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Apresentação, análise e interpretação dos dados empíricos

3. Instrumentos que orientam o diretor da Escola Secundária Belga na tomada de decisão

As escolas e os diretores das escolas na República de Moçambique são orientados pelos dispositivos legais, a partir do topo, através de decretos, diplomas ministeriais, circulares e despachos que norteiam o quotidiano das escolas e os seus gestores, não podendo tomar as suas decisões à margem desses dispositivos legais.

De acordo com os nossos entrevistados e segundo a tabela n.º 5, o diretor da escola, para a tomada de decisão, centra-se fundamentalmente nas leis, nos documentos normativos da instituição e, na perspetiva do representante dos professores, na consulta ao coletivo de direção e ao conselho da escola.

Tabela 5: Instrumentos que privilegiam na tomada de decisão

E1 Representante dos alunos E2 Diretor da escola E3 Representante dos professores E4 Presidente do conselho da escola E5 Representante dos funcionários (não docente) Na tomada de decisão o que privilegia o diretor a) Leis Documentos e consulta ao coletivo de direção Sempre se pautou pela legislação Normalmente a legislação.

Fonte: Dados retirados das entrevistas realizadas aos atores escolares (março, 2019)

a) Esta questão não foi colocada ao representante dos alunos, uma vez que sentimos que não teria bases suficientes para poder responde-la.

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Para a tomada de decisão de vários assuntos ou aspetos ligados a instituição escolar, o diretor da Escola Secundária Belga baseia-se na legislação vigente no território nacional para as instituições de ensino e também nos estatutos para os funcionários e agentes do estado em Moçambique. É de notar aqui uma das marcas da burocracia definidas por Marx Weber.

Segundo o Presidente do Conselho da Escola (cf. apêndice 2), o diretor da escola,

“Sempre pautou pelas regras rígidas da legislação: no estatuto geral dos funcionários e agentes do Estado, no estatuto dos professores e o regulamento interno da escola, ele rege-se por estes princípios; no conselho da escola, temos visto a consultar a legislação institucional”. (PCE, E4:14)

A esse respeito, as escolas e os diretores só fazem a réplica do que está prescrito, para poder implementar nas instituições de ensino. Se o diretor não puder implementar, considera-se estar a cometer infrações. Esta realidade torna o trabalho dos gestores escolares monótono e sem muita criatividade. Os serviços centrais já têm a receita para tudo, uma vez que planificam todas as atividades minuciosamente, de modo a que o diretor só cumpra com os vários dispositivos legais existentes, tornando-se um representante do ministério na escola.

Conforme o Diretor da escola (cf. apêndice 1), para a tomada de decisão orienta-se,

“Normalmente pelas leis, porque existe uma política educacional e reguladores. Se tento gerir a instituição com base na realidade da escola, penso que estaria a adulterar muita coisa, a escola é uma unidade subordinada ao ministério da educação, tem suas políticas, esse ministério esta dentro dum país que tem uma constituição da república, leis que regulam, não estou a ver em que momento a escola pode trabalhar ou eu posso trabalhar usando simplesmente as regras produzidas na escola”. (DE, E2:18)

O Diretor da escola é o representante do ministério a nível micro na escola, pois está representando o ministério, segundo ele

“porque existem documentos que guiam o processo de ensino e aprendizagem, de fato eu estou naturalmente associado ao ministério da educação, estou a representar, neste caso, o ministério de educação” (DE, E2:15)

Na mesma ordem de ideias, o Presidente do Conselho da Escola refere que,

“ele é o representante do ministério na escola, na direção coloca-se como representante do governo, foi indicado entre os professores da escola para representar o estado” (PCE, E4:13)

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As escolas são meramente reprodutoras das orientações a nível central, neste caso o ministério. O agente executor ou facilitador, para o alcance desses objetivos, é o diretor da escola. A nível micro, o diretor é o executor no terreno, nesse caso, na escola; de todas as orientações ministeriais é o representante do ministério no recinto escolar; aqui mais uma vez notamos em alto grau as caraterísticas da burocracia definidas por Max Weber, o distanciamento entre o legislador e o executor, também a regulamentação de todas as atividades existentes no seio das instituições escolares elaboradas ou decretadas pelo ministério de tutela.

Estas constações empíricas vão de encontro às perspetivas de Lima, Sá e Silva (2017), quando referem que nos países onde o sistema de ensino é centralizado, como acontece em Moçambique, os diretores (as) das escolas tendem a ter contatos permanentes com as estruturas centrais (o Ministerio de Educaçao e Desenvolvimento Humano), desde assuntos de natureza pedagógica à financeira e até relacionados com o quotidiano escolar. Os autores salientam que “são questões verdadeiramente nucleares no que diz respeito às dimensões burocráticas e política da organização escolar”. (Idem: 225) Apesar de os dados recolhidos apontarem para a natureza reprodutora das escolas, as várias investigações produzidas no âmbito da Administração Educacional evidenciam que os atores tendem a recontextualizar e a produzir as suas próprias regras, sem distanciar-se tanto dos normativos emanados a nível central. A título de exemplo, as escolas elaboram o seu regulamento interno, onde constam os direitos, sanções e as obrigações ou deveres de todos os atores escolares no quotidiano da escola.

Além do regulamento interno da escola, por mais centralizadas que sejam as instituições de ensino, no contexto escolar também elaboram o seu projeto educativo que prevê as atividades que escola irá desenvolver num determinado período, que também podemos designar de plano de desenvolvimento da escola.

As Escolas Secundárias em Moçambique possuem uma autonomia aparente que lhes permite produzir algumas normas aplicadas ao contexto escolar, desde que não contradizam a lei base do Sistema Nacional de Educação.

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