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Estratégias metodológicas

7. Técnicas de tratamento e análise de dados empíricos

Depois da recolha dos dados empíricos através das diferentes técnicas mobilizadas (entrevista, análise documental e a observação direta não participante), fomos para etapa seguinte, dando seguimento ao trabalho de pesquisa, designadamente o tratamento e análise da informação recolhida. Conforme afirmam Bogdan e Biklen (1994),

“a análise de dados é o processo de busca e de organização sistemática de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhes permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou. A análise envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta dos aspetos impotentes e o que deve ser aprendido e a decisão sobre o que vai ser transmitido aos outros". (Bogdan e Biklen, 1994:205)

Desta forma, quando terminávamos a entrevista passávamos logo para a fase seguinte - a transcrição, de modo que não passasse muito tempo, pois corríamos riscos de algumas informações que estávamos observando durante as entrevistas ficassem esquecidas, como por exemplo, o estado de espirito do entrevistado, como respondia as questões (utilizava gestos ou não), se o ambiente onde estava a decorrer a entrevista era propício, perturbações no decorrer da entrevista, etc.

Quanto às observações diretas não participantes, pautamos a nossa conduta pelo mesmo procedimento das entrevistas. Levamos um diário de campo todas as vezes que nos fazíamos presente à escola, de modo a tomar nota de tudo o que observamos segundo o nosso guião de observação. Aquilo que não constava no nosso diário, fazíamos a transcrição para o computador no mesmo dia, de modo a não nos esquecermos da informação.

Além das transcrições das entrevistas e das notas de campo, selecionamos para análise alguns documentos normativos relativos ao funcionamento da escola.

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Para a análise dos dados ou informações recolhidas no campo empírico, utilizamos a técnica de análise do conteúdo, em conformidade com a abordagem qualitativa adotada no presente trabalho de pesquisa. Para Bardin (2018),

"Análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por que procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens." (Bardin, 2018:44)

Estas comunicações podem ser verbais ou escritas mediante a existência de um emissor e um recetor. Corroborando Guerra (2010),

"a análise do conteúdo "é uma técnica e não um método, utilizando o procedimento normal da investigação - a saber, o confronto entre um quadro de referência do investigador e o material empírico recolhido. Nesse sentido, a análise de conteúdo tem uma dimensão descritiva que visa dar conta do que nos foi narrado e uma dimensão interpretativa que decorre das interrogações do analista face a um objecto de estudo, com recurso a um sistema de conceitos teóricos- analíticos cuja articulação permite formular as regras de inferência. (Guerra, 2010:62; itálico no original)

Deste modo, procuramos confrontar os dados recolhidos na análise documental, nas entrevistas e na observação direta não participante, descrevendo-os e interpretando-os no confronto com o referencial teórico elaborado.

Segundo Bardin (2018:29), "estas técnicas implicam um trabalho exaustivo com as suas divisões, cálculos e aperfeiçoamentos incessantes do métier”. O autor afirma que a análise do conteúdo corresponde aos seguintes objetivos: "a superação da incerteza e o enriquecimento da leitura". (Idem:30) Para Quivy e Campenhoudt (2017:226), “a análise de conteúdo incide sobre mensagens tão variadas como obras literárias, artigos de jornais, documentos oficiais, programas audiovisuais, declarações políticas, atas de reuniões ou relatórios de entrevistas pouco diretivas”. Acrescentam ainda que

"O lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez maior, nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de profundidade e de complexidade. Melhor do que qualquer outro método de trabalho, a análise de conteúdo (ou, pelo menos, algumas das suas variantes) permite, quando incide sobre um material rico e penetrante, satisfazer

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harmoniosamente as exigências do rigor metodológico e da profundidade inventiva, que nem sempre são facilmente conciliáveis". (Quivy e Campenhoudt, 2017:226)

Conforme Quivy e Campenhoudt (2017:227), a análise do conteúdo na investigação qualitativa "é mais intensiva (análise de um pequeno número de informações complexas e pormenorizadas) e tem como informação de base a presença ou a ausência de uma caraterística ou o modo segundo o qual os elementos do discurso estão articulados uns com os outros".

Como afirma Bardin (2018:48), o objetivo da análise de conteúdo " é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo) para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem".

Deste modo, constituímos um corpus21, segundo as regras impostas por Bardin (2018:122), "a

regra de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência". Neste seguimento analisamos o nosso corpus documental constituído por entrevistas feitas aos membros do Conselho da Escola, as atas das reuniões do Conselho da Escola, o relatório anual da escola, o plano de atividades e o seu respetivo orçamento e alguns documentos e circulares emitidos pelo gabinete do diretor da escola, bem como as notas de trabalho de campo transcritas. Ou seja, a análise do conteúdo cingiu-se a toda a informação coletada na escola durante o trabalho de campo ou pesquisa (nesse caso a observação direta não participante).

No conjunto das técnicas da análise de conteúdo, privilegiamos a análise por categorias, dando enfâse a repetição dos temas, com todas as entrevistas juntas e a técnica de enunciação, desprezando os aspetos formais da linguagem e concentrando a atenção no conteúdo das entrevistas.

Segundo Bardin (2018), a categoria

"Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades de categorização, a investigação dos temas, ou análise temática,é rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos diretos (significações manifestas) e simples". (Bardin, 2018:199)

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Por sua vez, de acordo com Paillè e Mucchielli (2008:233), "a categoria pode ser definida como uma produção textual na forma de uma breve expressão que possibilita nomear um fenómeno percussivo por meio de uma leitura de pesquisa".

Na ótica de Bardin (2018:147), "a análise do conteúdo assenta implicitamente na crença de que a categorização (passagem de dados em bruto a dados organizados) não introduz desvios (por excesso ou por recusa) no material, mas que dá a conhecer índices invisíveis, ao nível dos dados em bruto". Na mesma senda, Guerra (2010:80) refere que "o sentido da identificação da categoria deve ser bem explícito, mas não unívoco, isto é, não há vantagem em dizer o tipo de variação a não ser que haja uma posição única em todas as entrevistas".

Bardin (2018) salienta ainda que,

"A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso de análise do conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das caraterísticas comuns destes elementos". (Bardin, 2018:145)

A categorização realizada aquando a análise do conteúdo baseou-se no referencial teórico (cf. capítulo II), tendo ainda como suporte os objetivos e as hipóteses de pesquisa apresentadas neste capítulo. Ou seja, escrevemos frases ou palavras que representam os mesmos padrões para agrupar os dados recolhidos no campo empírico.

A nossa matriz teórica comandou a análise documental, isto é, as nossas hipóteses e objetivos da pesquisa, nortearam o trilho que pretendíamos traçar na pesquisa.

Segundo Bogdan e Biklen (1994:221),“as categorias constituem um meio de classificar os dados descritivos que recolheu, de forma a que o material contido num determinado tópico possa ser fisicamente apartado dos outros dados”. Para Bardin (2018:15) a técnica de análise da enunciação “apoia-se numa conceção da comunicação como processo e não como dado. Funciona desviando-se das estruturas e dos elementos formais”.

A análise dos dados foi feita manualmente, isso é, não utilizamos nenhum software de tratamento e análise de dados. Sabemos que atualmente existem muitos softwares que ajudam o

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tratamento e análise dos dados, flexibilizando o processo. Contudo, essas plataformas informáticas devem sempre ser acompanhadas pela criatividade do pesquisador e suportadas no referencial teórico. Uma das vantagens no uso da técnica de análise do conteúdo reside no facto de o pesquisador administrar e transcrever os instrumentos da recolha de dados, familiarizando-se com tipo da informação que tem ao seu poder, o que facilita a sua localização e interpretação.