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2 METODOLOGIA DA PESQUISA: ESTADO DA ARTE E CONTEXTO DA

2.2 Contexto da Pesquisa

O governo brasileiro utilizou-se do argumento de que havia uma enorme demanda de educadores, gestores e especialistas que convergiam para a necessidade de se estabelecer padrões e critérios para monitorar a qualidade da educação nacional. Nesse contexto de reivindicação, apontaram a necessidade de uso de indicadores para estipular metas, monitorar o progresso dos programas e resultados.

A exigência era de que houvesse um índice que fosse aplicado nacionalmente e que levasse em consideração as características de cada região da enorme geografia do país. Esse é, segundo o governo, um grande desafio a ser enfrentado e superado na busca pela melhoria da qualidade na educação do país.

Fernandes (2007, p. 5) discute a proposta de criação do IDEB2

descrevendo:

Ele combina dois indicadores usualmente utilizados para monitorar nosso sistema de ensino: a) indicadores de fluxo (promoção, repetência e evasão) e b) pontuações em exames padronizados obtidas por estudantes ao final de determinada etapa do sistema de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio).3

Um dos argumentos do estado brasileiro para se elaborar o IDEB é a compreensão de que um sistema que reprova seus alunos, ou que permita que abandone seus estudos antes de completar a educação básica, é indesejável. O ideal seria que todas as crianças e jovens tivessem o acesso, a permanência, a conclusão e a aprendizagem. Com a nova LDBEN, a questão do acesso atingiu patamares significativos, mas a permanência e a reprovação continuam sendo um problema muito sério com taxas altíssimas: “um indicador de desenvolvimento educacional deveria combinar tanto informações de desempenho em exames padronizados como informações sobre fluxo escolar” (FERNANDES, 2007, p. 7). Nessa mesma ordem, um indicador sintético seria desejável para detectar escolas e redes com baixo desempenho e monitorá-las ao longo do tempo.

Os exames aplicados no Brasil podem trazer vantagens e desvantagens ao tratarem de aferir a proficiência dos alunos. No Brasil, esses exames são expressos através do SAEB, ENEM e Prova Brasil. A avaliação do PISA é uma exceção, por ser uma avaliação internacional aplicada a alunos de 15 anos de idade. Essa avaliação servirá como referência

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O IDEB é o indicador educacional que relaciona informações sobre a aprovação e a proficiência dos alunos em exames como a Prova Brasil e o Saeb. Reynaldo Fernandes no texto Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) produzido pelo INEP descreve detalhadamente como foi elaborada a formula para o cálculo do IDEB.

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para o país e não poderá ser utilizada para analisar as escolas ou as redes de ensino. A avaliação do PISA é encaminhada e orientada pela OCDE4

. Essa instituição tem início no pós Segunda Guerra Mundial, e tem como objetivos tratar dos problemas da Europa numa visão liberal da economia em complementação ao FMI e Banco Mundial. Esta organização atua em várias áreas como economia, comércio, meio ambiente, agricultura, educação, ciências e tecnologia, entre outras áreas.

A OCDE atua na formulação de estratégias de políticas dos países que são membros da organização, sendo um instrumento de intercâmbio e geração de informações, além de apresentar recomendações. A organização tem uma diretoria de educação que em uma de suas ações desenvolve o PISA. O programa avalia alunos nas áreas de leitura, matemática e ciências e com os dados produz indicadores. O responsável pela aplicação do PISA no Brasil é o INEP. O Brasil é o único país latino-americano a participar em todas as edições.

Segundo o INEP (2017), o PISA tem como objetivo produzir indicadores que contribuam para melhoria da qualidade da educação, e dar subsídios às políticas educacionais. Aplicado a cada três ano com foco em umas das três áreas. Com as alterações ocorridas no Estado brasileiro na década de 1990, foram desenvolvidas políticas nacionais para que o país se consolidasse no cenário mundial. O Brasil participou pela primeira vez em 2000. Como a avaliação estipula a faixa etária de 15 anos, o Brasil optou, por ter como critério, considerar, a partir de 2012, avaliar alunos do 7º ano do ensino fundamental. A avaliação direcionou seu foco em uma das três áreas em cada ano de avaliação: em 2000, leitura; em 2003, matemática; em 2006, ciências; em 2012, matemática; e em 2015, ciências.

O PISA tem como objetivo aferir conhecimentos e habilidades que o aluno deve adquirir para se adaptar ao mundo em constante transformação, ter uma base sólida em áreas chaves, organizando e gerindo seu aprendizado, consciência de seu aprendizado, capacidade de raciocínio. O PISA busca ir além do conhecimento escolar. Examina as capacidades do aluno em analisar, raciocinar e refletir sobre seus conhecimentos e experiências com foco na sua vida e na solução dos problemas cotidianos. A tabela 4 apresenta o resultado do Brasil em diferentes aplicações.

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A OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico reúne 30 países membros e é um fórum único para a discussão, desenvolvimento e aperfeiçoamento da política econômica e social, dentre um total de 100 países que participam como engajados ou convidados, comprometidos com a democracia e a economia de mercado (ARAÚJO, 2017, p. 3).

Tabela 4 - Resultados do Brasil no PISA – 2000 a 2015. Dados 2000 2003 2006 2009 2012 2015 Alunos participantes 4.893 4.452 9.295 20.127 19.204 23.141 Leitura 396 403 393 412 407 407 Matemática 356 370 386 389 377 Ciências 390 405 402 401

Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados do INEP (2017).

Nos dados apresentados, percebemos com o PISA, o número de alunos avaliados no Brasil. O INEP (2017) destaca que o Brasil está abaixo da média dos alunos em países da OCDE. O Brasil tem respectivamente, em 2015, 401 pontos em ciências, 377 em matemática e 407 em leitura, enquanto os países da OCDE têm 493 pontos em ciências, 493 pontos em leitura e 490 em matemática. Na tabela 4 percebemos algumas oscilações nas três áreas e pouca melhora nos índices. A área de leitura é a que mais se mantém estável e na de matemática percebe-se um avanço de 21 pontos, sendo a área de maior crescimento.

Pode-se indagar, considerando o atual cenário educacional brasileiro, por que o IDEB seis (6,0) foi definido como meta para 2022. Por que não uma meta acima dos índices dos países da OCDE? A definição do critério seis (6,0) no IDEB deveu-se à projeção que o MEC/INEP instituiu ao delimitar como meta a ser alcançada os parâmetros educacionais dos países da OCDE.

A compatibilização dos níveis de desempenho adotados pelo Programme for International Student Assessment (PISA) de 2003 com a escala do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2003 consiste em identificar notas da escala do SAEB que correspondam a um determinado desempenho no PISA (e vice- -versa). A partir dessa compatibilização, por exemplo, é possível realizar uma comparação entre o desempenho dos alunos brasileiros e estrangeiros, e estabelecer metas de performance no SAEB condizentes com níveis de referência do PISA. Existem, entretanto, algumas limitações para executar esse processo. Primeiramente, as duas avaliações não estão na mesma escala de proficiência e não possuem itens comuns que possam ser utilizados para que isso seja feito. Além disso, participam do PISA somente alunos com 15 anos, independentemente da série em que estudam. O SAEB, por sua vez, é destinado a alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental (EF), e de 3º ano do Ensino Médio (EM). Dessa maneira, optou-se por considerar o desempenho dos alunos brasileiros no PISA como uma aproximação do desempenho dos alunos de 8ª série no SAEB (INEP, 2015).

Embora o trecho citado não realize referência diretamente à nota (6,0), o governo brasileiro estipulou delimitar os parâmetros do PISA como nota a ser alcançada. O trecho esclarece a disparidade entre os sistemas de avaliação, considerando as séries e idades avaliadas, entretanto, é exemplar em termos de utilização do cenário internacional como parâmetro comparativo para o sistema educacional brasileiro.

Esta questão mobilizou o estabelecimento do critério de apenas trabalhar com municípios que tenham Prova Brasil/IDEB igual ou superior ao índice seis (6,0). A partir dessa relação que o INEP fez em comparar os índices a serem alcançados com aqueles já obtidos pelos países da OCDE, foi definido esse critério de seleção dos municípios, ou seja, o critério específico para a seleção de municípios toma por base essas definições federais. Aqueles municípios do recorte dessa pesquisa que já apresentam resultados comparáveis aos países da OCDE são analisados quanto à formulação das políticas educacionais.

Portanto, é relevante encontrar municípios cuja educação já tenha alcançado ou superado os parâmetros previstos para 2022, de forma a estudá-los mais especificamente discutindo como a gestão municipal utiliza as informações da Prova Brasil/IDEB, para definir ações de políticas educacionais que buscam a melhoria da qualidade da educação, a redução das desigualdades existentes, a correção de distorções e melhoria dos recursos técnicos e financeiros.

A pesquisa toma como critérios para identificar municípios do Oeste do Paraná: a) os que participaram de todas as edições da Prova Brasil; b) os que alcançaram as metas estipuladas pelo MEC/INEP, e que têm o IDEB igual ou superior a (6,0), durante todas as avaliações de 2009, 2011 e 2013.

No primeiro momento foi realizado levantamento através do sítio INEP dos resultados de todos os municípios do Paraná. Verificou-se que cento e dez (110) municípios atingiram as metas estabelecidas pelo INEP na série histórica. Posteriormente, foram selecionados os resultados dos cinquenta (50) municípios do Oeste do Paraná e verificado quais atingiram a meta seis (6,0) nas edições de 2009, 2011, 20135

e que, ao longo deste período, mantiveram ou superaram essa meta. Seis municípios atenderam a esse critério: Assis Chateaubriand, Cafelândia, Foz do Iguaçu, Guaraniaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Entre Rios do Oeste. O município de Entre Rios do Oeste foi selecionado a partir dos critérios estabelecidos na pesquisa, porém, após contatos telefônicos e e-mail não foi obtido retorno por parte da secretaria municipal de educação para realização da entrevista e assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido, portanto, o município não fez parte da pesquisa.

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Mesmo considerando nas análises a série histórica do IDEB ocorrida entre 2005 a 2015, são tratados apenas os dados de 2009, 2011 e 2013. O IDEB DE 2005 foi calculado pelo INEP, considerando o estágio de desenvolvimento das unidades escolares, municípios e estados. Como cada unidade escolar tem trajetórias e esforços diferentes, as metas também são diferentes.