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4. RESULTADOS

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

4.3.2 Categoria: Quem são eles

4.3.2.1 Contexto Familiar

Conforme já detalhado no histórico dos respondentes, nas famílias dos alunos prounistas entrevistados, em 42% dos casos a escolaridade dos pais é Ensino Fundamental incompleto, 33% têm Ensino Médio incompleto. Como já chamava a atenção de Ferreira (2012), o nível de escolaridade dos pais dos estudantes constitui-se um fator importante para mensurar a equidade de acesso ao ensino superior. No exame dos dados de pesquisa da autora, esta constatou uma disparidade, quando comparado o grau de escolaridade das famílias de alunos prounistas e dos não prounistas, o que se corrobora neste trabalho. No grupo de prounistas sujeitos dessa pesquisa, em apenas dois casos os pais obtiveram acesso à formação superior, sendo que em um dos casos ambos conseguiram concluir o curso; porém, no segundo caso, apenas a mãe é graduada e o pai não concluiu. Há evidente contraste em relação aos alunos não prounistas entrevistados, uma vez que neste grupo apenas um entrevistado não declarou a escolaridade dos pais, e em todos os outros casos os pais possuem formação superior completa. A inclusão em uma universidade significa para os alunos prounistas uma possibilidade de mudança na história de suas famílias e uma diferenciação da geração atual em relação aos pais.

Tanto é que ele (o irmão, também prounista na mesma IES) é o primeiro neto do meu avô, por parte de pai, a conseguir um título de graduação. Ele vai conseguir agora, no meio do ano. Ele já passou na OAB. Ele trabalha num escritório bem grande aqui em São Paulo (P4M-IN).

Na minha família ninguém nunca fez faculdade, então eu só estou conseguindo agora por causa do ProUni (P11M-FM).

Acredito que seja o primeiro a estar concluindo o ensino superior (P9H-FM).

De forma geral, os pais dos prounistas entrevistados desempenham atividades profissionais que não exigem qualificação formal: as mães realizam trabalhos informais como cabelereira, cuidadora de idosos, dona de casa, e os pais trabalham principalmente com comércio. A renda per capta sendo um dos critérios básicos para concessão de bolsas do ProUni, pressupõe-se que as atividades desempenhadas por esses familiares são financeiramente pouco rentáveis, assim, considerando que o benefício concedido pelo ProUni limita-se à bolsa, torna-se difícil para a família manter o aluno durante a graduação, implicando o custeio das despesas um sacrifício, como se depreende nas falas abaixo.

[...] ele conseguiu ao longo da minha faculdade dar uma melhorada nas contas dele. Antes ele vivia com as contas atrasadas, então eu passei metade do curso, nossa, num perrengue [...] mas o básico está bem mantido e isso já me deixa bem feliz (P11M-FM).

[...] eliminei moradia sem ter que pagar, então isso foi um alívio gigantesco. Alimentação o estágio supria. Então, eu sempre procurei estágio de quatro

horas, para poder fazer tudo em casa, então alimentação em si eu supria fazendo em casa, então dá pra conciliar. Basicamente seria isso. Não sobra, mas também não passa fome (ri) (P9H-FM).

As restrições socioeconômicas familiares interferem nas condições de moradia, sendo possível constatar que os alunos que moram com suas famílias em casas próprias geralmente estão fora da cidade de São Paulo. Residir muito distante da faculdade acarreta maior tempo de deslocamento e isso acaba interferindo no processo de inclusão desses estudantes, pois restringe a possibilidade de participação desses alunos em atividades extracurriculares, reduzindo assim o convívio com colegas de curso (esse tema será posteriormente discutido). Alternativa também bastante comum entre os alunos entrevistados é a opção de dividir apartamento mais próximo à faculdade ou residir com parentes em bairros próximos. Nenhum dos alunos entrevistados que mora próximo à IES reside em casa própria ou com os pais; por restrições financeiras, a possibilidade de moradia é em regiões mais periféricas ou cidades próximas, assim, para o aluno estar próximo à faculdade, via de regra, tem que estar longe da família.

Enquanto P12M-FM diz que “[...] moro em Itapecerica da Serra e antes eu morava em Capão Redondo, ou seja, só periferia, né...”, P11M-FM optou por morar mais próximo, “[...] a gente paga aluguel, a gente não tem casa própria, nem nada [...]” e, como a mãe mora fora de São Paulo, considera ser mais econômico estar próximo à faculdade dividindo com amigas, uma vez que “[...] sai R$ 400,00 para cada uma, para um apartamento aqui”. Rearranjos familiares são feitos a fim de acomodar os filhos estudantes e facilitar o acesso destes à faculdade. “Agora que ela (a mãe) está conseguindo comprar um apartamento pelo Minha Casa Minha Vida, mas, assim, ainda nem financiou pela Caixa. A minha avó tem casa própria e eu moro na casa dela”.

Com exceção de P4M-IN que, por morar com o irmão e ambos estarem trabalhando, afirma que “[...] eu e meu irmão nós dependemos zero dos meus pais atualmente”, e de

P12M-FM que contou com ajuda extra de “[...] um seguro de vida que meu pai deixou pra

mim”[...]”, principalmente nos semestres iniciais os alunos prounistas dependem financeiramente dos pais, que nem sempre possuem recursos suficientes para custeio das necessidades básicas de manutenção dos filhos, sendo estes de alguma forma obrigados a arcar com parte das despesas.

[...] quando acabou o meu seguro desemprego, começou a minha iniciação científica, então eu não fiquei nenhum mês sem receber dinheiro [...] o meu pai me paga pensão... Então, a pensão que ele me manda é para eu me alimentar (P5M-IN).

[E seus pais têm condições de ajudar?] Acho que têm... De ajudar. E o meu primo também. Já vai ter as despesas de casa também. Eu pensei em arrumar o trabalho e eu mesma pagar o aluguel e deixar as outras despesas com os meus pais (P2M – IM).

Meu pai me ajuda com o dinheiro para o transporte, mas a alimentação, se eu quiser comer por aqui, é tudo na marmita, ou não come. Come um lanche, traz de casa (P11M-FM).

Morar distante da faculdade implica para esse aluno restrição ao envolvimento em atividades paralelas dentro da instituição. As condições socioeconômicas inserem essas famílias em classe social distinta da classe social predominante entre os alunos da IES, considerada de classe média (com base na percepção dos próprios entrevistados), dois fatores relevantes que podem interferir na inclusão desses alunos na IES.