• Nenhum resultado encontrado

2 METODOLOGIA DA PESQUISA: ESTADO DA ARTE E CONTEXTO DA

2.3 Abordagem teórico-Metodológica da Pesquisa – Ciclo de Pesquisa

2.3.1 Metodologia de Análise das Entrevistas

A pesquisa de campo foi realizada através de entrevista semiestruturada com questões direcionadas a gestores municipais que atuaram durante os anos de realização das provas e que geraram a série histórica da Prova Brasil/IDEB (2005-2013). Essa abordagem qualitativa busca responder a questões que não podem ser quantificadas. A busca pela entrevista permite trabalhar com o universo de pesquisa carregado de significados, crenças e valores, e que corresponde penetrar mais profundamente nas relações e fenômenos que não são totalmente traduzíveis em números.

Entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico, é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo (MINAYO, 2015b, p. 64).

O encaminhamento dessa metodologia permite, no projeto de pesquisa, selecionar formas de investigar os objetos de estudo a partir do diálogo com a realidade. Cruz Neto (2001, p. 57) descreve particularmente a entrevista como uma técnica da pesquisa qualitativa, uma abordagem técnica do trabalho de campo. Trata dos aspectos relevantes sobre essa técnica. A entrevista é uma das técnicas mais usuais do trabalho de campo. Ela permite coletar os relatos dos atores. Cruz Neto (2001, p. 57-58) considera dois propósitos a respeito desse instrumento:

Num primeiro nível, essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da fala. Já, num outro nível, serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado tema científico. Através desse procedimento, podemos obter dados objetivos e subjetivos. Os primeiros podem ser também obtidos através de fontes secundárias, tais como censos, estatísticas e outras formas de registros. Em contrapartida, o segundo tipo de dados se relaciona aos valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos entrevistados.

As entrevistas podem ser estruturadas e não estruturadas dependendo da direção que recebem, podendo o informante abordar temas livres ou com a estrutura de perguntas previamente formuladas. Uma possibilidade para articular essas duas modalidades às entrevistas semiestruturadas. Este instrumento fornece material rico para a análise do vivido, reflexões da dimensão coletiva a partir da visão individual. As entrevistas permitem complementar as leituras em aspectos que estas não puderam evidenciar.

As entrevistas foram realizadas com integrantes e ex-integrantes das secretarias municipais de educação. Todos os entrevistados autorizaram a realização da entrevista através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido onde continha todas as orientações sobre a pesquisa, os objetivos e o trato dos dados coletados.

Tabela 5 - Demonstrativo de gestores educacionais entrevistados (de acordo com a função).

Município Secretário Municipal de Educação Ex-Secretário Municipal de Educação Ex-Diretor de Departamento de Educação Municipal Coordenador Pedagógico Municipal Total de entrevistados no município Assis Chateaubriand 1 3 4 Cafelândia 1 2 3 Foz do Iguaçu 2 1 3 Guaraniaçu 3 3

Santa Terezinha de Itaipu 1 1

Total de entrevistados em todos os municípios 14

Fonte: Elaborada pelo autor, com base nas entrevistas (2017).

Foram realizadas oito entrevistas, em cinco municípios, envolvendo catorze gestores educacionais. No município de Assis Chateaubriand foram realizadas duas entrevistas: a primeira teve a participação de um ex-secretário municipal de educação. Essa entrevista é identificada a partir desse momento por Entrevistado ‘A’ – Ex-Secretário Municipal de Educação – Município de Assis Chateaubriand. A segunda foi realizada com a participação de três coordenadoras pedagógicas em exercício, que atuaram na gestão municipal da educação no período da série histórica onde uma respondeu as questões propostas e as outras duas coordenadoras estavam na sala e colaboraram pontualmente com algumas informações quando solicitadas pela respondente. Essa entrevista é identificada a partir desse momento por Entrevistado ‘B’ – Coordenador Pedagógico – Município Assis Chateaubriand.

No município de Cafelândia, foi realizada uma entrevista com a participação de duas coordenadoras pedagógicas em exercício onde apenas uma respondeu as questões propostas e a segunda participou pontualmente quando solicitada pela primeira coordenadora para contribuir com algumas informações. Nessa entrevista ocorreu em dado momento a participação da secretária municipal de educação que entrou na sala para cumprimentar o entrevistador, situação em que tratou de alguns aspectos da educação municipal. Essa entrevista é identificada a partir desse momento por Entrevistado ‘A’ – Coordenador Pedagógico – Município Cafelândia e Entrevistado ‘B’ – Secretário Municipal de Educação – Município Cafelândia.

No município de Foz do Iguaçu foram realizadas três entrevistas. A primeira com uma ex-secretária municipal de educação que é identificada a partir desse momento como Entrevistado ‘A’ – Ex-Secretário Municipal de Educação – Município Foz do Iguaçu, a segunda com uma ex-secretária municipal de educação que é identificada a partir desse momento por Entrevistado ‘B’ – Ex-Secretário Municipal de Educação – Município Foz do Iguaçu, e a terceira entrevista foi realizada com uma ex-diretora de departamento de educação que é identificada a partir desse momento por Entrevistado ‘C’ – Ex-Diretora de Departamento de Educação – Município Foz do Iguaçu.

No município de Guaraniaçu foi realizada uma entrevista com três coordenadoras pedagógicas em exercício que atuaram no período em análise onde apenas uma coordenadora respondeu as questões propostas. As outras duas coordenadoras participaram pontualmente quando solicitada sua ajuda pela coordenadora respondente. Essa entrevista é identificada a partir desse momento por Entrevistado – Coordenador Pedagógico – Município Guaraniaçu.

No município de Santa Terezinha de Itaipu foi realizada uma entrevista com a secretária municipal de educação em exercício e que atuou na gestão da educação municipal no período em análise que é identificada a partir desse momento por Entrevistado – Secretário Municipal de Educação – Município Santa Terezinha de Itaipu.

As entrevistas foram conduzidas através de questões previamente elaboradas e enviadas aos gestores para análise. Durante a entrevista, foi realizada a gravação de áudio para posterior transcrição e sistematização das respostas. Foram elaboradas quinze questões que estavam divididas em cinco blocos. O primeiro foi composto por quatro questões e tratava do entendimento que os gestores tinham sobre as avaliações em larga escala encaminhadas pelos governos federal e estadual. Abordava a estrutura e funcionamento da Prova Brasil/IDEB, a avaliação que os gestores faziam sobre esse instrumento, sua importância para a qualidade da educação e como tomavam conhecimento sobre as políticas de avaliação. O segundo bloco foi composto por quatro questões e tratava dos resultados dos municípios nas avaliações, quais os principais resultados dos municípios nas avaliações, e como a gestão municipal procedia com os resultados e sua divulgação, como se organizavam para enfrentar os problemas apontados pelas avaliações e quais as principais ações elaboradas. O terceiro era composto por três questões, tratava das políticas educacionais e buscou questionar como foi organizado o processo de construção de políticas (pensada, discutida e sistematizada), quais informações das avaliações eram utilizadas nesse processo e que influência elas têm na formulação das políticas educacionais. O quarto era composto por uma questão e tratava do entendimento da gestão sobre a qualidade da educação. O quinto e último bloco tratava da

sistematização das políticas municipais de educação, formado por três questões que solicitavam aos gestores quais leis, documentos ou outra forma de legislação foram elaborados a partir das políticas de avaliação em larga escala. Durante as entrevistas, outras questões foram elaboradas a partir da fala dos entrevistados buscando compreender a realidade de cada município.

Para Bardin (2016) a entrevista pode ser realizada de várias maneiras e sua classificação é tradicionalmente classificada de acordo com sua diretividade (ou não diretividade) e também segundo a profundidade do material verbal recolhido.

Entrevistas não diretivas de uma ou duas horas, que necessitam de uma prática psicológica confirmada, ou entrevistas semidiretivas (também chamadas com plano, com guia, com esquema, focalizadas, semiestruturadas), mais curtas e mais fáceis: seja qual for o caso, devem ser registradas e integralmente transcritas (incluindo hesitações, risos, silêncios, bem como estímulos do entrevistador) (BARDIN, 2016, p. 93).

No modelo de entrevista realizada, semiestruturada, se lida com falas relativamente espontâneas, porque se trata de um discurso falado. O entrevistado organiza sua fala conforme sua organização e vontade destaca-se a subjetividade. Quando o entrevistado “diz ‘eu’, com o seu próprio sistema de pensamentos, os seus processos cognitivos, os seus sistemas de valores e de representações, as suas emoções, a sua afetividade e a afloração do seu inconsciente” (BARDIN, 2016, p.93-94). Cada pessoa apresenta seus próprios meios de comunicação e expressão ao tratar de descrever acontecimentos, práticas e episódios. O entrevistador precavido reconhecerá na fala do entrevistado as incompreensões, falas claras, fugazes ou enganadoras. Para Bardin (2016, p. 94), o pesquisador, ao trabalhar com um grupo de entrevistas, vera que “[...] o seu objetivo final é poder inferir algo, por meio dessas palavras, a propósito de uma realidade (seja de natureza psicológica, sociológica, sociológica, histórica, pedagógica...) representativa de uma população de indivíduos ou de um grupo social”. Bardin (2016) propõe para a análise de entrevistas a decifração estrutural centrada em cada entrevista.

Sob a aparente desordem temática, trata-se de procurar a estruturação específica, a dinâmica pessoal, que, por detrás da torrente de palavras, rege o processo mental do entrevistado. Cada qual tem não só o seu registro de temas, mas também a sua própria maneira de (não) os mostrar. Claro que tal como se pode, ao longo de várias entrevistas, e sobretudo se forem muitas, ver manifestarem-se repetições temáticas, pode também ver-se tipos de estruturação discursiva (BARDIN, 2016, p. 96).

A decifração estrutural proposta por Bardin (2016) destaca a importância de se ler se utilizando de perguntas auxiliares para compreender o que realmente o entrevistado está

dizendo, como isso foi dito, outras possíveis respostas que poderia ter dado, as omissões, quais conotações, ideias organizadas, lógica de discurso, resumos, lógica.

A leitura é “sintagmática” (segue o encadeamento, único e realizado numa entrevista, de um pensamento que se manifesta por uma sucessão de palavras, frases, e sequências) e, ao mesmo tempo, “paradigmática” (tem em mente o universo dos possíveis: isto não foi dito, mas podei tê-lo sido, ou foi efetivamente dito noutra entrevista) (BARDIN, 2016, p 98).

Bardin (2016) apresenta técnicas de análises propostas para uma entrevista curta: análise temática, características associadas ao tema central e análise sequencial. É apresentado resumidamente cada uma das técnicas conforme Bardin (2016, p. 100-1001).

a) Análise temática – Podemos dividir o texto em alguns temas principais (que se poderá aperfeiçoar, eventualmente, em subtemas se o desejarmos).

b) Características associadas ao tema central – ao concentrarmo-nos mais no tema geral de investigação, podemos extrair os significados associados às férias na mente da pessoa entrevistada.

c) Análise sequencial – a entrevista é dividida em sequências. Critérios semânticos (organização da sequência em torno de um tema dominante), mas também estilísticos (ruptura de ritmos, operadores gramaticais) estão na base dessa divisão. Parece haver aqui 7 ou 8 sequências [...] (BARDIN, 2016, p. 100-101).