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Estrutura do Sistema Nacional de Educação segundo a lei 4/83, de 23 de Março e 6/92, de 6 de Maio

Organização do sistema educativo e do ensino secundário em Moçambique

4. Estrutura do Sistema Nacional de Educação segundo a lei 4/83, de 23 de Março e 6/92, de 6 de Maio

Segundo a lei 4/83, de 23 de Março, o sistema nacional de Educação era constituído por seguintes subsistemas:

i. Subsistema de Educação Geral – constituído pelo ensino primário, secundário e pré- universitário;

ii. Subsistema de educação de Adultos – também constituído pelo ensino primário, secundário

e pré-universitário;

iii. Subsistema de Educação Técnico – Profissional – compreendia o ensino elementar técnico-

profissional, ensino básico técnico – profissional, e ensino médio técnico profissional.

iv. Subsistema de Formação de professores – compreendia dois níveis médio e superior.

v. Subsistema de Educação Superior.

A administração do Sistema Nacional de Educação estava na responsabilidade do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que era responsável pela planificação, direção e controlo, assegurando a unicidade do sistema, desta forma mostrando claramente que era um sistema de administração centralizada, onde todas as decisões eram tomadas ao nível do topo, neste caso o ministério de tutela.

Conforme Castiano e Ngoenha (2013:96), o período de 1987 a 1992 “foi caraterizado por uma profunda crise económica e social que conduzia a um colapso verificado na esfera política. A crise pode ser considerada o resultado da implantação das medidas da restruturação económica e da guerra”.

Este período foi marcado por uma crise geral do sistema de educação em Moçambique. Esta

crise generalizada teve repercussões muito serias na política educativa. Por outras palavras, nesta época, o Estado mostrou-se incapaz de assegurar o acesso de todas as crianças à educação básica e um mínimo de qualidade àquelas crianças que estão na escola. Cresce o número de crianças sem possibilidades de ir à escola e também aumentam as desistências e as reprovações.

O surgimento de estabelecimentos de ensino privado, a mudança na estrutura do sistema escolar e as transformações na própria política de educação viriam a ser as consequências dessa crise.

Nos finais dos anos 80 surgem as primeiras escolas privadas. As disposições legais para o surgimento e a abertura de escolas privadas em Moçambique são estabelecidas a 1 de junho de 1990,

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através do Decreto n.º 11/90 do Conselho de Ministros. Trata-se do Decreto que “autoriza atividades do ensino privado e explicações”. Este Decreto revoga um anterior, o Decreto n.º 12/75 que “proíbe as atividades do ensino privado” em Moçambique. Segundo o art.1.º, a abertura de uma escola ou estabelecimento de ensino privado carece de autorização do Ministro da Educação. Em contrapartida, a autorização para abertura de creches, jardins-de-infância e de escolas especiais carece da autorização do Ministro da Saúde. Por seu turno, segundo o decreto, o Ministro da Cultura autoriza a abertura de escolas privadas vocacionadas para promover crianças que demostrem aptidões excecionais (por exemplo música, desporto, etc). Por último o mesmo Decreto determina que a fundação das universidades privadas carece de uma apreciação positiva do Conselho de Ministros.

O Decreto n.º 11/90 obriga as escolas privadas a seguirem os programas e o calendário escolar aprovado pelo MINED (art.9.º). Constituem exceção a esta regra as escolas criadas por representações diplomáticas que podem lecionar seguindo os programas dos seus países, desde que o programa tenha sido antes submetido a uma apreciação por parte do Ministro da Educação (art.15.º). O art.11.º responsabiliza as repartições administrativas e de inspeção no MINED e nas Direções Provinciais de Educação a procederem à verificação das condições físicas dos edifícios, assim como a verificar a observância das normas organizacionais especificas para as escolas privadas. Cada escola privada tem que estar filiada a uma escola oficial do mesmo nível, esta última jogando a função de supervisora pedagógica, para além disso, a escola oficial encarrega-se das questões de certificação e equivalência dos alunos.

Na perspetiva de Castiano e Ngoenha (2013):

“A privatização e a liberalização parcial do sistema de ensino abriu caminho a duas novas tendências no sistema educativo. Por um lado, elas vêm institucionalizar e legalizar o processo de criação de escolas para as elites económicas, políticas e intelectuais moçambicanas. Assim, há uma espécie de separação oficial entre escolas para os privilegiados e escolas para a maioria. Por outro lado, as igrejas e as ONGs começam a ganhar peso tanto na administração como na definição de políticas educacionais. No fundo, a liberalização abre e divide o sistema de educação em duas partes: um sistema em que alguns aprendem com qualidade muito boa e um sistema onde o que interessa é a quantidade e a qualidade é muito baixa”. (Castiano e Ngoenha 2013:113):

Depois dos 16 anos da guerra civil, que culminou com a assinatura do acordo de paz em 1992, o país se encontrava em condições sociais, económicas e políticas deploráveis, e em maio de 1992 o parlamento aprova a lei 6/92 sobre o “Sistema de Educação em Moçambique”, revogando a lei 4/83

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de 23 de março, com os seguintes objetivos: “A educação é direito e dever de todos os cidadãos; o Estado, no quadro da lei, permite a participação de outras entidades, incluindo comunitária, cooperativas, empresariais e privadas no processo educativo; o Estado organiza e promove o ensino, como parte integrante da ação educativa, nos termos definidos na Constituição da República e o ensino público é laico”.

O Sistema Nacional de Educação deve “valorizar e desenvolver as línguas nacionais, promovendo a sua introdução progressiva na educação dos cidadãos” (art. n.º 4.). A idade de ingresso é de 6 anos, e os pais, a família, os órgãos locais do poder e as instituições económicas e sociais contribuem para o sucesso da escolaridade obrigatória, promovendo a inscrição das crianças em idade escolar, apoiando- as nos estudos, evitando as desistências, particularmente antes de completar as sete classes do ensino primário (art. n.º 5.), desta forma abrindo espaço para a participação de outros atores escolares na gestão do sistema educativo.

Segundo a lei 6/92, de 6 de Maio, o Sistema Nacional de Educação passou a estruturar-se da seguinte forma: ensino pré-escolar, ensino escolar e ensino extra escolar.

O ensino pré-escolar realiza-se em creches e jardins-de-infância para crianças com idades inferiores a 6 anos como complemento ou supletivo da ação educativa da família, com a qual coopera estreitamente.

O ensino escolar compreende: o ensino geral, técnico-profissional e ensino superior. O ensino geral é composto por dois níveis: primário (1.º grau, da 1.ª à 5.ª classes e do 2.º grau 6.ªe 7.ª classes) e secundário (1.º ciclo, da 8.ª à 10.ª classes e o 2.º ciclo, 11.ª e 12.ª classes). O ensino técnico- profissional compreende os seguintes níveis: elementar, básico e médio. Ao ensino superior compete assegurar a formação a nível mais alto de técnicos e especialistas nos diversos domínios do conhecimento científico necessário ao desenvolvimento do país.

Com a entrada em vigor da lei 6/92, de 6 de Maio, a administração do Sistema Educativo permaneceu centralizada ao cargo do Ministério da Educação pela planificação, direção e controlo do Sistema Nacional de educação, assegurando a sua unicidade.

Os currículos e programas têm um carater nacional e aprovados pelo Ministro de Educação e Cultura. Sempre que se revele necessário, podem ser introduzidas adaptações de caráter regional aos currículos e programas nacionais por forma a garantir uma melhor qualificação dos alunos, desde que

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com isso não se contrariem os princípios, objetivos e conceções do Sistema Nacional de Educação. Estas adaptações são aprovadas pelo Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano. (Idem).

A lei 6/92, de 6 de Maio está em vigor até hoje, apesar de recentemente o parlamento ter aprovado na generalidade a revisão da lei, e também a comissão de especialidade que introduz algumas alterações na estrutura.

Segundo o Jornal Noticias do dia 02 de Novembro de 2018, a escolaridade obrigatória no país passara a ser da 1.ª a 9.ª classe, ao abrigo da nova Lei do Sistema Nacional de Educação (SNE), aprovada consensualmente no dia 1 de Novembro de 2018 pela Assembleia da República de Moçambique. Este modelo altera o atual, introduzido pela Lei n.º 6/92, de 6 de Maio, que estabelece a escolaridade obrigatória da 1.ª a 7.ª classe, ciclo conhecido como primário completo, e ministrado por regime de um docente da 1.ª a 5.ª classe, e um docente por disciplina na 6.ª e 7.ª classe.

A lei aprovada introduz, entre outras alterações, a redução do ensino primário de 7 para 6 classes, com um plano curricular continuo e em regime de mono docência.

Propõe a passagem da 7.ª classe para o Ensino Secundário Básico, que por sua vez passa a ser de apenas 9 classes, com caráter obrigatório, para que toda a criança do país conclua o nível em tempo útil.

Para tal, a Lei determina que as crianças devem ser obrigatoriamente matriculadas na primeira classe no ano em que completarem 6 anos de idade. Estabelece também que a frequência do ensino primário é gratuita nas escolas públicas.

Na apresentação da Lei ao Parlamento, Conceita Sortane, Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, disse que o propósito da alteração é garantir uma educação básica inclusiva a todos os cidadãos nacionais, com o alargamento da escolaridade obrigatória. Sortane refere ainda que se pretende promover o acesso à educação, a salvaguarda do princípio de equidade de género e igualdade de oportunidades, e erradicação do analfabetismo.

A Governante acrescentou que a revisão da Lei do SNE visa reajustar este instrumento ao atual contexto político, social, e económico, garantindo uma educação equitativa e inclusiva, bem como a modernização e ajustamento da sua estrutura de funcionamento.

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A nova Lei estabelece que o Sistema Nacional de Educação passa a ser constituído por seis subsistemas, nomeadamente a Educação: Pré-Escolar; Geral; de Adultos, Profissional; Formação de Professores e Superior.

Determina que compete ao Conselho de Ministros aprovar os currículos e programas dos diferentes subsistemas de ensino e que, sempre que se revele necessário, sejam introduzidas adaptações de caráter local aos programas de ensino nacionais, desde que, com isso não se contrariem os princípios, objetivos e conceção do Sistema Nacional de educação.