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4. RESULTADOS

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

4.3.7 Categoria: Manifestações intergrupais

4.3.7.3 Manifestações de preconceito

Em sua fala NP1H-IN declara sua intolerância aos prounistas ao dizer que caso “[...] a pessoa faça o mesmo vestibular que a gente... acho que seria um pouco mais tolerável...”, e se autoconfessa preconceituoso assumindo que “[...] eu mesmo gero um pouco de preconceito”. Em sua opinião “[...] tem bastante [preconceito]. Acho que esse manifesto foi o maior exemplo”. A realização de uma manifestação contra uma possível utilização do Enem como critério para preenchimento de parte das vagas do vestibular, encabeçada pelos alunos do curso de Direito da IES pesquisada, virou notícia de jornal, sendo citada por alunos (NP5M-

FM e NP1H-IN) entrevistados como a maior demonstração da existência de preconceito

contra o ProUni dentro da IES pesquisada.

Embora para alguns o manifesto, que ganhou dimensão pública e que levou 800 alunos para as ruas, buscando assegurar o direito de que a IES se mantenha destinada às elites, seja a maior evidência de preconceito, contudo há alunos que consideram que “[...] se há um preconceito IESzista, é um preconceito mascarado, velado [...] mas para bom entendedor você entendeu” (P6M-IM). NP5M-FM diz nunca ter visto manifestações de preconceito, mas que “[...] é uma coisa que eu sei que tem, entendeu”. Provavelmente, por determinação em conquistar a conclusão da formação superior, esses alunos prefiram negar as evidências de preconceito, para conseguirem manter a maior integridade emocional possível, o que não é feito sem sofrimento.

O discurso dos alunos entrevistados denota a existência de preconceitos em relação aos alunos bolsistas em geral, sendo percebidos como mais intensos em relação a uma categoria de alunos cotistas do que a outras categorias de alunos não pagantes. Ilustrando essa gradação P2M-IM afirma que “[...] contra o ProUni eu não ouvi, é mais contra as cotas em si. Só que se olhar pelo ProUni, também são vagas reservadas, então não deixa de ser, mas contra cotas eu ouço de vez em quando”. Cabe aqui retificar a compreensão de P2M-IM, pois as vagas do ProUni são vagas ofertadas na proporção de uma para cada dez vagas regulares disponíveis obedecendo às normas do Programa. Estendendo essa lógica, P6M-IM considera que “[...] se eles são contra o Programa, com certeza eles também são contra, indiretamente... [o aluno]”, de modo que o preconceito contra cotistas é também percebido como preconceito contra prounistas. As argumentações desses alunos transmitem a mensagem de que o

preconceito os rodeia; se contra bolsistas, contra prounistas ou contra cotas, o fato é que estão convivendo com alunos preconceituosos no ambiente acadêmico e isso gera desconforto e impede um real sentimento de pertença ao local e ao grupo.

Cotas raciais são questões polêmicas dentro da IES, assunto para o qual os alunos se posicionam mais claramente, havendo inclusive aluno prounista (P9H-FM) contrário ao sistema de cotas raciais. P1H-IM enfatiza o posicionamento de colegas de sala dizendo que “[...] elas [alunas da elite] são plenamente contra cotas. Elas defendem isso. Elas falam isso” e esses posicionamentos preconceituosos são manifestos até mesmo nos interesses científicos desses alunos. Duas propostas de pesquisa apresentadas a dois professores diferentes evidenciam uma convergência do preconceito em relação a cotas com o preconceito em relação ao ProUni e indicam a existência de inquietações e mobilizações acerca disso e das cotas. Na primeira situação, a professora recusou a proposta de pesquisa, argumentando o caráter preconceituoso da proposta, uma vez que o aluno não era pedagogo para avaliar desempenho, enquanto na segunda situação, uma aluna sentiu-se ofendida com a proposta e o tema foi discutido em sala.

Semana passada um aluno, na aula de metodologia, segundo semestre fez uma proposta: Se o desempenho de um cotista é igual. Fez essa pergunta. Se o desempenho de um cotista do ProUni é igual o dos outros alunos (PROF 01).

Semestre passado aconteceu que um grupo fez uma pergunta para os entrevistados que era a seguinte: Ah, era sobre cotas... Você aceitaria ser operado por um médico que foi formado em uma universidade e entrou pelo sistema de cotas? (PROF 02).

Por ser a IES pesquisada voltada predominantemente às classes média e média alta, e considerando que o programa é voltado a alunos de baixa renda, diante da diferença de perfil econômico, o preconceito socioeconômico também é manifesto, conforme destacado por alguns alunos.

[...] separa a crítica que é a critica que está pensando na qualidade de ensino [...] do preconceito, que é o preconceito de raça e do preconceito de classe que eu acho que isso é bem presente e eu sei que existe (PROF 04).

[O preconceito] que eu mais presencio e esse eu vejo é o socioeconômico. Sabe quando a pessoa olha e fica desprezando porque a pessoa está mal vestida, mas você olha e vê que a pessoa não está mal vestida porque ela quer, é porque ela não tem outra roupa para usar (P11M-FM).

Eles são indiferentes, mas não só com as pessoas que são prounistas, eu acho é com qualquer pessoa que seja abaixo da classe social deles eles são assim (P12M-F).

Ela falou assim... eu não me lembro quais as palavras, mas ela falou mais ou menos, também, olha onde você mora... porque ela mora num bairro de alto padrão lá e eu não. [...] Eu me ofendi (P12M-FM).

O ProUni é esse padrão aí... Esse... ess... essa coisa que também só chegou porque se não tivesse alguém para pensar nesse pessoal, não teria chegado, iria fazer noutro lugar. É injusto demais... (NP4M-FN).

A partir da análise dos dados, constata-se que a forma como o preconceito é expresso envolve indiferença em relação ao outro, emissão de comentários ofensivos e colocações preconceituosas frente ao grupo, podendo ser notadas estratégias de evitação e discriminação, descritas a seguir.