanto pelos modos de conhecer estimulados pela cultura contemporânea e tradicionalmente excluídos do ambiente educativo.

As possibilidades comunicativas e o acesso às informações favorecem a formação de equipes multidisciplinares de professores e alunos, orientadas para a elaboração de projetos que visem à superação de desafios ao conhecimento; equipes preocupadas com a articulação do ensino com a realidade em que os alunos se encontram, procurando a melhor compreensão dos problemas e das situações encontradas nos ambientes em que vivem ou no contexto social geral da época em que vivemos.

Para isso, o ensino se transforma. Segundo Kenski (2003), preocupados em superar desafios e ir além, alunos e professores buscam informações nos diversos ambientes e meios tecnológicos e as comparam com a realidade em que vivem. Aproveitam os momentos de encontros nos espaços tradicionais das aulas, não mais para receber informações, mas para analisar e discutir os dados coletados visando ir além da informação, domá-las, orientá-las para suas reais necessidades de pesquisa e aprendizagem. Informações não mais compreendidas como verdades absolutas, mas analisadas criticamente como contribuições para a construção coletiva dos conhecimentos que irão auxiliar a diferenciada aprendizagem de cada um.

No ensino superior estas questões se colocam se maneira ainda mais intensa. O ambiente universitário

Dica do professor Veja se conhece esta história: Um homem de repente acorda. Olha o entorno e percebe que tudo está completamente diferente! Onde será que ele está? O que aconteceu?

Aos poucos, depois de alguns

reconhecimentos, percebe que dormiu durante muitos anos, na verdade décadas, séculos! Não identifica quase nada ao seu entorno: quando chega em hospitais, clubes, empresas, tudo está completamente mudado! Os recursos se transformaram muito, e ele se impressiona com tantas mudanças. Mas ele resolve então, atordoado, procurar uma escola... - Ufa! (suspira o homem) Aqui está tudo como era antes... exatamente como em minha época! Dica do professor Enquanto a universidade é o foco das inovações científicas, ela é por vezes um verdadeiro “museu” de práticas pedagógicas!!!

deve ser provocador de pesquisa, questionamento, perguntas que fomentem a busca de aprofundamento e desenvolvimento intelectual. Sendo assim, romper com o modelo didático da reprodução é um desafio do ensino no nível superior.

No entanto, não é a linguagem que define esta ruptura. Uma pedagogia não reprodutivista é uma postura, uma atitude envolta em um campo de valores e práticas. Sendo assim, todos os procedimentos de ensino podem ser investidos desta atitude: desde a aula expositiva até as redes de aprendizagem colaborativa. Da mesma forma, metodologias aparentemente inovadoras podem servir de simples “maquiagem” de práticas tradicionais, monológicas e autoritárias. Por isso, a grande questão a ser desenvolvida no educador é o fortalecimento de seus valores sobre o processo ensino aprendizagem, o conjunto de intenções que orientam sua prática. Somente a partir desta atitude clara as diversas metodologias serão legitimamente modos de dinamizar a atitude cognitiva dos educandos e seus processos de aprendizagem.

Desta maneira, as metodologias de ensino serão aqui analisadas em dois âmbitos: práticas voltadas para o ambiente da sala de aula e linguagens educacionais que expandem o campo da construção de conhecimento para um ambiente de aprendizagem em rede.

Esperamos que esta última apostila da disciplina de Didática do Ensino Superior possa ser uma representação do que aqui estamos propondo: que a partir da leitura do texto apresentado você possa expandir sua pesquisa, criar conexões, quebrar o texto, rasgá-lo, como diz Pierre Lévy, para que você possa apossar-se dele e transcendê-lo, ultrapassá-lo,

misturando a ele sua “história”, seus interesses, seu desejo de ser educador.

A sala de aula na universidade

O professor universitário que quer mudar sua prática na sala de aula, evitando os problemas decorrentes de uma postura tradicional em relação ao ensino, encontra-se numa zona de transição de paradigmas. Segundo Castanho (apud Veiga e Castanho, 2000), principal ator na situação universitária, o professor é um sujeito histórico, vive num contexto social e político que deve ser levado em conta para que se entendam suas ações. Afirma Castanho (apud Veiga e Castanho, 2000:87):

Pierre Levy

“O que acontece quando lemos ou escutamos um texto? Em primeiro lugar, o texto é perfurado, ocultado, permeado de brancos. São as palavras, os pedaços de frases que não ouvimos (não só no sentido perceptivo, mas também intelectual do termo). São os fragmentos de texto os quais não compreendemos, não tomamos em conjunto, não reunimos uns aos outros, negligenciamos. Paradoxalmente, ler, escutar, é começar por negligenciar, por não ler ou desligar o texto.

Ao mesmo tempo em que rasgamos o texto pela leitura, nós o ferimos. Nós o recolocamos sobre ele mesmo. Nós relacionamos, umas às outras, as passagens que se correspondem. Os pedaços dispersos sobre a superfície das páginas ou na linearidade do discurso, nós os costuramos em conjunto: ler um texto é reencontrar os gestos textuais que lhe deram seu nome.”

Tecnologias intelectuais e modos de conhecer

– Pierre Levy Disponível em

http://empresa.portoweb.com.br/pierrelevy/index2. html

Urge pensar numa nova forma de ensinar e aprender, que inclua a ousadia de inovar as práticas de sala de aula, de trilhar caminhos inseguros, expondo-se, correndo riscos, não se apegando ao poder docente, com medo de dividi-lo com os alunos e também de desvencilhar-se da racionalidade única e pôr em ação outras habilidades que não as cogniti-

Pierre Levy Dica do professor Experimentar o novo dá insegurança, medo, sensação de risco.

Começar a dar aulas na universidade é sempre assim. No entanto, este “frio na espinha” indica que estamos nos superando. Quando o professor começa a dar aula sem se arriscar ele deixa de

experimentar o novo!E isso é fatal na prática docente.

A aula deve ser entendida como espaço para a dúvida, leitura, interpretação de textos, trabalhos em grupo, poesias, músicas, observações, vídeos. No entanto, uma das grandes dificuldades para o professor em experimentar estes diversos procedimentos é que em sua própria formação ele normalmente nunca as experimentou: nem no ensino básico, nem em sua formação superior. Aprendemos em salas de aula tradicionais, com pouca ou nenhuma inovação e criatividade. Atuar diferente deste “modelo” é difícil, pois tendemos a ser professores de acordo com os professores que tivemos. Praticar com outros procedimentos que nunca experimentamos é algo muito mais trabalhoso e raro. Normalmente replicamos propostas que fizeram conosco e com as quais nos identificamos. O mesmo se dá em sala de aula: quando vivenciamos uma experiência inovadora, tendemos a compartilhá-la com outros. Se não experimentamos nenhuma inovação, acabamos por nos manter praticando aquilo que já conhecemos e dominamos.

vas apenas. Pensar-se como participante do desvelamento do mundo e da construção de regras para viver com mais sabedoria e com mais prazer.

Percebemos assim que construir uma prática diferente das que experimentou exige do educador um exercício muito maior do que quando ele se contenta em reproduzir o que é já lhe é familiar. Sendo assim, mais uma vez destaca-se a posição ativa na escolha de valores e práticas por parte do educador. Apenas a partir desta escolha os procedimentos e metodologias de ensino podem ser conscientemente escolhidos e aplicados em sua sala de aula.

Analise o quadro abaixo e perceba a diferença de pressupostos da Educação, incluindo as funções de aluno e professor no “velho” e no “novo” paradigma em educação. A opção entre estes dois modelos de pressupostos é fundamental na escolha dos procedimentos de ensino.

Descreva neste quadro as metodologias de ensino que você vivenciou como aluno(a) na universidade. Classifique-as espontaneamente em “tradicionais” e “inovadoras”. Depois, procure analisar fazendo uma “porcentagem” totalmente informal: de todas as aulas que você experimentou em sua graduação, quantos “porcento” foram tradicionais e quantos foram inovadores. Metodologias Tradicionais Porcentagem: Metodologias Inovadoras Porcentagem:

Pressuposições do velho paradigma da Educação

Pressuposições do novo paradigma da Educação

Ênfase no conteúdo, adquirindo um conjunto de informações “corretas” de uma vez por todas

Ênfase em aprender a aprender, como fazer boas perguntas, prestar atenção às coisas certas, manter-se aberto aos novos conceitos e avaliá-los, ter acesso à informação. O que se “sabe” agora pode mudar. A importância do contexto O aprendizado como um produto, uma

meta

O aprendizado como um processo, uma jornada

Estrutura hierárquica e autoritária.

Recompensa o conformismo, desencoraja a divergência

Igualitária. Sinceridade e divergência permitidas. Alunos e professores vêem uns aos outros como pessoas, não como funções. Encoraja a autonomia

Prioridade para o desempenho Prioridade para a auto-imagem como geradora do desempenho

Desencorajamento de conjecturas e do pensamento divergente

Encorajamento de conjecturas e do pensamento divergente como parte do processo criativo

Ênfase no pensamento analítico e

linear Ênfase na confluência e fusão dos processos racionalistas, lineares com as estratégias holísticas não-lineares A educação é encarada como necessidade

social durante um certo período de tempo, com o objetivo de inculcar habilidades mínimas e treinar para o desempenho de determinado papel

A educação é vista como um processo que dura toda a vida, relacionado apenas tangencialmente com a escola

Aumento da confiança na tecnologia,

desumanização Tecnologia apropriada. O relacionamento humano entre professores e alunos é de fundamental importância

Burocraticamente determinado, resiste à

influência da comunidade Encorajamento à influência da comunidade Estrutura relativamente rígida, currículo

predeterminado Estrutura relativamente flexível. Crença em que há muitos caminhos para se ensinar determinado assunto

Adaptado do livro Amorim, Ana. Didática para o Ensino Superior, 1999.