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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

A etapa de análise visa dar sentido aos dados coletados e demonstrar como esses respondem ao problema de pesquisa. Principalmente em pesquisas de natureza qualitativa, a análise ocupa lugar central (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2008). Nas ciências humanas, a análise de conteúdo constitui-se um instrumento disponibilizado para análise de comunicações, sendo compreendida como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2007, p. 42).

Merriam (2002) ressalta que, embora toda análise de dados qualitativos seja indutiva, existem diferentes estratégias de análise. Neste trabalho utiliza-se a técnica de análise de conteúdo para análise dos dados obtidos nas entrevistas. O método, ou conjunto de técnicas, visa a superação da incerteza, ou seja, garantir que o pesquisador veja no texto aquilo que efetivamente está nele contido, bem como propiciar um enriquecimento da leitura, permitindo descobertas de conteúdos e estruturas que confirmem ou neguem o que se busca demonstrar, esclarecendo significações e mecanismos ainda incompreendidos (BARDIN, 2007).

Embora a análise de conteúdo também possa ser feita por uma abordagem quantitativa, seguindo uma orientação mais descritiva do conteúdo e utilizando o método de dedução frequencial para enumerar a frequência com que uma determinada característica de conteúdo aparece no texto, este trabalho adotou uma abordagem qualitativa, na qual as análises são feitas por categorias temáticas; as inferências – sempre que realizadas – são

fundadas na presença ou ausência do índice (tema, palavra, personagem) e não na frequência de aparições na comunicação (BARDIN, 2007).

A análise qualitativa de dados possui características particulares, sendo válida, sobretudo, na elaboração de deduções específicas em relação a um acontecimento ou a uma variável de inferência precisa, e não em inferências gerais. Essas análises podem funcionar sobre corpus reduzidos, cabendo ao pesquisador zelar para que o contexto da mensagem e a compreensão exata do conteúdo desta sejam adequadamente interpretados (BARDIN, 2007).

Visando extrapolar a compreensão dos significados imediatos das comunicações, Bardin (2007) aponta que a análise de conteúdo se dá por meio de técnicas ou procedimentos que auxiliam na descrição e interpretação de documentos produzidos, a fim de identificar conceitos e temas centrais do texto. Estudos dessa natureza são desenvolvidos seguindo uma sequência de três etapas: (a) a pré-análise; (b) a exploração do material; (c) o tratamento dos resultados – a inferência e a interpretação (BARDIN, 2007).

A primeira etapa, de pré-análise, consiste em uma fase de organização do material, podendo-se utilizar vários procedimentos, tais como: leitura flutuante, escolha dos documentos a serem analisados, formulações de hipóteses e objetivos e, por fim, elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. Para a pesquisa aqui proposta, o material de análise já estava previamente estabelecido, consistindo das transcrições de entrevistas e os macro-dados fornecidos pela área de Responsabilidade Social da IES pesquisada. A leitura flutuante foi a primeira atividade realizada pela pesquisadora neste trabalho, uma vez que, conforme assinalado por Bardin (2007), esse procedimento possibilita estabelecer um primeiro contato com o material a ser analisado, obter as primeiras impressões sobre o conteúdo e, progressivamente, avançar em precisão de conhecimento, em função da projeção das teorias sobre o material de análise, possibilitando uma melhor organização do conteúdo e uma maior compreensão do fenômeno. As entrevistas transcritas literalmente e impressas foram lidas e relidas, feitas anotações com indicações dos temas e aspectos relevantes das transcrições, a partir das quais foram feitos os agrupamentos.

Na segunda etapa, os dados foram codificados a partir das unidades de registro e unidades de contexto. Os segmentos de conteúdo foram agrupados de forma a transformar os dados brutos em unidades que possibilitassem uma descrição das características do conteúdo e que fossem pertinentes face ao material analisado e aos objetivos gerais e específicos dessa pesquisa. Bardin (2007) assinala que a codificação é organizada a partir de recortes feitos no texto, em nível semântico, seja por temas eixo em redor dos quais o discurso se organize, por palavra (palavra-chave, palavra-tema ou categoria de palavra – substantivos, adjetivos,

verbos) ou por frase. Dentre os temas, ou unidades de significações, pode-se considerar o objeto, o personagem, o acontecimento, o documento.

Na última etapa foi feita a categorização ou classificação dos elementos, sendo estes agrupados em função de semelhanças e diferenças, com posterior reagrupamento, em função de características comuns dos elementos sob análise. A categorização tem como objetivo primeiro fornecer, por meio da condensação, uma representação simplificada dos dados brutos (BARDIN, 2007), podendo ser empregados dois diferentes processos para realização da categorização:

 A partir de funcionamentos teóricos hipotéticos, as categorias são previamente estabelecidas, o material é organizado e à medida que os elementos vão sendo encontrados são repartidos nas categorias, chamadas por Bardin (2007) de “caixas”, nas quais os elementos ocupam as “gavetas”.

 Não há um estabelecimento prévio das categorias, sendo essas resultantes de uma classificação analógica e progressiva dos elementos, método esse chamado por Bardin (2007) de “milha”. Nesse processo, o título conceitual de cada categoria somente é definido ao final da operação.

A análise das transcrições das entrevistas foi feita com base no método de categorização progressiva, nomeado pela autora como “milhas”, de modo que ao debruçar sobre o material, em um processo analítico contínuo de similaridades de significações contidas nas transcrições, as categorias foram emergindo dos dados. Prioritariamente, os conteúdos das entrevistas foram organizados por temas-eixos, dando origem inicialmente a 48 temas ou subcategorias, agrupadas por similaridade de assuntos, sendo posteriormente reagrupadas e organizadas em dez categorias. Aa derivações dos conteúdos a partir dos quais as categorias foram criadas são apresentados no Quadro 1, apresentado a seguir.

Quadro 1 – Categorias de Conteúdo

Condições socio-economicas

Categorias Finais

Histórico familiar

Quem são eles

Quem eles dizem que são

Identificação Experiências profissionais Identidade Social Base Educacional Condições de moradia Sub-categorias Características Pessoais Escolha da IES

Fonte: Elaborado pela autora.

A metodologia de Bardin (2007) propõe que após um primeiro momento no qual o pesquisador faz a descrição resumida do texto, enumerando suas características, passa-se a

Estrutura IES - Aspectos Negativos

Estratégias de Inclusão - Pessoais Estratégias de Inclusão - Outros alunos Percepção do Ambiente

Os Agentes

Estratégias de Exclusão - Pessoais Estratégias de Exclusão - Outros alunos

Professor - um agente

Perfil do não prounista sob a ótica dos mesmos Perfil do não prounista sob a ótica dos prounistas

O papel do professor

Estratégias de Exclusão - Institucionais

Obstáculos do Caminho

Nós e Eles

Percepções acerca da IES e do Programa Relações Interpessoais Manifestações Intergrupais Experiência de Inclusão Experiência de Exclusão Ambientação Estereótipos Dinâmica de sala Grupo de Convivio Grupo de Trabalho Atividades Sociais Preconceito Discriminação Os agentes Percepção do Ambiente Os Agentes

Crenças acerca de Inclusão Vivências de Inclusão

Estratégias de Inclusão - Institucionais

Vivências de Exclusão Crenças acerca de Exclusão

Perfil do prounista sob a ótica dos não prounistas Desempenho

Dificuldades Desigualdades

Significados de ser prounista Prouni - Aspectos Positivos

Perfil do prounista sob a ótica dos mesmos

Sentimentos

Atendimento Institucional Prouni - Aspectos Negativos Estrutura IES - Aspectos Positivos

uma fase intermediária, na qual ele faz inferências, ou deduções lógicas, que o permitem chegar às interpretações, ou seja, extrair as significações existentes no conteúdo comunicado, alcançando, assim, a mensagem entrevista por meio, ou ao lado, da mensagem primeira. Esse procedimento foi adotado na discussão dos resultados deste trabalho. A autora aponta que o objetivo é descobrir, a partir de significantes ou de significados (manipulados), outros significados. Os novos significados ou saberes deduzidos dos conteúdos podem ser de natureza psicológica, sociológica, histórica, política ou econômica, não necessariamente esgotando-se nessas variáveis. Aqui se busca compreender a dinâmica de inclusão/exclusão do aluno prounista, pela percepção subjetiva dos atores envolvidos e pela lente do pesquisador.

Procedendo a idas e vindas ao material de análise, para instrumentalização, buscou- se, por meio da inferência e da interpretação, realçar sentidos que se encontram “por detrás” da mensagem transmitida, articulando os elementos característicos que constam na superfície do texto com os fatores que determinaram essas características, estabelecendo uma correspondência da análise descritiva e as variáveis inferidas (BARDIN, 2007).

Buscando seguir o rigor metodológico e ao mesmo tempo ir além das aparências, por meio de um processo dedutivo, busca-se identificar as causas antecedentes da mensagem e as suas consequências, ou possíveis efeitos dela, e alcançar os conhecimentos que se encontram subjacentes ao conteúdo expresso da mensagem. Conforme apontado por Bardin (2007, p.42), a intenção da análise de conteúdo é “a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção ou, eventualmente, de recepção (quem é que fala a quem e em que circunstâncias), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)”. Os conteúdos deduzidos podem ser de naturezas diversas, podendo estar apoiados nos referenciais teóricos; busca-se estabelecer uma correspondência entre as estruturas semânticas ou linguísticas contidas na mensagem, e as estruturas psicológicas ou sociológicas dos enunciados, possibilitando que situações concretas sejam visualizadas segundo o contexto histórico e social de sua produção.

Uma análise objetiva procura fundamentar impressões e juízos intuitivos, por meio da adoção de procedimentos que conduzam a um resultado de confiança, visando atribuir significação ao texto, de modo a alcançar resultados que sejam ricos e válidos, produzindo uma interpretação final fundamentada (BARDIN, 2007). Os trechos considerados relevantes aos objetivos da pesquisa foram discutidos à luz da teoria e em diálogo com pesquisas anteriores e com os dados fornecidos pela IES, sendo os discursos analisados de forma alternada, por vezes fornecendo uma narrativa individualizada e em outros momentos pela

composição dos diferentes discursos. Porém o estudo se propõe a compreender o quadro geral da dinâmica, mais do que fornecer análises individuais.

Para melhor manuseio do material e facilitação da construção das categorias foi utilizado o Software QSRNVivo10. Ferramentas como o NVivo, conforme apontado por Lage e Godoy (2008), possuem facilidades para a codificação dos dados (atribuição de nomes para porções de textos, de acordo com as especificações do pesquisador). Permitem também que sejam feitos reagrupamentos dos textos já codificados, que estes sejam pesquisados e recodificados, facilitando a geração de ideias, possibilitando uma proximidade entre o pesquisador e seus dados.