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3 PROGESTÃO: um cenário rico para se estudar a dinâmica da consultoria interna e o fenômeno da

ESCOLA DE GOVERNO COMISSÃO DIRETORA DE REFORMA DO ESTADO MONITORAMENTO E GERÊNCIA TÉC DE AVALIAÇÃO

6.1 O perfil do consultor interno

O perfil do consultor interno envolvido no PROGESTÃO reflete em parte os critérios estabelecidos na sua seleção (ver Seção 3.2.2.1 deste trabalho).

Todos os consultores internos (100%), sem exceção, tinham curso de pós-graduação. É importante lembrar que um dos critérios estabelecidos na seleção realizada pelo PROGESTÃO para a atividade de consultoria interna foi ter curso superior, assim como, a partir do segundo grupo selecionado, ter realizado o Curso de Pós-Graduação em Gestão Governamental (promovido pela Escola de Governo do Estado de Pernambuco), o que justifica o elevado grau de escolaridade do grupo.

Contudo, esse é um percentual bastante significativo se considerado que, segundo o Boletim Estatístico de Pessoal do Governo do Estado de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2002), de dezembro de 2002 – época de vigência do Programa – apenas 38% dos ativos com vínculo empregatício com o Governo de Pernambuco possuíam curso superior e destes apenas 5% possuíam algum tipo de pós-graduação e os 33% restantes apenas graduação. Está se falando, portanto, de um grupo de elite do Estado, em termos de formação.

Observou-se uma concentração das áreas de formação dos consultores (graduação e pós-graduação) nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Engenharia. Essa concentração pode ser explicada pela preferência, na seleção dos consultores internos, por graduados em administração de empresas, economistas, engenheiros e psicólogos (PERNAMBUCO, 2003 c)

O número elevado de consultores ocupando funções gratificadas de assessoramento ou gestão (87%), com um tempo médio na função de 3,6 anos (DP= 2,87), também reflete um

dos critérios definidos no Manual do Analista em Tecnologia de Gestão (PERNAMBUCO, 2003c) que é possuir experiência gerencial de no mínimo 2 anos.

A forte predominância de mulheres entre os consultores (77%) reflete o universo dos ATGs selecionados no PROGESTÃO, composto por 92 (79%) mulheres e 25 homens (21%). Em dezembro de 2002 as mulheres representavam 52% da força de trabalho da administração pública direta e indireta do Estado de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2002), ou seja, também havia no quadro de pessoal do Governo do Estado uma predominância feminina, mas não na mesma intensidade observada no universo e amostra desta pesquisa. Pode-se inferir, portanto, que parece haver um interesse maior entre as mulheres pela atividade de consultoria interna no serviço público.

Observa-se também, que se trata de um grupo maduro, tanto na questão da idade (média de 49 anos, DP=5,1, com uma concentração de 80% da amostra entre 41 e 55 anos), quanto na experiência no serviço público, com tempo médio de 21 anos de trabalho (DP=7,3).

Do total de respondentes, 50% já tinham experiência com consultoria, sendo que, destes 47% já haviam atuado como consultores externos e 33% como consultores internos, antes de integrarem o Programa. Este é um percentual relativamente alto, considerando os resultados de pesquisa9 realizada com 958 indivíduos de ambos os sexos, oriundos da Região Metropolitana do Recife, portadores de diploma de curso superior, onde se considerou como consultor aquele indivíduo que se denominasse consultor e afirmasse ter realizado uma ou mais atividades de consultoria empresarial ao longo dos 12 meses precedentes à entrevista. Aplicando-se essa definição, teve-se na amostra um total de 275 consultores (29%) e 683 não- consultores (71%).

A crença na proposta do Programa (100%), a busca por oportunidade de crescimento profissional e desenvolvimento pessoal (97%), o interesse em adquirir experiência em consultoria (93%) e o fato de terem sido convidados pelo Programa (70%) destacam-se como principais elementos motivadores para a adesão dos consultores ao PROGESTÃO.

Os consultores internos não podiam atuar como tal nos seus próprios órgãos de lotação, mas podiam integrar – como membros – os comitês internos desses órgãos. A crença no Programa de certa forma também pode ser observada pela atuação de 47% dos consultores como membros de comitê em seus órgãos de origem. O fato de a maioria dos consultores internos estar satisfeita com o seu trabalho no seu órgão de origem (30% muito satisfeitos e

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Pesquisa coordenada pelo Prof. Bruno Campello de Souza (ECCO/PROPAD/UFPE) no ano de 2004, ainda não publicada, com o objetivo de caracterizar a relação entre o consultor e as fontes de saber, contrastando o perfil de consultores e de não-consultores.

47% satisfeitos) corrobora, também, com a idéia de busca por desenvolvimento e de crença no Programa e não da intenção de sair de uma situação que não era satisfatória.

A Consultora C se declara, também, como um “agente contaminador” dessas novas práticas de gestão, explicando que convenceu o seu diretor dos benefícios que seriam gerados a partir do PES e integrou o comitê interno de sua instituição de origem, embora esta não estivesse entre as instituições relacionadas pelo Programa que necessariamente deveriam implantar o planejamento estratégico.

O tempo médio de participação no Programa foi de 4 anos (DP=1,5), com uma média de 4 intervenções por consultor (DP= 4,1). Observou-se que apenas 40% dos consultores que participaram deste estudo permaneceram no Programa até o seu término, em dezembro de 2006, os demais não continuaram por razões diversas (Seção 5.1.2.4).

Sobre os consultores internos, pode-se afirmar, portanto, que há no Estado um quadro de servidores com uma formação, maturidade, experiência, conhecimento da área pública e interesse no seu desenvolvimento e na melhoria do serviço público que não se pode ignorar e, sobretudo, que não se deve prescindir dele, considerando as dificuldades enfrentadas pelos governos, de forma geral, na gestão da máquina pública e na elaboração, condução e execução de políticas públicas. É importante lembrar também, que os princípios que orientam o modelo gerencial requerem, como inferem Cavalcanti et al (2002), uma maior qualificação dos servidores na medida em que exigem maior responsabilidade e maior autonomia dos mesmos no desenvolvimento dos trabalhos.

6.2 O perfil do gerente

Observou-se uma predominância do sexo feminino entre os gerentes entrevistados (67%) e um grau elevado de formação, com 76% dos gerentes com pós-graduação. A concentração da formação em Ciências Humanas (30%), Saúde (23%), Ciências Sociais Aplicadas (17%) reflete tanto a área de atuação das instituições que compõem a amostra (Seção 5.1.1), como o fato de a intervenção para elaboração do PES envolver as áreas de planejamento e recursos humanos dessas instituições, o que também justifica o elevado número de gerentes que integram as atividades-meio nos órgãos (77%).

O fato de 73% dos gerentes ocuparem algum tipo de função gratificada (funções de apoio, supervisão, assessoramento ou direção) pode ser um indicador da importância que a diretoria da instituição atribuiu ao trabalho do comitê interno, colocando pessoas que tinham

um destaque hierárquico no órgão, inclusive com tempo médio na função de 5 anos (DP=9,00). Destaca-se também o fato de 73% dos respondentes serem do quadro efetivo do Estado (vínculo estatutário e celetista), o que de certa forma garante que os conhecimentos apreendidos fiquem no Governo, contribuindo para se criar uma massa crítica nessa área.

A exemplo do que ocorreu com os consultores, trata-se de um grupo maduro, com idade média de 49 anos (DP= 7,7, com concentração de 53% dos respondentes entre 46 e 55 anos) e tempo médio no serviço público de 21 anos (DP=9,0). Observou-se que 50% dos gerentes tinham experiência como consultores e 77% já conheciam o modelo de consultoria interna, mostrando assim, familiaridade com essa atividade (inclusive 7% dos gerentes entrevistados atuaram como consultores internos do Programa).

Sobre os gerentes, portanto, pode-se afirmar também que se trata de um grupo bastante preparado, com experiência de serviço público, inclusive de consultoria, com níveis hierárquico e de formação diferenciados. Como afirmado anteriormente, o fato de serem indicadas para o comitê pessoas capacitadas, servidores do quadro de pessoal do Estado e ocupantes de cargo comissionado, parece mostrar que as diretorias das instituições pesquisadas vislumbraram a importância do trabalho que estava sendo realizado.