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3 PROGESTÃO: um cenário rico para se estudar a dinâmica da consultoria interna e o fenômeno da

3.2 PROGESTÃO: objetivos, sistemática e resultados

3.2.1 Objetivos do Programa

Como visto na subseção anterior, foi a partir da perspectiva de modernização da administração pública que o Governo do Estado de Pernambuco, sob a administração do governador Jarbas Vasconcelos, instituiu em outubro de 2000 o Programa Pernambucano de Modernização da Gestão Pública. Buscava-se a modernização das instituições de Pernambuco, através da introdução de instrumentos de gestão que possibilitassem a fixação de metas e de indicadores de desempenho, o monitoramento e a avaliação dos resultados, estabelecendo um modelo organizacional padronizado para a administração direta e a indireta (PERNAMBUCO, 2005b). O Programa assume, assim, um caráter estratégico na mudança da gestão pública.

Entre os objetivos específicos, o PROGESTÃO tinha:

X - capacitar, em articulação com a Escola de Governo, analistas em tecnologia de gestão, selecionados dentre técnicos do corpo funcional do Estado, com o objetivo de atuarem como consultores internos do programa junto às instituições, durante o período de vigência do programa

(PERNAMBUCO, 2003b, grifo nosso).

O PROGESTÃO estava vinculado à Secretaria de Administração e Reforma do Estado (SARE), atuando de forma matricial em relação às demais secretarias do Governo.

As primeiras intervenções foram realizadas em 2001, com a adesão voluntária dos órgãos. A partir de abril de 2003, com a regulamentação do PROGESTÃO (PERNAMBUCO, 2003b), a adesão passou a ser obrigatória. O artigo 66 da Lei Complementar 49 (PERNAMBUCO, 2003a) versava sobre a obrigatoriedade dos órgãos da administração direta e indireta do Estado assinarem, em um prazo não superior a doze meses, termos de desempenho e contratos de gestão. Determinava ainda, que os indicadores de desempenho fossem frutos de processo de planejamento estratégico e que os resultados fossem monitorados. Pernambuco tornou-se assim, o Estado brasileiro pioneiro na adoção da contratualização de forma obrigatória.

3.2.2 A consultoria interna no contexto do PROGESTÃO

3.2.2.1 Os consultores internos

Com o objetivo de operacionalizar o PROGESTÃO, o Governo do Estado optou por utilizar técnicos do seu próprio quadro funcional. Capacitados para atuarem como consultores internos, servidores públicos estaduais introduziriam, através de intervenções, o processo de formulação do planejamento estratégico das instituições da administração direta e indireta do Estado com um horizonte de médio prazo (4 anos), culminando na assinatura de termos de desempenho e contratos de gestão, respectivamente (PERNAMBUCO, 2003b, 2003c). Inicialmente, foi priorizado o processo de contratualização das 27 instituições da administração indireta, por serem as executoras das políticas públicas. Enquanto isso, se procurou avançar na formulação dos planos estratégicos da administração direta (CRUZ, 2006b).

O primeiro grupo de consultores internos, denominados Analistas em Tecnologia de Gestão (ATG), foi selecionado em 2001, pelo Instituto de Recursos Humanos (IRH), órgão vinculado à SARE. Esse grupo passou por uma capacitação que consistiu principalmente no Curso de Formação de Analista em Tecnologia de Gestão, com carga horária de 40 horas e conteúdo programático abrangendo temas como: mudança organizacional, os novos cenários da administração pública, analistas como intervenientes, princípios da gestão pública, contrato de gestão/pacto de resultado, ética e responsabilidade social nas organizações públicas e visão panorâmica do PROGESTÃO (PERNAMBUCO, 2006b). A capacitação envolveu, também, a participação em reuniões sistemáticas com a apresentação de cases e simulações para estudo e discussão (PERNAMBUCO, 2003f), e em vários outros cursos realizados pela Escola de Governo do Estado de Pernambuco, voltados para a temática da gestão pública.

No Manual do Analista em Tecnologia de Gestão (PERNAMBUCO, 2003c, p. 7), elaborado pelo corpo gerencial do PROGESTÃO, foram estabelecidos os seguintes critérios para que o servidor viesse a atuar como um ATG:

ser servidor ou empregado público da administração direta ou indireta do Poder Executivo do Estado de Pernambuco ou ocupante de cargo comissionado de nível superior, sem vínculo com o Estado; ser graduado, preferencialmente, nos cursos de administração de empresas, economia, engenharia ou psicologia; possuir diploma de graduação em curso reconhecido pelo MEC; ser titular de cargo efetivo de nível superior ou empregado público de nível superior da Administração Pública Estadual direta ou indireta, inclusive fundacional; possuir experiência comprovada na área de Planejamento Organizacional, e/ou na área de Gestão da Qualidade, e/ou na área de ensino ou facilitação de grupos; possuir

experiência gerencial comprovada, de no mínino 2 anos.

A partir de 2002, com a criação do Curso de Pós-Graduação em Gestão Governamental, realizado pela Faculdade de Administração da Universidade de Pernambuco, os servidores (interessados) oriundos das turmas desse curso tinham sua formação complementada com o Curso de Formação de Analista em Tecnologia de Gestão, sendo denominados ATGs a partir de portaria emitida pela SARE. Feito isso, esses servidores poderiam participar do PROGESTÃO como consultores internos, quando convocados.

Os ATGs mantinham suas atividades regulares e subordinação administrativa aos seus órgãos de lotação, desenvolvendo, paralelamente, atividades inerentes ao PROGESTÃO, de acordo com a programação definida pela gerência do Programa, não podendo exceder uma carga horária máxima de trinta horas de consultoria por mês. A atividade de consultoria interna era voluntária e não gratificada (PERNAMBUCO, 2003b).

Como detalha o Manual do Analista em Tecnologia de Gestão (PERNAMBUCO, 2003c), os analistas estavam classificados em duas categorias: Analista Sênior e Analista. Os ATGs deveriam desempenhar atividades de desenvolvimento organizacional, apoiando os órgãos do Estado na consecução dos objetivos específicos do PROGESTÃO. Eram atribuições do Analista Sênior a coordenação da formulação do planejamento estratégico, através da orientação e facilitação dos membros do comitê interno. Estes deveriam, também, elaborar relatórios mensais de acompanhamento das atividades de consultoria para a gerência do Programa. O Analista dava apoio ao Analista Sênior e o substituía nos seus impedimentos.

Para que o Analista pudesse tornar-se Analista Sênior, além de ser indicado como apto para o acesso à categoria Sênior por pelo menos três Analistas Seniores, era necessário atender uma série de requisitos estabelecidos no manual, tais como ter participado de um processo completo de implantação do planejamento estratégico, ser examinador do ciclo de premiação do PQGF, participar das reuniões promovidas pelo Programa, entre outros.

No Manual do Analista em Tecnologia de Gestão (PERNAMBUCO, 2003c, p. 5) consta como características peculiares ao Analista em Tecnologia de Gestão “ser: ético, comunicativo, conciliador, persistente, flexível, humilde, bom ouvinte, bom negociador, arrojado, proativo, dinâmico e transparente”. O Manual determina ainda, que além de ter que saber a “Lei Complementar n° 49; Decreto 25.346, de 02.04.2003; estrutura organizacional do Estado; estrutura organizacional da instituição (objeto da intervenção); legislação pertinente e diretrizes setoriais”, o ATG precisaria, entre outros, ter o domínio da metodologia, proatividade, respeitar as diferenças individuais, ter isenção e autocontrole.

Com relação ao quadro de consultores internos, em setembro de 2006 o Programa constava com um total de 117 ATGs (PERNAMBUCO, 2003d, 2005a, 2006c), dos quais 48 (41%) atuaram efetivamente como consultores internos.

3.2.2.2 A intervenção

As intervenções promovidas pelo Programa e conduzidas pelos consultores internos tinham como objetivo introduzir novas práticas de gestão que permitissem o estabelecimento e cumprimento de metas, objetivos e resultados, preparando as instituições para a assinatura do termo de desempenho, no caso da administração direta, ou contrato de gestão, em se tratando da administração indireta. Com isso seria possível a fiscalização e o acompanhamento dos resultados pelo Governo, pelo Tribunal de Contas do Estado e pelo cidadão comum (PERNAMBUCO, 2005b).

Essas intervenções orientavam-se pelos elementos do Ciclo de Gestão de Políticas Públicas, apresentando três etapas distintas: formulação, implementação e monitoramento e