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5. DIREITOS SOCIAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

5.2. Constituição de 1824

Essa Constituição116, outorgada em 25 de março de 1824, foi quase uma

peça de ficção. Embora com traços liberais, evidenciados pela declaração de direitos individuais, trazia em si o ranço do absolutismo, à vista do papel de proeminência conferido ao governante imperial, figura incontrastável, absoluta, acima da própria Constituição.117 Apesar de ter sido a Carta mais longeva da

história brasileira – vigorou por 67 anos – sua eficácia normativa foi diminuta,

116BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824). Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 20 mar. 2013. Esta Constituição estabeleceu (art. 179, itens 13 a 17), o princípio da igualdade como uma das suas bases normativas sustentadoras, garantindo a igualdade da lei para todos os cidadãos, “quer protegendo, quer castigando, e recompensando na proporção dos merecimentos de cada um; garantindo-se a acessibilidade dos cidadãos aos cargos públicos sem outra diferença que não fosse a dos talentos e virtudes de cada um; estabelecendo a abolição de todos os privilégios “que não forem essencial e inteiramente ligados aos cargos por utilidade pública e o foro privilegiado e as comissões especiais nas causas cíveis ou crimes, ressalvando-se as causas que, por sua natureza, pertencessem a juízos particulares e preceituando-se a obrigatória contribuição de todos para as despesas do Estado em proporção dos haveres de cada contribuinte”. ROCHA, Carmem Lucia Antunes. O princípio constitucional da igualdade, cit., p. 62.

117Para Elival da Silva Ramos, na Constituição de 1824, o controle político pertencia ao Imperador,

que no exercício indelegável do Poder Moderador, “...cabia manejar no bojo do processo legislativo (arts. 62 e 101, III), podendo recusar sanção aos projetos aprovados pelas duas Casas da Assembleia Geral, em formula genérica que abarcava, por certo, razões de inconstitucionalidade”. RAMOS, Elival da Silva. Perspectivas de evolução do controle de constitucionalidade no Brasil. 2005. Tese (Titular) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. p. 173-174.

tendo os direitos fundamentais por ela definidos alcançado um nível muito baixo de efetividade.

Tanto assim que, no que importa ao tema aqui versado – inclusão social da pessoa com deficiência por meio da tributação –, conquanto nossa Carta do Império consagrasse o direito à igualdade como um dos direitos fundamentais (art. 179, XIII), nem mesmo esse era minimamente observado, como claramente o revela o fato da convivência dessa normatividade constitucional com a realidade escravocrata praticada pela sociedade e tolerada pelo Estado. Se é verdade, de um lado, que a prática da escravidão não se baseava explicitamente no texto constitucional, não há como se negar que neste teve algum suporte implícito, à vista da distinção que a Carta fazia entre cidadãos “ingênuos” e “libertos” (art. 6.º, I), isso sem contar que o sistema eleitoral censitário (artigos 92 a 95) era inegavelmente excludente, o que não se conciliava com o proclamado princípio da igualdade. Portanto, seria incogitável que num cenário de precário reconhecimento de direitos tão fundamentais quanto à própria liberdade, a Carta Constitucional se preocupasse com direitos de outra geração relativos a algum grupo vulnerável quanto o das pessoas com deficiência.

5.3. Constituição de 1891

Findo o regime monárquico, por meio do Decreto nº 01, de 15 de novembro de 1889, foi instaurada a “República dos Estados Unidos do Brasil”118, sobrevindo,

em 24 de fevereiro de 1891, nossa primeira Constituição republicana, sobre a qual pontuou Celso Bastos: “o Brasil implanta, de forma definitiva tanto a Federação quanto a República. Por esta última, obviam-se as desigualdades oriundas da hereditariedade, as distinções jurídicas quanto ao status das pessoas, as autoridades tornam-se representativas do povo e investidas de mandato por prazo certo”.119

118BRASIL. Decreto 1, de 15 de novembro de 1889. Disponível em:

<http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=91696>. Acesso em: 20 mar. 2013.

Essa Carta republicana consagrou o direito de igualdade, estabelecendo em seu art. 72, § 2º que “todos são iguais perante a lei”.120 O preceito, porém, não

passava de mera retórica, como de resto todos os demais direitos constitucionais, o que levou Laurentino Gomes a considerar, no seu terceiro livro da trilogia 1808, 1822, 1889, que a nova realidade normativa instaurada pela primeira Constituição Republicana muito pouco se diferenciava daquela vivenciada no regime proscrito.

“No fundo, o novo sistema era muito semelhante ao dos velhos tempos da Monarquia. Em vez de um imperador vitalício, governava o país um presidente da República eleito ou reeleito a cada quatro anos, mas a diferença era apenas nominal e de aparência. Os agentes mudavam de nome, mas os papéis permaneciam os mesmos. No lugar da antiga aristocracia escravagista do açúcar e do café, figuravam os grandes fazendeiros do oeste paulista e de Minas Gerais. Onde antes havia barões e viscondes, entravam os caciques políticos locais, muitos deles, curiosamente, antigos coronéis da Guarda Nacional, dando origem à expressão “coronelismo’”.121

E fechou Laurentino Gomes com uma frase de Raymundo Faoro que reflete muitas outras passagens históricas do País: “A República, depois de dez anos de tropeços, descarta-se, como o Império (...), do mais sedicioso e anárquico de seus componentes: o povo”.122 Vale dizer, sem mesmo a garantia de

direitos fundamentais básicos, que só nominalmente eram reconhecidos, não havia proteção a qualquer dos direitos sociais, tampouco ao direito de inclusão social das pessoas com deficiência, e mesmo quanto ao direito à igualdade, tratava-se de mero reconhecimento retórico. À tributação, até então meramente arrecadatória, não se reservava o papel nobre da extrafiscalidade.123

120Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 2º - Todos são iguais perante a lei. BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em: 19 mar. 2013.

121GOMES, Laurentino. 1889. São Paulo: Globo Livros, 2013. p. 379-380.

122FAORO, Raimundo. Os donos do poder, apud GOMES, Laurentino. op. cit., p. 380.

123Sobre a extrafiscalidade, diz Luciano Camargos: “Não é o tributo que é extrafiscal. A

extrafiscalidade se perfaz com uma série de medidas que o legislador toma como elemento de composição do tributo, mexendo no sistema de alíquotas, mexendo na base imponível, outorgando isenções. Essas são medidas que servem à extrafiscalidade, porque poderíamos perguntar: será o imposto de renda um tributo extrafiscal? Ninguém saberia responder porque o imposto de renda, às vezes é usado no sentido extrafiscal. A verdade é que, a rigor, não existe tributo fiscal ou extrafiscal. Existem medidas de caráter extrafiscal, tomadas como elemento de composição da figura tributária.” CAMARGOS, Luciano Dias Bicalho. O imposto territorial rural e a função social da propriedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 179.

A tributação de então tão somente cumpria, como observara Raimundo Bezerra Falcão, o papel de “abastecer o erário dos recursos necessários aos gastos indispensáveis – ou, às vezes, de gastos dispensáveis. Essa era a tributação de objetivos apenas fiscais”.124 O máximo que se permitia era a

distinção entre finanças ordinárias e extraordinárias, “atendo-se as primeiras à cobertura dos gastos com recursos patrimoniais ou originados dos impostos e as segundas ocupou-se do endividamento e de outras medidas monetárias ou fiscais”.125

Em suma, na vigência a Constituição de 1891, marcada por baixíssimo índice de efetividade normativa, os direitos sociais pouco avançaram, para dizer o mínimo.

5.4. Constituição de 1934

Emergindo o golpe de 1930 – a partir do qual a Constituição deixou praticamente de ter vigência, em razão da situação de anormalidade institucional então instaurada –, que rompeu com a chamada “política do café com leite”, pela qual São Paulo e Minas Gerais revezavam-se na chefia do Poder Central, sobreveio a chamada Revolução Constitucionalista de 1932, movimento promovido pelo Estado de São Paulo do qual resultou sua mais efêmera, porém promissora Constituição, a de 1934.126 Inspirada nas já aludidas Constituições do

México (1917), da Rússia (1918) e da Alemanha (1919), a Constituição de 1934 também consagrara o direito à igualdade (art. 113, I), e, revelando seu caráter social – como o daquelas em que se inspirou –, contava com dispositivo (art. 138) que, assegurando direitos sociais referentes ao amparo aos desvalidos, entre outros, pode ser considerado a gênese do direito à inclusão social da pessoa com deficiência.

Deveras, o art. 138 da Constituição Brasileira de 1934 determinava que a União, os Estados e os Municípios, respeitadas as leis respectivas, assegurassem amparo aos desvalidos e protegessem a juventude contra toda exploração, bem

124FALCÃO, Raimundo Bezerra. op. cit., p. 43. 125Id. Ibid., p. 43.

como contra o abandono físico, moral e intelectual e adotassem medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a mortalidade e a morbidade infantis.127 Porque de cunho programático, a norma revelou-se de baixa efetividade.

5.5. Constituição de 1937

Com semelhante índole programática, o preceito foi reproduzido pela Constituição128 outorgada de 1937 (art. 127)129, a despeito de sua manifesta insinceridade. Essa Carta, apelidada de “Polaca”130, não passava de mera peça

de ficção quanto aos direitos fundamentais. Vigorou durante o chamado “Estado Novo”, período inaugurado pelo golpe de 10 de novembro de 1937, perpetrado por Getúlio Vargas, que lhe permitiu dirigir o País de modo absolutista, voluntarista, conforme seu exclusivo e particular talante, até 29 de outubro de 1945, quando foi apeado do poder pelas mesmas Forças Armadas que nele o haviam investido. Sendo aquela Carta autoritária, de um modo geral, de parca significação quanto aos direitos fundamentais, dela pouco se poderia esperar quanto aos direitos de grupos vulneráveis, como o das pessoas com deficiência, o que não impede que se reconheça que, malgrado toda a inoperatividade constitucional, a legislação trabalhista e previdenciária de então representou expressivo avanço no que diz respeito à proteção dos menos favorecidos, fato que, reconheça-se, decorreu mais do populismo e do carisma do governante, Getúlio Vargas, do que da normatividade que a Constituição pudesse irradiar.

127Artigo 138 da CF/1934: “Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis

respectivas: a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar; b) estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis; g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais.”

128Constituição dos Estados unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937.

129Art. 127 da CF/1937: “A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias

especiais por parte do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral, intelectual ou físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole.”

5.6. Constituição de 1946

Originária da Constituinte eleita em 2 de dezembro de 1945 e instalada em 2 de fevereiro de 1946, a Constituição de 1946131, de índole inegavelmente

democrática que, igualmente, como todas as Cartas anteriores, reproduzia o princípio da igualdade (art. 141, § 1.º)132, trazia, no art. 157, XVI133, normas protetivas à maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte134, o que representou inegável ampliação dos direitos sociais. Essa ampliação, contudo, acabou não redundando em melhoria à qualidade de vida dos segmentos mais vulneráveis, o que acarretou até mesmo um clima de frustração e um sentimento de orfandade que acabou por alavancar a candidatura do então ditador que, em função do saudosismo das políticas trabalhistas e previdenciária do período decaído, se elegeu Presidente da República sob a nova Constituição Democrática. Nesse período, de grande turbulência interna, verificou-se pouco avanço quanto aos direitos sociais, de modo que nessa etapa de nosso constitucionalismo nada digno de nota pode ser ressaltado quanto à inclusão da pessoa com deficiência, máxime por meio do instrumento da tributação.

5.7. Constituição de 1967

A Constituição de 1967135, que veio a lume e vigorou durante período de

exceção, também consagrava, como todas as anteriores, o princípio da igualdade (art. 150, § 1.º).136 Nada, infelizmente, que excedesse o campo da mera retórica,

131Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946.

132CF/46: Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º Todos são iguais perante a lei.

133CF/46: Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes

preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;

134CF/46 – Art. 157, XVI: “A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos

seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores; XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;”

135Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967.

136CF/67: art. 150, § 1.º: A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção, de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. O preconceito de raça será punido pela lei.

de modo que a eficácia jurídica da Carta (outorgada), já tolhida pelos muitos Atos Institucionais expedidos durante sua vigência, que afastavam a aplicação de comandos constitucionais em determinadas situações ou relativamente a determinadas pessoas, em muito se aproximava de zero. Isso não impediu, contudo, que a EC 01/69137, ao cuidar da educação de excepcionais, trouxesse disposição sobre o tratamento diferenciado que deveria ser dispensado às pessoas com deficiência. Naquilo que pode ser considerado a primeira referência explícita de uma Constituição Brasileira ao tratamento diferenciado às pessoas com deficiência, então tratadas como “excepcionais” – embora o vocábulo estivesse impregnado de carga negativa, uma vez que se referia aos menos dotados, mas não aos mais dotados, para os quais o mesmo termo (“excepcionais”) também pudesse ser adequadamente empregado – o art. 175, § 4.º138, dispôs sobre a assistência à maternidade, à infância e à adolescência e sobre a educação de excepcionais139, muito embora a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 4024/61), vigente na época, já havia fixado diretrizes sobre a Educação Especial.

Embora infeliz o termo “excepcionais”, o novo dispositivo tinha a nítida pretensão protetiva de um grupo de pessoas desprotegidas, tanto que para Manoel Gonçalves Ferreira Filho, pessoas excepcionais a que se referia o dispositivo seriam aquelas que se encontram em situação de inferioridade em relação às pessoas ditas normais, por motivos físicos ou mentais pessoas.140

Com a mesma compreensão, no entender de Pontes de Miranda “excepcionais está, aí, por pessoas que, por faltas, ou defeitos físicos ou psíquicos, ou por

137Constituição da República Federativa do Brasil (Emenda Constitucional n.º 1, de 17 de outubro

de 1969).

138Art. 175... § 4.º Lei especial disporá sobre a assistência à maternidade, à infância e à

adolescência e sobre a educação de excepcionais.

139Art. 175. A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Podêres Públicos.

[...] § 4º Lei especial disporá sôbre a assistência à maternidade, à infância e à adolescência e sôbre a educação de excepcionais”. BRASIL. Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de

1969. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.htm>. Acesso em: 11 dez. 2012.

140FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira: Emenda

Constitucional n. 1, de 17-10-1969, com as alterações introduzidas pelas Emendas Constitucionais até a de n. 27, de 27-11-1985. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p. 702.

procedência anormal (nascido, por exemplo, em meio social perigoso), precisam de assistência”.141

Porém, como lembra Luiz Alberto David Araujo142, o maior avanço

experimentado até então pelo tratamento Constitucional à pessoa com deficiência deveu-se à Emenda Constitucional n.º 12, de 17 de outubro de 1978, que trouxe disposição que assegurava aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica, especialmente mediante a educação “especial” e gratuita e mediante a assistência, a reabilitação e a reinserção na vida econômica e social do país, assim como a proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho, público ou privado, e a salários, tendo, pela primeira vez, cuidado da previsão de eliminação de barreiras arquitetônicas, visto previa: I – educação especial e gratuita; II – assistência, reabilitação e inserção na vida econômica e social do país; III – proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho, ao serviço público e salários; IV – possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos.143

É certo que, com a visão de hoje, a Emenda Constitucional 12/78144 seria passível de críticas, principalmente pelo ensino segregado aos “excepcionais”, mas, quanto ao mais, o seu caráter inclusivo é inegável. Representou grande avanço, máxime considerando-se o período de trevas políticas e jurídicas que toldavam o país.

Contudo, como se verá a seguir, foi a Constituição de 1988 que empreendeu significativo avanço no trato da questão da inclusão da pessoa com deficiência.

141MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários à Constituição de 1967: com a

Emenda n. 1, de 1969. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1972. t. 6, p. 333.

142ARAUJO, Luiz Alberto David. Em busca de um conceito de pessoa com deficiência, cit., p. 12. 143“Artigo único - É assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica

especialmente mediante: I - educação especial e gratuita; II - assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do país; III- proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários; IV - possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos.” BRASIL. Emenda Constitucional n. 12, de 17 de outubro de 1978. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc12-78.htm>. Acesso em: 11 dez. 2012.

144EC 12/1978 – “Artigo único - É assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e

econômica especialmente mediante: I - educação especial e gratuita; II - assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do país; III - proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários; IV - possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos.”

5.8. Constituição de 1988

Conhecida como Constituição Cidadã, representou o nascer da democracia conforme expressou Ulysses Guimarães, o presidente da Assembleia Constituinte que a elaborou: “essa será a Constituição cidadã, porque recuperará como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria. Cidadão é o usuário de bens e serviços do desenvolvimento. Isso hoje não acontece com milhões de brasileiros, segregados nos guetos da perseguição social. Esta Constituição, o povo brasileiro me autoriza a proclamá-la, não ficará como bela estátua inacabada, mutilada ou profanada. O povo nos mandou aqui para fazê-la, não para ter medo. Viva a Constituição de 1988! Viva a vida que ela vai defender e semear!”.145

E, de fato, a Constituição de 1988, conquanto sobre ela, como referido por Gilmar Mendes em passagem aqui anteriormente registrada, não tenhamos ainda a plena perspectiva de tempo, à vista de sua ainda curta existência – mero um quarto de século, que é período que se pode considerar exíguo em termos de história constitucional – já podemos mais do que formular augúrios: podemos dela extrair preceitos prescritivos de alta efetividade para, a partir deles, exigir do Estado e da própria sociedade brasileiros a inclusão da pessoa com deficiência.

145Discurso proferido por Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, na