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4. RESULTADOS

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

4.3.5 Categoria: Relações interpessoais

4.3.5.5 Grupo de atividades sociais

A participação em atividades extramuros da universidade é prática comum entre jovens estudantes. Conforme já apontado por Ferdman et al. (2009) a experiência de inclusão envolve a possibilidade de que pessoas possam ser elas mesmas, permitindo que outros sejam eles mesmos, no contexto de engajamento em atividades comuns. O envolvimento em atividades sociais é aqui considerado fator indicativo de inclusão ou exclusão, uma vez que demonstra a natureza dos vínculos estabelecidos entre esses alunos, bem como as fronteiras existentes e os fatores que acentuam ou atenuam essas vivências.

De acordo com P10H-FN “[...] a maioria dos prounistas não participa das mesmas coisas que os não... de festas da IES, de festas dos Centros Acadêmicos, esse tipo de coisa”. Percebe-se nos argumentos dos alunos prounistas entrevistados que restrições financeiras e distância da residência são as principais “razões” que lhes impedem a participação em atividades sociais fora da IES. P3H-IN diz que não participa em virtude de outros compromissos pessoais, P6M-IM, P11M-FM e P12M-FM por morarem longe, P9H-FMque tem 29 anos de idade, argumenta que “[...] a maioria deles são mais novos, então não dá pra acompanhar”, enquanto para P8H-FM a razão é financeira, pois considera “[...] totalmente fora de noção [...] ir para uma balada e pagar R$ 500,00 para entrar”. P10H-FN também não tem “[...] muito contato assim, de sair junto, ir pra casa, nada disso assim...É mais dentro da faculdade mesmo”. P6M-IM diz que as alunas de sua sala “[...] são muito participativas, principalmente socialmente, então saem muito juntas” acredita que não sai mais por falta de “[...] articulação social do que o próprio dinheiro. Eu acho que até em parte... a gente nem faz

muito esforço pra ir, porque a gente tem essa sensação de que vai ficar meio de canto”. A fala a aluna revela um sentimento de exclusão e sua resignação frente ao ambiente, não considerando que haja perspectiva de que seja aceita. Apenas P7H-FN refere envolver-se em atividades sociais diversas em companhia dos colegas de sala.

Os dois programas mencionados como atividades sociais mais comumente realizadas entre amigos são: ir à casa um do outro e frequentar os bares próximos à universidade. P4M- IN, P7H-FN, P7H-FN e P12M-FM dizem que dormem em casa de amigos da faculdade, o que sugere uma maior proximidade entre colegas. Em relação ao bar, embora os alunos prounistas refiram irem juntos ao bar, a partir das falas dos entrevistados depreende-se que este é um ambiente no qual as barreiras foram flexibilizadas, configurando-se como um espaço democrático, em que as diferenças são menos evidenciadas.

Na hora do estudo aparece, você é prounista eu não sou. Não é na hora do bar. Na hora do bar não tem problema (PROF 01).

[...] quando você desce no bar... vai conversar, tomar uma... tá todo mundo junto, você conversa com o cara que você nem viu... tá mais alegre, e já começa a conversar (NP1H-IN).

Eu não tomo bebida alcoólica, então eu ia pro bar com o pessoal e ficava tomando refrigerante (P4M-IN).

A gente sai para ir no bar juntos [...] É normal (P7H-FN).

A opinião de PROF 01 em relação às fronteiras entre grupos existentes no contexto das atividades acadêmica possibilita presumir que o status de aluno da IES, historicamente concedido àqueles que possuem recursos financeiros para custeio educacional, torna-se motivo de competição. No ambiente acadêmico ocorrem manifestações de discriminação, pois alguns alunos agem de forma a buscar manter ou reforçar vantagem para alguns grupos e seus membros em relação a outros grupos e seus membros, conforme observam Dovidio et al. (2010). Por meio de categorizações são delimitadas as fronteiras e estabelecidos os aspectos relevantes utilizados para distinguir aqueles que pertencem ou não a determinado grupo (TAYLOR; MOGHADDAM, 1994). Dentro da instituição, categorias como aluno pagante, aluno bolsista, aluno prounista ou aluno cotista são categorias comparativas, enquanto que provavelmente no bar outros aspectos são considerados relevantes para categorização dos indivíduos; talvez nesse ambiente o prounista “perca” a identidade de exogrupo e seja visto como um outro sujeito qualquer, sendo mais importante aspectos como “ser divertido”, “ter um bom papo”, “ser um contador de piadas”.

Quer no grupo de trabalho, no grupo de convívio ou no envolvimento em atividades sociais, o etnocentrismo característico dos seres humanos fica evidenciado e cada grupo usa aquilo que lhes é próprio como padrão para julgar o outro (TRIANDS, 2003). NP4M-FN, que

tem em seu grupo de convívio mais próximo quatro alunos prounistas, refere que busca transitar entre os diferentes feudos de sua sala, inclusive participando de atividades sociais com grupos distintos, o que não é percebido como natural por seu grupo de convívio mais próximo. Relata que

[...] as pessoas saem entre elas. Entre aquele grupo. Saem entre elas. Eu era e o único lá, diferente daquele grupo. Eu era de um outro [grupo] a principio e tal... Aí depois as pessoas do meu grupo: “Pô XXX. Você tá jogando com aqueles meninos lá?” Porque eles são de um perfil... um padrão mais elitizado. Você está falando com os maur... [mauricinhos]?

A categorização dos “mauricinhos” como exogrupo é feita com base nas diferenças em relação a quem está categorizando, pois, conforme descrito por NP4M-FN, as pessoas de seu endogrupo são membros da categoria “[...] de uma origem mais humilde” (HOGG; TERRY, 2001) e, a partir dessas categorias, terão percepções distintas acerca do próprio grupo e do exogrupo e, com base nessas percepções, se comportarão em relação a eles. A percepção estereotipada de que o outro grupo tem um perfil mais elitizado demonstra que categorizar os membros do exogrupo faz que todos os integrantes sejam percebidos como mais homogêneos, enquanto os do endogrupo serão percebidos como mais heterogêneos.