• Nenhum resultado encontrado

Estratégias metodológicas

1. Contextualização e formulação do problema de investigação

Contextualização do problema

Com o alcance da independência nacional em 1975, o país teve a necessidade de estruturar o sistema educativo, continuando mesmo assim a usar os modelos de educação do país colonizador (Portugal). Só em 1983 é que é aprovada a primeira lei n.º 4/83, de 23 de março e revogada pela lei n.º 6/92, de 6 de maio, com os seguintes objetivos: “A educação é direito e dever de todos os cidadãos; o Estado, no quadro da lei, permite a participação de outras entidades, incluindo comunitária, cooperativas, empresariais e privadas no processo educativo; o Estado organiza e promove o ensino, como parte integrante da ação educativa, nos termos definidos na Constituição da República e o ensino público é laico”.

Os currículos e programas têm um carater nacional, com exceção do ensino superior, e são aprovados pelo Ministro de Educação e Desenvolvimento Humano. Sempre que se revele necessário, podem ser introduzidas adaptações de caráter regional aos currículos e programas nacionais, por forma a garantir uma melhor qualificação dos alunos, desde que com isso não se contrariem os princípios, objetivos e conceções do Sistema Nacional de Educação. Estas adaptações são aprovadas pelo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano. (Idem)

Desde o tempo colonial, o órgão de gestão das escolas sempre foi unipessoal e nomeado, não dando espaço para o desenvolvimento da democracia nas escolas quanto ao seu gestor do topo. Com a resolução do diploma ministerial n.º 46/2008, de 14 de maio, é aprovado o Regulamento Geral do Ensino Básico com o objetivo da “participação das famílias e comunidades na direção estratégica dos estabelecimentos de ensino”. Em 2012 aprova-se a resolução n.º 18/2012, de 7 de dezembro, que “cria e extingue funções de direção e chefia nos estabelecimentos de ensino e aprova os seus respetivos qualificadores”, e revogada a resolução n.º 8/2005, continuando o diretor a ser nomeado. O diretor continua no centro das atenções das escolas, deste modo aumentando a sua responsabilidade na prestação de contas junto das famílias e da comunidade.

No caso da realidade portuguesa, o Diretor é visto como um rosto, um primeiro responsável a quem poderão ser assacadas as responsabilidades (Decreto-Lei 75/2008, de 22 de abril). Nesta ótica de ideias referidas por Lima (2011b):

47

“o diretor concentra entre si várias competências, tudo parecendo girar em seu torno, fragilizando as estruturas colegiais, existentes e pondo fim a quase totalidade dos processos de escolha democrática nas escolas, salvo aquelas que respeitam o conselho de escola, embora aqui já existam também indícios de que faz sentir, estrategicamente, a sua ação, especialmente no que concerne a representação docente. Sobretudo os professores correm risco de ficar reféns do diretor, sem órgãos próprios e autónomos, sem intermediação do tipo colegial, no quadro de uma estrutura interna, extremamente centralizada na figura de diretor”. Lima (2011b:58)

Segundo Ferreira e Torres (2012):

“a forma como foi construída a figura do diretor, pelo poder central, deixa transparecer a ideia de associação linear entre liderança e eficácia organizacional, conduzindo à emergência e/ou à sedimentação de valores gerencialistas (obsessão do controlo da qualidade, da excelência, da responsabilização, da eficácia técnica), que poderão conduzir a uma certa conflitualidade com os valores democráticos e participativos imanentes ao contexto escolar”. (Ferreira e Torres, 2012:87)

Nesta ordem de ideias, Sergiovanni (2004a) introduz a cultura como um elemento crucial no desenvolvimento, estabilidade e melhoramento de todos os processos decorrentes nas instituições de ensino:

“a cultura é um fator importante no melhoramento das escolas. Menos óbvia é a ligação entre a cultura e a teoria. A alma da cultura escolar é aquilo em que as pessoas acreditam, os pressupostos da base do funcionamento da escola e o que se considera ser verdadeiro e real. Estes fatores, por sua vez, estabelecem uma teoria de aceitabilidade que permite que cada um saiba como se deve comportar. Os esforços levados a cabo para mudar as culturas escolares envolvem, inevitavelmente, a mudança de teorias de escolarização e da vida escolar". (Sergiovanni, 2004a: 23; itálico no original)

Desta forma as escolas passam a ganhar um lugar importante na sociedade em que estão inseridas, porque os anseios da comunidade refletem-se na cultura da escola, dando mais relevância à escolarização das crianças e jovens.

O diretor, sendo o representante dos órgãos centrais (Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano) na escola, dotado de quase todas competências e poderes para tomada de decisão a nível da escola, é o elemento fulcral na criação e desenvolvimento da cultura escolar, isto tudo devido à centralização do próprio sistema educativo moçambicano, em que todas as atividades escolares estão

48

regulamentadas ao pormenor. Cabe ao diretor transmitir essas orientações aos demais funcionários, para a sua efetivação nos níveis meso e micro da escola.

Face à conjuntura do sistema educativo moçambicano, o diretor no seu quotidiano procura formas de como transmitir as orientações centrais aos seus funcionários de modo que todos aceitem e cumpram as suas atividades, de uma forma espontânea e livre, não coerciva, acreditando e compartilhando nos valores que são transmitidos pelo diretor na instituição escolar.

Este é um dos grandes desafios do diretor da escola, porque lida com pessoas com uma vasta diversidade cultural e cada um com suas espectativas individuais, bem como coletivas de um certo grupo dentro da escola. Perante as diversidades, é expectável que o Diretor procure gerir esses grupos ou classes sociais diferentes, de modo a transmitir os seus ideais no cumprimento das orientações superiores e para o desenvolvimento da instituição escolar.

Pergunta de partida

Quivy e Campenhoudt (2017:44), afirmam que “a pergunta de partida servirá de primeiro fio condutor da investigação, para desempenhar corretamente a sua função, a pergunta de partida deve apresentar qualidades de clareza, de exequibilidade e de pertinência”.

Tomando como referência o pressuposto de que “Os espaços-tempos de desenvolvimento da gestão e da liderança são perspetivados enquanto locus de produção e reprodução de cultura e, nesta ótica, revelam-se como instâncias de regulação cultural e simbólica” (Torres e Palhares, 2009:78), elaborou-se a seguinte questão de partida:

De que modo o Diretor influencia o processo de construção cultural e simbólica da escola?